Xenófanes de Cólofon – O Teólogo Cego da Natureza
“Se os bois e os cavalos tivessem mãos…” — Xenófanes
“E se os tolos tivessem lógica…” — Um cristão ocasionalista
Introdução: O Ídolo no Espelho
Xenófanes de Cólofon, ativo por volta do século VI a.C., é uma daquelas figuras da filosofia antiga frequentemente celebradas por sua suposta ousadia intelectual, mas que, sob escrutínio, revelam-se como mais um entre os muitos casos de fracasso épico da razão autônoma. Muitos o têm como um proto-monoteísta, um precursor do pensamento crítico sobre a religião, e até mesmo um ancestral intelectual dos teólogos modernos que odeiam a Bíblia, mas gostam de falar sobre “Deus” em termos vagos, poéticos e inofensivos. A verdade é que Xenófanes representa o homem que se cansa da idolatria popular apenas para erigir uma idolatria filosófica mais sofisticada — isto é, um deus feito à imagem da razão humana, mas sem forma visível. Em vez de bezerros de ouro, ele oferece abstrações douradas.
É nossa tarefa, como apologetas cristãos, especialmente aqueles da linhagem de Van Til, Gordon Clark e Vincent Cheung, fazer mais do que apenas rir com superioridade. Precisamos demolir seus fundamentos e mostrar que qualquer sistema que não começa com a revelação proposicional do Deus trino das Escrituras é nada mais do que um castelo feito de névoa sobre areia movediça.
A Cosmovisão de Xenófanes: Contra os Deuses Antropomórficos
Xenófanes ficou famoso por criticar os deuses da mitologia grega, especialmente aqueles retratados por Homero e Hesíodo, que agiam com ciúme, luxúria, engano e violência — em resumo, como gregos bêbados em uma taverna em Esparta. Em sua crítica, Xenófanes ridiculariza a ideia de que deuses tenham aparência humana, dizendo que se bois e cavalos pudessem pintar, pintariam deuses com formas bovinas e equinas.
Até aqui, palmas. Xenófanes identifica corretamente o problema da idolatria antropomórfica — mas é aí que termina sua utilidade. Porque, em vez de correr para o Deus revelado da Escritura — Aquele que criou o homem à sua imagem e não o contrário — Xenófanes decide que a melhor solução é fabricar um conceito de divindade abstrata, impessoal e absolutamente inútil. Seu deus é uno, imóvel, eterno, e pensa com todo o seu ser. Não interage com o mundo. Não fala. Não julga. É, para todos os fins, um conceito filosófico que faria Parmênides dar pulos de alegria e faria um profeta bíblico rasgar suas vestes.
O Deus de Xenófanes: Um Ser Inerte e Silencioso
O deus de Xenófanes é, segundo ele, uma unidade absoluta, imóvel e auto-consciente. Parece interessante até você perceber que esse “deus” não faz absolutamente nada. Ele não cria, não revela, não intervém, não tem poder pessoal. É um ser “perfeito” cuja perfeição é definida como total inação. Um ser que só pensa — e, já que não há outro ser fora dele com quem dialogar ou a quem amar, ele só pode pensar em si mesmo, eternamente. É basicamente o primeiro narcisista cósmico da história da filosofia.
Compare isso ao Deus das Escrituras: eterno, sim, mas também criador, sustentador, legislador, redentor, juiz e pai. Um Deus que fala com clareza (“Disse Deus: haja luz”) e que define todo o conhecimento, toda a moralidade, todo o significado e toda a história. O Deus de Xenófanes, por outro lado, parece mais com um paciente em estado vegetativo transcendental.
Epistemologia: As Mãos Vazias da Razão Humana
Aqui chegamos ao ponto em que Gordon Clark e Vincent Cheung dariam risada de canto de boca. Xenófanes denuncia os erros dos poetas, questiona as tradições mitológicas e afirma que os homens não conhecem a verdade divina. E qual é sua solução epistemológica? Uma admissão resignada de que talvez nunca conheceremos a verdade com certeza. Isto é, depois de destruir as certezas dos outros, ele se contenta em viver na dúvida sofisticada. A crítica à idolatria levou apenas à ignorância sistematizada.
E aqui entra a refutação pressuposicional: Xenófanes não pode justificar nenhum conhecimento. Nenhum. Seu sistema é autocontraditório, pois ele afirma que os homens não podem saber a verdade — exceto, claro, ele próprio, que sabe que ninguém pode saber. Ele critica os outros por inventarem deuses à sua imagem, mas inventa um deus à imagem de sua própria razão especulativa. Ele acusa os poetas de serem subjetivos, mas sua própria teologia é subjetiva e infundada.
