terça-feira, 17 de junho de 2025

A PIADA DO MILÊNIO: UMA DEMOLIÇÃO PRESUPOSICIONALISTA DO PRÉ-MILENISMO E FUTURISMO




Introdução: A Grande Ilusão de um Reino Futuro

Vivemos numa época em que a Igreja precisa urgentemente de uma teologia robusta, enraizada nas Escrituras e no progresso real da revelação — e não em fantasias dignas de roteiros hollywoodianos. Entre os maiores engodos que assolam a mente evangélica moderna está o pré-milenismo futurista — esse conto de fadas escatológico que insiste em enfiar um “reino” terreno entre a Segunda Vinda de Cristo e a eternidade, como se o Senhor tivesse esquecido alguma etapa no seu plano eterno e agora fosse improvisar um "reinado literal de mil anos em Jerusalém". Convenientemente, algumas visões e sub grupos dentro do pré milenismo ainda incluem: um templo reconstruído, sacrifícios restaurados (?), e um Jesus glorificado brincando de Rei de Israel enquanto os gentios assistem pela janela.

Vamos aos fatos. A teologia reformada histórica, os dados bíblicos e a lógica da revelação nos obrigam a desmontar esse castelo de areia com uma marreta exegética e presuposicional. E faremos isso com sarcasmo, porque como dizia Calvino: “A verdade de Deus merece mais reverência do que os sonhos humanos”.

1. O Novo Testamento Aplica as Promessas do Antigo Testamento à Igreja, Não a um “Israel Futuro”

Um dos pilares do futurismo é a ideia bizarra de que promessas feitas a Israel no Antigo Testamento aguardam cumprimento literal em um suposto "milênio" vindouro. Mas o Novo Testamento, em total desprezo à literalidade dispensacionalista, aplica essas promessas à Igreja agora.

Paulo declara em 2 Coríntios 1:20:

“Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; por isso também por ele é o amém, para glória de Deus, por nosso intermédio.”

Tente encontrar uma brecha para "cumprimentos duplos" nesse texto. Boa sorte. As promessas foram cumpridas em Cristo, e ponto. Isso significa que a herança de Israel pertence à Igreja porque a Igreja é o verdadeiro Israel. Como Anthony Hoekema pontua:

“O Novo Testamento não ensina um retorno a um Israel nacional, mas sua integração ao povo de Deus em Cristo.”
(The Bible and the Future, p. 196)

O pré-milenismo precisa desesperadamente de uma dicotomia entre Israel e a Igreja, mas Paulo a destrói sem misericórdia em Romanos 9:

“Não pensemos que a Palavra de Deus falhou. Porque nem todos os que são de Israel são israelitas.” (Rm 9:6)

Ou seja, as promessas continuam firmes — mas são para os eleitos, não para um etnos.

Perceba como Paulo impossibilita também a ideia do duplo cumprimento, ele responde uma pergunta implicita no texto: "Então Deus quis construir uma nação e não conseguiu? As promessas dele na Bíblia não se cumpriram?" Ele responde de maneira enfática: "E NÃO PENSEMOS que a palavra de Deus haja falhado" ou seja, nós não podemos, de maneira alguma pensar que Deus não cumpre suas promessas, e depois disso ele responde que as promessas de Deus se cumprem naqueles que Deus escolheu, esses são os verdadeiros Israelitas, o verdadeiro povo de Deus (Rm 9) esses são aqueles que Deus chamou "Dentre os judeus e também dentre os gentios" vs 24. Assim, Paulo não diz que as promessas de Deus ainda se cumprirão em um Israel étnico futuro em um Reino milenar literal, porém deixa claro que a Palavra de Deus vai ser cumprida cabalmente (Rm 9.28) ou seja, em breve Deus salvaria o remanescente de Israel (Isaías 10-22-23)

2. Não Existe “Reino Messiânico” Pós-Ressurreição. Ponto.

Se existe algo mais ridículo do que um reino de mil anos depois da ressurreição dos mortos, ainda não foi inventado. Paulo é claro como cristal em 1 Coríntios 15:

“Então virá o fim, quando ele entregar o Reino a Deus, o Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Pois é necessário que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte.” (1Co 15:24-26)

Note a ordem:

  • Cristo reina agora ("é necessário que ele reine até…"),
  • Ele destrói todos os inimigos,
  • O último inimigo é a morte,
  • Depois disso vem o fim, não um novo governo literal em Jerusalém.

