terça-feira, 13 de maio de 2025

Górgias de Leontinos: O Evangelista do Nada

Górgias de Leontinos: O Evangelista do Nada

1. Introdução: O Missionário do Vazio

Se Protágoras é o sumo sacerdote do relativismo, então Górgias de Leontinos é o seu João Batista — mas em vez de preparar o caminho para o Logos encarnado, ele prepara o caminho para o vazio absoluto. Górgias é aquele tipo raro de pensador que, com seriedade e pose acadêmica, tenta provar que nada existe, que se algo existisse, não poderia ser conhecido, e que se pudesse ser conhecido, não poderia ser comunicado. Como bem diria Vincent Cheung: esse sujeito não precisava de refutação, precisava de um exorcismo.

Górgias é o tipo de filósofo que inspira seminários modernos de “comunicação crítica”, onde mestres em tautologia dizem com entusiasmo que as palavras não significam nada — e recebem salários públicos para isso. Ele é a quintessência do niilismo, um Sócrates invertido, um filósofo sem verdade, sem método e — acima de tudo — sem vergonha.

Neste capítulo, lançamos a luz implacável da apologética pressuposicional sobre esse apóstolo do nonsense. Com ajuda de Gordon Clark, Rousas Rushdoony, Francis Schaeffer e o sarcasmo santificado da Escritura, iremos rasgar o manto retórico desse sacerdote do nada e revelar o seu altar vazio — onde o homem adora a si mesmo, encostado na parede do abismo.

2. As Três Teses de Górgias: O Trilema do Absurdo

Em sua obra Sobre o Não-Ser ou Sobre a Natureza, Górgias propõe, com semblante de sabedoria, a seguinte sequência:

1. Nada existe.

2. Se algo existisse, não poderia ser conhecido.

3. Se pudesse ser conhecido, não poderia ser comunicado.

Em outras palavras: O universo é uma farsa, a mente é uma prisão e a linguagem é um engano. Eis a teologia sistemática do inferno.

Rousas Rushdoony, com sua acuidade teonômica, denuncia precisamente esse tipo de pensamento:

> “A negação da realidade e da comunicação é uma tentativa desesperada de escapar da responsabilidade moral diante de um Deus pessoal.” (The Word of Flux)

Górgias não está fazendo um experimento linguístico ou um jogo intelectual — ele está promovendo uma revolução metafísica contra o Logos, contra o Verbo que era com Deus e era Deus (João 1:1). Ele é o anti-evangelista, o que prega a boa nova de que não há verdade, não há revelação e não há redenção.

3. O Ceticismo Retórico como Idolatria

Górgias era famoso por sua habilidade retórica. Ele podia defender qualquer tese com aparente coerência — inclusive a de que nada existe. Um homem que escreve para provar que nada pode ser comunicado já deveria ser colocado sob observação psiquiátrica ou, melhor ainda, sob disciplina eclesiástica.

Gordon Clark, com sua precisão cirúrgica, expõe a loucura dessa auto-refutação:

> “Aquele que diz que nada pode ser conhecido está se contradizendo. Pois se isso não pode ser conhecido, então como ele sabe disso? E se sabe disso, então há algo que pode ser conhecido.” (Thales to Dewey)

Górgias é o tipo de pensador que deveria ter sua própria categoria especial: autocanibalista epistemológico. Ele se devora enquanto fala. Sua boca é como o poço de Eclesiastes 10:12: “As palavras dos lábios do sábio são cheias de graça, mas os lábios do tolo o devoram.”

4. O Niilismo como Fuga de Deus

Francis Schaeffer nos alerta que por trás de todo ceticismo extremo há um problema moral, não intelectual:

> “O homem moderno não rejeita a verdade por falta de evidência, mas por excesso de culpa. Ele rejeita o Logos porque ama a autonomia.” (Escape from Reason)

Górgias quer escapar da revelação. Se nada pode ser conhecido ou comunicado, então ninguém pode dizer a ele o que é pecado, justiça e juízo. A sua filosofia é a construção de um cofre intelectual onde ele tenta trancar Deus do lado de fora — ou assim pensa. O problema é que Deus está em todo lugar, inclusive na mente dos insensatos.

A Escritura antecipa Górgias com perfeição:5

> “Diz o tolo no seu coração: Não há Deus.” (Salmo 14:1)

Górgias é a personificação do Salmo. Sua obra filosófica inteira é um grito existencial: “Não quero que Deus exista.” Mas como todo pecador, ele sabe que Deus existe — e sua retórica é apenas uma cortina de fumaça para uma alma em guerra com seu Criador.

5. Calvino e a Misericórdia de Não Ser Como Górgias

Calvino, ao comentar sobre a razão dos pagãos, oferece uma descrição perfeita para Górgias:

> “A mente humana, mesmo caída, é como um templo em ruínas: há nela vestígios da estrutura original, mas está cheia de confusão e engano.” (Institutas, I.5.5)

Górgias representa não apenas o templo em ruínas, mas um templo em ruínas com pichações dizendo: “Deus morreu. E eu também.” Sua filosofia é um testemunho da necessidade da graça iluminadora. Se não fosse pela misericórdia soberana de Deus, todos nós falaríamos como Górgias — ou pior, acreditaríamos nele.

6. A Resposta Cristã: O Logos que Fala, Cria e Salva

Contra Górgias se levanta o verdadeiro Logos — Jesus Cristo. Ele é o Verbo que não apenas existe, mas fala, comunica e salva. Em contraste com a filosofia do “não ser”, temos a ontologia do “EU SOU”. Deus se revelou de forma proposicional nas Escrituras e na pessoa de Seu Filho.

Vincent Cheung escreve:

> “Deus é um ser proposicional. Ele é a Verdade, e fala a Verdade. A epistemologia cristã começa com Ele, e não com a dúvida humana.” (Systematic Theology)

Enquanto Górgias tentava provar que nada podia ser conhecido, o cristão proclama com ousadia: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Górgias oferecia correntes metafísicas; Cristo oferece liberdade absoluta.

7. Conclusão: O Culto ao Nada e a Vitória do Logos

Górgias é lembrado como um mestre da retórica, mas sua mensagem é espiritualmente tóxica. Ele é o pregador do vácuo, o orador do caos, o sofista do silêncio. Sua filosofia é como uma bomba de fumaça jogada numa sala onde a luz da revelação brilha intensamente — inútil, patética e já dissipada.

O cristianismo não apenas refuta Górgias — ele o supera de modo triunfante. A fé reformada mostra que Deus é o fundamento do ser, do conhecimento e da linguagem. Não há necessidade de andar nas trevas do ceticismo gorgiano quando podemos viver à luz do Deus que se revelou.

Górgias morreu. O Logos vive. E fala. 

E reina.

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