terça-feira, 2 de setembro de 2025

Aluguel mensal de prostitutas no Canadá: Contratos, Regras e o Teatro da Modernidade

 


Por Yuri Schein 

Se você acha que o conceito de “aluguel” se limita a apartamentos ou carros, prepare-se para a audácia contemporânea: no Canadá, alguns acompanhantes profissionais oferecem serviços mensais formalizados com contratos detalhados. Não se trata de conversa de bar ou de promessas vagas; estamos falando de documentos escritos, cláusulas de pagamento, horários estipulados e obrigações de ambas as partes. A ironia? Transformar relações humanas, intimidade e presença em um acordo legal, como se afetos e companhia pudessem ser comprados sem efeito sobre a alma.

O contrato funciona como qualquer outro instrumento jurídico: define quanto, quando e como o acompanhante estará disponível, bem como limites do serviço prestado. É, na superfície, segurança para ambas as partes: o cliente sabe o que esperar, e o profissional garante remuneração fixa. Mas aqui mora a crítica: ao tentar organizar intimidade como se fosse mercadoria, cria-se um simulacro de relacionamento, uma ilusão de controle sobre algo que, por essência, é imprevisível e humano.

A prática, embora legal e regulamentada em algumas províncias, levanta questões éticas e filosóficas profundas. Até que ponto podemos reduzir vínculos humanos à tabela de horas e cláusulas contratuais? Será que a companhia de alguém realmente preserva valor emocional quando mediada por papel, assinatura e obrigação? E mais, o que dizer da psique do indivíduo que paga por companhia como se contratasse um serviço de limpeza? Aqui a modernidade se revela: transformar afeto em transação legal não elimina a solidão, apenas a mascara com a aparência de previsibilidade.

Curiosamente, os contratos podem incluir regras de confidencialidade, limites de contato fora do horário contratado e até cláusulas de comportamento esperado, como em qualquer serviço profissional. Para o observador atento, é o ápice do absurdo moderno: intimidade, algo que sempre foi imprevisível e irracional, agora normatizada e burocratizada. O resultado é uma performance teatral, onde cada parte cumpre o papel de profissional: afeto simulado, atenção cronometrada, sentimentos regulados por cláusulas legais.

No fim, o “aluguel mensal de companhia” no Canadá revela mais sobre a sociedade que o criou do que sobre quem o pratica. É um reflexo do desejo de controle absoluto, da ilusão de que podemos organizar a vida emocional como contas a pagar. Segurança, contrato, previsibilidade, todos adornos de uma modernidade que teme a imprevisibilidade inerente às relações humanas. É fascinante, perturbador e, como sempre, digno de uma crítica ácida: estamos comprando companhia e vendendo autenticidade, tudo em nome de conforto e ordem.

Em resumo, o fenômeno é legal, estruturado e funcional dentro de parâmetros claros, mas carrega consigo uma ironia cruel: a tentativa de quantificar e regular aquilo que, por natureza, é livre, irracional e humano. Um contrato pode garantir presença, mas não garante afeto, compreensão ou significado. E é justamente aí que a modernidade se diverte, transformando a profundidade humana em folha impressa com cláusulas, assinaturas e cifras.


Buda (Siddhartha Gautama); O Príncipe que Fugiu da Realidade

 

Por Yuri Schein 

Siddhartha Gautama nasceu no século VI a.C., em Lumbini, filho de um rei do clã Shakya. Desde cedo, segundo a tradição, foi protegido de todo sofrimento: pobreza, doença, velhice e morte. Seu pai, com a habitual paranoia de monarcas obcecados por posteridade, desejava criar um ambiente hermético, isolando o príncipe da dura realidade do mundo. Aqui já temos o primeiro ponto crítico: proteger um ser humano da realidade não é cuidado, é criação de um ególatra artificial, que mais tarde se tornaria famoso por fugir do óbvio.

Aos dezenove anos, Siddhartha casou-se com Yasodhara, consolidando sua posição social e política. Contudo, a monotonia do luxo palaciano não apaziguava a inquietação do jovem príncipe. Um dia, em suas excursões fora do palácio, ele teve quatro visões que transformariam sua vida: um velho, um doente, um cadáver e um asceta. Esses encontros deveriam funcionar como “epifania” para motivá-lo a buscar respostas. Aqui reside a ironia: para ele, a solução para o sofrimento humano não era agir dentro do mundo, melhorar, influenciar ou compreender o cosmos; era fugir dele. A grande lição? O isolamento e a contemplação passiva como remédio para a realidade, algo que qualquer mente minimamente ativa consideraria absurdo.

