domingo, 11 de maio de 2025

Quando os "Calvinistas Escolásticos" Querem Ser Mais Papistas que o Papa... ou Menos Ocasionalistas que Edwards?


Quando os "Calvinistas Escolásticos" Querem Ser Mais Papistas que o Papa... ou Menos Ocasionalistas que Edwards?

Se os calvinistas escolásticos — esses que tremem diante da ideia de um Deus que causa absolutamente tudo — querem riscar os ocasionalistas da sua lista dourada de heróis teológicos, então façam-nos um favor: comecem por remover Jonathan Edwards do pódio. Sim, aquele mesmo que escreveu “Afeições Religiosas”, aquele herói da piedade protestante americana. Porque, vejam só, Edwards afirmou o ocasionalismo com uma ousadia que faria até Malebranche engasgar com o vinho da Santa Ceia.

Para Edwards, as causas secundárias — aquelas que os filósofos escolásticos tanto amam, e que os pregadores modernos citam como se fossem pilares da soberania divina — são, nas suas próprias palavras, "causas vulgares". Ou seja, aparências. Eventos costumeiros, dispostos por Deus apenas na ordem que Ele quis e no tempo que bem entendeu. E mais: não são causas verdadeiras na realidade. São, no máximo, acessórios de palco no teatro do decreto divino.

Edwards defendeu o que chamamos de criacionismo contínuo. Em outras palavras, Deus não criou o mundo uma vez só e deixou a bola rolar. Não — cada evento “causal” no tempo é, na verdade, um novo ato criativo de Deus. Não há autonomia na natureza, nas leis físicas, ou nos efeitos visíveis. Se uma árvore cair sobre um carro, não foi o vento, nem a gravidade, nem o cupim. Foi Deus — pessoalmente, diretamente, criativamente.

Como Gordon Clark bem disse:

“Causas secundárias não explicam coisa alguma. A verdadeira causa é sempre Deus, e o que vemos como 'leis da natureza' é apenas a regularidade da ação divina.” (De Tales a Dewey, p. 71)

Edwards foi mais fundo que Clark nesse ponto. Ele não só afirmou o ocasionalismo — como também recusou entregar-se ao medo do ridículo filosófico. Até perceber o abismo que estava prestes a admitir: se tudo é causado diretamente por Deus, então o pecado também. Aí ele titubeou.

Sim, o herói reformado do Grande Despertar empacou na beira do abismo teológico — e fez o que tantos fazem quando o medo da consistência aperta: recuou.

Mas vejam, ele não negou o ocasionalismo. Apenas negou suas implicações lógicas e necessárias, sem oferecer qualquer justificativa racional ou exegética. Em termos mais técnicos: Jonathan Edwards ficou com medo do próprio raciocínio.

Como Vincent Cheung apontou com precisão cirúrgica e um leve toque de sarcasmo (que não nos é estranho):

“Jonathan Edwards afirmou a criação contínua, e então imediatamente negou essa implicação necessária, mas não pôde oferecer uma causa para a negação. Assim, uma declaração esplêndida sobre a providência exaustiva de Deus é estragada pela falsa piedade e tradição. Se formos corajosos a ponto de tomar a espada de Golias, cuidemos para não cortar a nossa própria cabeça com ela.” (Cristo, o Sustentador)

Ou seja, não adianta empunhar a espada da metafísica robusta e calvinista se, na hora do combate, você vai usá-la como bengala moralista.

A doutrina que Edwards articulou — embora negando suas consequências — é a mesma que Cheung expõe com toda a lógica pressuposicional: Deus é o único autor real de tudo que acontece no mundo físico. Sim, isso inclui o pecado, as intenções malignas, os enganos, as tragédias, as quedas de avião e os tropeços no tapete da sala. Isso é o que significa propositadamente crer na soberania absoluta.

Carl F. H. Henry afirmou:

"Não há lugar para um Deus parcialmente soberano. Se Ele não governa tudo, então não governa nada.” (God, Revelation and Authority, Vol. IV, p. 147)

Então, se queremos ser consistentes e calvinistas de verdade — e não devotos tímidos de uma tradição pasteurizada — precisamos abraçar o ocasionalismo com todas as suas implicações, inclusive as que incomodam os moralistas.

Como Cheung conclui:

 “Cristo sustém e controla tudo – cada detalhe de todo objeto e pessoa. Por causa de seu poder abrangente e preciso, 'sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam' (Romanos 8:28). Cristo dirige tudo da história, e governa sobre todas as nações e culturas. Em todas as coisas ele tem a supremacia.”

Ou, em linguagem mais direta: se você ainda está tentando proteger Deus de parecer “malvado” aos olhos dos arminianos, talvez esteja no ramo errado. Teologia reformada não é o lugar para os fracos de raciocínio.




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