quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Ad'Heim: Encruzilhada de Destinos


por Yuri Schein 

O vento soprava forte entre os campos secos que separavam as Vilas Gêmeas da estrada que levava a Lenoria Imperial. O sol começava a se pôr, tingindo o céu de tons dourados e alaranjados. Derek, arqueiro solitário, avançava cautelosamente, cada passo pesado por semanas de fome e cansaço. Seu arco estava firme nas costas, e a aljava quase vazia lembrava que ele precisava economizar cada flecha.

Do outro lado da estrada, as sombras alongavam-se, e um bater de asas cortou o silêncio. Um vulto enorme desceu de forma graciosa, pousando sobre uma rocha próxima. As asas membranosas dobraram-se lentamente, e o reflexo da luz do entardecer iluminou chifres curvos e olhos áureos. Thomas Walker, meio dragão, observava o horizonte, ajustando os dois montantes que carregava — um em cada mão — prontos para qualquer combate.

Thomas encarou Derek por um instante, atento. Um humano solitário, franzino, mas com o arco firme e postura alerta. Havia algo naquela determinação faminta que lembrava os velhos desafios que ele próprio enfrentara, mesmo sendo meio dragão. Por outro lado, Derek olhou para Thomas e sentiu um misto de medo e curiosidade: nunca havia visto alguém como ele: metade homem, metade dragão, armado com duas enormes espadas e chifres que brilhavam suavemente à luz do entardecer.

— Ei… você também está indo para Lenoria? — perguntou Derek, cauteloso, mantendo o arco pronto.

Thomas soltou um suspiro e encostou levemente os montantes no chão.

— Sim. Os senhores do dragão me enviaram. É uma missão para testar meu valor… ou talvez me livrar de vez. — Seu tom era sério, mas carregado de um leve sarcasmo. — E você?

— Oberon convocou qualquer um para lidar com mortos-vivos. — Derek deu de ombros, tentando parecer confiante. — Ninguém quer ir sem pagamento, mas… fome não negocia. — Ele apontou o arco levemente para o chão, sem ameaçar. — Eu sou Derek.

— Thomas Walker. — O meio dragão respondeu, cruzando os braços. Seus olhos analisavam Derek de cima a baixo, percebendo suas cicatrizes e a postura de alguém acostumado a sobreviver sozinho. — Parece que vamos para o mesmo lugar, então.

Derek relaxou um pouco, mas manteve a guarda:

— Eu não sei se você confia em humanos, mas… eu posso cobrir a retaguarda com minhas flechas.

Thomas sorriu de lado, mostrando um pouco de seus dentes afiados.

— E eu posso lidar com tudo que vier pela frente… ou acima de nós. As asas não são só para voar.

Um silêncio caiu entre eles, interrompido apenas pelo sussurro do vento que atravessava a estrada e pelo leve tilintar das armas de Thomas. Apesar de suas diferenças, havia uma tensão silenciosa: ambos estavam sozinhos, ambos precisavam sobreviver, e ambos sabiam que qualquer distração poderia custar caro.

— Então… juntos? — sugeriu Derek.

— Por enquanto. — Thomas concordou. — Mas não espere que eu vá salvar você se algo realmente perigoso aparecer. Você precisará provar seu valor, assim como eu.

Com isso, os dois começaram a caminhar lado a lado, a encruzilhada atrás deles agora apenas uma memória. A estrada para Lenoria Imperial se estendia à frente, e o crepúsculo os envolvia em uma luz que prometia tanto perigo quanto oportunidade.

Enquanto avançavam, o vento trouxe um cheiro estranho, metálico e frio, como se algo estivesse se aproximando. Nenhum deles falou, apenas se preparou. Flechas prontas, montantes firmes, asas dobradas, olhos atentos. A encruzilhada não era apenas física: era o ponto em que destinos distintos se encontravam, e Lenoria Imperial aguardava, cercada por mortos-vivos e mistérios que nem mesmo os dois poderiam prever.

E assim, o arqueiro humano e o meio dragão seguiram juntos, o início de uma aliança improvável, guiados pela necessidade, pela coragem e por um mundo prestes a mergulhar no caos.

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