quinta-feira, 26 de junho de 2025

Refutando o Historicismo

O método historicista de interpretação escatológica tem sido amplamente utilizado desde a Reforma, especialmente por reformadores como Lutero e Calvino, que identificaram o papado com o Anticristo. No entanto, esse método possui problemas exegéticos, contradições internas e falhas sistemáticas que exigem crítica, especialmente à luz de uma hermenêutica calvinista, bíblica e consistente.


⚔️ I. DEFINIÇÃO DO HISTORICISMO

O historicismo interpreta os textos proféticos (especialmente Daniel e Apocalipse) como uma revelação contínua da história da Igreja e do mundo desde os tempos bíblicos até o fim dos tempos. Assim:

Os selos, trombetas e taças do Apocalipse são entendidos como eventos históricos sucessivos, geralmente já ocorridos.

O Anticristo é frequentemente identificado com o papado.

As bestas de Apocalipse 13 seriam instituições religiosas e políticas de épocas específicas.

O “tempo, tempos e metade de um tempo” (Dn 7:25; Ap 12:14) equivale a 1.260 anos, desde algum ponto histórico específico até a Reforma ou outro marco.


🚨 II. CONTRADIÇÕES INTERNAS DO HISTORICISMO


1. Datações arbitrárias e mutáveis

O historicismo nunca foi unânime sobre quais eventos históricos se relacionam a quais símbolos proféticos. Diferentes historicistas colocam os 1.260 dias começando:

No decreto de Justiniano (538 d.C.),

No édito de Fócio (ou até em 756 d.C. com a doação de Pepino),

Ou terminando com Lutero (1517) ou Napoleão (1798).

➡️ Contradição: o mesmo número profético (1.260 dias) pode ter diversas datas de início e fim, dependendo do intérprete, anulando qualquer objetividade.


2. Desconexão com o texto imediato

As visões historicistas muitas vezes ignoram o contexto imediato dos capítulos, forçando aplicações históricas que:

Não fazem sentido no fluxo narrativo do Apocalipse;

Ignoram a estrutura literária interna (sete selos, sete trombetas, sete taças, paralelismos);

Supõem que João escreveu para narrar a Idade Média, o que seria inútil para as sete igrejas da Ásia.


➡️ Contradição: o texto é apresentado como revelação “em breve” (Ap 1:1; 22:6), mas o historicismo adia seu cumprimento por milênios.


3. Anticristo contínuo ou mutável

Historicistas afirmam que o Anticristo é o papado, mas:

Qual papa? O sistema inteiro ou um indivíduo específico?

Como pode o Anticristo ser uma figura corporativa e contínua, enquanto 2 Tessalonicenses 2 descreve “o homem da iniquidade” como um só ser que será revelado e destruído por Cristo?

➡️ Contradição: confusão entre um personagem escatológico e uma instituição contínua, o que desvia do texto bíblico.


4. Eisegese política e ideológica

Muitos historicistas projetam cenários contemporâneos em profecias antigas: Napoleão, Hitler, a ONU, a União Europeia, etc. Isso é mais leitura ideológica do que exegese.

➡️ Resultado: interpretações mutáveis conforme o jornal da época.


📖 III. TEXTOS BÍBLICOS QUE REFUTAM O HISTORICISMO

1. Imediatismo das profecias

“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer...”

— Apocalipse 1:1

“Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo.”

— Apocalipse 22:10


🛡️ O historicismo desrespeita essas declarações, propondo que o cumprimento ocorreria séculos (ou milênios) depois.


2. Unidade do Anticristo como indivíduo

“Esse perverso será revelado, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro da sua boca...”

— 2 Tessalonicenses 2:8

“O anticristo há de vir.”

— 1 João 2:18


🔍 Os textos falam de um ser, não de uma sucessão de papas ou líderes. O historicismo dilui o conceito bíblico de Anticristo.


3. Simultaneidade dos julgamentos

As taças, trombetas e selos no Apocalipse frequentemente mostram eventos cósmicos simultâneos e climáticos, como terremotos finais, juízo total, etc. Por exemplo:

“E houve relâmpagos, vozes, trovões, e um grande terremoto.”

— Apocalipse 11:19, 16:18

🔁 Isso indica eventos escatológicos finais, não progressivos e históricos.


📉 IV. INCONSISTÊNCIA COM A TEOLOGIA DO DOMÍNIO (PÓS-MILENISMO)

Historicistas protestantes frequentemente associam o domínio do Anticristo com o domínio histórico da Igreja Católica Romana. Mas isso ignora o avanço do Reino profetizado nas Escrituras:


> “O Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído...”

— Daniel 2:44

“O Reino é como o fermento que leveda toda a massa...”

— Mateus 13:33


➡️ A visão historicista tende a ser pessimista e preterista seletiva, enquanto afirma ser futurista para outras partes.


🛑 V. CONCLUSÃO: UMA REFUTAÇÃO SISTEMÁTICA


Resumo das contradições do historicismo:

1. Ignora o tempo imediato declarado pelas Escrituras.

2. É altamente subjetivo, variando com o intérprete.

3. Fragmenta profecias literariamente unificadas.

4. Reduz personagens escatológicos a instituições longas, distorcendo o texto.

5. Contraria o avanço do Reino de Cristo profetizado na Escritura.

6. Torna-se dependente do noticiário, em vez de fundamentar-se na exegese fiel.





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