quinta-feira, 21 de agosto de 2025

“O DEMIURGO NÃO É DEUS DO ANTIGO TESTAMENTO, E ISSO IMPORTA



Por Yuri Schein 

Vivemos em tempos onde a estética anime é frequentemente usada como meme, então decidi fazer a versão cristã de um. O resultado é um meme que diz mais do que parece. Na imagem, uma jovem confronta Yaldabaoth, um demiurgo da tradição gnóstica, com frases carregadas de indignação:

"Você aprisiona todo mundo! E impede eles de transcender a matéria!”

A crítica é clara: para os gnósticos há uma força que mantém a humanidade presa à materialidade, impedindo sua ascensão espiritual. Mas o meme não para aí. No último quadro, Yaldabaoth responde com sarcasmo:

"Ah não... mais um gnóstico confundindo o Deus cristão com um demiurgo... Vou mentir que ele tá certo só pra ver onde isso vai dar.”

A CONFUSÃO QUE PRECISA SER DESFEITA

O meme expõe uma confusão comum: a ideia de que o Deus cristão, ou pelo menos o Deus do Antigo testamento o Criador amoroso, transcendente e pessoal, seria o mesmo que o demiurgo malévolo gnóstico, uma entidade limitada, arrogante e enganadora. Essa confusão não é nova. Desde os primeiros séculos, pensadores cristãos como Irineu de Lyon combateram essa visão distorcida que separava o mundo material do divino.

O cristianismo afirma que Deus criou o mundo e viu que era bom. A matéria não é prisão, é criação. A encarnação de Cristo, Deus feito carne, é a prova definitiva de que o espiritual e o material não são inimigos. O problema não é o corpo, é o pecado. E a redenção não vem por escapar da matéria, mas por ser transformado nela.

O DEMIURGO COMO CARICATURA

Yaldabaoth, no meme, é uma caricatura do que muitos pensam ser Deus: um ser controlador, manipulador, que impede a liberdade. Mas essa imagem é justamente o oposto do Deus revelado em Cristo. O verdadeiro Deus não mente para manter o controle, Ele se revela para libertar do pecado. Ele leva o cristão ao Transcendente por meio da cruz.

O meme, então, funciona como uma crítica involuntária: ao mostrar o demiurgo mentindo para manter o engano, ele revela o contraste com o Deus cristão, que é a Verdade.

A estética anime, com seus olhos flamejantes e confrontos cósmicos, dá força à mensagem. Mas o cristão atento vê além da imagem: vê a batalha espiritual real, entre a verdade e a mentira, entre o Deus que salva e os falsos deuses que confundem.

Não estou aqui para brincar de gnóstico. Mas para usar o meme como ferramenta, para mostrar que a confusão entre o Deus cristão e o Demiurgo não é só teológica, é existencial. E que, no fim das contas, o verdadeiro Deus não precisa mentir. Ele já venceu o pecado que escravizava os seus filhos.


#evangelho #cristianismo #gnosticismo

O PROBLEMA DA PROBABILIDADE: UMA EXPOSIÇÃO DO COLAPSO EMPIRISTA

 


por Yuri Schein

A insistência moderna em probabilidades como se fossem o refúgio seguro do empirismo é uma das maiores provas de que a filosofia secular não passa de um cadáver epistemológico mal disfarçado. Quando se demonstra que a indução não pode prover conhecimento, o naturalista, o cientificista ou mesmo o filósofo analítico corre para uma tábua de salvação: “Ok, talvez eu não possa ter certeza, mas pelo menos posso ter probabilidade.” Vincent Cheung respondeu a essa evasiva de modo categórico: não apenas a indução não garante certeza, mas a própria noção de probabilidade depende de premissas que o empirismo jamais pode sustentar.

A FALÁCIA DA FUGA PARA A PROBABILIDADE

A definição rigorosa de probabilidade, conforme a matemática e a lógica clássica, não é a superstição popular do “acho que é provável porque parece que acontece muito”. Probabilidade é uma fração:

- o numerador corresponde ao número de realizações de um evento,

- o denominador corresponde ao número total de possibilidades.

