domingo, 24 de agosto de 2025

NUNCA CONHEÇA OS SEUS HERÓIS



Por Yuri Schein 

O provérbio “Nunca conheça os seus heróis” carrega em si uma sabedoria amarga: os ídolos humanos, quando vistos de perto, invariavelmente desmoronam. A distância cria a ilusão da perfeição; a proximidade revela a corrupção. O fascínio que temos pelos heróis nasce da nossa ânsia por transcendência, mas essa ânsia se torna idolatria quando aplicada a criaturas finitas e caídas.

A literatura já nos ensinou isso inúmeras vezes. Em Assim Falou Zaratustra, de Nietzsche, o “super-homem” proclamado não passa de um delírio do autor, que terminou seus dias mergulhado em loucura. Em O Senhor das Moscas, de William Golding, os meninos, símbolo da inocência, ao ficarem sem autoridade externa, rapidamente se transformam em assassinos. A própria literatura secular reconhece a depravação humana: a fachada do herói se desmancha sob a pressão da realidade.

Na esfera histórica, vemos o mesmo padrão. Pense em figuras políticas idolatradas: Lênin, Che Guevara, Napoleão, até mesmo líderes democráticos contemporâneos. Todos eles se tornaram decepção em algum grau. As massas projetaram neles uma salvação que não podiam oferecer. Como escreveu Aleksandr Soljenítsin em Arquipélago Gulag, o mal não reside apenas em regimes opressores, mas “atravessa cada coração humano”. A idolatria política é apenas uma versão coletiva do mesmo autoengano.


A Escritura, entretanto, nos antecipa essa constatação: “Todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3:23). Paulo não está fazendo mera observação sociológica, mas uma declaração ontológica: a natureza humana, desde a queda, é corrupta em todas as suas faculdades. A depravação total não significa que cada indivíduo seja o pior possível, mas que nenhuma área do ser humano está intacta. O “herói” não escapa, sua inteligência, sua moral e até sua piedade carregam o veneno do pecado.

João Calvino, em suas Institutas (II.1.8), escreve: “A corrupção não reside apenas nos apetites desordenados, mas se estende à mente e ao coração. De modo que todo o homem é subjugado pelo pecado.” Gordon Clark, em A Christian View of Men and Things, reforça que é justamente essa condição universal que faz ruir qualquer esperança em líderes humanos: se eles falham como indivíduos, como poderiam salvar civilizações inteiras?

E é aqui que o provérbio popular encontra seu ponto mais profundo. O conselho mundano é: “não conheça seus heróis para não se decepcionar.” O conselho bíblico é mais radical: não crie heróis. Jeremias 17:5 sentencia: “Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne mortal o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor.” Quando a confiança é depositada na criatura, a decepção é inevitável.

O cristão maduro não se escandaliza ao descobrir que seu pastor, seu autor favorito ou seu político predileto tem falhas morais. Ele já sabia disso de antemão pela revelação. Sua esperança não repousa em heróis caídos, mas no único Herói perfeito: Jesus Cristo. Ele não apenas não decepciona, mas substitui nossa ruína pela sua justiça, cumprindo o que nenhum outro poderia cumprir.


Portanto, o provérbio “nunca conheça os seus heróis” é uma meia-verdade. A verdade completa é: todo herói humano já está condenado antes mesmo de você o conhecer. O único que permanece é Cristo: “o mesmo ontem, hoje e eternamente” (Hb 13:8).

📚 Fontes e referências

Calvino, João. Institutas da Religião Cristã, Livro II, cap. 1.

Clark, Gordon H. A Christian View of Men and Things.

Soljenítsin, Aleksandr. Arquipélago Gulag.

Golding, William. O Senhor das Moscas.

Nietzsche, Friedrich. Assim Falou Zaratustra.



