Protágoras, o Sínico Travestido de Sofista: O Relativismo como Religião da Rebeldia
1. Introdução: O Sofista como Sumo Sacerdote do Ceticismo
Entre os muitos personagens da cena filosófica pré-platônica, Protágoras de Abdera brilha como um falso profeta da razão e apóstolo do relativismo. Considerado o mais famoso dos sofistas, ele proclamava com ousadia: “O homem é a medida de todas as coisas.” Essa frase — que deveria vir com uma tarja de advertência moral — é um testamento à autodeificação do homem rebelde, e não passa de uma versão filosófica do grito da serpente em Gênesis 3:5: “Sereis como Deus.”
Protágoras é o tipo de pensador que encanta estudantes universitários e autores de manuais de ética secular: verborrágico, pomposo, e totalmente vazio. Sua contribuição à história do pensamento é uma tentativa sistemática de abolir toda certeza, especialmente a mais importante: a revelação de Deus.
Neste capítulo, desmascararemos a pirotecnia verbal de Protágoras usando o machado da apologética pressuposicional. Com Carl F. Henry, Gordon Clark, Vincent Cheung, Francis Schaeffer e os grandes reformadores como Calvino ao nosso lado, partiremos para a demolição do templo relativista erguido por esse Sínico disfarçado de Sofista.
2. Protágoras: Entre Sofista e Cínico
Protágoras foi um sofista — no sentido original da palavra: um mestre de retórica, pago para ensinar “sabedoria” útil para a vida pública. Mas ele pode ser considerado um precursor do cinismo no sentido moderno: não da escola de Diógenes, mas da atitude intelectual cínica que ridiculariza qualquer pretensão de verdade objetiva.
Afinal, o que é mais cínico do que dizer que todas as opiniões são verdadeiras para quem as sustenta? Que não há um padrão absoluto de bem e mal, certo e errado, verdadeiro e falso?
Gordon Clark observa com precisão:
“O relativismo epistemológico é a filosofia da ignorância universal. Ele não é apenas autodestrutivo — é moralmente perverso.” (Three Types of Religious Philosophy)
Protágoras, portanto, é um cínico em essência: não porque desprezava convenções sociais como Diógenes, mas porque desprezava a própria possibilidade de conhecer o que é verdadeiro. Em vez de viver num barril, ele vivia num abismo.
3. O Relativismo como Autoexplosão Filosófica
A famosa frase de Protágoras — “O homem é a medida de todas as coisas” — é tão destrutiva quanto sedutora. Se levada às últimas consequências, ela elimina a possibilidade de qualquer debate racional. Afinal, se todas as opiniões são válidas para quem as sustenta, então inclusive a negação dessa máxima é válida.
O próprio Vincent Cheung ironiza esse tipo de autoaniquilação:
“Se todas as opiniões são igualmente verdadeiras, então a opinião de que o relativismo é falso também é verdadeira. O relativista não é apenas tolo; ele é um tolo com dinamite nas mãos.” (Ultimate Questions)
Protágoras quer transformar cada homem num deus epistemológico. O resultado é que cada homem se torna um prisioneiro solitário em seu próprio universo mental — incapaz de comunicar, persuadir ou refutar qualquer outro. Um pandemônio intelectual disfarçado de tolerância.
4. A Teologia Implícita de Protágoras: A Morte de Deus
Embora conhecido por sua epistemologia relativista, Protágoras também ousou opinar sobre os deuses. Em sua obra Sobre os Deuses — que levou à sua expulsão de Atenas e queima de seus livros — ele declarou:
“Quanto aos deuses, não posso saber se existem ou não existem, nem que forma têm, pois há muitos obstáculos ao conhecimento: a obscuridade da questão e a brevidade da vida humana.”
Essa é a versão helênica de Romanos 1:18–22, onde Paulo denuncia os que “sufocam a verdade pela injustiça”. Protágoras não era um agnóstico honesto — era um rebelde epistêmico, alguém que, diante da clareza da criação, fechava os olhos e dizia: “não posso ver”.
Francis Schaeffer, com sua precisão de cirurgião apologético, afirma:
“O agnosticismo não é uma posição neutra. É uma rejeição da revelação. É uma resposta ética ao Deus que fala.” (He Is There and He Is Not Silent)
Protágoras negava a revelação porque odiava o Deus revelador. Ele preferia o homem no trono e a ignorância adornada com sofismas.
5. O Orgulho Sofístico e a Humilhação de Calvino
João Calvino, comentando a arrogância dos pagãos em sua Institutas, mostra que a “sabedoria” dos gregos — por mais brilhante — não passa de fumaça diante da luz da revelação:
“Mesmo os filósofos mais eminentes foram tão cegos no tocante a Deus, que sua sabedoria, diante de Deus, se transforma em mais estultícia do que a ignorância vulgar.”
Protágoras é o exemplo perfeito dessa sabedoria condenada: sua eloquência era um verniz para a incredulidade; sua dúvida, uma pose disfarçada de honestidade intelectual.
Enquanto Calvino exalta a fé como iluminação sobrenatural, Protágoras celebra a dúvida como virtude. Mas há um problema: dúvida sem fé é apenas uma desculpa para continuar amando as trevas.
6. A Torre de Babel Sofista
Carl F. Henry resumiu bem o legado de Protágoras e dos seus herdeiros contemporâneos:
“O relativismo moderno é a repetição do paganismo antigo — é a Babel erguida com o tijolo do orgulho e o cimento da rebelião.” (God, Revelation and Authority, Vol. 2)
Protágoras inaugura uma tradição filosófica que inclui Nietzsche, Derrida e Foucault — todos eles herdeiros do mesmo veneno: a negação da verdade objetiva, da autoridade transcendente, e do juízo eterno. A torre continua de pé, mas o juízo virá.
7. Conclusão: Quando o Homem é a Medida, o Inferno é o Padrão
Protágoras é celebrado nos círculos acadêmicos como um libertador da mente — mas na verdade, foi um encarcerador da razão. Ele substituiu a revelação por opinião, a verdade por percepção, a sabedoria por sensações. Um verdadeiro sacerdote do culto ao ego humano, cuja única liturgia é a dúvida, e cujo único sacramento é a confusão.
Sua filosofia é um espelho quebrado: reflete apenas fragmentos distorcidos do homem, jamais a glória de Deus.
Como Gordon Clark conclui:
“Se Deus não revela a verdade, o homem não pode encontrá-la. E se cada homem é sua própria medida, então nenhuma medida é confiável.”
Protágoras tentou nos vender uma régua feita de borracha — e o mundo moderno comprou. Mas no tribunal de Deus, não se mede a justiça por opiniões. Mede-se pela Lei imutável revelada nas Escrituras.
E, diante dela, Protágoras — com toda sua eloquência e ironia — está em silêncio eterno.
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