Simples. Mas aqui está o ponto fatal: ainda que alguém pudesse contar com alguma exatidão o numerador (e Cheung corretamente mostra que isso já é problemático), o denominador exige conhecimento de todas as possibilidades, um universal. E aqui está a sentença de morte do empirismo: universais não podem ser derivados de observações particulares.

Dizer que “é provável que o sol nasça amanhã porque sempre nasceu” não é ciência, é preguiça mental. Para calcular probabilidade, precisaríamos conhecer todas as possíveis causas e cenários do universo que poderiam interferir no nascer do sol. Isso requereria onisciência. Em outras palavras, para falar de probabilidade real, o empirista precisa se tornar Deus.

O DENOMINADOR E A PRETENSÃO DA ONISCIÊNCIA

O que a epistemologia secular não confessa é que toda vez que ela fala em probabilidade, está sequestrando indevidamente atributos divinos. O homem limitado jamais pode dizer: “há 10.000 possíveis resultados” sem cair na contradição de que ele mesmo não sabe quantos possíveis resultados existem.

Um exemplo tosco, mas ilustrativo: se um dado tem seis lados, dizemos que a chance de cair “3” é de 1/6. Mas por que dizemos isso? Porque assumimos o conhecimento prévio universal de que o dado não tem um sétimo lado invisível, ou que não existe uma lei oculta da física que força certos resultados. Assumimos um denominador fechado, completo, universal. Mas como o empirista sabe disso? Ele não sabe. Ele pressupõe. Ele rouba da estrutura racional provida por Deus para sustentar sua ilusão de cálculo.

Sem revelação divina, até mesmo lançar um dado se torna epistemologicamente impossível.

INDUÇÃO E PROBABILIDADE: UMA FALÁCIA DENTRO DA OUTRA

A tentativa de salvar a indução através da probabilidade é uma regressão infinita de falácias. A indução já é formalmente inválida: não se pode derivar universais a partir de particulares, nem necessidade a partir de recorrência. Mas quando o empirista admite isso e recua para a probabilidade, ele apenas multiplica a falácia: agora precisa de universais ainda mais robustos (o denominador) para justificar aquilo que ele dizia não poder alcançar pela indução.

Em termos simples: se a indução é uma falácia, a “probabilidade indutiva” é uma falácia elevada ao quadrado.

A REFUTAÇÃO PRESSUPOSICIONAL

O cristão pressuposicionalista não foge da exigência de universais: ele confessa que somente o Deus onisciente pode conhecê-los e revelá-los. Assim, apenas com base na revelação divina podemos falar de universais, de necessidade, de ordem, de regularidade e, portanto, de qualquer cálculo significativo de probabilidade.

Provérbios 1.7 declara: “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento.” Essa não é uma metáfora poética, mas uma estrutura epistemológica absoluta: sem o Deus que conhece todas as coisas, não há sequer a possibilidade de dizer que algo é “mais provável” que outra coisa. O empirista, ao invocar a probabilidade, está respirando ar roubado da cosmovisão cristã.

A probabilidade é cristã ou é ilusão

Podemos resumir nosso artigo em cinco pontos:

1. A indução não pode produzir conhecimento.

2. A tentativa de salvar a indução por meio da probabilidade falha, porque a probabilidade exige conhecimento universal.

3. O empirismo jamais pode fornecer tal conhecimento universal.

4. Logo, a probabilidade, quando usada como fundamento do empirismo, é absurda.

5. Apenas a revelação divina fornece a base para universais e, portanto, para qualquer cálculo significativo de probabilidade.

A ironia final é que o empirista, que tanto despreza a fé, vive de fé cega em uma matemática metafísica que só faz sentido em um universo criado por Deus. Ele tenta salvar sua filosofia da falência com a muleta da probabilidade, mas no fim, sem Deus, suas “chances” são de exatamente 0%.

#probabilidade #estatistica #empirismo #cientificismo 

O Demiurgo, o Empirismo e o Universo de 5 Minutos



por Yuri Schein

Imagine que alguém tente se levantar contra a revelação bíblica apelando ao empirismo — esse brinquedinho infantil da filosofia, onde os sentidos supostamente nos dão conhecimento. Agora, eu pergunto: como esse sujeito pode sequer provar que a própria memória dele é confiável?