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Aliança com as Trevas: Jugo desigual com incrédulos

 


Por Yuri Schein 

O sujeito que larga a fé por causa de um relacionamento com um incrédulo é, na prática, alguém que pegou a Bíblia inteira, amarrou com durex e jogou dentro da lata de lixo. O adultério, por mais repulsivo e grave que seja, ainda é um pecado que, pela graça de Cristo, pode ser perdoado. O adúltero pode cair uma, duas ou “trocentas” vezes, se houver arrependimento genuíno, a misericórdia de Deus ainda alcança.

Mas aquele que decide se unir em jugo desigual, casar com um ímpio, não está apenas tropeçando: está deliberadamente escolhendo uma vida inteira de rebelião. Não é só um ato, é um pacto. Não é só um deslize, é uma aliança com as trevas. Paulo é explícito: “Não vos prendais a um jugo desigual com os incrédulos” (2Co 6:14). Quando alguém faz isso, não é ingenuidade é confissão pública de que o desejo por um órgão genital pesou mais do que a fidelidade ao Deus vivo.

O adultério é um ato de traição momentâneo, mas o casamento com ímpio é uma liturgia constante de apostasia. É transformar o leito conjugal em altar da idolatria, é fazer do cônjuge descrente um “sacerdote” das vontades da carne. Não é apenas fornicar: é canonizar a fornicação dentro do cartório.

Quem troca Cristo por romance mundano mostra que já havia no coração um evangelho descartável, de fachada. E quando a Palavra de Deus é substituída pela carência emocional, o resultado é inevitável: ruína espiritual. Porque, no fim, só existem duas opções: carregar a cruz ou carregar o cônjuge ímpio como ídolo. E o segundo caminho termina no mesmo lugar que o ímpio terminará.


#jugodesigual #casamento #aliança #noivado #biblia 

BALDER, O BELO E CRISTO, O VERDADEIRO SOL DA JUSTIÇA



Por Yuri Schein

A mitologia nórdica preservou, em seus contos, ecos distorcidos da verdade revelada por Deus nas Escrituras. Entre essas histórias, a de Balder é talvez a mais pungente. O “belo dos Æsir”, filho de Odin e Frigg, era o deus da luz, da inocência e da pureza. Sua morte se tornou um marco cósmico, uma ferida que abalou até mesmo Asgard.

A HISTÓRIA DE BALDER

De acordo com o Gylfaginning de Snorri Sturluson, Balder começou a ter sonhos proféticos sobre sua própria morte. Sua mãe, Frigg, então exigiu juramentos de todas as coisas do mundo: fogo, água, ferro, pedras, animais, plantas e doenças, para que não ferissem seu amado filho. Porém, em sua ingenuidade, deixou de exigir tal juramento do visco, por considerá-lo insignificante.

Loki, o enganador, descobriu esse detalhe. Durante os jogos em que os deuses arremessavam armas contra Balder sem o ferirem, Loki entregou um dardo de visco a Hodr, o deus cego, que, sem saber, lançou a arma mortal contra o próprio irmão. Balder caiu morto.

O luto dos deuses foi absoluto. Hel, a deusa do submundo, consentiu em devolver Balder caso todas as coisas do mundo chorassem por ele. E quase tudo chorou, exceto uma giganta (na verdade, Loki disfarçado), que recusou. Assim, Balder permaneceu entre os mortos, e os deuses ficaram marcados pela certeza do Ragnarök, o juízo final da mitologia nórdica.

O CRISTO QUE BALDER NUNCA FOI

A morte de Balder ecoa, de forma corrompida, a história de Cristo. Balder é o inocente que morre injustamente, vítima da astúcia do maligno. Porém, aqui está a diferença fundamental: enquanto o mito nórdico termina em tragédia sem solução, o Evangelho do Reino proclama que Cristo, o verdadeiro Justo, morreu, mas ressuscitou, triunfando sobre a morte, e embora o Diabo e os homens maus estivessem envolvidos, tudo isso fazia parte do plano de Seu Pai.

Balder é apenas uma sombra invertida da promessa divina:

Ele morre pela negligência de sua mãe; Cristo morre pela vontade eterna do Pai (Atos 2:23).

Balder é incapaz de voltar da morte porque o mundo não chorou unanimemente; Cristo ressuscita porque o Pai O justificou em sua obediência (Filipenses 2:8-9).

