domingo, 13 de abril de 2025

Apresentação do "Mito do Dado"

 O “Mito do Dado” é um conceito filosófico introduzido por Wilfrid Sellars, onde ele questiona a ideia de que os "dados sensoriais" ou "informações brutas" podem servir como uma base neutra e objetiva para o conhecimento. Sellars argumenta que não existem “dados puros” ou “dados brutos”, pois toda informação que recebemos é mediada por conceitos, interpretações e contextos. Em outras palavras, o que percebemos ou interpretamos como “dado” já está moldado po nossas estruturas cognitivas e culturais.

A crítica de Sellars

Sellars desafiou a visão tradicional de que os sentidos poderiam fornecer uma base direta e confiável para o conhecimento. Ele apontou que, para que algo seja considerado um “dado”, já é necessário aplicar conceitos e interpretações. Por exemplo, ao olhar para o céu e dizer que ele é azul, você não está apenas percebendo uma cor; você está aplicando o conceito de “azul” à sua experiência sensorial. Isso significa que o conhecimento não pode ser reduzido a uma simples apreensão sensorial, pois sempre envolve um processo interpretativo.

Exemplos práticos

Interpretação de gráficos: Imagine que você está analisando um gráfico financeiro. Os números e linhas no gráfico podem parecer “dados" mas eles dependem de seu conhecimento prévio, como entender o que é uma tendência de alta ou baixa. Sem esse contexto, os números seriam apenas símbolos sem significado.

Fotografia como dado visual: Uma fotografia pode ser vista como um “dado visual”, mas o que ela representa depende de como a interpretamos. Uma imagem de uma paisagem pode evocar sentimentos de tranquilidade para algumas pessoas, enquanto para outras pode ser apenas uma representação geográfica. A fotografia, portanto, não é neutra; ela é moldada pelo enquadramento, pela luz e até pela intenção do fotógrafo.

Algoritmos e inteligência artificial: Na era digital, os algoritmos processam grandes quantidades de dados, mas esses dados não são neutros. Eles são coletados, organizados e priorizados com base em critérios definidos por humanos. Por exemplo, um algoritmo de recomendação em uma plataforma de streaming não apenas apresenta “dados brutos”, mas molda suas escolhas com base em padrões de comportamento e preferências.

Conclusão com silogismo

Podemos resumir o “Mito do Dado” em um silogismo:

P1: Todo dado percebido ou interpretado envolve a aplicação de conceitos e contextos. 

P2: Dados que dependem de conceitos e contextos não podem ser considerados neutros ou objetivos. 

Conclusão: Portanto, não existem “dados brutos” ou “dados puros”; todo dado é mediado por interpretações.

Essa crítica de Sellars nos ajuda a pensar sobre como construír o conhecimento com base no empirismo, isso é na indução é falho, e como reconhecer que até mesmo as informações que consideramos objetivas são, na verdade, moldadas por nossas estruturas cognitivas e culturais.

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