quinta-feira, 23 de outubro de 2025

O Galardão Cristão: Segurança, Fé e a Soberania Absoluta de Deus

 


Por Yuri Schein 

O galardão cristão é frequentemente mal compreendido, especialmente entre aqueles que vivem sob a sombra do legalismo moderno, onde crentes são levados a temer que qualquer falha ou retrocesso possa anular a recompensa prometida por Deus. Essa visão distorcida transforma a graça em um contrato precário, gera ansiedade espiritual e obscurece a verdadeira liberdade cristã. A Bíblia, porém, apresenta um panorama completamente diferente: o galardão é fruto inevitável da fé verdadeira, sustentado pela soberania de Deus, e não pelo mérito humano.

Paulo escreve aos coríntios sobre a qualidade da obra edificada sobre o fundamento de Cristo: “Se a obra de alguém se queimar, sofrerá perda; mas o tal será salvo, porém como através do fogo” (1 Co 3:15). É crucial compreender que esse “se” é uma hipótese, não uma previsão de que a obra realmente será destruída. É como se disséssemos: “Se alguém tentasse atravessar um deserto carregando areia na ponta de uma vara, tudo cairia”—isso não significa que alguém vá realmente fazer isso, mas ilustra a fragilidade de esforços mal fundamentados. Paulo usa a hipótese para mostrar a diferença entre obras duradouras, sustentadas pela fé, e obras superficiais, motivadas por orgulho ou vaidade. Ouro, prata e pedras preciosas simbolizam obras sólidas, fruto de fé genuína; madeira, feno e palha representam esforços que não têm base verdadeira. A segurança do galardão não depende da constância humana, mas da fidelidade de Deus, que garante que a obra produzida nele não será perdida.

A fé genuína se manifesta inevitavelmente em ações coerentes com a graça recebida. Gálatas 5:6 afirma que “a fé que atua pelo amor” é a fé que se demonstra na vida cotidiana, e Tiago 2:17 completa: “Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma”. Nenhum retrocesso momentâneo anula essa fé viva. Mesmo quando o crente tropeça, Deus continua a operar, preservando a obra e garantindo que a promessa do galardão se cumpra. Cada falha é oportunidade de disciplina e purificação, não de perda de recompensa. Hebreus 12:6 declara: “Porque o Senhor corrige a quem ama, e açoita a todo filho a quem recebe”, e 1 Coríntios 11:32 acrescenta que a disciplina serve para que não sejamos condenados com o mundo. A correção divina, portanto, aperfeiçoa, fortalece e purifica o caráter, sem jamais retirar aquilo que Ele prometeu.

A ideia do crente derrotado ou do “perigo constante de perder a recompensa” é uma fantasia legalista moderna. O verdadeiro cristão pode pecar, mas não permanece no pecado de forma habitual (1 Jo 3:9), e nada pode separá-lo do amor de Deus (Rm 8:38-39). Retrocessos temporários não comprometem a fidelidade divina nem a promessa de recompensa eterna. Cada pensamento, ação e circunstância da vida do crente está sob a direção soberana de Deus (Ef 1:11; Ec 11:5), que garante que tudo coopere para o bem daqueles que são chamados segundo Seu propósito.

Essa certeza desarma o legalismo contemporâneo, que transforma a graça em terror moral. Muitos crentes, escravizados pelo medo da falha, tentam preservar o galardão através de esforço próprio, vigilância constante ou perfeição impossível. O ensino bíblico é claro: o galardão não depende do desempenho humano, mas da obra de Deus que opera dentro do crente. Assim, a recompensa não é conquistada, mas revelada; não depende da constância humana, mas da fidelidade de Deus.

A tradição cristã reformada sempre ensinou que o galardão é seguro. Obras são frutos inevitáveis da fé; retrocessos ou falhas não alteram a promessa divina. Romanos 8:28-30 assegura que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus, e que a obra de Deus não pode ser frustrada. Cada retrocesso é, na realidade, instrumento de Deus para aperfeiçoar o crente, não ameaça à sua recompensa.

O galardão, portanto, é seguro, inalienável e eterno. Ele é fruto da fé viva, expressão de obediência que surge da obra soberana de Deus, garantia de recompensa que permanece mesmo diante de tropeços. Cada disciplina é uma lapidação, cada falha uma oportunidade de purificação, e cada vitória é manifestação da graça que nos sustenta. Descansar na certeza do galardão é viver livre do medo, da ansiedade e da culpa, sabendo que a graça de Deus que produz frutos inevitáveis garante a recompensa eterna. O galardão está seguro na mão de Deus. Sempre esteve. Sempre estará.

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