quinta-feira, 16 de outubro de 2025

O Silêncio de Deus e a Tagarelice da Religião Moderna

 


Por Yuri Schein

O século XXI é testemunha de um espetáculo religioso que mais parece uma ópera de vaidades do que um culto ao Deus soberano. Igrejas e líderes modernos se empenham em preencher cada segundo com música alta, gestos exuberantes e palavras vazias, como se o silêncio de Deus fosse um defeito a ser corrigido. Mas Habacuque nos lembra: “Senhor, até quando clamarei, e tu não ouvirás?” (Habacuque 1:2). O silêncio de Deus não é desatenção; é soberania.

O problema moderno é epistemológico: a fé já não é entendida como conhecimento oriundo da revelação divina, mas como sentimento e performance humana. Van Til e Vincent Cheung apontam que, sem a autoridade das Escrituras, a mente humana se torna um tribunal autojustificatório. É exatamente isso que vemos hoje: a tagarelice substitui o temor, e o barulho substitui a meditação reverente.

O som estridente das palmas e microfones superam o verdadeiro conteúdo da Palavra, e a fé se dilui em experiência efêmera. Gordon Clark lembraria que a mente humana não é uma fábrica de significado; ela é um receptor condicionado pelo ocasionalismo divino. O homem fala demais porque não consegue suportar um Deus que fala sozinho.

Em última análise, o culto moderno revela a falência da reverência e da submissão intelectual. O silêncio de Deus permanece como um espelho: só aqueles que se calam diante de Sua grandeza verdadeiramente ouvem. O restante se perde em sua própria tagarelice, convencido de que entende o que nunca poderá compreender.

Conclusão: O barulho é a defesa do homem contra o absoluto. A meditação e o silêncio são, paradoxalmente, a maior expressão do temor a Deus — não porque Ele precise de nosso ruído, mas porque nós precisamos aprender a ouvir.



🔥 A TEOLOGIA DA COMPLACÊNCIA


por Yuri Schein

A complacência é o sedativo da alma morna. Ela sussurra: “Está tudo bem”, quando o Espírito grita: “Desperta, tu que dormes!” (Efésios 5:14). O complacente não nega a verdade, ele apenas a coloca em modo soneca.

Lutero dizia que “onde não há combate, não há fé verdadeira”¹. Já Calvino, com sua precisão cirúrgica, afirmou que “a carne sempre busca um evangelho sem cruz”². A complacência é justamente isso: um cristianismo domesticado, confortável, que aplaude o pecado desde que venha em embalagem emocionalmente agradável.

O homem complacente é teólogo do meio-termo: não nega a santidade, mas também não a pratica. Ele prefere a paz da covardia à guerra da fidelidade. É aquele que, como Laodiceia, se gaba de ser “rico e de nada ter falta”, sem perceber que é “miserável, pobre, cego e nu” (Apocalipse 3:17).

O calvinista sabe que a complacência é inimiga da soberania divina, porque o Deus que decreta todas as coisas também decreta zelo, fervor e arrependimento. O ocasionalismo ensina que até o impulso de reagir espiritualmente vem de Deus; logo, se você é complacente, não é neutro, está sendo movido por uma providência judicial.

Complacência não é calma espiritual é anestesia moral.

É o ateísmo prático que ora antes das refeições.

É a fé que não morre, mas também nunca vive.

🔥 “O Espírito Santo não sopra sobre zonas de conforto.”


Notas:

¹ Martinho Lutero, Carta a Erasmo sobre o Livre-Arbítrio, WA 18, p. 635.

² João Calvino, Institutas da Religiã

o Cristã, III.3.8.