O golpe na memória e no empirismo

Tu, meu caro, não podes sequer provar que eu não te refutei há cinco minutos atrás. Talvez o Demiurgo gnóstico — essa caricatura mítica que os hereges inventaram — tenha reeditado tua mente e apagado a lembrança. Ou, se preferires, talvez um simples desequilíbrio químico no teu cérebro tenha deformado a memória. Se a tua mente pode ser manipulada, seja por demônios, drogas ou distorções neurológicas, então não tens como garantir que sabes o que sabes.

O empirista apela para os sentidos. Mas os sentidos, além de serem falíveis, não provam nada: eles apenas dão impressões. Como Gordon Clark martelou, “os sentidos não justificam crença alguma, apenas ocorrem”.

O Universo com 5 minutos de idade

E se o universo inteiro tivesse sido criado há cinco minutos atrás, com a aparência de ter bilhões de anos? Com fósseis enterrados, luz de estrelas em trânsito e memórias plantadas na tua mente? Tu não terias como refutar isso empiricamente, porque todo o “dado” que possuis já teria sido criado junto com a ilusão de uma história anterior.

Esse argumento não é apenas um jogo mental, é uma prova da falência total do empirismo. Se todo o sistema de percepção e memória pode ser fabricado, então não há critério empírico que escape à dúvida radical.

O que resta ao gnóstico?

O gnóstico, na sua “esperteza iluminada”, apelaria ao Demiurgo: “Ah, é o deus falso que me engana!”. Mas percebe o absurdo? Se tu admites que há um ser superior manipulando tua mente, então já não tens nenhuma confiança em qualquer percepção ou raciocínio teu. Tu te auto-aniquilaste epistemologicamente.

Tu não podes provar que teu raciocínio é livre. Não podes provar que tua memória é real. Não podes provar que teu universo tem mais de cinco minutos. E então tens a coragem de levantar um dedo contra o Deus verdadeiro? És burro.

A única saída: Revelação

A revelação divina é a única âncora. “A tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Se Deus não fala, não há conhecimento, apenas suposições circulares, memórias instáveis e um universo talvez recém-criado.

É por isso que o apóstolo declara: “Seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso” (Rm 3.4). O homem natural se gaba de ciência, empirismo e gnose, mas tudo isso implode no próprio peso da incerteza. Só a revelação de Deus é certeza. Só ela corta o nó górdio da dúvida universal.

Então, meu velho, tu vens a mim com empirismo, gnose e memórias frágeis, achando que podes me “refutar”? Tu não podes sequer provar que não és um NPC recém-instalado no jogo cósmico, com lembranças pré-programadas de uma vida inteira que nunca existiu.

Tu foste refutado antes mesmo de abrir a boca.

E o pior: talvez nem tenhas aberto a boca. Talvez o Demiurgo tenha apenas plantado em mim a memória de que tu falaste.

Resultado: és burro.



Yaldabaoth: O Demiurgo da Mentira

 


por Yuri Schein

Quem é Yaldabaoth? No gnosticismo, ele é pintado como o “arquiteto do mundo material”, um falso deus, um tirano cósmico com cabeça de leão e corpo de serpente, símbolo grotesco de arrogância e fraude espiritual. Os gnósticos o chamavam de “deus cego”, uma entidade invejosa que teria aprisionado a humanidade em um universo imperfeito. Ele seria, na narrativa deles, o criador da matéria, o responsável por este mundo caótico e sofrido.

Perceba a ironia: quando os hereges não suportam a realidade do Deus verdadeiro, eles inventam caricaturas. Yaldabaoth é nada mais que um espantalho, uma projeção da revolta humana contra o Senhor soberano (Rm 9.20-21). Em vez de se submeterem ao Criador, preferem inventar um demiurgo falho para se consolar. É a velha serpente do Éden em versão gnóstica (Gn 3.1-5), oferecendo uma falsa “iluminação” e colocando a criatura contra o Criador.

