Por Yuri Schein
Quando olhamos para Gênesis 2.15, não vemos apenas horticultura, mas a semente de toda a história redentiva. A ordem de cultivar e guardar o jardim é o fio condutor que atravessa a Escritura, formando uma linha do tempo que desemboca inevitavelmente no pós-milenismo. Eis o encadeamento:
1. Éden (Gênesis 2.15) – Adão é colocado como sacerdote-rei, incumbido de cultivar o jardim (desenvolver a criação) e guardar contra a serpente. Ele falha, mas o plano não é abortado; o protoevangelho (Gn 3.15) já aponta a vitória da semente da mulher.
2. Patriarcas (Gênesis 12.3; 22.17-18) – A promessa é ampliada a Abraão: “em ti serão benditas todas as famílias da terra” e “a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos”. O mandato cultural agora ganha escala global: não apenas jardim, mas nações inteiras.
3. Israel (Êxodo 19.6; Deuteronômio 4.6-8) – O povo é chamado de “reino de sacerdotes”, guardando a lei de Deus para testemunhar às nações. O tabernáculo e depois o templo repetem a vocação do Éden: guardar o santo e cultivar a adoração verdadeira. Israel falha, mas a tipologia permanece.
4. Davi e os Salmos (Salmo 2; 72) – O rei messiânico recebe a promessa de dominar as nações e estender o governo até os confins da terra. Aqui o mandato cultural se entrelaça com o reinado do Messias: subjugar não só o jardim, mas o mundo.
5. Profetas (Isaías 2.2-4; Habacuque 2.14) – Anunciam a expansão do conhecimento de Deus a todas as nações, até que a terra se encha da sua glória. O que começou em Éden será universalizado.
6. Cristo, o último Adão (Mateus 28.18; João 17.12; 1 Coríntios 15.25) – Ele guarda o povo, vence a serpente e declara possuir toda autoridade. O mandato original é retomado como Grande Comissão: discipular as nações, cultivar a terra com o evangelho, guardar a verdade até que todos os inimigos sejam postos debaixo de seus pés.
7. Igreja (Efésios 2.21; Apocalipse 11.15) – Agora o templo é vivo, espalhado pelo mundo. O Reino cresce como fermento (Mt 13.33), a missão progride historicamente e a vitória é inevitável: “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo.”
8. Consumação (Apocalipse 21–22) – O Éden restaurado: o jardim-jardim se torna cidade-jardim. A árvore da vida, o rio e a glória de Deus permeiam a nova criação. O mandato cultural chega ao ápice, não abandonado, mas consumado em plenitude.

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