quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Dark: O Tempo, o Destino e a Soberania que a Série Não Conhece

 


por Yuri Schein 

Poucas séries modernas capturam tão intensamente a obsessão humana pelo controle do tempo quanto Dark. Criada pelos alemães Baran bo Odar e Jantje Friese, ela não é apenas um quebra-cabeça temporal; é um tratado implícito sobre fatalismo, pecado e a fragilidade da razão humana diante do desconhecido. Assim como em O Exterminador do Futuro, o núcleo da narrativa gira em torno de um paradoxo: os eventos parecem predestinados, os personagens lutam contra um futuro que já aconteceu, e cada tentativa de mudar o curso da história apenas o confirma.

O fio condutor é a cidade fictícia de Winden, marcada por desaparecimentos misteriosos, ciclos de morte e revelações familiares chocantes. A trama central envolve quatro gerações de quatro famílias interconectadas e uma complexa rede de viagens no tempo que se repete a cada 33 anos. Jonas Kahnwald, protagonista, é um jovem atormentado que descobre não apenas segredos sobre sua própria família, mas que também está enredado em um ciclo que parece impossível de quebrar.

Aqui surge a primeira reflexão teológica: o determinismo absoluto. Em Dark, o tempo parece uma engrenagem inexorável. Cada ação humana é apenas a repetição de eventos já ocorridos. Filosoficamente, é o pesadelo do libertarismo: nenhum agente possui livre-arbítrio verdadeiro. Teologicamente, lembra o debate sobre predestinação. Porém, diferentemente do cristianismo, que vê a soberania de Deus operando juntamente com a responsabilidade humana (Rm 9; Ef 1), Dark apresenta um universo frio e cego, governado por leis mecânicas sem propósito moral. O fatalismo da série causa fascínio, mas também é um reflexo da humanidade tentando substituir Deus pelo tempo.

Os paradoxos temporais são quase sufocantes: Jonas envia mensagens para si mesmo, se encontra com versões mais velhas e mais jovens de si, e mesmo assim cada ação parece inevitavelmente reproduzir o ciclo. É a caricatura moderna do homem tentando ser deus: dominar o tempo, controlar o futuro, consertar erros passados. Vincent Cheung chamaria isso de “arrogância da razão humana isolada”, enquanto Gordon Clark alertaria que a mente humana, sem a revelação, se perde em espirais de confusão e erro.

A série também expõe o problema do mal. Crimes, suicídios, traições e tragédias se repetem de geração em geração. É a demonstração literária de Romanos 1: a humanidade, entregue a si mesma, continua em ciclos de pecado. Não há redenção visível; o mundo é repetição mecânica. Cada tentativa de “salvar” alguém apenas adia ou confirma o sofrimento. Aqui se percebe a diferença fundamental entre Dark e a Escritura: a Bíblia não só reconhece o mal, mas oferece solução real em Cristo.

Finalmente, Dark sugere uma solução quase mística: quebrar o ciclo exige a compreensão do “nó” entre mundos e agir com conhecimento total. Mas a razão humana nunca possui esse conhecimento completo. O que a série chama de “resolução” é ambíguo, uma esperança poética; a teologia cristã fornece certezas: a providência de Deus opera no tempo e fora dele, garantindo que nenhum mal é fora de seu controle, e que a redenção é segura em Cristo, não em manipulação temporal.

Em resumo, Dark é uma obra-prima de suspense e filosofia secular, mostrando o homem frente ao tempo, preso em ciclos, idolatrando sua própria razão. Mas como em todo sistema sem Deus, a esperança é ilusória e a moralidade, confusa. O cristianismo oferece o que Jonas nunca poderia alcançar: libertação do ciclo do pecado, verdadeira redenção e a soberania de um Deus que transcende o tempo.

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