sexta-feira, 20 de junho de 2025

A Fantasia da Graça Generosa e Preveniente: Arminianismo ou Autoajuda Espiritual?

A Fantasia da Graça Generosa e Preveniente: Arminianismo ou Autoajuda Espiritual?

“A graça preveniente é dada generosamente.”

— Arminiano otimista com problemas sérios de leitura bíblica

Dessa vez os arminianos resolveram avançar com uma nova alegação: que a tal "graça preveniente" é generosamente distribuída a todos os homens. Uma espécie de panfleto divino universal, distribuído na praça da salvação com direito a escolha de recebê-lo ou jogá-lo no lixo. Segundo eles, Deus é gracioso demais para não dar a todos uma chance. Parece bonito, parece justo, parece... herético.

Vamos analisar calmamente (e com uma boa dose de ironia) os textos citados.

Romanos 8:32 – A Generosidade Restrita à Aliança

“Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?”

(Romanos 8:32)

Essa é daquelas passagens que o arminiano cita esperando que o rótulo "graça" em algum lugar funcione como selo universal de aprovação. Mas vamos aos fatos.

Quem são os "nós"?

Vamos ver o contexto imediatamente anterior

 “Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou... e aos que predestinou, também chamou, e aos que chamou, também justificou, e aos que justificou, também glorificou.”

(Romanos 8:28-30)

Então a resposta à pergunta “quem são os ‘nós’?” é simples: os eleitos.

Não é a humanidade.

Não é a massa indistinta de pecadores esperando cooperar com a graça.

É um grupo claramente delimitado pela predestinação, chamado eficaz, justificação e glorificação.


Graça generosa? Sim. Mas para quem?

A generosidade de Deus é inegável. Ele não poupou seu Filho. Mas essa entrega foi feita por todos nós — ou seja, os eleitos.

O versículo não prova uma graça “preveniente” universal; pelo contrário, ele reforça a ideia de graça eficaz e soberana para os eleitos.

O uso desse versículo para defender o sinergismo é tão equivocado quanto citar o Salmo 23 para provar que todos os seres humanos têm uma vara e um cajado. A lógica é insustentável. O arminianismo vive de reciclar versículos com etiquetas trocadas.


Romanos 2:4 – Bondade Desprezada, Não Transformadora

“Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?”

(Romanos 2:4)

Este texto é um verdadeiro clássico da distorção arminiana. Vamos destrinchar.

A inferência errada: a bondade como oferta de arrependimento

O arminiano vê nesse texto uma graça universal que convida todos os homens ao arrependimento, como se Deus estivesse à porta, com flores, esperando o pecador dizer sim. Mas é só continuar lendo para ver o desastre dessa leitura:

“Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus.”

(Romanos 2:5)

Ou seja: o que Deus está denunciando aqui é o rejeição ativa da bondade por parte dos homens, não a eficácia de uma suposta graça "preveniente". A benignidade não é regeneradora por si mesma, pois o homem natural a despreza.


A concessão do arrependimento é prerrogativa de Deus

Paulo, em outra carta, esclarece que o arrependimento não é fruto da bondade genérica, mas um dom soberano:

 “Instruindo com mansidão os que resistem, a ver se, porventura, Deus lhes dará arrependimento, para conhecerem a verdade.”

(2 Timóteo 2:25)


Não se trata de um convite democrático. É Deus quem dá o arrependimento.

E quando Ele dá, o pecador se arrepende.

Não há cooperação, apenas conversão.


O erro teológico: confundir apelo com capacidade

Aqui entra novamente a lição gramatical-teológica de Lutero:

“Ordenar que alguém se arrependa não implica que ele possa se arrepender por si só.”

Assim, Romanos 2:4 é mais uma testemunha contra o arminianismo, pois demonstra que o homem é incapaz de responder corretamente à benignidade de Deus sem intervenção regeneradora.

O destinatário: o judeu religioso

Não esqueçamos que o alvo dessa exortação é o judeu moralista que presume ter superioridade sobre os gentios. Paulo está desmascarando sua hipocrisia, não construindo uma doutrina de graça universal regeneradora.

Pelo contrário, ele está expondo a dureza do coração impenitente, preparando o terreno para dizer em Romanos 3 que “não há justo, nem um sequer.”

Portanto, essa “graça preveniente generosa” é mais um mito teológico derivado de leituras superficiais e desconexas do texto sagrado.


Atos 17:26-27 – "Se porventura tateando o pudessem achar"

“De um só sangue fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de nós.”

(Atos 17:26-27)

Este texto é como um armário do qual os arminianos tentam tirar toda sorte de doutrinas — graça preveniente, livre-arbítrio, e talvez até veganismo se precisarem.

"Se porventura" = incerteza, não capacidade

Paulo está discursando para um grupo de filósofos pagãos. Ele reconhece que o conhecimento de Deus está disponível pela criação e pela consciência — mas isso não resulta em salvação, pois o homem tateia no escuro, tropeçando em ídolos, filosofias absurdas e pecados.

Não há aqui qualquer afirmação de que o homem pode, em sua natureza caída, encontrar a Deus por conta própria. A frase “se porventura” aponta para a tragédia da ignorância humana, não para a glória do livre-arbítrio.


Romanos 1 já destruiu essa tese

“O que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou... para que fiquem inescusáveis.”

(Romanos 1:19-20)

O conhecimento de Deus suficiente para condenação, mas insuficiente para salvação, está gravado na criação.

E qual é a resposta do homem natural?

“Tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus.”

“Deus os entregou a um sentimento perverso.”

“Não se importaram de ter conhecimento de Deus.”


O homem natural rejeita o conhecimento inato por causa da depravação total. O problema não é a ausência de luz, mas a cegueira moral voluntária.

Como Paulo mesmo diz em 1 Coríntios:

“O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”

(1 Coríntios 2:14)


O final de Atos 17: zombaria e rejeição

O resultado da pregação de Paulo foi claro:

“Quando ouviram falar da ressurreição dos mortos, uns escarneciam...”

(Atos 17:32)


Ou seja, mesmo após exposição clara, racional, teologicamente rica e apologeticamente poderosa, a maioria rejeita.

A graça comum (manutenção da vida, ordem, luz da criação) não regenera.

A “graça preveniente” que não regenera é apenas um nome bonito para impotência teológica.


A Generosidade da Graça é Exclusiva e Eficaz


Sim, Deus é generoso.

Sim, Deus é longânimo.

Sim, Deus é paciente.

Mas nada disso implica que Ele ofereça regeneração universal e passível de rejeição.


A eleição é pessoal.

A regeneração é eficaz.

O chamado é irresistível.

E a salvação é soberana.


A teologia arminiana da graça preveniente é apenas o catolicismo de volta à praça, oferecendo uma graça fraca, resistível e frustrável.

É uma tentativa covarde de salvar a autonomia humana à custa da glória de Deus.

Mas a Escritura, a lógica, e os Reformadores gritam em uníssono:

 “A salvação vem do SENHOR.”

(Jonas 2:9)


E Ele não pede licença.

Ele salva.



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