Epicuro – O Deus que se Esconde para não se Incomodar
> “O tolo diz em seu coração: não há Deus... ou, se há, ele está em férias eternas.”
— Salmo 14:1 (paráfrase epicurista)
Se Aristóteles construiu a mansão do intelecto humano e Teofrasto plantou flores no jardim, Epicuro foi o vizinho ateu que, do outro lado do muro, organizava churrascos e dizia: “Ignorem os deuses, eles não se importam conosco!”
O projeto de Epicuro não foi a negação explícita da divindade, mas algo ainda mais patético: a tentativa de salvar os deuses do incômodo de se envolver com a criação. Ele transformou os deuses em seres inativos, indiferentes, relaxados — modelos metafísicos de spa existencial.
Para usar a linguagem de Gordon Clark, Epicuro é o protótipo do filósofo que “tem horror a um Deus soberano porque isso significaria que sua vida pertence a Outro.” Então, ao invés disso, ele cria um universo onde os deuses vivem no céu como celebridades intocáveis e a matéria se move por acaso.
A Ontologia do Átomo Autônomo
Inspirado pelos átomos de Demócrito, Epicuro decidiu que o mundo se explica por partículas indivisíveis em movimento constante. Nada de propósitos, nada de direção divina, apenas colisões aleatórias num universo onde a única coisa eterna é o caos regulado por leis naturais impessoais.
Como nota Vincent Cheung, “a causalidade sem propósito é tão útil quanto um deus que não governa.” Epicuro substituiu a providência soberana de Deus pela física cega, por uma metafísica de acaso organizado, e pela ética do hedonismo racionalizado: viva o prazer, mas com moderação, como quem tenta evitar ressaca moral.
Essa tentativa desesperada de encontrar ordem sem um Ordenador foi identificada por Van Til como um sintoma da mente caída: “O incrédulo vive do capital emprestado do cristianismo enquanto nega a fonte.”
Hedonismo? Só até onde não incomodar
Epicuro não ensinava o hedonismo carnavalesco dos libertinos modernos. Ele era, digamos, um hedonista tímido. Sua ética era: “busque o prazer... mas não muito... com cautela... e evite a dor.” Em resumo, um manual de etiqueta para ateus tímidos.
O problema? Sem Deus, não há prazer objetivo, nem dor com sentido. Não há alma, nem juízo, nem sentido no sofrimento — apenas fluxos materiais que causam sensações. É como tentar construir moralidade com areia movediça.
Greg Bahnsen desmascara esse tipo de moralidade secular com precisão:
> “Sem a autoridade de Deus, toda ética se reduz a gosto pessoal e conveniência momentânea.”
Ou seja: o hedonismo epicurista é só uma teologia do sofá, onde o universo é seu terapeuta e a divindade está de licença médica.
A Covardia Teológica de Epicuro
Ao invés de dizer "Deus não existe", Epicuro diz: "Deus existe, mas está distraído.” Que consolo! Um deus que vê a dor humana e não se importa é pior do que um deus que não existe. Isso é idolatria revestida de reverência.
Como diria Rushdoony:
> “O maior insulto à soberania divina não é negá-la, mas torná-la irrelevante.”
Epicuro praticou exatamente isso. Tentou criar um mundo no qual os homens não seriam perturbados por revelações, mandamentos, juízo ou inferno. Um mundo onde a alma morre com o corpo e o universo termina com um suspiro.
Por que o Epicurismo está morto (embora ande zumbizando por aí)
Epicuro morreu. Seus átomos se dispersaram, como previa sua doutrina. Mas sua influência sobrevive como uma forma zumbificada de materialismo moderno. Cada cientista que diz "o universo não tem propósito" está bebendo do cálice epicurista — e esquecendo que está bebendo sem ter um copo, uma boca, ou um “eu” que possa justificar conhecimento.
Alvin Plantinga destruiria a epistemologia epicurista em uma frase:
> “Se a evolução naturalista fosse verdadeira, não haveria razão para confiar em nossa cognição — pois ela foi feita para sobreviver, não para conhecer.”
Ou seja: se Epicuro estiver certo, ele mesmo não pode saber disso.
O Antídoto: Revelação, Criação, Propósito
O Deus da Bíblia não é um hóspede celeste ausente. Ele sustenta todas as coisas pela palavra do Seu poder (Hebreus 1:3), ordena cada evento conforme Seu decreto eterno (Efésios 1:11), e revela Seu propósito infalível através da Escritura (2 Timóteo 3:16).
Contra o acaso epicurista, temos o ocasionalismo calvinista: cada evento é ocasionado diretamente por Deus, e todo prazer verdadeiro só existe porque Deus é o Bem supremo. Hedonismo só é possível se Deus existe — e governa.
Conclusão: O Paraíso sem Deus é Inferno Disfarçado
Epicuro tentou libertar os homens de Deus, mas só conseguiu aprisioná-los no niilismo elegante de um jardim ateu. Seu sistema é filosofia de resort, adequada para quem prefere ignorar a eternidade enquanto o sol brilha.
Mas a realidade não se curva ao conforto. Deus não está indiferente. Ele está irado contra os pecadores todos os dias (Salmo 7:11). E um dia, até os átomos epicuristas serão convocados ao tribunal.
Fim do capítulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário