Yuri A. Schein
O sincretismo religioso, tão em voga nos discursos “espirituais” modernos e nas academias que se dizem abertas à pluralidade, é, na realidade, uma das demonstrações mais explícitas da falência da razão humana quando ela se afasta da revelação e se deixa seduzir por modismos sentimentais. Tentativas de amalgamar monoteísmo, reencarnação e mediação espiritual não são meros exercícios de tolerância; são, na verdade, exercícios de contradição lógica. E a apologética, longe de ser mero adorno intelectual, expõe, com precisão cirúrgica, que tais sistemas são insustentáveis, incoerentes e, por isso, falsos.
O sincretismo se apresenta como conciliador. Em teoria, ele busca harmonizar crenças diversas, como se a verdade pudesse ser “moldada” à conveniência humana, sem que houvesse consequências lógicas. O que vemos é, na prática, uma série de pressupostos que se anulam mutuamente: enquanto o monoteísmo afirma um Deus único, transcendente e soberano, a reencarnação supõe um ciclo interminável de vidas independentes da vontade divina e, frequentemente, a ideia de progresso moral autônomo; a mediação espiritual, por sua vez, introduz entidades intermediárias que, sob o pretexto de “ajudar” o homem, desrespeitam a exclusividade do mediador único, Jesus Cristo. Tentar encaixar tudo isso em um mesmo sistema não é síntese; é uma colagem de ideias incompatíveis.
Do ponto de vista apologético, o sincretismo revela um padrão recorrente: a tentativa humana de conciliar liberdade de pensamento e necessidade de sentido. A lógica do coração humano deseja justiça, mas quer ignorar a soberania divina; quer experimentar o sagrado, mas sem se submeter a Ele; quer conhecer o futuro, mas sem admitir que o Deus único determina todos os eventos. Assim, surge o caos religioso: uma colcha de retalhos de pressupostos mutuamente excludentes, onde a coerência é sacrificada em nome de uma espiritualidade “moderna” e emocionalmente confortável.
Além disso, o sincretismo demonstra ignorância epistemológica flagrante. Ao misturar premissas incompatíveis, ele ignora a necessidade de consistência lógica, a pedra fundamental do conhecimento verdadeiro. Aqui, a apologética reformada, na linha de Vincent Cheung e Gordon Clark, torna-se indispensável: conhecer a Deus implica reconhecer que todo conhecimento verdadeiro deve ser coerente, derivado de Seus decretos e revelado nas Escrituras. Sistemas sincréticos, por outro lado, dependem do subjetivismo humano, da experiência sensorial corrompida e do emocionalismo descontrolado, fornecendo apenas uma ilusão de verdade.
É interessante notar a sofisticação enganosa do sincretismo: ele se veste de tolerante, inclusivo e universal. Mas esta é uma tolerância aparente. O núcleo de sua falha é que ele exige do crente a suspensão do pensamento crítico, a aceitação de contradições flagrantes e a renúncia da autoridade divina. Um mundo sincrético não exige lógica; exige conformidade emocional. Ele promete harmonia, mas entrega confusão; promete liberdade, mas entrega escravidão espiritual; promete sabedoria, mas entrega caos epistemológico.
No nível prático, o sincretismo falha em fornecer respostas que resistam ao escrutínio racional. A pergunta inevitável surge: se Deus é único e soberano, como pode o ciclo de reencarnação ou a mediação de espíritos interceder sem violar sua vontade? A resposta lógica é simples: não pode. Tentar responder com evasivas ou reinterpretar conceitos bíblicos é apenas uma admissão de incapacidade. O sincretismo, portanto, não é apenas uma falha teológica; é um sintoma do abandono da razão em favor de caprichos subjetivos.
Em termos apologéticos, a crítica é clara e implacável. O sincretismo não pode ser reconciliado com o cristianismo reformado. Ele viola princípios fundamentais: a unicidade de Deus, a suficiência de Cristo como mediador, a autoridade absoluta da Escritura e a consistência lógica de um sistema teológico que se pretende verdadeiro. Cada tentativa de conciliar pressupostos contraditórios é, em última análise, uma tentativa de substituir a verdade revelada pela fantasia humana.
Portanto, ao analisar o sincretismo sob a lente da apologética reformada, vemos um padrão de autodestruição intelectual e espiritual. É um exercício que ilude os incautos com aparência de sabedoria, mas é, de fato, um laboratório de inconsistências e contradições. O sincretismo não revela profundidade, mas superficialidade; não promove a busca da verdade, mas a indulgência na confusão; não leva ao Deus verdadeiro, mas ao caos religioso.
Em resumo, o sincretismo é a antítese da apologética: enquanto esta busca a coerência, a verdade e a conformidade com a revelação divina, aquele promove contradição, ilusão e relativismo. A análise de tais sistemas não é mero exercício acadêmico: é um chamado urgente à clareza teológica, à firmeza epistemológica e à fidelidade à Palavra de Deus. Quem se deixa seduzir pelo sincretismo não apenas confunde a mente; compromete a alma.
O caos religioso, portanto, não é acidente nem coincidência. Ele é consequência lógica do desvio da verdade. E é função da apologética, especialmente na linha reformada e pressuposicional, expor a fragilidade destes sistemas, desmascarar suas falácias e, sobretudo, mostrar que a coerência divina não é negociável. A única síntese válida é a que se encontra na Escritura, e qualquer tentativa de misturar monoteísmo com reencarnação e mediação espiritual é, em termos racionais e teológicos, um fracasso inevitável e inevitavelmente ridículo.