Símaco – O Advogado da Vitória Derrotada
Alguns filósofos escrevem tratados; outros, como Símaco, redigem petições. Mas não se engane: sob sua retórica elegante, havia a alma abatida de um sacerdote órfão, chorando diante do túmulo dos deuses mortos. Se Macróbio era o comentarista do paganismo tardio, Símaco foi seu porta-voz oficial — o último advogado da religião estatal romana, quando Roma já havia sido convertida por missionários, confessores e mártires.
O caso de Símaco é emblemático: um homem instruído, senador, orador refinado, mas teimosamente cego diante da luz do Evangelho. Sua principal obra filosófico-política não foi um tratado, mas uma carta — a famosa “Relatio III” ao imperador Valentiniano II, clamando pela restauração do Altar da Vitória no Senado. E ali, com flores pagãs e latim ciceroniano, ele tentou justificar a idolatria como tradição, a superstição como identidade, e a mentira como liberdade.
I. Quem foi Símaco?
Quinto Aurélio Símaco (c. 345–402 d.C.) foi um aristocrata romano, prefeito urbano, presidente do Senado e uma das últimas vozes pagãs em Roma. Sua vida é marcada por três pilares:
1. Política conservadora – Defensor ferrenho das instituições tradicionais romanas.
2. Paganismo elegante – Um culto aos deuses antigos com roupagem filosófica e nostalgia cultural.
3. Correspondência refinada – Mais de 900 cartas preservadas, cheias de estilo e vazio espiritual.
Seu momento de maior notoriedade foi sua petição ao imperador cristão para reerguer o Altar da Vitória — removido por ordens imperiais cristãs — como símbolo da pax romana. Mas o altar que ele queria levantar já havia sido derrubado pela pedra angular da fé.
II. O Argumento de Símaco: Tolerância ou idolatria travestida?
Na “Relatio III”, Símaco implora:
“Devemos ter muitos caminhos para alcançar o mistério da Divindade... Que ninguém se maravilhe por cada povo honrar aquilo que lhe foi ensinado.” (Relatio III.10)
A frase poderia estar em qualquer cartaz moderno de pluralismo religioso, ou num perfil de Instagram: “todos os caminhos levam a Deus.” Mas o argumento de Símaco é uma confissão de desespero: ele não tenta provar que Júpiter existe, apenas que devemos continuar fingindo que ele existe, por amor à tradição.
Essa defesa do paganismo não é racional, é emocional e estética. Sua apologética é a da familiaridade: “sempre fizemos assim.” E para justificar a idolatria, ele apela ao costume, não à verdade.
III. Resposta Cristã: Quando a tolerância beija a espada da verdade
Quem respondeu a Símaco foi ninguém menos que Ambrósio de Milão, um dos gigantes da Igreja.
Em sua carta ao imperador, Ambrósio escreveu:
“Se a Vitória é uma deusa, que ela se defenda sozinha. Se é um dom de Deus, é inútil adorá-la.” (Epistola 17)
Basta essa frase para pulverizar toda a estética de Símaco. Se os deuses de Roma precisam de senadores, cartas e altar, são ídolos impotentes. Já o Deus cristão destrói altares com meras palavras (1 Reis 18).
Agostinho também comenta:
“A cidade de Deus cresce enquanto a cidade dos homens ruge... Roma caiu porque confiou em deuses que não salvam.” (Cidade de Deus, V.24)
E mais recentemente, John Robbins escreveu:
“O pluralismo religioso é a institucionalização da ignorância.” (Without a Prayer, p. 18)
Símaco não defendia liberdade, mas liberdade para o erro, liberdade para a idolatria, liberdade para o inferno. E os cristãos entenderam: a verdade revelada não negocia com demônios.
IV. Contradições Internas: Silogismos para demolir o altar da Vitória
Silogismo 1: Tradição como critério de verdade
1. Símaco defende o paganismo porque é tradição antiga de Roma.
2. Mas Roma também praticava sacrifícios humanos e infanticídio como tradição.
Logo: Tradição não é critério de verdade, apenas de repetição do erro.
Silogismo 2: Tolerância como virtude neutra
1. Símaco propõe que todas as religiões devem ser toleradas igualmente.
2. Mas ele defende que apenas o paganismo tenha seu altar restaurado.
Logo: Sua tolerância é falsa, sendo apenas uma estratégia para restaurar privilégios religiosos pagãos.
Silogismo 3: Ignorância como virtude religiosa
1. Símaco diz que ninguém conhece com certeza o mistério divino, então devemos permitir todas as crenças.
2. Mas se ninguém conhece, então ninguém pode afirmar que os deuses existem ou são benéficos.
Logo: A própria incerteza de Símaco destrói qualquer base para restaurar os cultos que ele quer defender.
V. Símaco hoje: O pluralista diplomático do inferno
Símaco é o patrono de todo discurso moderno de “respeito inter-religioso”, “diálogo ecumênico” e “pluralismo tolerante”. Ele é o antecessor espiritual de conferências da ONU sobre religiões do mundo, onde todos falam em nome de deuses diferentes que nunca respondem.
Mas a verdade é que a proposta de Símaco é satânica: colocar Cristo como mais um no panteão. Como diz Cornelius Van Til:
“Colocar Cristo entre outros deuses é traí-lo.” (The Defense of the Faith, p. 98)
A cruz não é um altar entre outros. Ela é o fim de todos os altares. O sangue de Cristo não pede espaço ao lado de sangue de touros.
VI. Conclusão: Quando a Vitória muda de altar
Símaco tentou defender um altar de pedra. Os cristãos ergueram o altar da Palavra. Ele invocava Vitória como deusa, mas não percebeu que Cristo já venceu. Seu latim era fluente, mas seu coração era surdo à revelação.
Sua derrota foi completa: o altar não voltou, o paganismo morreu, e Roma foi batizada. Símaco queria uma Roma com pluralismo de ídolos — Deus queria uma Roma onde os ídolos fossem triturados por Sua soberania.
Gordon Clark conclui bem:
“Tolerância filosófica é a covardia intelectual diante do Absoluto.” (A Christian View of Men and Things, p. 112)
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