sábado, 21 de junho de 2025

Sola Scriptura: A Suprema Autoridade das Escrituras sobre a Tradição


1. As Escrituras São Autoautenticadoras

João 10.27-30

Jesus declarou:

“As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo 10.27).

A autoridade da Escritura não depende da aprovação de uma igreja, de um concílio ou de qualquer outra autoridade humana. Como afirma Gordon Clark:

"A Bíblia é a própria Palavra de Deus. O seu valor não repousa em testemunhas externas, mas no seu próprio caráter divino. A autoridade das Escrituras é autojustificada.”

(God and Logic, p. 49)

O testemunho do Espírito Santo nos eleitos é o selo interno que autentica a Palavra no coração regenerado. Isso é o que os reformadores chamavam de testimonium Spiritus Sancti internum. As ovelhas ouvem a voz do seu pastor — a Palavra não precisa ser autorizada por homens, pois é Deus quem fala nela.


Outros textos: 

João 8.47 – “Quem é de Deus ouve as palavras de Deus.”

Hebreus 4.12 – “A palavra de Deus é viva e eficaz.”

João 17.17 – “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.”


Calvino comenta:

“A Escritura carrega em si suficiente evidência de sua autoridade, de modo que não é justo que ela dependa de outros para ser acreditada.”

(Institutas, I.VII.5)


A Autoridade Está no Conteúdo, Não no Mensageiro

Gálatas 1.8-9 Paulo declara:

“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema.” (Gl 1.8)

O conteúdo da mensagem tem supremacia sobre o mensageiro. Nem mesmo apóstolos ou anjos têm autoridade acima do conteúdo revelado por Deus. A Palavra é a regra, e tudo deve ser julgado por ela.


Outros textos:

2 Timóteo 3.16 – “Toda Escritura é inspirada por Deus.”

2 Pedro 1.20-21 – “A profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.”


Martinho Lutero afirmou no debate com Roma:

“Minha consciência está cativa à Palavra de Deus... a menos que seja convencido pelas Escrituras e pela razão pura — pois não confio nem no papa nem nos concílios, que frequentemente erraram...”


Vincent Cheung reforça:

“A autoridade da Escritura não está em quem a transmite, mas no Deus que a fala. Se até um apóstolo pode ser anátema por negar o evangelho, quanto mais qualquer tradição humana?”

(Ultimate Questions, p. 42)


A Escritura É a Regra Final de Julgamento Doutrinário

Atos 17.11 / Isaías 8.20

Os crentes de Bereia foram chamados “mais nobres” porque não creram apenas por ouvir Paulo, mas examinaram tudo segundo as Escrituras:

“Examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.” (At 17.11)

“À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles.” (Is 8.20)

Assim, os apóstolos foram julgados pela Escritura — e não o contrário. A Igreja verdadeira se submete à Escritura, jamais a governa.


Clark observa:

“Não é a igreja que valida a Bíblia, mas a Bíblia que regula a igreja. É Deus quem fala nas Escrituras, e toda instância humana está sujeita a ela.”

(The Word of God and the Mind of Man, p. 60)


A Escritura É Suficiente e Completa

2 Timóteo 3.15-17 “Toda Escritura é inspirada por Deus... a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”

A Escritura é suficiente. Ela não precisa ser suplementada com tradição, concílios, decretos e muito menos com revelações que pretendam ser canônicas. Não negamos que Deus possa falar ou agir hoje, mas qualquer palavra, experiência ou orientação deve ser julgada pela Escritura, jamais tratada como normativa por si mesma.


Outros textos:

Salmo 19.7 – “A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma.”

Deuteronômio 4.2 – “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela.”


Cheung comenta:

“A Escritura é suficiente, e qualquer tentativa de estabelecer outra autoridade normativa ao lado dela é uma negação da soberania de Deus e uma idolatria epistemológica.”

(Presuppositional Confrontations, p. 89)


Cristo Rejeita Tradições que Invalidam a Palavra

Marcos 7.6-13

“Invalidando, assim, a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós transmitistes.” (Mc 7.13)

Jesus confrontou os fariseus por elevarem suas tradições ao nível da Escritura. Tradições humanas, ainda que antigas e amplamente praticadas, não têm autoridade divina. Pelo contrário, muitas vezes são obstáculos à obediência verdadeira.


Calvino escreve:

“Onde quer que se introduzam tradições humanas, a pureza da religião é corrompida.”

(Institutas, IV.X.14)


O Cânon Foi Reconhecido, Não Determinado

João 10.4 / Apocalipse 22.18-19

“As ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz.” (Jo 10.4)

“Se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus lhe acrescentará as pragas...” (Ap 22.18)

A igreja não criou o cânon, mas reconheceu o que já era inspirado. Isso é como as ovelhas que reconhecem a voz do pastor — elas não criam a voz, mas a identificam. A advertência de Apocalipse mostra que a revelação escrita é fechada: nada pode ser somado ou retirado.


Clark afirma:

"A Bíblia é completa. Não existe autoridade humana para estabelecer outro cânon. O povo de Deus reconhece as Escrituras, porque Deus mesmo fala por meio delas.”

(What Is the Christian Life?, p. 115)


A Escritura é o Fundamento Inalterável da Igreja

Efésios 2.20

“Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas...”

Os apóstolos e profetas foram instrumentos de revelação. Mas a igreja não é chamada a continuar a fundação, e sim a construir sobre ela. O fundamento já foi posto — e está registrado na Escritura. Toda tentativa de continuar o fundamento é uma destruição da estrutura divina.

O Espírito Ilumina a Escritura, Não a Tradição

1 Coríntios 2.13-14 / João 14.26

“O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus... porque elas se discernem espiritualmente.” (1Co 2.14)

“O Espírito Santo... vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” (Jo 14.26)

O Espírito não substitui a Escritura, mas conduz os crentes a entendê-la e amá-la. Ele nos leva de volta à Palavra revelada — não a sistemas humanos ou tradições eclesiásticas. Onde o Espírito opera, há retorno à Escritura.

A Tradição Está Subordinada à Escritura

Toda tradição, confissão, costume ou concílio deve ser julgado pela Escritura, e não o contrário. A Palavra é:

Inspirada por Deus (2Tm 3.16)

Viva e eficaz (Hb 4.12)

Suficiente (2Tm 3.17)

Autoconsciente de sua autoridade (Gl 1.8; Jo 10.27)

Reconhecida pelas ovelhas (Jo 10.4)

Vincent Cheung resume bem:

“Sola Scriptura não significa que toda verdade está na Escritura, mas que toda autoridade normativa e infalível está nela. Fora dela, tudo é falível.”

(The Word of God Is the Word of God, p. 13)

Lutero disse diante do Império: 

“A menos que me provem pelo testemunho das Escrituras e pela razão clara... eu não posso e não quero me retratar de coisa alguma. Aqui estou. Que Deus me ajude. Amém.”