Como Clark afirmaria, todo conhecimento deve ser proposicional, revelado por um Deus racional. Como Cheung apontaria, sem revelação divina, tudo o que resta ao homem é ignorância arrogante. Xenófanes é como alguém que percebe que o barco em que todos estão está furado, pula na água para escapar, mas esquece que não sabe nadar e ainda zomba dos que ficaram.
O Ocasionalismo e a Derrota do Deus Inerte
Xenófanes concebe um deus que não causa os eventos no mundo. Seu deus não determina nada. Isso o coloca em choque direto com o Deus das Escrituras, que não só criou todas as coisas como continuamente as sustenta (Hebreus 1:3) e as faz cooperar para o cumprimento de Seus decretos (Efésios 1:11). No ocasionalismo calvinista, como ensinado por Cheung e Edwards, Deus é a única verdadeira causa de todos os eventos, e todo o resto é apenas ocasião. Xenófanes, por outro lado, deixa o mundo rodando por conta própria, como um relógio sem relojoeiro — e, ironicamente, um relógio sem ponteiros.
Na cosmovisão bíblica, não só Deus criou o mundo como também escreve, define e executa cada milímetro da história. O Deus de Xenófanes é o oposto: um mero espectador divino, ou pior, um conceito filosófico que não assiste nem interfere — não porque é bondoso, mas porque é impotente.
Moralidade e a Falácia da Neutralidade
Se o deus de Xenófanes não fala, não julga, não age e não se revela, que base ele pode oferecer para a ética? Nenhuma. Sua crítica aos deuses imorais da mitologia grega não é sustentada por uma norma objetiva. Ele simplesmente não gosta da imoralidade deles — o que é, no fim, subjetivismo com toga filosófica.
Mas a cosmovisão cristã não oferece só uma ética superior; ela oferece a única ética possível. A lei de Deus, revelada proposicionalmente nas Escrituras, é a norma absoluta, universal e imutável para todos os homens. O cristianismo não precisa apenas de um deus que exista, mas de um Deus que fale, que ordene, que revele Sua vontade de maneira inteligível e racional. Xenófanes não tem isso — ele tem apenas um silêncio eterno, que parece profundo mas é apenas vazio.
Conclusão: O Deus do Filósofo é um Ídolo com Paletó
Xenófanes tentou criticar a idolatria antropomórfica, mas criou uma idolatria epistemológica e metafísica. Seu deus é um monumento à razão autônoma que, como sempre, tropeça em si mesma e cai de cara no chão. Ele desprezou as imagens de deuses com feições humanas, mas sua própria teologia é uma imagem feita com as abstrações de sua mente caída.
Como apologetas pressuposicionalistas, declaramos que só o Deus da Bíblia, revelado nas proposições das Escrituras, pode fundamentar lógica, moralidade, ciência e salvação. Todo outro sistema — seja politeísta ou monoteísta filosófico — é irracional e autodestrutivo. Xenófanes é mais um lembrete disso: um homem que viu a loucura dos ídolos, mas não enxergou o Logos encarnado.
Se Xenófanes tivesse vivido até ouvir o apóstolo Paulo em Atenas, talvez tivesse sido convidado a abandonar o seu “deus imóvel” e se prostrar diante do Deus vivo “em quem vivemos, nos movemos e existimos” (Atos 17:28). Mas, como tantos, preferiu sua própria imaginação.
O Deus Silencioso e os Gritos da Verdade
A Filosofia como Ídolo de Cera: Clark e a Refutação Lógica
Gordon Clark, mestre da epistemologia cristã proposicional, apontou que qualquer sistema de conhecimento que não se fundamenta na revelação divina é, por definição, irracional e autocontraditório. A razão humana, quando desligada da Escritura, não produz verdade, mas confusão organizada. Como Clark afirma com clareza cirúrgica:
“Sem revelação, o homem nada pode saber. Todos os seus pensamentos são apenas opiniões, e nenhuma delas pode ser justificada.”
— Gordon H. Clark, A Christian View of Men and Things
Xenófanes se encaixa perfeitamente nesse diagnóstico. Ele ousou criticar os mitos, mas sua alternativa foi uma filosofia sem base, uma teologia sem revelação. Ele queria escapar do politeísmo da imaginação popular, mas caiu nas armadilhas do racionalismo pagão. Pior ainda, ele admitiu que a verdade última pode ser inalcançável — uma confissão de derrota intelectual antes mesmo de começar a partida.
Clark não teria piedade dessa filosofia nebulosa:
“A filosofia não pode responder nem a uma única questão fundamental sem a revelação divina.”
— Clark, The Philosophy of Science and Belief in God
Xenófanes, portanto, ao tentar edificar um sistema teológico sem revelação proposicional, incorre na mesma tolice daqueles que adoravam Zeus ou Afrodite — a diferença é apenas de linguagem, não de substância.