Com o impacto dessas visões, Siddhartha abandonou sua esposa, seu filho recém-nascido e todo conforto material para tornar-se asceta. É um gesto dramático, quase hollywoodiano: renunciar a tudo para encontrar iluminação. Mas, novamente, aqui se mostra o caráter problemático do budismo primitivo: a moral prática é substituída por abandono pessoal. Ele literalmente ABANDONA RESPONSABILIDADES humanas imediatas em nome de uma busca abstrata, idealizando sofrimento pessoal como caminho para sabedoria.

Nos anos seguintes, Gautama praticou austeridades extremas, chegando a quase se matar de fome. Seus discípulos até o abandonaram, preocupados com sua sanidade física e mental. Aqui está o ponto nevrálgico: a ideia de que a dor autoimposta, a mortificação do corpo, gera iluminação, é não apenas desumana, mas intelectualmente preguiçosa. Ele transforma a vida em sofrimento deliberado, chamando isso de virtude. A lógica é simples: se o sofrimento existencial é inevitável, então a melhor saída é criar mais sofrimento ainda para si mesmo. Um círculo perverso que só reforça o caráter escapista de sua filosofia.

Eventualmente, Gautama abandonou as austeridades e decidiu meditar sob a famosa Árvore Bodhi. Lá, após profunda contemplação, ele alcançou a “iluminação”: o Nirvana. Segundo os textos, compreendeu a natureza do sofrimento (dukkha), a impermanência (anicca) e a ausência de um eu permanente (anatta). Aqui reside outra ironia grotesca: ele alcança “clareza” sobre a existência, mas essa clareza é essencialmente negativa: tudo é sofrimento, tudo é impermanente, você não é você mesmo. A promessa de libertação é alcançada não pela ação positiva no mundo ou pela verdade objetiva, mas pela negação, pela fuga da realidade.

Depois de sua iluminação, Gautama passou os quarenta e cinco anos seguintes viajando pelo norte da Índia, ensinando o Dharma, reunindo discípulos e formando a Sangha. Ele pregava compaixão, amor e desapego. Contudo, a filosofia central continuava escapista: o foco não era compreender Deus, o cosmos ou a moral objetiva, mas reduzir o apego para escapar do sofrimento. Ou seja, para Buda o amor e compaixão são virtuosos, mas a justificativa metafísica para eles é filosoficamente frágil. Reduzir toda existência a sofrimento e sugerir fuga é um “mantra” conveniente para a mente cansada, não uma teoria coerente do mundo.

Ele morreu aos oitenta anos em Kushinagar, supostamente de intoxicação alimentar, deixando uma tradição que se espalhou por séculos. O budismo cresceu e se diversificou, incorporando rituais, e em alguns ramos deidades menores e interpretações filosóficas. Mas o ponto nevrálgico permanece: o núcleo da doutrina budista não responde às questões últimas da existência. O mundo não é explicado, Deus não é reconhecido, a moral absoluta não é fundamentada, tudo é uma estratégia de evasão metafísica disfarçada de sabedoria.

Em resumo, Siddhartha Gautama pode ser chamado de um exemplo de inteligência e disciplina, mas sua filosofia central é escapista, focada na redução de sofrimento individual através da negação e do abandono da realidade. Ele é celebrado por clareza e compaixão, mas a pergunta que permanece é: clareza de quê? Compromisso com quê? Para quem busca respostas sobre Deus, origem, propósito e destino, Buda oferece silêncio e evasão, não verdade.

O Anel de Giges: Ilusão da Autonomia Humana



Por Yuri Schein 

O mito do Anel de Giges, relatado por Platão, narra um anel que tornava invisível seu portador, dando-lhe poder absoluto para agir sem ser visto ou punido. Giges, ao descobrir tal poder, entrega-se ao adultério, assassinato e usurpação do trono. O conto expõe a ideia de que, sem consequências visíveis, o homem naturalmente seguiria seus desejos mais corruptos.

Este mito, porém, não é apenas uma reflexão moral grega, mas um retrato da condição decaída do coração humano: “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas” (Jr 17:9). Platão intuía algo verdadeiro, que o homem, abandonado a si, não busca a justiça, mas o egoísmo. Entretanto, a filosofia grega, sem a revelação divina, não possui solução. O máximo que oferece é o apelo à virtude abstrata, incapaz de transformar a corrupção interior.