A Escritura, por outro lado, não fala de um “deus secundário” invejoso. Fala do único Deus onipotente, que fez os céus e a terra (Gn 1.1), que reina absoluto sobre todas as coisas (Sl 115.3), que “opera tudo segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1.11). Yaldabaoth não passa de um mito para justificar a rebeldia do homem contra a soberania divina.

O curioso é que os gnósticos estavam certos em uma coisa: este mundo é marcado por corrupção e sofrimento. Mas sua solução é falsa, porque não é um “demiurgo” que governa, e sim o Deus verdadeiro que, em sua justiça e sabedoria, ordena todas as coisas, até mesmo o mal (Is 45.7). Eles rejeitam a resposta bíblica: o pecado entrou pelo homem, não por um deus falho. A solução não é gnose, é Cristo (Jo 14.6).

Yaldabaoth é, portanto, a imagem teológica do ressentimento humano contra Deus. Um mito que serve para os rebeldes odiarem o Criador enquanto tentam posar de “iluminados”. Mas a verdadeira luz não é secreta, nem esotérica “a vida estava nele, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1.4).

Quer ver quem é o verdadeiro “deus cego”? Não é o Senhor onipotente, mas o homem que troca a glória de Deus por fábulas gnósticas (Rm 1.22-23).

#Demiurgo #yaldabaoth #gnosticismo #gnose #cristianismo #seita #heresia

OS CRIMES INTERNACIONAIS DE NICOLÁS MADURO



por Yuri Schein 


A figura de Nicolás Maduro, atual presidente da Venezuela, está cada vez mais associada a violações sistemáticas de direitos humanos, corrupção transnacional e cumplicidade em redes criminosas. Diversos relatórios de organismos internacionais, tribunais e governos estrangeiros têm apontado Maduro como responsável direto por crimes contra a humanidade, narcotráfico internacional e até apoio a grupos terroristas.

CRIMES CONTRA A HUMANIDADE

A Missão Internacional Independente de Apuração de Fatos sobre a Venezuela, criada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, concluiu em diferentes relatórios que Maduro e seu alto comando, incluindo ministros da Defesa, do Interior e chefes dos serviços de inteligência (SEBIN e DGCIM), planejaram e executaram uma política de repressão violenta contra opositores.

ENTRE AS PRÁTICAS DOCUMENTADAS ESTÃO:

Execuções extrajudiciais de manifestantes e cidadãos opositores;

Tortura física e psicológica de presos políticos, incluindo violência sexual como método de repressão;

Desaparecimentos forçados de curta e longa duração;

Perseguição política sistemática;

Criminalização da dissidência e fraude eleitoral.

A ex-Alta Comissária da ONU Michelle Bachelet chegou a registrar cerca de 6.800 execuções extrajudiciais entre 2018 e 2019, revelando um padrão claro de política de Estado voltada à neutralização da oposição.

NARCOTRÁFICO E CRIME ORGANIZADO

Maduro também é acusado de ser líder do Cartel de los Soles, uma rede criminosa formada por militares de alto escalão venezuelanos dedicada ao tráfico internacional de cocaína. O governo dos Estados Unidos ofereceu uma recompensa de US$ 50 milhões por sua captura, colocando-o no mesmo patamar de procurados internacionais como grandes chefes do narcotráfico.

APOIO A GRUPOS TERRORISTAS

Outro agravante é a suposta cooperação do regime venezuelano com grupos como as FARC dissidentes, o ELN colombiano e até mesmo o Hezbollah. Para Washington, tais conexões caracterizam o governo Maduro como um Estado patrocinador de atividades terroristas, consolidando a Venezuela como um polo de instabilidade na América Latina.

INVESTIGAÇÕES E JURISDIÇÃO INTERNACIONAL

Os crimes atribuídos a Maduro não permanecem apenas em relatórios. Em 2018, a Corte Penal Internacional (CPI) abriu um exame preliminar sobre crimes de lesa humanidade cometidos na Venezuela, a pedido de seis países (Argentina, Canadá, Colômbia, Chile, Paraguai e Peru). Além disso, a justiça argentina, baseada no princípio da jurisdição universal, iniciou um processo que pode resultar em um pedido internacional de prisão contra Maduro.

