Esquines de Espeto: A Filosofia do Eco e a Ilusão da Virtude pela Linguagem
1. Introdução: O Discípulo que Repetia como um Papagaio
Entre os discípulos de Sócrates, havia aqueles que desenvolveram escolas (como Platão), os que criaram paradoxos (como Euclides), os que se esconderam em barris (como Diógenes), e os que... apenas anotaram. Esquines de Espeto (ou simplesmente Esquines Socrático) faz parte do último grupo. Sua grande contribuição ao pensamento humano foi basicamente repetir Sócrates com palavras diferentes — quando muito, com menos profundidade e ainda menos originalidade.
Se Platão foi o evangelista que “canonizou” Sócrates com talento literário, Esquines foi o escriba esforçado que esqueceu de fazer teologia. Um imitador de segunda linha com aspirações de filósofo moral, e que achava que a virtude poderia ser transmitida por meio de retórica e admiração estética. Um caso clássico de “reformador sem revelação”.
2. Os Diálogos Perdidos e o Valor do Silêncio
Esquines escreveu cerca de dez diálogos socráticos — todos perdidos, com exceção de fragmentos e testemunhos secundários. Entre eles, Alcibíades, Aspásia e Telauges. A tradição posterior afirmou que ele era até melhor imitador do estilo socrático que Platão. Se isso for verdade, o mundo talvez tenha sido poupado de uma overdose de ironia vazia, porque seus escritos, segundo as evidências, giravam em torno de modelos de conduta ética sem base ontológica para o bem, nem um fundamento epistemológico para o conhecimento moral.
É como tentar construir uma ponte sem margens.
Francis Schaeffer alertava sobre esse tipo de devaneio:
> “Quando a base é a relatividade da razão humana, toda forma de moralidade degenera em preferência pessoal.” (The God Who Is There)
Esquines podia repetir os gestos de Sócrates, mas jamais chegou perto de resolver o problema fundamental da filosofia: como conhecer o bem verdadeiro sem revelação divina?
3. Virtude por Inspiração? O Culto ao Carisma Socrático
Os fragmentos indicam que Esquines via Sócrates quase como um arquétipo moral — um modelo que, por sua mera presença e palavras, transformava os ouvintes. Uma espécie de influenciador ético avant la lettre. O problema é que sua filosofia moral não passava de uma tentativa de copiar a forma do mestre, sem compreender a substância — e essa substância já era insuficiente por si mesma.
Como Vincent Cheung observa:
> “A imitação de um erro não se transforma em verdade por mera repetição. A ignorância transmitida com eloquência continua sendo ignorância.” (Ultimate Questions)
Esquines tentava convencer seus leitores de que bastava contemplar a vida de Sócrates para alcançar a virtude. Que o bem poderia ser deduzido do exemplo — não de princípios revelados. Eis aí a receita clássica do humanismo moral: ética sem transcendência, beleza sem verdade, lógica sem Bíblia.
4. A Ironia como Método e Como Confusão
Como Sócrates, Esquines fazia uso constante da ironia. Ele colocava Sócrates como personagem em seus diálogos, investigando temas como o amor, o autocontrole, e a formação do caráter. Mas a ironia constante, sem uma cosmovisão consistente, transforma-se em confusão. O leitor é conduzido por perguntas, dúvidas, piadas e sarcasmos — mas jamais à Verdade.
Gordon Clark explica esse vício filosófico:
> “A dúvida como método é apenas mais uma forma de ceticismo sofisticado. Sem revelação divina, a razão se torna um espelho quebrado que reflete apenas distorções.” (Thales to Dewey)
A ironia socrática era uma admissão velada de ignorância. Repeti-la como modelo de sabedoria é, portanto, uma confissão pública de tolice.
5. A Crítica a Aspásia e o Moralismo Misógino
Em seu diálogo Aspásia, Esquines mostra Sócrates elogiando a esposa de Péricles como modelo de educação moral — uma figura feminina que supostamente formava jovens e maridos. Mas como Esquines não acreditava em pecado, nem em revelação, nem em propósito eterno, sua “moral feminina” era apenas uma forma de estética ética, dependente da cultura e da conveniência. Um moralismo simpático, mas estéril.
Rousas Rushdoony teria dito:
> “Onde a lei de Deus não governa, o moralismo é apenas uma capa para o humanismo. Ele pode parecer conservador, mas é igualmente rebelde.” (The Institutes of Biblical Law)
Aspásia podia ser uma mulher admirável — mas Esquines nunca explicou por quê. Qual é o padrão? Qual é a verdade transcendente? Qual é a sanção eterna? Silêncio.
6. A Filosofia como Teatro: A Ilusão da Forma
A grande tragédia de Esquines não é a mediocridade, mas a sua aceitação entusiástica de uma filosofia que é puro teatro — um palco sem roteiro. Seus diálogos existiam para entreter, levantar perguntas, provocar admiração e talvez suscitar algum modelo ético. Mas não ofereciam verdade objetiva, muito menos uma base para o conhecimento.
Como escreveu Carl F. Henry:
> “Quando a verdade é reduzida à estética ou à experiência subjetiva, a fé cristã é substituída por mitologia.” (God, Revelation and Authority, Vol. 1)
Esquines nos oferece mitologia filosófica — uma narrativa humanista onde o homem tenta ser bom por força própria, admirando homens mais eloquentes, enquanto rejeita o Deus que define o bem, o mal e o caminho da redenção.
7. Conclusão: O Eco de Sócrates e o Silêncio de Deus
Esquines de Espeto é o caso clássico do “filósofo de segunda geração” que, em vez de corrigir os erros do mestre, decide refiná-los. E como acontece com todo erro lapidado, quanto mais polido, mais brilhante parece — até que se percebe que é um espelho sem reflexo. Sua imitação de Sócrates é espiritualmente estéril. Ele se embriaga de ironia, admiração, exemplos morais — mas rejeita o único fundamento da virtude: a Lei de Deus, revelada infalivelmente.
Se, como Calvino diz, “toda a sabedoria humana fora de Cristo é mera fumaça”, então Esquines é um incensário ambulante, espalhando o perfume do moralismo sem altar, sem sacrifício, sem salvação.
A única virtude que sobra a ele é a de ter morrido em silêncio.
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