sábado, 18 de outubro de 2025

O Filho Pródigo e o Deus que Abraça a Vergonha

 


(por Yuri Schein)

A parábola do filho pródigo é a radiografia do coração humano — e o espelho da graça que o confronta. É o retrato de todos nós: arrogantes na saída, famintos no retorno, e perplexos no perdão.

O jovem pede a herança como quem diz: “Quero o teu dinheiro, mas não quero a tua presença.” E aqui está a essência do pecado — desejar os dons de Deus sem o Doador. É a independência travestida de liberdade. Ele quer viver, mas sem a vida. Quer ser feliz, mas longe da fonte da alegria.

E Deus permite. Porque às vezes, o Pai precisa deixar o filho conhecer a miséria da própria vontade antes de saborear a misericórdia da vontade divina. O mundo é o chiqueiro dourado dos que fugiram de casa — brilhante à distância, fétido por dentro. O mesmo “livre-arbítrio” que o fez sair, agora o escraviza na lama que ele mesmo escolheu.

Mas algo acontece quando a fome vence o orgulho. O texto diz: “Caindo em si.” O retorno começa na mente — a conversão é um despertar intelectual antes de ser um passo geográfico. Ele lembra do pão que tinha, lembra da bondade do pai, e percebe que a liberdade que buscou era só exílio.

E então ele volta, ensaiando desculpas teológicas mal formuladas — mas o pai o interrompe com um abraço. O arrependimento ainda está tropeçando nas palavras, e a graça já o está vestindo. Porque o Pai não está esperando um discurso perfeito, está esperando um coração quebrado.

O Pai não o trata como servo, mas como filho. E faz questão de restaurar publicamente aquilo que o pecado tentou apagar. Enquanto o fariseu observa do outro lado da cerca, indignado por tanta misericórdia, o Pai ordena festa — porque o evangelho não celebra desempenho, celebra ressurreição.

“Este meu filho estava morto e reviveu.” Eis a síntese do cristianismo. O homem não melhora — ele ressuscita. Não se reencontra — é encontrado. Não se redime — é redimido.

O escândalo do evangelho é este: Deus abraça antes da confissão completa, veste antes da limpeza, restitui antes do merecimento. A casa do Pai não é o tribunal dos reformados, é o hospital dos ressuscitados.

E no fim, só há dois tipos de pessoas: os que acham que nunca precisaram voltar, e os que estão sendo abraçados mesmo cheirando a porcos.

Os primeiros continuam fora; os segundos, comem do banquete da graça.


O Tesouro Escondido e o Valor Incalculável da Graça


(por Yuri Schein)

Há uma lógica divina que o mundo jamais entenderá — um homem encontra um tesouro escondido num campo, vende tudo o que tem e compra aquele campo. Para o observador comum, parece loucura: vender o certo pelo incerto, trocar estabilidade por uma aposta. Mas o Reino de Deus é isso mesmo — a inversão radical da lógica humana.

O homem da parábola não tropeçou em ouro por acidente. Foi Deus quem o conduziu ao campo, quem fez o chão esconder e revelar o tesouro no tempo exato. A graça é assim: ela não é descoberta, é revelada. O tesouro estava lá o tempo todo, mas o homem só o enxergou quando o Dono quis.

O campo representa a vida comum — a rotina, a poeira, o trabalho cansativo, o aparente “nada demais”. E é justamente ali, entre os sulcos da existência, que Deus esconde o que tem de mais precioso. Enquanto muitos correm atrás de campos mais férteis, o eleito cava no mesmo solo até encontrar o que é eterno.

O homem vende tudo. Tudo. É o gesto mais antinatural que um ser humano poderia fazer. Renuncia ao conforto, ao status, à ilusão de controle. E o faz com alegria. Por quê? Porque quem viu o tesouro nunca mais consegue se contentar com as moedas do mundo. Quando a mente é iluminada pela graça, até o ouro terreno parece barro.

A parábola não é sobre mérito, é sobre discernimento espiritual. O homem não comprou o tesouro — ele comprou o campo. O valor está naquilo que o campo contém, não no que ele aparenta. Assim é o evangelho: uma mensagem envolta em fraqueza humana, mas portadora de glória divina.

O mundo chama de loucura abandonar tudo por algo invisível. Mas é essa loucura que salva. O homem espiritual entende que o verdadeiro investimento é aquele que o tempo não corrói. Ele sabe que o campo de Deus, ainda que pareça seco, contém um tesouro que o inferno não pode tocar.

“Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” (Mateus 6:21)

A sabedoria deste século ensina a acumular; o evangelho ensina a vender. O homem carnal guarda, o espiritual entrega. E ao entregar tudo, descobre que o tudo que perdeu nunca foi nada, e o pouco que ganhou é o tudo que jamais se perde.

Afinal, quem encontra o Tesouro não precisa mais de outro campo — só precisa cavar mais fundo na graça que o encontrou primeiro.


A Vida do Homem e a Hipocrisia Moderna dos Direitos Animais



Vivemos em uma era onde a defesa de animais às vezes parece ocupar mais espaço no imaginário público do que a defesa da própria humanidade. Vídeos de cães maltratados viralizam, campanhas de preservação de espécies dominam redes sociais, mas quantos se mobilizam diante do sofrimento humano real — crianças famintas, pessoas violentadas, famílias sem acesso à saúde? É preciso dizer: a vida do homem é infinitamente mais valiosa que a de qualquer animal.

A Bíblia não deixa dúvidas. Em Gênesis 1:26-27, lemos que Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança. Esse atributo de “imagem divina” confere à humanidade uma dignidade que nenhuma criatura possui. Animais são criaturas; nós somos portadores de eternidade. Quando colocamos cães, gatos ou até aves em patamares morais equivalentes ao ser humano, estamos invertendo a ordem natural e divina das coisas.

Além disso, a Escritura mostra que Deus deu ao homem domínio sobre os animais (Gênesis 1:28). Isso não é apenas uma permissão para usar recursos naturais, mas um lembrete da responsabilidade humana: cuidar das criaturas é necessário, mas jamais à custa de negligenciar o próprio semelhante. Defender animais enquanto ignoramos crianças morrendo de fome ou pessoas vivendo em violência é a máxima hipocrisia da nossa era.

Os filósofos seculares que promovem direitos animais como prioridade moral máxima muitas vezes ignoram a realidade da condição humana. Ronald Nash, em Worldviews in Conflict, alerta que a valorização exagerada da natureza e das criaturas pode levar a uma depreciação da vida humana, confundindo ética com sentimentalismo. É exatamente isso que vemos em redes sociais: hashtags milionárias por golfinhos ou pandas, e silêncio mortal sobre milhões de vidas humanas perdidas anualmente.

O critério não é sentimental; é ontológico e teológico. O homem possui alma, consciência moral e eternidade. Animais possuem instinto e reflexo, mas não julgamento, fé ou capacidade de comunhão com Deus. A defesa da vida humana deveria ser a prioridade absoluta da ética cristã e civilizada. Tudo o mais é secundário.

Concluindo: não se trata de crueldade ou indiferença. Trata-se de hierarquia moral e de reconhecer valores eternos. Amar animais é correto e necessário, mas jamais ao ponto de eclipsar o valor da vida humana. Se queremos falar de justiça e compaixão, que ela comece com aqueles que são feitos à imagem de Deus.

— Yuri Schein