por Yuri Schein
O grupo permaneceu por longos minutos em silêncio, absorvendo cada nuance da presença do Ent, o primeiro filho da Dríade. A clareira parecia viva; o chão coberto por folhas negras e ressecadas estalava sob os pés, e raízes grossas se contorciam, quase como se respirassem. O vento soprava intermitentemente, carregando sussurros que pareciam vir de todas as direções ao mesmo tempo, mexendo com os mantos brancos, peles, cabelos e o brilho metálico das armaduras.
Thomas foi o primeiro a quebrar o silêncio:
— Precisamos explorar essa área. Alguma coisa aqui não é natural — disse, os olhos atentos a qualquer movimento, cada músculo tenso, pronto para reagir.
Gillian concordou, segurando firmemente suas lâminas curtas:
— Sinto… uma energia antiga. Não é hostil, ainda, mas definitivamente não é apenas vento ou árvores — murmurou, a respiração acelerada, observando o tronco negro pulsando levemente, como se fosse um coração imóvel.
Derek olhou para os brincos em sua mão, a relíquia de Valeth agora fria e pesada. Um arrepio percorreu-lhe a espinha. — Talvez seja isso que chamou a atenção do Ent… ou algo mais. — A voz saiu hesitante, como se o peso do passado dos objetos tivesse se tornado tangível diante deles.
Raella aproximou-se da árvore negra, inclinando-se levemente, sentindo a energia do espírito que nela habitava. A luz filtrada entre os galhos caía sobre suas feições, revelando sombras que dançavam como fantasmas.
— Há marcas no solo — disse ela, apontando para raízes que formavam padrões intricados. — Não são naturais. Parece que algo ou alguém passou por aqui… recentemente.
O grupo avançou com cautela, observando as folhas secas que se mexiam mesmo sem vento aparente, troncos e galhos emitindo rangidos longos e baixos, quase como uma comunicação sussurrante entre as árvores mortas. O cheiro de resina queimando e terra úmida impregnava o ar, fazendo com que todos inspirassem profundamente, atentos a qualquer detalhe.
Dois dias se passaram enquanto marchavam pela floresta morta. Cada passo era acompanhado pelo estalo de galhos quebrando, e cada sombra projetada pelos troncos negros parecia tomar vida própria. Passaram por troncos retorcidos, arbustos cobertos de espinhos negros e fungos luminescentes que liberavam uma luz fantasmagórica azulada, iluminando parcialmente o caminho. O som constante de folhas secas sendo movimentadas por forças invisíveis mantinha o grupo em alerta máximo.
— Está ficando cada vez mais estranho — comentou Thomas, segurando o punho de um montante com força. — Não é apenas uma floresta morta. Há intenção aqui.
Derek assentiu, os olhos atentos a qualquer movimento suspeito. — E não é só a maldição dos brincos. Sinto que algo nos observa. Algo muito antigo, que não deveria ser perturbado.
Finalmente, após uma curva sinuosa de raízes e troncos quebrados, chegaram a uma clareira ampla e desolada, dominada por uma única árvore negra colossal. Sua copa parecia tocar o céu, absorvendo a luz ao redor, e as raízes se espalhavam como tentáculos pelo solo, algumas parcialmente enterradas, outras erguidas formando arcos naturais e cavernas pequenas. Um silêncio absoluto se estabeleceu, pesado como pedra, quebrado apenas pelo farfalhar das folhas secas movidas pelo vento súbito e pelas batidas de coração do grupo aceleradas pelo mistério.
Raella aproximou-se novamente, mantendo distância prudente. — Essa árvore… é diferente. Não sinto apenas vida nela… sinto consciência. Uma presença antiga, mais velha do que tudo que vimos até agora — disse, a voz baixa, reverente.
Thomas e Gillian avançaram lado a lado, observando atentamente, enquanto Derek segurava os brincos com mais firmeza, consciente de que aquele era um fragmento de poder que eles ainda não compreendiam. O ar parecia vibrar com uma energia sutil, mas persistente, carregando a sensação de que aquela árvore poderia responder, interagir, e talvez até testar suas intenções.
E ali, diante da gigantesca Árvore Negra, o grupo percebeu que haviam encontrado algo mais profundo e antigo do que qualquer masmorra ou criatura mística que já enfrentaram. Algo que poderia mudar a percepção deles sobre a floresta e sobre os próprios objetos que carregavam.
O silêncio durou longos segundos, até que um sussurro ecoou dos galhos mais altos, vibrando pelo tronco como se a própria madeira falasse:
— Vocês chegaram… com coragem, e também com cuidado. Mas cuidado não é suficiente. Vocês serão observados. Vocês serão medidos. E apenas aqueles que realmente compreenderem a essência de suas intenções sobreviverão aos próximos passos…
O vento soprou mais forte, girando folhas secas em redemoinhos que dançavam à frente do grupo, como se a própria árvore estivesse respirando, consciente da presença dos mortais. A clareira parecia fechar-se em torno deles, e os olhos do grupo se encontraram, refletindo tensão, medo e determinação.

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