domingo, 14 de setembro de 2025

Ad’Heim: O Chamado da Floresta Morta

 

Por Yuri Schein 

O grupo avançava pela borda da Floresta Encantada, agora deixando para trás a caverna e o embate recente com Jetto. O terreno mudava de forma quase imperceptível: as árvores verdes e vibrantes cederam lugar a troncos retorcidos, secos e quebradiços, cujas sombras se entrelaçavam como dedos longos, ameaçadores, que pareciam acompanhar cada passo do grupo. A luz do sol poente filtrava-se timidamente pelas copas secas, lançando feixes que iluminavam apenas parcialmente o solo coberto de folhas mortas, musgo cinza e raízes expostas.

Um silêncio absoluto reinava, pesado e quase palpável. O som de suas próprias respirações e passos parecia se multiplicar, ecoando entre as árvores como se a floresta estivesse viva, observando cada movimento com paciência inquietante. Pequenos fragmentos de cristal e pedras polidas brilhavam sob a luz mortiça, refletindo imagens distorcidas do grupo, e um vento frio serpenteava pelo chão, levantando poeira de folhas secas e exalando um cheiro de madeira antiga e magia adormecida.

— Este lugar… não é natural — murmurou Gillian, o tom de sua voz carregado de reverência e cautela. — Há algo aqui, escondido… como se a própria floresta quisesse nos chamar para dentro.

Raella, aproximando-se de um tronco morto e esfregando a ponta dos dedos sobre a casca áspera, franziu o cenho. — Sinto uma presença — disse, a voz baixa, mas firme. — Não é algo hostil, pelo menos não ainda… mas há energia aqui. Algo antigo, esquecido, esperando ser encontrado.

Derek, ainda segurando os brincos de Valeth junto ao cinto, percebeu uma vibração sutil, um formigamento que subia pelo braço. Os brincos, até então apenas joias ornamentais, pareciam responder à floresta, pulsando em sintonia com o lugar. Ele franziu o cenho, desconfortável, mas intrigado. Mesmo sem saber exatamente o que eram, a sensação era inegável: algo naquele artefato reagia à energia do ambiente.

Ikarus avançava à frente, espada em mãos, os olhos atentos a cada sombra, cada movimento. — Devemos nos manter alertas — disse. — A floresta mudou. Não há caminho definido, apenas trechos onde podemos passar sem tropeçar. E tudo aqui… parece nos testar, nos medir.

À medida que avançavam, o grupo notou pequenos detalhes perturbadores: árvores com troncos rachados, mas com marcas semelhantes a runas antigas; pedras polidas que refletiam luz de maneira desigual, quase como se respondessem à presença deles; raízes que se entrelaçavam formando barreiras naturais, quase como armadilhas silenciosas. Cada elemento parecia cuidadosamente colocado, como se a própria floresta estivesse viva, esperando observadores dignos de descobrir seus segredos.

— Olhem para isto — disse Thomas, apontando para um círculo de pedras em torno de um tronco caído. — Parece um tipo de altar, ou talvez uma marca de algo que esteve aqui antes de nós. Há símbolos… mas são apagados pelo tempo.

O vento aumentou, arrastando folhas secas e pequenos fragmentos de madeira, e com ele veio um sussurro que ninguém pôde decifrar. Era quase imperceptível, mas carregado de urgência, como se a floresta tentasse atrair a atenção do grupo, sugerindo que não seguissem direto para fora, mas explorassem o coração morto da floresta.

— Não deveríamos ignorar isso — disse Raella, apontando para as pedras e os símbolos. — Algo aqui quer ser descoberto. Eu sinto.

Ikarus assentiu. — Então vamos. Devagar, com cuidado. Nada de correria. O caminho à frente pode esconder perigos… ou respostas.

Enquanto avançavam, o chão tornou-se irregular, coberto de raízes entrelaçadas e troncos caídos. As sombras se alongavam e distorciam, os fragmentos de cristal refletiam pequenas luzes tênues e, a cada passo, os brincos de Valeth vibravam mais intensamente, sugerindo que a floresta morta tinha muito mais a revelar do que podiam imaginar.

O grupo caminhava, atento, tenso e curioso, sentindo que aquele não era apenas um caminho, mas o início de algo maior, uma jornada de descobertas e desafios que se escondiam sob a aparência silenciosa e morta da floresta. O chamado estava feito, e a escolha de atender a ele os levaria a explorar segredos que poderiam mudar completamente a compreensão do mundo à sua volta.

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