(por Yuri Schein)
A parábola do filho pródigo é a radiografia do coração humano — e o espelho da graça que o confronta. É o retrato de todos nós: arrogantes na saída, famintos no retorno, e perplexos no perdão.
O jovem pede a herança como quem diz: “Quero o teu dinheiro, mas não quero a tua presença.” E aqui está a essência do pecado — desejar os dons de Deus sem o Doador. É a independência travestida de liberdade. Ele quer viver, mas sem a vida. Quer ser feliz, mas longe da fonte da alegria.
E Deus permite. Porque às vezes, o Pai precisa deixar o filho conhecer a miséria da própria vontade antes de saborear a misericórdia da vontade divina. O mundo é o chiqueiro dourado dos que fugiram de casa — brilhante à distância, fétido por dentro. O mesmo “livre-arbítrio” que o fez sair, agora o escraviza na lama que ele mesmo escolheu.
Mas algo acontece quando a fome vence o orgulho. O texto diz: “Caindo em si.” O retorno começa na mente — a conversão é um despertar intelectual antes de ser um passo geográfico. Ele lembra do pão que tinha, lembra da bondade do pai, e percebe que a liberdade que buscou era só exílio.
E então ele volta, ensaiando desculpas teológicas mal formuladas — mas o pai o interrompe com um abraço. O arrependimento ainda está tropeçando nas palavras, e a graça já o está vestindo. Porque o Pai não está esperando um discurso perfeito, está esperando um coração quebrado.
O Pai não o trata como servo, mas como filho. E faz questão de restaurar publicamente aquilo que o pecado tentou apagar. Enquanto o fariseu observa do outro lado da cerca, indignado por tanta misericórdia, o Pai ordena festa — porque o evangelho não celebra desempenho, celebra ressurreição.
“Este meu filho estava morto e reviveu.” Eis a síntese do cristianismo. O homem não melhora — ele ressuscita. Não se reencontra — é encontrado. Não se redime — é redimido.
O escândalo do evangelho é este: Deus abraça antes da confissão completa, veste antes da limpeza, restitui antes do merecimento. A casa do Pai não é o tribunal dos reformados, é o hospital dos ressuscitados.
E no fim, só há dois tipos de pessoas: os que acham que nunca precisaram voltar, e os que estão sendo abraçados mesmo cheirando a porcos.
Os primeiros continuam fora; os segundos, comem do banquete da graça.


