sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Por que Jesus disse “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”

Por que Jesus disse: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
Por Yuri Schein

A pessoa que me fez essa pergunta baseou-se no seguinte raciocínio: “Se Jesus já sabia que Deus iria abandoná-lo, por que ele exclamou isso na cruz?”
E as outras duas perguntas subsequentes:
  1. “Jesus deixou de ser Deus na cruz pelo fato de o Pai tê-lo abandonado?”
  1. “Se ele não deixou de ser Deus, como fica a questão da santidade de Deus?”
A Divindade de Cristo

Bom, primeiramente vou responder à pergunta que considero mais crucial, que trata da divindade de Cristo. Em nenhum momento Jesus deixou de ser Deus, desde a encarnação até sua morte. Jesus é Deus do início ao fim; ele sempre foi e sempre será Deus. É impossível separar Jesus de sua divindade.

A Bíblia afirma que o próprio Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo:

“Isto é, Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.” (2 Coríntios 5:19)

Paulo está falando claramente da obra de Cristo, o que envolve sua morte e ressurreição. Deus estava ali e nunca deixou de estar. Vemos outra afirmação:

“Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue.” (Atos 20:28)

Em nenhum momento Jesus deixou de ser Deus e homem. Ele era 100% Deus e 100% homem. Esse é o princípio da dupla natureza de Cristo. Porém, no momento da cruz, a comunhão com o Pai, que Cristo desfrutava desde toda a eternidade, foi comprometida — por um momento — pois ele suportou toda a ira e separação de Deus que os escolhidos deveriam sofrer.

Tudo que o Pai ama é o Filho, e tudo que o Filho ama é o Pai. Mas Deus nos amou de tal maneira que deu seu Unigênito para nos salvar, e o Filho foi fiel até a morte, sentindo, por um momento, a separação e o abismo entre Deus e o homem.

Por um breve instante naquela cruz, a comunhão de Cristo com o Pai foi quebrada, e ele foi abandonado por nossa causa. Ainda assim, ele não deixou de ser Deus. A importância desse evento é tamanha que ele ocorreu apenas uma vez na história e nunca mais se repetirá. Devemos ter reverência à cruz e ao sacrifício de Cristo no Calvário. Nenhum sofrimento humano se compara ao que Cristo sofreu, pois ele foi abandonado para que eu e você não fôssemos abandonados por toda a eternidade. A ira de Deus não foi desviada ou diminuída quando caiu sobre Cristo — ela caiu completamente sobre ele.

Jesus obteve tudo pelo que pagou o preço na cruz. Ele comprou todos os filhos de Deus espalhados pelo mundo (João 11:50-53; Apocalipse 5:9). Deus Pai não ficou devendo nada ao Filho. O sacrifício foi agradável e aceito pelo Pai — e a prova disso foi a ressurreição de Cristo dentre os mortos! Cristo efetivamente sofreu e efetivamente nos resgatou para Deus. Sua vitória na cruz foi completa:

“Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo.” (Colossenses 2:14,15)

Qual o propósito disso?

A Bíblia diz que “o marido deve amar a sua esposa como Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela” (Efésios 5:25). Adão é um tipo de Cristo, assim como Eva é um tipo da Igreja. Como Eva foi feita? Deus fez cair um sono profundo sobre Adão, removeu uma de suas costelas (carne e ossos) e fez a mulher (Gênesis 2:21). O sono tipifica a morte de Cristo. A carne, sangue e ossos da costela representam o material com que a Igreja foi feita.

A Igreja é revestida da divindade de Cristo, embora ela mesma não seja Deus, mas tenha sido feita a partir de Cristo e revestida de sua natureza santa e justa. É como se Deus pegasse Cristo na cruz e o partisse, usando sua “costela” para formar a Igreja da mesma substância de que Cristo foi feito. Isso é muito profundo! 

A Igreja é revestida da natureza de Cristo.

Em Apocalipse, a Bíblia diz que os muros da Nova Jerusalém (que também apontam para a Igreja) são de jaspe:

“E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a grande cidade, a santa Jerusalém, que de Deus descia do céu. E tinha a glória de Deus; e a sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente.” (Apocalipse 21:10-11)

Mas também é dito que a aparência de Deus é como jaspe:

“E o que estava assentado era, na aparência, semelhante à pedra de jaspe e sardônica; e o arco celeste estava ao redor do trono, e parecia semelhante à esmeralda.” (Apocalipse 4:3)

Isso aponta para o fato de que a Nova Jerusalém (a Noiva do Cordeiro, ou seja, a Igreja — Apocalipse 21:2) foi revestida e feita da mesma natureza que o Senhor Jesus!

