Palhaços no Palco do Absurdo: Kierkegaard, Nietzsche e o Circo Existencialista
Introdução: Filosofia ou Cabaré?
O século XIX não apenas testemunhou o colapso do racionalismo moderno, mas também a transformação da filosofia em espetáculo. Saem os professores e entram os artistas. O palco da razão iluminista é substituído por um picadeiro existencialista, onde palhaços metafísicos dançam entre o desespero e a negação de Deus.
Se Kant encurralou a razão e Hegel sufocou a realidade com sua dialética, Kierkegaard e Nietzsche chutaram o balde epistemológico e declararam guerra à própria ideia de verdade objetiva. Eles não são apenas “filósofos do desespero” — são seus profetas.
Como afirma Vincent Cheung:
“O existencialismo é a falência declarada da razão humana. Ele é a admissão pública de que, sem Deus, só nos resta o grito.”
I. Kierkegaard: O Santo do Desespero
Søren Kierkegaard, dito “pai do existencialismo cristão”, não tinha a menor intenção de se submeter à lógica revelacional. Ele criou um sistema baseado em estágios subjetivos de existência: o estético (prazer), o ético (dever), e o religioso (fé cega). Para ele, a fé era um “salto” no absurdo — um abandono da razão, da certeza, e da lógica.
Nada poderia estar mais distante do Cristianismo bíblico.
O Kierkegaardismo é um cristianismo sem doutrina, sem lógica, sem coerência. A fé não é uma aceitação racional da verdade revelada por Deus, mas um ato de irracionalidade deliberada. É como dizer: “acredito porque é ridículo”. Podemos dizer que Kierkegaard substituiu o Verbo encarnado pelo grito encarnado. Ele não quer Cristo como Logos, mas como surto.
Contra isso, o ocasionalismo revelacional proclama: a fé é certeza, não salto. É confiança intelectual na Palavra infalível de Deus, e não histeria subjetiva alimentada por desespero ontológico.
O cristianismo não é fuga da razão. Ele é razão fundamentada no Deus racional, que cria, interpreta e sustenta todas as coisas. A fé cristã é fundada na proposição: "Toda a Escritura é inspirada por Deus" (2 Tm 3:16), não no “talvez funcione se eu acreditar bastante”.
II. Nietzsche: O Profeta da Insanidade
Friedrich Nietzsche é o anti-Kierkegaard: enquanto um quer manter um verniz religioso sem razão, o outro quer matar Deus e colocar o homem no trono. Mas ambos operam com a mesma epistemologia quebrada — a negação da revelação como fonte de verdade.
Nietzsche declarou que “Deus está morto” — não no sentido literal, mas como símbolo do colapso da moralidade objetiva, da verdade eterna e da autoridade divina. O que ele oferece em troca? O Übermensch, o super-homem, criador de seus próprios valores, independente de qualquer metafísica superior.
Mas um homem que “cria seus próprios valores” é um louco funcional. Se toda verdade é invenção, então até a afirmação “Deus está morto” é uma invenção arbitrária. Nietzsche atira nos fundamentos e depois tenta voar com as asas arrancadas.
Como disse Gordon Clark:
“Ao rejeitar a verdade revelada, Nietzsche destruiu até a possibilidade de afirmar qualquer verdade. Ele não morreu louco por acaso. Ele apenas seguiu sua epistemologia até a conclusão.”
Eu acrescento que Nietzsche não matou Deus. Ele apenas assassinou sua própria alma e chamou isso de lucidez.
O ocasionalismo reformado responde: não há valor, verdade, identidade ou racionalidade sem o Deus que fala. A linguagem, a moralidade, a lógica — tudo existe porque Deus, o Ser absoluto, ocasiona cada pensamento humano de acordo com Seu decreto soberano.
III. Existencialismo Pós-Nietzsche: Sartre, Camus e a Desgraça Intelectual
O que sobra depois da morte de Deus? Jean-Paul Sartre responde: o homem está condenado à liberdade. Ele deve criar sua essência por meio de escolhas livres num universo sem sentido. Albert Camus, por sua vez, diz que a vida é absurda, e devemos viver como Sísifo — empurrando a pedra montanha acima eternamente, mesmo sem propósito.
Esses pensadores substituem o teatro da redenção pela tragicomédia da angústia. O homem não é mais imagem de Deus, mas um acidente cósmico tentando fingir que a existência importa.
Mas por que deveríamos levar a sério um sistema que nos diz que nada pode ser levado a sério?
Contra isso, o apologeta cristão não oferece o consolo barato da irracionalidade religiosa, mas a verdade da revelação: o homem tem valor porque foi criado por Deus; a vida tem propósito porque Deus a define; e o sofrimento tem sentido porque Deus o interpreta.
A Escritura não apenas explica a existência. Ela a fundamenta.
IV. O Existencialismo Refutado pela Revelação
Toda forma de existencialismo, seja cristã, ateísta ou híbrida, parte de um erro comum: a autonomia epistemológica do homem. Ele se recusa a começar com Deus e por isso termina no absurdo.
O cristão, pelo contrário, começa com a proposição: "No princípio, Deus..." (Gênesis 1:1). Deus é a causa e a ocasião de todo conhecimento, seja sensível, racional ou espiritual. Os sentidos, como lembra Yuri Schein, não produzem conhecimento por si, mas podem servir de ocasião para lembrar ou aprender algo novo por revelação divina.
A verdade não nasce da angústia, mas da Palavra. E a fé não é um salto, mas uma certeza. Como ensina Hebreus 11:1:
“Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.”
E por que temos essa certeza? Porque Deus nos dá, no ato soberano do ocasionalismo. Ele é quem comunica, ilumina, e interpreta. Ele é quem liga nosso pensamento à Sua Verdade.
Conclusão: Palhaços sem Deus, Palhaços sem Graça
Kierkegaard, Nietzsche, Sartre e Camus são apenas versões mais dramáticas da velha mentira do Éden: “sereis como Deus”. Mas sem a revelação divina, o homem não se torna Deus — ele se torna palhaço. Um palhaço existencial, chorando diante do espelho quebrado de sua autonomia.
A verdadeira filosofia não começa com o grito, mas com o Verbo. Não começa com o salto no escuro, mas com a luz da Escritura. Não termina no absurdo, mas na glorificação do homem redimido em Cristo.
E se Deus quiser, os existencialistas se curvarão diante dEle. Com ou sem angústia.
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