sexta-feira, 24 de outubro de 2025

🍷 O Primeiro Sinal: Jesus, o Vinho e a Demolição do Moralismo Temperante



Por Yuri Schein

Há duas maneiras de se aproximar de João 2: com a Bíblia aberta ou com os joelhos tremendo diante de uma garrafa de vinho. Infelizmente, muitos preferem a segunda. Suas sensibilidades temperantes exigem que Cristo nunca tenha tocado álcool, como se o Filho de Deus precisasse obedecer à cartilha dos adventistas modernos para ser santo.

Mas exegese não é terapia psicológica anti-álcool. Ou deixamos o texto falar, ou o mutilamos. E quando o assunto é o vinho de Caná, o texto grita: era alcoólico sim.

A seguir, destruo, com polpa, casca e engaço, cada tentativa de transformar Jesus em fabricante de suquinho gospel.


📍Texto acima de sensações: a cena real


Em Caná, temos:


um mestre-sala julgando vinho por qualidade e efeito

convidados que já estavam alegres (Jo 2:10)

o milagre sendo chamado de manifestação de glória (Jo 2:11)


Ou seja: isso não é Yakult no casamento.

É vinho de verdade, bebido por gente real, celebrando com alegria real.

O termo oinos pode, em teoria, abranger suco não fermentado, assim como “carne” pode incluir mortadela vegetal. Mas palavras têm sentido determinado pelo contexto, e o contexto aqui é:


“Quando JÁ ESTÃO EMBRIAGADOS…”

— João 2:10


O verbo μεθυσθῶσιν significa justamente isso: embebedar-se.

Só há embriaguez onde há álcool.

Fatos são teimosos


📍Vinho bom não é suco sem álcool


O mestre-sala se surpreende, porque:

O MELHOR ficou para o fim (Jo 2:10)


Em festas antigas, o melhor vinho era o que fazia efeito, não o que parecia Gatorade de uva. A lógica social da época era:


primeiro o vinho que anima

depois o vinho mais fraco, quando os sentidos já estão amortecidos


Jesus inverteu:


primeiro o vinho comum

depois o vinho superior, que continua a alegria


Só faz sentido se for alcoólico.

Senão, a frase seria:

“Uau, guardaram o Del Valle de uva puro! Sem corante! Que audácia!”


Um insulto ao texto.


📍Purificação não proíbe celebração: Cristo supera o ritual


As talhas eram de purificação? Sim.

E daí?

Cristo toca em impuros, cura em sábado, derruba cambistas do templo — Ele não é escravo do ritual, Ele é o substituto do ritual.


O vinho não vem de purificação.

Vem em lugar da purificação.

O que antes purificava externamente agora se torna alegria interna.


Isso é teologia, não medo de rolha.


📍Quantos litros mesmo? Chora, moderado


O argumento:


“Jesus fez muito vinho, logo isso estimularia bebedeira!”


Ah, então:

multiplicar pães estimula glutonaria?

dar salário estimula roubo?

dar esposa estimula adultério?


Não.

O pecado está no pecador, não no dom de Deus.

Além disso, a festa durava vários dias. A matemática do pânico não convence.


📍O Pai dá vinho e é bênção


Antes de atribuir imoralidade ao milagre, leia:

O vinho alegra o coração humano (Sl 104:15)

Dai bebida ao aflito (Pv 31:6)

Paulo manda Timóteo usar vinho (1Tm 5:23)


Se dar vinho é pecado, Deus pecou.

Se alegrar com vinho é tropeço, o salmista tropeça.

Se bebida alcoólica é moralmente errada, a Escritura precisa ser corrigida e não Jesus.


📍“Jesus recusou vinho na cruz” – sofisma tosco


Ele recusou narcótico, não bebida festiva.

Confundir Gólgota com casamento é insanidade exegética.

Na cruz Ele rejeita anestesia para sentir toda a dor do juízo.

No casamento Ele oferece alegria para antecipar a festa messiânica.


Momentos diferentes, propósitos diferentes, substâncias diferentes.


📍O que realmente incomoda o abstêmio?


