O método historicista de interpretação escatológica tem sido amplamente utilizado desde a Reforma, especialmente por reformadores como Lutero e Calvino, que identificaram o papado com o Anticristo. No entanto, esse método possui problemas exegéticos, contradições internas e falhas sistemáticas que exigem crítica, especialmente à luz de uma hermenêutica calvinista, bíblica e consistente.
⚔️ I. DEFINIÇÃO DO HISTORICISMO
O historicismo interpreta os textos proféticos (especialmente Daniel e Apocalipse) como uma revelação contínua da história da Igreja e do mundo desde os tempos bíblicos até o fim dos tempos. Assim:
Os selos, trombetas e taças do Apocalipse são entendidos como eventos históricos sucessivos, geralmente já ocorridos.
O Anticristo é frequentemente identificado com o papado.
As bestas de Apocalipse 13 seriam instituições religiosas e políticas de épocas específicas.
O “tempo, tempos e metade de um tempo” (Dn 7:25; Ap 12:14) equivale a 1.260 anos, desde algum ponto histórico específico até a Reforma ou outro marco.
🚨 II. CONTRADIÇÕES INTERNAS DO HISTORICISMO
1. Datações arbitrárias e mutáveis
O historicismo nunca foi unânime sobre quais eventos históricos se relacionam a quais símbolos proféticos. Diferentes historicistas colocam os 1.260 dias começando:
No decreto de Justiniano (538 d.C.),
No édito de Fócio (ou até em 756 d.C. com a doação de Pepino),
Ou terminando com Lutero (1517) ou Napoleão (1798).
➡️ Contradição: o mesmo número profético (1.260 dias) pode ter diversas datas de início e fim, dependendo do intérprete, anulando qualquer objetividade.
2. Desconexão com o texto imediato
As visões historicistas muitas vezes ignoram o contexto imediato dos capítulos, forçando aplicações históricas que:
Não fazem sentido no fluxo narrativo do Apocalipse;
Ignoram a estrutura literária interna (sete selos, sete trombetas, sete taças, paralelismos);
Supõem que João escreveu para narrar a Idade Média, o que seria inútil para as sete igrejas da Ásia.
➡️ Contradição: o texto é apresentado como revelação “em breve” (Ap 1:1; 22:6), mas o historicismo adia seu cumprimento por milênios.
3. Anticristo contínuo ou mutável
Historicistas afirmam que o Anticristo é o papado, mas:
Qual papa? O sistema inteiro ou um indivíduo específico?
Como pode o Anticristo ser uma figura corporativa e contínua, enquanto 2 Tessalonicenses 2 descreve “o homem da iniquidade” como um só ser que será revelado e destruído por Cristo?
➡️ Contradição: confusão entre um personagem escatológico e uma instituição contínua, o que desvia do texto bíblico.
4. Eisegese política e ideológica
Muitos historicistas projetam cenários contemporâneos em profecias antigas: Napoleão, Hitler, a ONU, a União Europeia, etc. Isso é mais leitura ideológica do que exegese.
➡️ Resultado: interpretações mutáveis conforme o jornal da época.
📖 III. TEXTOS BÍBLICOS QUE REFUTAM O HISTORICISMO
1. Imediatismo das profecias
“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer...”
— Apocalipse 1:1
“Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo.”
— Apocalipse 22:10
🛡️ O historicismo desrespeita essas declarações, propondo que o cumprimento ocorreria séculos (ou milênios) depois.
2. Unidade do Anticristo como indivíduo
“Esse perverso será revelado, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro da sua boca...”
— 2 Tessalonicenses 2:8
“O anticristo há de vir.”
— 1 João 2:18
🔍 Os textos falam de um ser, não de uma sucessão de papas ou líderes. O historicismo dilui o conceito bíblico de Anticristo.
3. Simultaneidade dos julgamentos
As taças, trombetas e selos no Apocalipse frequentemente mostram eventos cósmicos simultâneos e climáticos, como terremotos finais, juízo total, etc. Por exemplo:
“E houve relâmpagos, vozes, trovões, e um grande terremoto.”
— Apocalipse 11:19, 16:18
🔁 Isso indica eventos escatológicos finais, não progressivos e históricos.
📉 IV. INCONSISTÊNCIA COM A TEOLOGIA DO DOMÍNIO (PÓS-MILENISMO)
Historicistas protestantes frequentemente associam o domínio do Anticristo com o domínio histórico da Igreja Católica Romana. Mas isso ignora o avanço do Reino profetizado nas Escrituras:
> “O Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído...”
— Daniel 2:44
“O Reino é como o fermento que leveda toda a massa...”
— Mateus 13:33
➡️ A visão historicista tende a ser pessimista e preterista seletiva, enquanto afirma ser futurista para outras partes.
🛑 V. CONCLUSÃO: UMA REFUTAÇÃO SISTEMÁTICA
Resumo das contradições do historicismo:
1. Ignora o tempo imediato declarado pelas Escrituras.
2. É altamente subjetivo, variando com o intérprete.
3. Fragmenta profecias literariamente unificadas.
4. Reduz personagens escatológicos a instituições longas, distorcendo o texto.
5. Contraria o avanço do Reino de Cristo profetizado na Escritura.
6. Torna-se dependente do noticiário, em vez de fundamentar-se na exegese fiel.
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