1. Interpretar o Antigo Testamento sem a luz do Novo Testamento
Erro:
Os futuristas e dispensacionalistas frequentemente interpretam profecias do Antigo Testamento (como Isaías, Ezequiel, Daniel, etc.) como se fossem independentes do Novo Testamento. Eles tomam literalmente promessas sobre a terra, o templo, o sacrifício e o reino terreno de Davi, ignorando que o Novo Testamento reinterpreta essas promessas de forma cristocêntrica e espiritual.
Exemplo:
A promessa da terra a Abraão (Gn 17) é aplicada universalmente a todos os crentes em Romanos 4:13 — "herdeiro do mundo".
A promessa do templo é cumprida em Cristo (Jo 2:19-21), na Igreja (Ef 2:21-22) e não em um terceiro templo literal em Jerusalém.
Regra reformada:
"O Novo Testamento é a chave para interpretar o Antigo."
2. Interpretar os Profetas (como João em Apocalipse) sem a luz dos Mestres (como Paulo)
Erro:
Os futuristas tratam Apocalipse 20 (que menciona o “milênio”) como a base de toda escatologia, sem considerá-lo à luz das doutrinas claras dos apóstolos — especialmente Paulo, que expõe com precisão a ordem da ressurreição, a parúsia, e o fim dos tempos (1 Cor 15, 2 Ts 1–2, Rm 8).
Exemplo:
Em 1 Coríntios 15:23-26, Paulo diz que Cristo virá, os mortos ressuscitarão, e virá o fim – sem milênio intermediário.
Os pré-milenistas inserem um reino terreno de 1000 anos entre a volta de Cristo e o fim, algo ausente em todos os ensinos apostólicos.
Regra reformada:
"As porções mais difíceis devem ser interpretadas pelas mais claras."
3. Interpretar textos claros com base em textos obscuros
Erro:
Eles tomam Apocalipse 20, um texto altamente simbólico e com múltiplas imagens apocalípticas, como base para reinterpretar textos doutrinários claros e literais como 1 Coríntios 15, 1 Tessalonicenses 4, João 5:28-29, etc.
Exemplo:
João 5:28-29 fala de uma única ressurreição geral para salvos e perdidos.
Apocalipse 20 é interpretado como duas ressurreições separadas por mil anos, forçando uma dicotomia que não está nos textos doutrinários.
Regra reformada:
“Não se deve estabelecer doutrina com base em textos escuros, mas sim à luz dos textos didáticos e explícitos.”
4. Ignorar que Deus falou aos profetas por símiles, figuras de linguagem, e querer tudo literal
Erro:
Os futuristas, pré-milenistas e dispensacionalistas frequentemente interpretam todas as profecias, especialmente as apocalípticas (como as do livro de Apocalipse), de forma estritamente literal, sem reconhecer que Deus usou símiles, metáforas, símbolos e outras figuras de linguagem para comunicar verdades espirituais profundas.
Exemplo:
Em Atos 2:16-17 (citando Joel 2:28-32), Pedro explica que o que os judeus estavam vendo no Pentecostes não era algo literal, mas cumprimento de uma profecia com linguagem simbólica.
O apóstolo Paulo também adverte que a profecia nem mesmo vem por vontade humana, mas é inspirada pelo Espírito e falada por pessoas movidas por Ele (2 Pd 1:21), o que envolve revelação com formas simbólicas e espirituais.
Em Apocalipse 12:10, as imagens de dragões, bestas e anjos não são literalmente criaturas físicas, mas representam realidades espirituais e poderes demoníacos.
Regra reformada:
A Escritura deve ser interpretada conforme seu gênero literário e contexto, reconhecendo símbolos e figuras para evitar erros e heresias.”
Resumo final dos quatro erros hermenêuticos:
1. Interpretar o Antigo Testamento sem a luz do Novo Testamento.
2. Interpretar os profetas sem a luz dos mestres apostólicos, como Paulo.
3. Interpretar textos claros com base em textos obscuros e simbólicos.
4. Interpretar figuras de linguagem e símiles como literalidades estritas.
Conclusão: Os erros são hermenêuticos, não apenas escatológicos
O pré-milenismo e o dispensacionalismo invertem a hierarquia da revelação.
Eles colocam o símbolo acima do ensino, a sombra acima da substância, e a narrativa judaica acima da realidade cristológica.
Cristo já reina (Ef 1:20-22; At 2:30-36), a ressurreição é futura e única (1 Co 15), e todas as promessas são “sim” e “amém” nele (2 Co 1:20).