A Fragilidade da Teologia Apofática e da Hierarquia Celestial
Dionísio, o Areopagita, exerceu uma influência considerável na teologia cristã medieval, fundamentando conceitos como a teologia apofática e a hierarquia celestial. Seu pensamento, profundamente embebido no neoplatonismo, é frequentemente celebrado como uma ponte entre filosofia e revelação cristã. No entanto, sob uma análise pressuposicionalista rigorosa, seu sistema teológico revela falhas epistemológicas e incoerências internas que comprometem sua validade. Neste capítulo, confrontaremos suas premissas, identificando os pontos críticos de sua abordagem e suas implicações para a teologia bíblica.
1. A Teologia Apofática: Contradição Intrínseca na Epistemologia Cristã
A teologia apofática ensina que Deus é absolutamente incognoscível e que qualquer tentativa de descrevê-Lo deve ser feita por negações. Ou seja, não podemos afirmar o que Deus é, mas apenas o que Ele não é. Essa abordagem é problemática do ponto de vista pressuposicionalista, pois mina a base da revelação divina e cria um paradoxo lógico.
A Incoerência Filosófica da Apofasia
Vamos estruturar essa contradição em um silogismo simples:
- P1: Se Deus é absolutamente incognoscível, então nenhuma afirmação pode ser feita sobre Ele.
- P2: A teologia apofática de Dionísio faz múltiplas afirmações sobre Deus, ainda que sejam negativas.
- Conclusão: Portanto, a teologia apofática é autocontraditória, pois estabelece um método que nega a possibilidade de conhecimento ao mesmo tempo em que afirma proposições sobre Deus.
Gordon Clark, um dos mais influentes filósofos cristãos pressuposicionalistas, argumenta que todo conhecimento teológico deve ser fundamentado na revelação de Deus. Se Deus não pode ser conhecido, toda epistemologia religiosa se torna arbitrária, pois não há um critério objetivo para definir verdades sobre Deus.
Vincent Cheung aprofunda essa crítica, destacando que a teologia apofática sacrifica a clareza bíblica em favor da especulação filosófica. A Escritura revela um Deus que se comunica ativamente com o homem, e não um ser distante e indefinível. Passagens como Hebreus 1:1-3 mostram que Deus se revela plenamente em Cristo, algo que Dionísio negligencia ao enfatizar uma visão negativa de Deus.
2. A Hierarquia Celestial: Uma Construção Filosófica, Não Bíblica
Dionísio propôs uma estrutura hierárquica celeste baseada no neoplatonismo, onde anjos e seres espirituais estão organizados em níveis progressivos de iluminação divina. Contudo, essa concepção não tem fundamento na revelação bíblica e cria uma estrutura especulativa que distorce a angelologia cristã.
O Problema da Hierarquia Celestial
Silogismo para expor sua fraqueza:
- P1: Qualquer doutrina cristã sobre a estrutura celestial deve estar fundamentada na revelação divina.
- P2: A Bíblia não apresenta uma hierarquia celestial detalhada nos moldes neoplatônicos de Dionísio.
- Conclusão: Portanto, a hierarquia celestial de Dionísio não tem fundamento bíblico e é especulativa.
Greg Bahnsen, outro grande defensor da apologética pressuposicionalista, argumenta que toda teologia que não parte da revelação bíblica recai no autonomismo filosófico, onde o pensamento humano substitui a autoridade da Palavra de Deus. A estrutura angélica na Bíblia é simples: há anjos e arcanjos que realizam missões específicas, mas não há um sistema rígido e escalonado como Dionísio sugere.
Cornelius Van Til complementa essa crítica ao afirmar que o pressuposto correto da teologia cristã é que Deus se revela diretamente ao homem e não por meio de escalas metafísicas progressivas. A hierarquia celestial dionisiana fragmenta a revelação e torna Deus mais inacessível do que o próprio testemunho bíblico permite.
Scott Oliphint e John Frame enfatizam que qualquer estrutura teológica que coloca obstáculos entre Deus e o homem, como uma hierarquia artificial de seres celestiais, distorce a doutrina da mediação de Cristo. A Bíblia ensina que Cristo é o único mediador entre Deus e os homens (1 Timóteo 2:5), e não anjos intermediários que filtram a presença divina.
3. Dionísio e o Neoplatonismo: A Dependência Filosófica
Outro problema fundamental na teologia de Dionísio é sua dependência excessiva do neoplatonismo, especialmente das ideias de Proclo e Plotino Seu pensamento adapta conceitos como emanacionismo e ordem ontológica progressiva à teologia cristã, mas isso compromete a pureza doutrinária.
O Problema do Neoplatonismo na Teologia Cristã
Silogismo para destacar essa falha:
- P1: A teologia cristã deve partir exclusivamente da revelação bíblica como base epistemológica.
- P2: Dionísio constrói sua teologia com influências neoplatônicas externas à Bíblia.
- Conclusão: Portanto, sua teologia não se fundamenta na revelação e depende de pressupostos filosóficos extrabíblicos.
Francis Schaeffer e Ronald Nash argumentam que a teologia cristã não pode ser misturada com sistemas filosóficos incompatíveis. O neoplatonismo, ao enfatizar uma escala de seres intermediários entre Deus e o homem, contradiz a simplicidade da revelação cristã, onde Deus fala diretamente com seu povo por meio de profetas, apóstolos e da encarnação de Cristo.
Rousas Rushdoony, em sua teologia da cosmovisão cristã, enfatiza que toda tentativa de misturar pressupostos filosóficos pagãos com a doutrina cristã **leva à corrupção teológica**. Dionísio, ao tentar criar uma ponte entre filosofia e revelação, **introduziu confusão**, e sua influência foi sentida por séculos na teologia medieval.
4. Conclusão: A Incoerência Intrínseca de Dionísio
À luz do pensamento pressuposicionalista, a teologia de Dionísio, o Areopagita, se mostra inconsistente e dependente de filosofias externas. Sua teologia apofática mina a possibilidade de conhecer Deus, sua hierarquia celestial não tem base bíblica, e sua dependência do neoplatonismo compromete a pureza da doutrina cristã.
Portanto, sua obra, embora tenha sido celebrada na teologia medieval, carece de solidez teológica e deve ser revisada à luz da revelação bíblica como a única base epistemológica válida para o conhecimento de Deus.
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