Cheung: O Ocasionalismo e a Soberania Desprezada
Vincent Cheung, verdadeiro herdeiro intelectual de Clark, vai além ao afirmar com força que todo conhecimento válido depende da Escritura, e que a causalidade no mundo não é naturalista, mas ocasional — isto é, Deus causa diretamente todos os eventos. Xenófanes, com seu deus imóvel e ausente, rejeita exatamente isso. Para Cheung:
“O mundo natural não tem causalidade própria. O poder de causar reside unicamente em Deus, que continuamente cria e sustenta tudo conforme Sua vontade soberana.”
— Vincent Cheung, Systematic Theology
Se Xenófanes fosse confrontado com essa verdade, seu sistema ruiria completamente. Um deus que não move, não causa, não fala e não julga é, nas palavras de Cheung, “não apenas inútil, mas inexistente”. Xenófanes trocou os mitos de Homero por ociosas abstrações filosóficas — mas o Deus cristão é o causador de tudo, inclusive do movimento do pensamento e da vida. Como Cheung ainda declara:
“É por causa da revelação bíblica que podemos ter conhecimento verdadeiro. Os sistemas não-revelacionais não são apenas errados, mas pecaminosos.”
— Cheung, Ultimate Questions
O problema com Xenófanes não é meramente filosófico, mas ético e espiritual. Ele quer um deus que não exige nada. Ele quer criticar os ídolos, mas manter a idolatria intelectual.
John Piper: Glória, Revelação e o Deus Que Fala
John Piper, embora mais devocional em estilo do que Clark ou Cheung, compartilha com eles a convicção de que Deus se revela, fala e age para exibir Sua glória — e que qualquer concepção de divindade que ignora isso é blasfema. Piper escreve:
“Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos Nele — mas só podemos nos satisfazer em um Deus que se revela, que se entrega, que fala.”
— John Piper, Desiring God
Xenófanes quer um deus que não se rebaixe a se comunicar com criaturas. O Deus da Bíblia, por outro lado, é aquele que fala conosco como um pai fala com seu filho (Hebreus 1:1–2). Piper também afirma:
“Não conhecer Deus é não conhecer o propósito da existência. E conhecer Deus não é possível sem Sua autorrevelação.”
— Piper, The Pleasures of God
Logo, o “deus” de Xenófanes é não só epistemologicamente impotente, mas existencialmente inútil. Ele não é glorioso — é nebuloso. Ele não é adorável — é inacessível. Ele não nos leva à adoração, mas à resignação estoica.
James Clerk Maxwell: Ciência e a Criação Proposicional
E mesmo no domínio da ciência — onde alguns poderiam pensar que o deus de Xenófanes, eterno e imóvel, poderia ter algum valor — encontramos testemunho contrário. O grande físico James Clerk Maxwell, responsável pelas equações fundamentais do eletromagnetismo, via a ciência como algo profundamente teológico. Ele afirmou:
“A principal motivação da ciência é pensar os pensamentos de Deus depois dEle.”
— James Clerk Maxwell
Ou seja, para Maxwell, a criação é inteligível porque Deus a criou racionalmente e a revelou. O cientista cristão é um adorador que lê o universo como quem lê um livro divino. Xenófanes não pode oferecer isso. Seu deus é inacessível e inexpressivo. É um silêncio cósmico, não um logos revelador. Maxwell prossegue:
“Quero ver Deus face a face. Não outro, mas Ele mesmo.”
— Maxwell, carta a um amigo
Se Maxwell tivesse que escolher entre o deus inerte de Xenófanes e o Deus pessoal de Jesus Cristo, já sabemos sua resposta.
Conclusão: Quando o Filósofo Cala, as Escrituras Falam
Xenófanes de Cólofon quis banir os ídolos da religião popular, mas criou um ídolo mais sofisticado: um conceito de divindade irrelevante, imóvel e epistemologicamente inútil. Em contraste, o Deus das Escrituras é pessoal, proposicional, soberano e presente. Ele é o fundamento do conhecimento, da moralidade, da ciência, da lógica, da salvação e da vida.
Como Gordon Clark nos ensinou, sem a revelação proposicional da Bíblia, tudo o que resta é ignorância sofisticada. Como Cheung proclamou, todo sistema fora da Escritura é pecado epistemológico. Como Piper testemunha, Deus fala para ser adorado. E como Maxwell entendeu, a ciência é teologia aplicada.
Xenófanes calou os deuses de Homero, mas seu próprio deus também não fala. Nós, porém, ouvimos a voz do Senhor:
“Assim diz o Senhor...” (Isaías 1:2).
E com isso, o debate termina. O silêncio do filósofo não é humildade — é derrota.
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