Se a morte é o último inimigo e ela é destruída na ressurreição, então não há mais inimigos para serem derrotados depois. O que sobra para um milênio literal? Nada. A não ser que se queira chamar a eternidade de “milênio”, o que além de patético, seria heresia de calendário.

Geerhardus Vos conclui:

“Não há espaço para um reino intermediário depois da ressurreição. O fim é consumado ali.”
(Pauline Eschatology, p. 274)

3. A Conversão de Israel Acontece Sem Milênio, Sem Terceiro Templo e Sem Espetáculo

Outro pilar do futurismo é que “Israel” — essa entidade política metafísica — precisa ser restaurada com templo, terra e sacrifícios. Mas o texto bíblico é claro: a conversão futura de judeus (Rm 11:26) ocorre por meio do Evangelho, sem necessidade de aparições teofânicas, revoluções militares ou inaugurações cerimoniais em Jerusalém.

A profecia diz que eles serão enxertados novamente, mas na mesma oliveira — a Igreja.

“Eles também, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; pois Deus é poderoso para os tornar a enxertar.” (Rm 11:23)

Nada de nova era judaica milenial. Não há necessidade de um espetáculo do Messias como mágico itinerante para convencer judeus modernos. A Palavra e o Espírito bastam. Jesus mesmo diz:

“Bem-aventurados os que não viram e creram.” (Jo 20:29)

Achar que judeus precisam ver Cristo glorificado reinar em carne para se converterem é simplesmente rejeitar a suficiência das Escrituras.

4. A Aliança Davídica se Cumpre em Cristo, Não em Tel Aviv

O Salmo 89 e outras profecias davídicas são interpretadas no Novo Testamento como cumpridas em Jesus Cristo e em seu reinado atual, não em algum milênio teatral no futuro.

Atos 2:30-36 destrói qualquer tentativa de adiar o trono de Davi:

“Sendo, pois, profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar no seu trono… Deus o ressuscitou… exaltado, pois, pela destra de Deus…”

A ressurreição é a entronização de Cristo no trono de Davi. Herman Ridderbos diz:

“O reino de Deus está agora presente porque Cristo reina agora. O trono de Davi é celestial.”
(The Coming of the Kingdom, p. 143)

Você quer mais prova? Hebreus 1 diz que Jesus já está “assentado à direita da Majestade nas alturas”. Não há lugar para tronos alternativos.

5. Futurismo: Um Roteiro de Ficção Científica com Citações Bíblicas Fora de Contexto

O futurismo em si é uma aberração teológica importada dos delírios de John Nelson Darby, alimentada pelo dispensacionalismo americano e comercializada por best-sellers como "Deixados para Trás", que substituíram a exegese por fanfic apocalíptica.

John Murray despreza isso elegantemente:

“A expectativa de um reino terreno vindouro contradiz a consumação escatológica bíblica.”
(Collected Writings, vol. 2, p. 383)

A ideia de que Cristo veio, morreu, ressuscitou, ascendeu, reina à direita de Deus… mas ainda precisa reinar na Terra por mil anos antes de finalmente entregar o Reino — é simplesmente um insulto à lógica bíblica e à suficiência de sua obra.

Conclusão: O Maior Problema Não é o Milênio. O Problema É o Dispensacionalismo

Vamos encerrar com honestidade brutal: o tal “problema do milênio” não é o maior problema para o cristianismo. Nunca foi. Nunca será. O problema é, sempre foi, e sempre será… o dispensacionalista. É ele quem não suporta a ideia de um Deus que cumpre Suas promessas como Ele quer, quando quer, para quem quiser — mesmo que isso signifique dissolver as fronteiras étnicas, geográficas e geopolíticas em Cristo.

Portanto, zombem do milênio literal. Escarneçam da ideia de que Jesus depois de ter se humilhado e sido glorificado, vai se levantar do seu trono antes que se cumpram as promessas de Deus "até que sejam colocados todos os inimigos debaixo de seus pés" (Sl 110, 1 Co 15), ou então da ideia ridícula com um templo carnal e sistema levítico reciclado. E quando alguém vier defender essa palhaçada, ofereça a ele a Bíblia aberta em 1 Coríntios 15. Ou um mapa de Jerusalém. Ambos servem para mostrar o quanto ele está perdido.


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