CONCLUSÃO

A trajetória política de Nicolás Maduro não se resume à crise econômica e social que devastou a Venezuela; ela está marcada por graves acusações que o colocam entre os líderes mais comprometidos com crimes internacionais da atualidade. As denúncias de execuções, tortura, narcotráfico e terrorismo não são meras disputas narrativas, mas evidências documentadas por órgãos internacionais e tribunais.

Maduro pode permanecer no poder pela força e pelo controle militar, mas no tribunal da história e diante do direito internacional, já está registrado como um dos maiores criminosos de Estado da América Latina no século XXI.

#NicolasMaduro #venezuela #estadosunidos #DonaldTrump #Trump #guerra #brasil #Lula #politica #geopolitica 

OS CÉUS CONDENAM, MAS NÃO SALVAM

 


Por Yuri Schein 

Uma análise da visão de Gordon Haddon Clark, Cornelius Van Til, Vincent Cheung, Herman Dooyeweerd e outros pressuposicionalistas sobre insuficiência da Revelação Geral para a salvação.

INTRODUÇÃO:

Desde os primórdios da filosofia cristã, teólogos têm discutido se a natureza, por si só, seria suficiente para revelar Deus de forma salvadora. O apóstolo Paulo afirma em Romanos 1 que os atributos invisíveis de Deus, “o seu eterno poder e a sua divindade”, são “claramente vistos” por meio das coisas criadas. Mas essa revelação, embora suficiente para tornar o homem indesculpável, não é suficiente para conduzi-lo ao conhecimento salvífico de Cristo. Gordon Haddon Clark, em sua obra God’s Hammer, foi incisivo ao mostrar que a revelação geral, além de obscurecida pelo pecado, é insuficiente em si mesma. Aqui se encontra o ponto decisivo: não é apenas que o homem rejeita a mensagem, mas que a natureza, enquanto tal, nunca ofereceu um evangelho completo, muito menos as normas éticas e revelações necessárias para guiar o homem à salvação. Além disso, Robert L. Reymond em sua obra "Teologia Sistemática" diz que embora "os céus declarem a Glória de Deus" (Sl 19.1) ele o faz de uma maneira não embasada em raciocínio indutivo como uma avaliação evidencialista, pois ele faz isso sem expressar palavras (vs 3-4). Assim meu ponto é que essa revelação geral não advém de uma análise das coisas através de um raciocínio indutivo, mas que de alguma maneira, Deus causa em nós o conhecimento de si mesmo na criação.


O PROBLEMA DA REVELAÇÃO GERAL:

A história das religiões humanas é testemunha clara dessa insuficiência. Babilônios, egípcios, hindus, budistas, muçulmanos, indígenas americanos ou mesmo filósofos iluministas, todos examinaram a mesma natureza. Entretanto, as conclusões a que chegaram são múltiplas e contraditórias. Van Til chamaria isso de “supremacia da interpretação autônoma”: o homem, tentando ser seu próprio ponto de partida, lê a natureza como quem lê um livro em língua estrangeira sem conhecer o alfabeto. O resultado só poderia ser confusão.

Cornelius Van Til expôs que “não existe fato bruto” (no brute fact). Tudo que o homem interpreta já está carregado de pressuposições, e estas, quando não são bíblicas, distorcem radicalmente o significado da realidade. Herman Dooyeweerd, com seu conceito de “absolutização de aspectos da criação”, mostrou que as cosmovisões pagãs sempre transformam partes da realidade em divindades: o tempo, a matéria, o destino, o prazer. Assim, a própria diversidade de interpretações sobre a natureza não é um problema apenas do pecado obscurecendo a mente, mas da insuficiência da própria natureza como meio de revelação plena.

Isso nos leva a fazer uma breve digressão até o Éden onde o homem que tinha o conhecimento por meio da revelação proposicional (Deus falava diretamente a Adão e lhe dava ordens e ensinava), caiu em pecado comendo o fruto da árvore do Conhecimento do Bem e do Mal (não aceita mais a revelação proposicional de Deus do que é certo e errado, antes, com base em suas próprias opiniões decide o que é certo e errado) assim o "conhecimento do bem e do Mal" nada mais é do que na verdade obscuridade, é uma decisão arbitrária do homem sobre o que é bom ou mal.

