quinta-feira, 15 de maio de 2025

Basílides, o Ilusionista de Alexandria

 Basílides, o Ilusionista de Alexandria

Se Valentim era o poeta do delírio gnóstico, Basílides foi o mágico. Com um abracadabra cosmológico e uma linguagem cheia de cifras, Basílides tentou vender ao mundo uma metafísica pagã disfarçada de cristianismo. Mas o produto era podre desde a origem. Surgido em Alexandria por volta do ano 120 d.C., esse heresiarca conseguiu distorcer quase tudo que o cristianismo tem de precioso — Deus, Cristo, criação, salvação, ética, revelação — e ainda atrair discípulos crédulos, provando que a estupidez religiosa não conhece limites quando vestida de mistério.

I. O Abismo Infinito: Deus como Incomunicável e Inefável

Basílides começa negando que Deus seja cognoscível ou que possa se relacionar diretamente com o mundo. Deus, para ele, é o “Ingnóstos Theos” — o Deus incognoscível — envolto em silêncio absoluto, inefável, inatingível, inapreensível. Em outras palavras, ele propõe uma divindade tão transcendente que acaba sendo absolutamente irrelevante. Nenhuma revelação, nenhuma comunicação. Apenas ausência. Um “Deus” que se parece mais com o Nada de Sartre do que com o Eu Sou de Êxodo 3:14.

Mas se Deus não pode ser conhecido, como Basílides o conheceu o suficiente para escrever sobre Ele? Bem, simples: contradição interna, ou como Van Til chamaria, epistemological suicide. Um Deus que não pode ser conhecido não pode ser afirmado. E um místico que começa dizendo que nada pode ser dito... e então fala por páginas e páginas... já começou se condenando.

II. Emanacionismo e o Jogo dos 365 Céus

Basílides ensina que, a partir do Deus silencioso, emanaram múltiplos mundos e hierarquias de seres espirituais. O universo visível foi gerado por uma sucessão de intermediários, terminando com o Demiurgo, que criou o mundo físico. Até aí, o clichê gnóstico de sempre. Mas Basílides adiciona seu toque de originalidade: existem 365 céus, um para cada dia do ano (sim, é numerologia cosmológica!), e cada céu é habitado por seres e governado por arquons (principados).

Essa cosmologia mística, com nomes inventados e estruturas labirínticas, não passa de teologia com efeito especial barato. É a tentativa de substituir o Criador pessoal, soberano e proposicional por uma máquina cósmica de engrenagens esotéricas. Ao invés de “No princípio, Deus criou os céus e a terra” (Gn 1:1), temos: “No princípio, houve o nada. Depois, o nada emitiu silêncio. E do silêncio surgiu um catálogo intergaláctico de seres com nomes que parecem senha de Wi-Fi.”

III. Salvação sem Redentor, Verdade sem Palavra

Para Basílides, a salvação é escapar do mundo material, subindo espiritualmente através das esferas celestiais, com auxílio de conhecimento secreto e rituais específicos. Cristo não veio em carne, mas apenas pareceu vir — outra manifestação do docetismo. Afinal, se a carne é má, o Filho de Deus não poderia verdadeiramente se encarnar.

Essa é uma negação frontal de 1 João 1:1-2: “O que temos ouvido, o que temos visto com os nossos olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos tocaram...”. João combate esse tipo de mentira com força apostólica. Basílides, como seus colegas gnósticos, rouba o nome de Jesus, mas entrega um Cristo-fantasma, sem encarnação, sem cruz, sem ressurreição.

Vincent Cheung martela o ponto: “Se Cristo não é o Logos encarnado, então não existe salvação.” Gordon Clark também diria: “a cruz exige proposições verdadeiras, não experiências místicas.”

IV. Reencarnação e Causalidade Cármica: Ética Pagã com Máscara Cristã

Outro elemento bizarro na teologia de Basílides é o karma cristianizado. Ele ensina que as almas sofrem nesta vida por pecados cometidos em vidas passadas, incluindo até os bebês. Como resposta à pergunta: “Por que o justo sofre?”, Basílides responde: “Porque pecou numa vida anterior.”

Sério? Ele pegou o hinduísmo e colocou capa gnóstica. Mas Hebreus 9:27 declara: “ao homem está ordenado morrer uma só vez, vindo depois disso o juízo.” Não existe “palingenesia moral.” A ética de Basílides é o paganismo reembalado: impessoal, determinista, impiedosa.

John Frame enfatiza que a moral cristã começa com um Deus pessoal e um juízo real. O Deus de Basílides é impessoal e amorfo. Sua “ética” é crueldade vestida de justiça cármica.

Silogismos da Verdade contra Basílides

Silogismo 1 – Epistemológico

1. Se Deus é incognoscível, então nenhuma proposição sobre Ele é possível.

2. Basílides afirma proposições sobre um Deus incognoscível.

3. Logo, Basílides se contradiz logicamente e epistemologicamente.

Silogismo 2 – Cristológico

1. Se Cristo não veio em carne, não pode ter morrido por nossos pecados.

2. Basílides nega a encarnação de Cristo.

3. Logo, Basílides nega a expiação e é inimigo da cruz.

Silogismo 3 – Ontológico-Etico

1. A Bíblia ensina que o sofrimento pode ser providencial, não resultado de vidas passadas.

2. Basílides ensina reencarnação como explicação para o sofrimento.

3. Logo, Basílides contradiz a revelação bíblica e prega uma ética pagã.

Conclusão: o prestidigitador do abismo

Basílides transformou a fé cristã em um espetáculo de ilusionismo gnóstico, com números mágicos, deuses mutantes e uma salvação que mais parece jogo de tabuleiro cósmico. No fim, ele ofereceu ao mundo um labirinto sem saída, um mistério sem verdade, um “evangelho” sem cruz. Como disse Irineu: “Esses homens vangloriam-se de saber mais do que os apóstolos, mas não sabem nem o que dizem, nem o que afirmam.”

E nós, ao contrário, confessamos: Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra; e em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, que foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu da virgem Maria...


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