A Escritura, ao contrário, mostra que mesmo sem “anel” algum, o homem já peca em secreto, diante de um Deus que tudo vê (Sl 139). O verdadeiro problema não é a oportunidade de pecar sem testemunhas, mas a natureza pecaminosa que deseja pecar. O anel apenas revela o que já está no coração. Assim, o mito de Giges desmonta a ilusão da autonomia moral humana e mostra que só pela graça de Deus, que vê todas as coisas, o homem pode ser liberto da tirania de si mesmo.

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Aseidade: O Deus que Existe por Si Mesmo

 


Por Yuri Schein 

A aseidade é o atributo incomunicável pelo qual Deus existe em Si mesmo, sem depender de nada fora dEle. Diferente de toda criatura, que é derivada, contingente e dependente, Deus é necessário, absoluto e autoexistente. Ele não foi causado, não teve início e não pode ser condicionado por algo externo. Quando declarou a Moisés: “Eu Sou o que Sou” (Êx 3:14), Deus revelou que Seu ser é fonte de todo ser.

Esse atributo sustenta toda a teologia cristã. Se Deus não fosse autoexistente, Ele seria apenas mais um ente dentro do universo, sujeito às mesmas leis da criação. Mas sendo Aquele que tem a vida em Si mesmo (Jo 5:26), Ele é a causa primeira de todas as coisas e o sustentador contínuo do mundo (At 17:28). Aseidade significa que Deus não precisa do homem, da adoração ou de qualquer complemento para ser pleno. Toda a criação, ao contrário, depende inteiramente dEle para existir.

Na prática, a aseidade humilha o orgulho humano e destrói qualquer noção de autonomia. O ateu que nega a Deus ainda respira o oxigênio sustentado pelo Deus que ele rejeita. Os ídolos dos homens, produtos da imaginação, carecem de vida em si; só o Deus da Escritura é o “EU SOU”, fundamento eterno da realidade. Crer na aseidade é reconhecer que tudo vem dEle, tudo subsiste por Ele e tudo retorna para Ele, porque somente Ele é absoluto.

#autoexistencia #aseidade #atributosincomunicáveis 

Bleach: Uma Cosmogonia de Espantalhos e a Teologia do Vazio

 


Por Yuri Schein 

Bleach apresenta ao espectador um universo que, à primeira vista, parece meticulosamente estruturado: há a Terra dos Vivos, a Soul Society, o Hueco Mundo, inúmeras divisões, hierarquias, organizações e regras rígidas que regem a vida e a morte. Porém, quando se observa com atenção, percebemos que toda essa aparente ordem não é outra coisa senão uma reificação da arrogância humana, uma tentativa de domesticarem o transcendental para caber nas limitações de um roteiro shonen. É uma cosmogonia em que o divino é reduzido a um espantalho de papelão, cheio de autoridade performática, mas desprovido de verdadeira soberania, onisciência e onipotência.

Na Soul Society, temos uma hierarquia de shinigamis, capitanes, vice-capitanes e subordinados. Há decretos, punições, execuções e cerimônias que lembram sistemas de governo humano misturados com ritual religioso. Mas quem realmente governa? Quem determina o destino das almas, a vida ou a morte? A resposta é ambígua e perigosamente humana. Ao invés de apresentar um Deus transcendente, soberano e absoluto, o anime nos oferece uma divindade fragmentada, diluída em regras internas, tradições e costumes de uma aristocracia espiritual que se orgulha de sua própria lei. É como se a narrativa quisesse construir algo “divino”, mas só conseguisse criar Byakuyas, Aizen e Urahara metafísicos, cada um carregando uma faceta do divino como se fosse uma autoridade parcial, desconectada do Todo.

O que Bleach faz, de maneira sutil mas consistente, é espalhar a heresia estrutural: a de que o cosmos e a moralidade podem ser governados por entidades limitadas, submetidas às leis internas de um sistema que se basta. A Soul Society não é Deus, mas atua como se fosse; Hueco Mundo não é punição eterna, mas apenas um lugar de “consequência narrativa”; os Hollow não são um reflexo do pecado original ou da corrupção do coração humano, mas criaturas com motivações simplistas que personificam o mal como um conceito manipulável. Em outras palavras, o divino se torna interpretável, negociável, e dependente da competência ou fraqueza dos personagens. Isso não é teologia, é antropocentrismo maquiado de filosofia.