A ILUSÃO DA ÉTICA NATURAL:

Clark é contundente: se a revelação geral fosse suficiente para estabelecer normas éticas, jamais teríamos o infanticídio institucionalizado em Esparta, a prostituição cultual em Babilônia, o sacrifício humano entre os cananeus ou a naturalização da pedofilia em Roma. A multiplicidade de sistemas morais não é mero desvio de uma lei moral evidente, mas a prova cabal de que Deus nunca designou a natureza para ser suficiente neste quesito.

Vincent Cheung aprofunda esse ponto quando afirma que “o conhecimento moral e o conhecimento salvífico pertencem ao mesmo pacote: a Escritura. Fora dela, não há ética absoluta, mas apenas opiniões humanas em colisão”. Isso mostra que até os valores morais que parecem universais (como “não matar”) são mal interpretados fora da Escritura. Afinal, muitos povos permitiram matar estrangeiros, bebês ou escravos sem remorso.

A CRIAÇÃO FALA, MAS NÃO GRITA:

Paulo, em Romanos 1, não ensina que a natureza revela a cruz, mas apenas que ela revela o poder e a divindade de Deus. É suficiente para a condenação, não para a salvação. Jonathan Edwards, em sua doutrina do criacionismo contínuo, foi ainda mais radical: cada átomo do universo é sustentado pelo decreto divino a cada segundo. Mas Edwards nunca confundiu isso com uma mensagem completa de salvação, a revelação especial sempre foi necessária.

Clark ironiza os que acreditam que os céus, por si, provam a onipotência: “mais estrelas poderiam ser criadas, mais complexidade poderia existir, e ainda assim não haveríamos chegado ao conceito de onipotência infinita”. Bertrand Russell olhou para o mesmo cosmos e viu apenas um universo indiferente e sem sentido. Isso só reforça o ponto: a interpretação da natureza depende de pressupostos prévios.

A QUEDA DE ADÃO E O PRECEDENTE DA REVELAÇÃO ESPECIAL:

Um ponto magistral levantado por Clark é o de Gênesis 2. Adão, recém-criado, não poderia deduzir, pelo exame do Jardim, seu propósito existencial. Ele não saberia que deveria multiplicar-se, dominar a terra, abster-se da árvore proibida. Esses deveres não eram dedutíveis empiricamente. Eles lhe foram dados por meio de revelação especial direta de Deus. Esse precedente é crucial: desde o princípio, a orientação ética e espiritual do homem dependeu de revelação verbal e proposicional.

Portanto, a tentativa moderna de substituir a Bíblia pela “ciência” como guia da moral e da salvação é apenas a repetição da tentação da serpente: “é verdade que Deus disse?”. Quando se nega a revelação especial, não resta um caminho neutro pela natureza, mas apenas o abismo do relativismo.

O HUMANISMO COMO HERDEIRO PARASITA:

Gordon Clark observa que as aparentes semelhanças entre valores humanistas e valores bíblicos não provêm de uma dedução da natureza, mas da herança cultural cristã que o Ocidente carrega. É parasitismo epistemológico: os incrédulos vivem de capitais morais que não podem justificar dentro do seu próprio sistema. Greg Bahnsen desenvolveu esse argumento na apologética transcendental: “sem Deus, você não pode provar nada”. Se o ateu clama por justiça, dignidade, igualdade, está tomando emprestado fundamentos que só têm sentido dentro da cosmovisão bíblica.

CONCLUSÃO

A revelação geral é real, mas insuficiente. Sua função é condenar, não salvar. Ela testemunha do poder de Deus, mas não nos ensina sua vontade salvadora. Para isso, sempre foi necessária a revelação especial, a Palavra inspirada. Clark, Van Til, Cheung e Edwards convergem nesse ponto: qualquer tentativa de fundamentar conhecimento, moral ou salvação apenas na natureza resulta em idolatria ou niilismo.

A revelação geral nos deixa sem desculpa; a revelação especial, em Cristo e nas Escrituras, nos dá a única esperança. Sem a Bíblia, o homem está perdido na babel de interpretações humanas. Mas com ela, “temos a mente de Cristo” (1 Co 2:16).

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