A Fantasia da Graça Generosa e Preveniente: Arminianismo ou Autoajuda Espiritual?
“A graça preveniente é dada generosamente.”
— Arminiano otimista com problemas sérios de leitura bíblica
Dessa vez os arminianos resolveram avançar com uma nova alegação: que a tal "graça preveniente" é generosamente distribuída a todos os homens. Uma espécie de panfleto divino universal, distribuído na praça da salvação com direito a escolha de recebê-lo ou jogá-lo no lixo. Segundo eles, Deus é gracioso demais para não dar a todos uma chance. Parece bonito, parece justo, parece... herético.
Vamos analisar calmamente (e com uma boa dose de ironia) os textos citados.
Romanos 8:32 – A Generosidade Restrita à Aliança
“Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?”
(Romanos 8:32)
Essa é daquelas passagens que o arminiano cita esperando que o rótulo "graça" em algum lugar funcione como selo universal de aprovação. Mas vamos aos fatos.
Quem são os "nós"?
Vamos ver o contexto imediatamente anterior
“Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou... e aos que predestinou, também chamou, e aos que chamou, também justificou, e aos que justificou, também glorificou.”
(Romanos 8:28-30)
Então a resposta à pergunta “quem são os ‘nós’?” é simples: os eleitos.
Não é a humanidade.
Não é a massa indistinta de pecadores esperando cooperar com a graça.
É um grupo claramente delimitado pela predestinação, chamado eficaz, justificação e glorificação.
Graça generosa? Sim. Mas para quem?
A generosidade de Deus é inegável. Ele não poupou seu Filho. Mas essa entrega foi feita por todos nós — ou seja, os eleitos.
O versículo não prova uma graça “preveniente” universal; pelo contrário, ele reforça a ideia de graça eficaz e soberana para os eleitos.
O uso desse versículo para defender o sinergismo é tão equivocado quanto citar o Salmo 23 para provar que todos os seres humanos têm uma vara e um cajado. A lógica é insustentável. O arminianismo vive de reciclar versículos com etiquetas trocadas.
Romanos 2:4 – Bondade Desprezada, Não Transformadora
“Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?”
(Romanos 2:4)
Este texto é um verdadeiro clássico da distorção arminiana. Vamos destrinchar.
A inferência errada: a bondade como oferta de arrependimento
O arminiano vê nesse texto uma graça universal que convida todos os homens ao arrependimento, como se Deus estivesse à porta, com flores, esperando o pecador dizer sim. Mas é só continuar lendo para ver o desastre dessa leitura:
“Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus.”
(Romanos 2:5)
Ou seja: o que Deus está denunciando aqui é o rejeição ativa da bondade por parte dos homens, não a eficácia de uma suposta graça "preveniente". A benignidade não é regeneradora por si mesma, pois o homem natural a despreza.
A concessão do arrependimento é prerrogativa de Deus
Paulo, em outra carta, esclarece que o arrependimento não é fruto da bondade genérica, mas um dom soberano:
“Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento, para conhecerem a verdade.”
(2 Timóteo 2:25)
Não se trata de um convite democrático. É Deus quem dá o arrependimento.
E quando Ele dá, o pecador se arrepende.
Não há cooperação, apenas conversão.
O erro teológico: confundir apelo com capacidade
Aqui entra novamente a lição gramatical-teológica de Lutero:
“Ordenar que alguém se arrependa não implica que ele possa se arrepender por si só.”
Assim, Romanos 2:4 é mais uma testemunha contra o arminianismo, pois demonstra que o homem é incapaz de responder corretamente à benignidade de Deus sem intervenção regeneradora.
O destinatário: o judeu religioso
Não esqueçamos que o alvo dessa exortação é o judeu moralista que presume ter superioridade sobre os gentios. Paulo está desmascarando sua hipocrisia, não construindo uma doutrina de graça universal regeneradora.
Pelo contrário, ele está expondo a dureza do coração impenitente, preparando o terreno para dizer em Romanos 3 que “não há justo, nem um sequer.”
Portanto, essa “graça preveniente generosa” é mais um mito teológico derivado de leituras superficiais e desconexas do texto sagrado.
Atos 17:26-27 – "Se porventura tateando o pudessem achar"
“De um só sangue fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de nós.”
(Atos 17:26-27)
Este texto é como um armário do qual os arminianos tentam tirar toda sorte de doutrinas — graça preveniente, livre-arbítrio, e talvez até veganismo se precisarem.
"Se porventura" = incerteza, não capacidade
Paulo está discursando para um grupo de filósofos pagãos. Ele reconhece que o conhecimento de Deus está disponível pela criação e pela consciência — mas isso não resulta em salvação, pois o homem tateia no escuro, tropeçando em ídolos, filosofias absurdas e pecados.
Não há aqui qualquer afirmação de que o homem pode, em sua natureza caída, encontrar a Deus por conta própria. A frase “se porventura” aponta para a tragédia da ignorância humana, não para a glória do livre-arbítrio.
Romanos 1 já destruiu essa tese
“O que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou... para que fiquem inescusáveis.”
(Romanos 1:19-20)
O conhecimento de Deus suficiente para condenação, mas insuficiente para salvação, está gravado na criação.
E qual é a resposta do homem natural?
“Tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus.”
“Deus os entregou a um sentimento perverso.”
“Não se importaram de ter conhecimento de Deus.”
O homem natural rejeita o conhecimento inato por causa da depravação total. O problema não é a ausência de luz, mas a cegueira moral voluntária.
Como Paulo mesmo diz em 1 Coríntios:
“O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”
(1 Coríntios 2:14)
O final de Atos 17: zombaria e rejeição
O resultado da pregação de Paulo foi claro:
“Quando ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam...”
(Atos 17:32)
Ou seja, mesmo após exposição clara, racional, teologicamente rica e apologeticamente poderosa, a maioria rejeita.
A graça comum (manutenção da vida, ordem, luz da criação) não regenera.
A “graça preveniente” que não regenera é apenas um nome bonito para impotência teológica.
A Generosidade da Graça é Exclusiva e Eficaz
Sim, Deus é generoso.
Sim, Deus é longânimo.
Sim, Deus é paciente.
Mas nada disso implica que Ele ofereça regeneração universal e passível de rejeição.
A eleição é pessoal.
A regeneração é eficaz.
O chamado é irresistível.
E a salvação é soberana.
A teologia arminiana da graça preveniente é apenas o catolicismo de volta à praça, oferecendo uma graça fraca, resistível e frustrável.
É uma tentativa covarde de salvar a autonomia humana à custa da glória de Deus.
Mas a Escritura, a lógica, e os Reformadores gritam em uníssono:
“A salvação vem do SENHOR.”
(Jonas 2:9)
E Ele não pede licença.
Ele salva.