A cosmogonia de Bleach reproduz um padrão antigo, familiar a qualquer estudante de história das religiões: a tentativa de domesticar Deus em estruturas hierárquicas humanas, como nos panteões pagãos da antiguidade, mas revestida de japonismo contemporâneo. Assim como os deuses gregos eram poderosos, mas caprichosos e egoístas, a Soul Society apresenta seres que julgam, punem e intervêm, mas não têm poder absoluto sobre todas as coisas, e muitas vezes suas ações dependem de esforço humano, força individual ou estratégia de batalha. Essa é a essência do erro teológico: colocar o humano no centro e reduzir Deus a um executor parcial de regras, quando a Escritura é clara em dizer que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:28) — e não para o entretenimento dramático de uma narrativa shonen.

Mais ainda, Bleach é um laboratório de antropomorfismo divino. A energia espiritual, as Zanpakutō, os poderes de rei das almas, as transformações e os níveis de rei, vice-rei e capitão, tudo isso transforma o divino em um objeto que pode ser medido, confrontado, superado. A hierarquia da Soul Society é uma metáfora de um Deus “controlável”: o espectador aprende que, com força suficiente ou planejamento estratégico, qualquer barreira divina pode ser transposta. Em termos teológicos, isso é heresia pura: a soberania de Deus não é passível de cálculo humano, nem subordinada à competência de criaturas falíveis. Bleach, portanto, pinta Deus como um espantalho de autoridade, ameaçador na aparência, mas inerentemente impotente diante da vontade humana ou do improviso narrativo.

A narrativa reforça ainda a ilusão de autonomia humana. Ichigo, Rukia, Renji e até antagonistas como Aizen e Gin parecem ter agência absoluta, tomando decisões que impactam destinos, reconfiguram universos e mudam o equilíbrio cósmico. Mas o que isso nos diz sobre a teologia de Bleach? Que a salvação, a ordem e o caos dependem de protagonistas heroicos, e não de um Deus eterno e soberano. Essa visão é essencialmente arminiana: o poder reside na criatura, o desfecho depende da escolha, e o divino é apenas uma força adjacente, limitável e, sobretudo, contestável.

Quando se olha sob a ótica do ocasionalismo calvinista, todo o sistema de Bleach é grotesco. Cada luta, cada vitória, cada transformação só existe enquanto Deus permite; nada ocorre de forma autônoma. Mas Bleach ignora isso completamente: a causalidade é humana, a moralidade é negociável, o improvável se torna crível pela coragem ou engenhosidade do protagonista. É uma teologia auto-construída, como se o espectador fosse chamado a aceitar que o humano pode, de fato, moldar o cosmos à sua vontade, algo que, na Escritura, é absurdamente falso.

No fim, Bleach não só erra na cosmogonia, como também na ética e na teologia: cria um universo funcionalmente politeísta, onde deuses são fragmentos de poder, regras substituem decretos divinos e a criatura é o verdadeiro protagonista. O resultado é um Deus-espantalho, uma entidade que impõe autoridade performática, mas que nunca exerce soberania real, nem pune de acordo com justiça absoluta, nem governa o mundo com perfeição. O espectador se vê diante de uma caricatura do divino, uma hierarquia aristocrática de fantasia que, se fosse religião, seria politeísmo disfarçado de espiritualidade.

Em termos pressuposicionais, Bleach é uma aula de como toda cosmogonia que não reconhece a soberania absoluta de Deus inevitavelmente gera heresia. Cada Hollow que perambula, cada rei que julga, cada protagonista que decide sozinho: todos são variações de um mesmo erro fundamental — a criatura como causa real e eficaz, Deus como espectador ou coadjuvante. É a materialização de Aristóteles, do molinismo, do arminianismo e do tomismo em forma narrativa: uma teologia de espantalhos, onde a autoridade divina é reduzida a uma convenção estética.

Se fôssemos resumir em silogismos pressuposicionais:

1. Se Deus não é absolutamente soberano e todas as causas dependem Dele → A cosmogonia é herética

2. Bleach apresenta um universo onde a agência humana determina resultados → Portanto, Bleach é herético.

3. Se a verdadeira teologia exige que Deus seja único, eterno, infinito e soberano → Qualquer universo que o fragmenta em autoridades menores é falso.

4. Bleach fragmenta o divino em capitanes, rei das almas, e protagonistas heroicos → Portanto, sua teologia é falaciosa

Bleach, portanto, não é apenas entretenimento: é uma demonstração narrativa de como a fantasia humana sempre pinta Deus com um espantalho, permitindo que criaturas se tornem protagonistas, heroicas e decisivas, enquanto o verdadeiro Autor é relegado à condição de mero observador. E é exatamente por isso que, do ponto de vista calvinista, ocasionalista e pressuposicional, todo fã de Bleach está, sem perceber, aprendendo uma teologia invertida, uma mitologia onde o poder é humano e a divindade é vazia.