Balder permanece refém do submundo; Cristo desce ao Hades, mas leva cativo o cativeiro (Efésios 4:8-10).

A idolatria pagã sempre imita a verdade, mas fracassa em entregar redenção real. Como escreve Herman Bavinck: *“Todas as religiões fora do cristianismo são tentativas humanas de restaurar a comunhão perdida com Deus, mas todas fracassam, porque não partem da revelação, mas da imaginação humana.”*¹

Deus já havia anunciado que Seu Filho seria a verdadeira luz dos homens (João 1:9), enquanto Balder é apenas uma vela apagada pelo sopro do enganador. O paganismo nórdico chorou por um deus que não voltou; o cristianismo se alegra porque o Cristo ressurreto vive para sempre (Apocalipse 1:18).

A tragédia de Balder aponta para o vazio das religiões inventadas. O melhor que podem oferecer é um “quase Cristo” — belo, justo, inocente, mas derrotado. O Evangelho, em contraste, não oferece um mito, mas uma vitória: “Pois, assim como em Adão todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1 Coríntios 15:22).

Enquanto Balder aguarda em Hel, Cristo reina à direita do Pai. O mito gera desespero; o Evangelho gera esperança.

Notas e Fontes

1. Herman Bavinck, Reformed Dogmatics, Vol. 1: Prolegomena, Baker Academic, 2003.
2. Snorri Sturluson, Edda: Gylfaginning.
3. Gordon H. Clark, Religion, Reason, and Revelation.
4. A Bíblia Sagrada — especialmente Atos 2:23, Filipenses 2:8-9, Efésios 4:8-10, João 1:9, Apocalipse 1:18.

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O Ceticismo Lunar e a Matrix do Empirismo



Por Yuri Schein 

A imprensa russa voltou a cutucar o nervo exposto da corrida espacial: “Será que os americanos realmente pisaram na Lua em 1969 ou tudo não passou de uma produção de Hollywood para humilhar Moscou?” É claro que essa desconfiança vende manchete e atiça o imaginário coletivo, mas, filosoficamente, o problema é mais profundo do que a RT ou a CNN ousam tocar.

O que está em jogo não é se a bandeira tremulava no vácuo ou se a câmera estava no ângulo certo. O verdadeiro dilema é: como provar qualquer relato histórico apenas com base no empirismo? A Rússia pode zombar dos retrorefletores deixados em solo lunar, mas nós poderíamos zombar dos cosmonautas que supostamente orbitavam alegremente em cápsulas soviéticas. Quem garante? Fotos? Filmagens? Depoimentos oficiais? Tudo isso se reduz a percepções sensoriais, e os sentidos, como sempre lembrou Gordon Clark, não são fonte de conhecimento, mas apenas ocasião para Deus comunicar ou não a verdade à mente.

Se quisermos ser coerentes, o mesmo ceticismo que faz o russo desconfiar dos EUA pode ser aplicado contra a própria Rússia — ou contra a China, a Índia, a SpaceX. E por que parar aí? Quem nos garante que não estamos em uma Matrix, onde todos os “pousos lunares”, sejam americanos ou soviéticos, não passam de projeções programadas para distrair mentes escravas do empirismo?

Os governos, sejam eles de Washington ou Moscou, só podem oferecer imagens, narrativas, pedaços de rocha, mas não podem escapar da acusação fundamental: nenhuma experiência sensorial, por mais sofisticada, pode fundamentar conhecimento verdadeiro. O empirista que crê no pouso americano por causa de um vídeo é irmão gêmeo do conspiracionista que nega o pouso americano porque não confia no vídeo. Ambos caminham na areia movediça da mesma epistemologia falida.

A única saída não está em telescópios, lasers ou amostras lunares, mas na revelação divina. Pois só Deus, que criou os céus e a Lua, pode nos dizer a verdade última sobre o cosmos. Sem Ele, estamos todos russos, americanos, céticos e crentes da NASA orbitando em uma Matrix gnosiológica.