Jesus foi acusado de:


“glutão e BEBEDOR de vinho” (Lc 7:34)


Veja: chamaram João Batista de endemoninhado por não beber, chamaram Jesus de bebedor por beber


Jesus não se defendeu dizendo que era suco.

Ele simplesmente afirmou:


 “A sabedoria é justificada por suas obras”


A verdade é dura:

Jesus bebia álcool.

Com frequência suficiente para caluniadores criarem fama.


Se isso escandaliza alguém, o problema é do fariseu, não do Messias.


✅ O verdadeiro escândalo: negar alegria à graça


O primeiro sinal fala de:


alegria

aliança

plenitude

a substituição da água fria do ritual pelo calor do Espírito


Transformar isso em suco pasteurizado é violência ao texto e à teologia.


Jesus não inaugurou Seu ministério com: 📍abstinência

📍neurose alimentar

📍ética da moderação estéril


Mas com: 🍷 festa

🍷 alegria

🍷 abundância


“Enchei até o alto” (Jo 2:7) e quem não aguenta, beba menos.

Cristo não trocou a água em suco.

Ele trocou o legalismo em graça.


🍇 Negar o álcool em Caná é negar:


o contexto histórico

o grego do texto

o simbolismo do sinal

o caráter celebrativo da fé bíblica


É impor ao Cristo uma moralidade fraca, que não nasce das Escrituras, mas do medo. A Bíblia não apresenta um Jesus que protege seres humanos do vinho. Apresenta um Jesus que protege o vinho dos moralistas.


Eis a glória do primeiro sinal:

onde havia purificação ritual, agora há alegria messiânica. E quem quiser arrancar o álcool disso terá que espremer a Bíblia até sangrar.

O “fraco” na fé é “doente” na fé

 


Por Yuri Schein

Romanos 14 costuma ser usado como uma almofada teológica para proteger suscetibilidades religiosas. Mas a leitura honesta do texto remove essa almofada e mostra um diagnóstico severo de Paulo. A palavra asthenés traduzida como “fraco” não pinta o quadro de um crente fofo e humilde. Ela significa enfermo, debilitado, alguém com a fé clinicamente doente espiritualmente anêmica e psicologicamente instável.

Esse não é o crente maduro que se abstém por amor; é o crente traumatizado pelas próprias neuroses. Ele olha para um pedaço de carne e sente o peso de uma condenação imaginária. Ele olha para um calendário e pensa que Deus está fazendo contagem regressiva para fulminá-lo. Ele vive em tensão, não em Cristo. É exatamente aquele que Paulo descreve em Colossenses 2:21-23: pessoas que adotam normas estéticas de piedade (“não toques”, “não proves”, “não manuseies”) e acham que isso é santidade. Paulo diz: isso é aparência, não poder.

Mas o Evangelho não é um manicômio moral para quem precisa controlar tudo para sentir-se “salvo”. O Evangelho cura. Ele liberta. Ele declara: “Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1). O problema do doente da fé é que ele ainda duvida disso. Ele enxerta a culpa onde Cristo expulsou a culpa. Ele trata o Reino como se fosse uma dieta. Mas Paulo responde: “O Reino de Deus não é comida e bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14:17).

O “fraco” na fé é o irmão que não entendeu o que a justificação significa na prática. Ele ainda tenta negociar migalhas de aprovação divina com suas pequenas penitências particulares. Sua fé ainda está em UTI, Cristo é seu Salvador, sim, mas sua consciência ainda acha que Ele precisa de uma ajudinha.

Repare: Paulo manda suportar o doente, não imitar. Ele não diz que o forte deve descer ao nível do fraco; ele diz que o forte deve ampará-lo sem abandonar a liberdade (Rm 15:1). Porque o forte é o que entendeu Gálatas 5:1: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou”. A fraqueza espiritual não é virtude. Não é piedade. É enfermidade que precisa de doutrina, evangelho e paciência pastoral. O forte se adapta para não escandalizar, mas nunca se escraviza para agradar.

Sim: o fraco é irmão. Mas também é paciente em tratamento. E o tratamento não é mais regra é mais Cristo. Mais cruz. Mais plenitude da obra consumada.

Talvez a razão do desconforto ao ler isso seja simples: quando a Bíblia chama alguém de fraco na fé… ela está descrevendo você?