Quão gloriosa é a obra da cruz!

Em Apocalipse, vemos que a Igreja é a esposa do Cordeiro. Em Isaías, o marido é Deus! Isso mostra que Jesus Cristo é o próprio Deus:

“Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; que é chamado o Deus de toda a terra.” (Isaías 54:5)

Todo ser vivo só pode se unir com seres da mesma natureza. Assim também Cristo se unirá à Igreja santificada e feita da mesma natureza que Ele.

A obra da cruz não foi uma mera salvação do inferno, mas envolve o propósito eterno de Deus: ter um povo que o expresse em imagem e semelhança.

A Santidade de Deus

Respondendo à segunda questão: “Se ele não deixou de ser Deus, como fica a questão da santidade de Deus?”

A santidade de Deus em Cristo permanece intacta. Deus Pai desprezou o Filho por causa dos pecados, e mesmo recebendo a ira de Deus, o Filho era plenamente Deus! As pessoas não compreendem como Deus não deixaria de ser santo se estava recebendo todos os pecados dos eleitos. Mas a santidade de Deus não depende de performance. A palavra “santo” (kadosh) significa “separado, distinto de tudo aquilo que é comum”. Porém, santidade não se resume a atitudes e ações, mas à natureza. Deus é santo por sua natureza. Santidade é o que Deus é. Ele nunca deixa de ser santo nem macula sua natureza — não porque Ele não possa tocar o mal, mas porque é santo por definição! Em Isaías, o profeta fica aterrorizado por ser um homem de lábios impuros, mas um anjo toca sua boca com uma brasa de fogo que o purifica. Note: a brasa não fica impura — o contrário acontece. Isaías é purificado! Essa brasa aponta para o próprio Deus. Tudo o que Ele toca é purificado, mas Ele não se contamina ao tocar o pecado, pois é superior ao pecado.

A santidade de Deus é a Sua natureza:

“Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.
Porém um dos serafins voou para mim, trazendo na sua mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; E com a brasa tocou a minha boca, e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e expiado o teu pecado.” (Isaías 6:5-7)

O mesmo acontece quando Cristo toca o leproso. Pela Lei, o leproso era impuro, e quem o tocasse também se tornava impuro (Levítico 13–14). Mas Cristo tocou o leproso e não ficou impuro!

Cristo era superior à lepra e à Lei, por ser o próprio Deus. Ele tinha domínio sobre a lepra e o pecado:

“E eis que veio um leproso, e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo. E Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: Quero; sê limpo. E logo ficou purificado da lepra.” (Mateus 8:2-3)

Portanto, mesmo recebendo os pecados da humanidade, a divindade de Cristo permaneceu santa — e Ele nos purificou de toda impureza e pecado!

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
Por fim, voltamos à pergunta: se Jesus sabia previamente que Deus iria abandoná-lo, por que exclamou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”

Certamente Cristo sofreu intensamente com essa separação.

Mas creio que ele clamou assim para cumprir a Escritura de Salmo 22:1:

“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
Jesus cumpriu cabalmente esta profecia, incluindo outros detalhes do Salmo 22:
  1. Ele seria zombado (v.7)
  1. Teria mãos e pés transpassados (v.16)
  1. Suas vestes seriam repartidas e lançariam sortes sobre elas (v.18)
Essas são apenas algumas profecias que Cristo cumpriu. Portanto, esse foi um dos motivos para sua exclamação. O outro foi, evidentemente, o imenso sofrimento que enfrentava.

Por curiosidade, termino este artigo comentando a probabilidade de todas as profecias messiânicas se cumprirem em Jesus:

Existem mais de 300 profecias sobre a pessoa de Jesus.

Peter Stoner, astrônomo e matemático, no livro Science Speaks, apresenta uma análise probabilística sobre o cumprimento das profecias messiânicas em uma única pessoa.

A probabilidade de apenas 8 dessas profecias se cumprirem na vida de um só homem seria de 1 em 10¹⁷, ou seja, uma chance em 100.000.000.000.000.000.

Stoner ilustra essa possibilidade assim:

Pegue 100.000.000.000.000.000 moedas de prata e espalhe-as pelo estado do Texas. Elas cobririam o estado com uma camada de aproximadamente 60 cm.

Marque uma das moedas e misture todas. Venda os olhos de um homem e diga a ele que pode andar por onde quiser, mas deve encontrar a moeda marcada.

Essa é a probabilidade de apenas 8 dessas profecias se cumprirem em uma única pessoa — e são mais de 300!

Isso não é maravilhoso?
Glória seja dada a Deus!
Yuri Andrei Schein
18/08/2017
x