domingo, 11 de maio de 2025

Kant e os Idealistas: Os Faraós do Cativeiro Epistemológico

 Kant e os Idealistas: Os Faraós do Cativeiro Epistemológico

Introdução: O Egito Filosófico do Entendimento Puro

Se Locke foi o Moisés do empirismo e Descartes o Davi do racionalismo, Kant foi o Faraó que aprisionou toda a filosofia no Egito do agnosticismo metafísico. Em sua “revolução copernicana”, Kant inverteu tudo: em vez de o homem se curvar diante da realidade revelada por Deus, a realidade foi forçada a curvar-se diante da mente humana. Ele substituiu a revelação de cima por uma reformulação de dentro.

O resultado? Um cativeiro babilônico da razão, onde Deus não pode falar, o mundo real não pode ser conhecido, e a moralidade é autônoma, subjetiva, e meramente prática. Kant é o arquétipo do homem que diz: “não quero saber de Deus, mas ainda assim quero manter aparência de razão e ética”. Ele é o sumo sacerdote de um templo sem Deus.

Como escreveu Vincent Cheung:

 “Kant estabeleceu a idolatria da mente como critério último de interpretação da realidade. É a serpente dizendo: ‘sereis como Deus’, apenas com uma peruca iluminista.”

I. A Dualidade Maldita: Fenômeno e Númeno

Kant dividiu a realidade em duas categorias: o fenômeno (o mundo como aparece a nós) e o númeno (o mundo como ele é em si mesmo). Segundo ele, só podemos conhecer o fenômeno, jamais o númeno.

Aqui está o cativeiro: se não podemos conhecer o mundo como ele realmente é, então jamais podemos conhecer a Deus, a alma ou qualquer realidade metafísica. Deus, a alma e o mundo externo são todos relegados ao campo do incognoscível.

Com isso, Kant criou a epistemologia do desespero. Um abismo intransponível entre o pensamento e a realidade. E como Deus é o Ser por excelência, sua existência torna-se irrelevante epistemicamente.

A resposta clara e simples é a seguinte: “Se a mente não pode alcançar a realidade, então é uma prisão sem janelas. Mas Deus não fala pelas janelas da razão humana; Ele arromba a porta com Sua Palavra e transforma a cela em templo.”

II. O Entendimento Autônomo: Um Juiz sem Tribunal

Kant não negou toda estrutura racional. Pelo contrário, ele criou uma complexa arquitetura do entendimento humano, com categorias apriorísticas que moldam toda experiência: causalidade, unidade, pluralidade, tempo, espaço, etc.

Mas essas categorias não se conformam à realidade externa. Elas apenas organizam os dados sensoriais como formas da intuição. Ou seja, o sujeito impõe leis à realidade, sem saber se a realidade corresponde a essas leis.

Isso é, literalmente, insanidade sistematizada. Um homem que projeta suas estruturas sobre o mundo e depois declara: “vejam como tudo faz sentido!” Não é muito diferente de um louco que cobre os olhos com lentes vermelhas e diz que o universo é carmesim.

Como Gordon Clark demonstrou:

 “Se as categorias da mente são arbitrárias e não podemos saber se correspondem ao mundo, então Kant eliminou a possibilidade de qualquer verdade objetiva. Ele é apenas um sofista refinado.”

O ocasionalismo destrói esse mito. Ele afirma que Deus produz diretamente cada conexão entre mente e realidade. O mundo não é organizado por nossas categorias; é organizado por Deus. A mente não projeta ordem no caos; ela reconhece a ordem imposta por Deus, e só reconhece porque Deus a revela.

III. A Moralidade Prática: Um Cristianismo Sem Cristo

Diante do abismo entre razão pura e realidade, Kant refugia-se na razão prática. Ele afirma que, embora não possamos conhecer Deus racionalmente, precisamos agir como se Ele existisse. Surge o imperativo categórico: “aja apenas segundo a máxima que você pode ao mesmo tempo querer que se torne uma lei universal.”

Parece nobre. Parece moral. Mas é uma perversão: Kant quer os frutos do cristianismo sem a raiz do evangelho.

Ele quer uma ética sem revelação, uma obrigação moral sem soberania divina, uma lei universal sem legislador eterno. Isso é roubo intelectual. Ele é um parasita do cristianismo, sugando seus princípios e cuspindo sua doutrina.

Eu posso resumir assim: A moral kantiana é um cadáver em pé. Um corpo ético embalsamado pela razão, mas sem o sopro de vida do Espírito Santo. E um cadáver, por mais bem vestido que esteja, ainda fede.

IV. Os Filhos do Idealismo: Hegel, Fichte, Schelling

Kant abriu as portas para a proliferação do idealismo alemão. Fichte declarou que só o “eu” existe. Schelling disse que a natureza é o Absoluto em desenvolvimento. Hegel, o mais grandioso dos idealistas, afirmou que o Espírito se realiza na história por meio da dialética.

Todos esses são tentativas de construir sistemas totalizantes sem a Escritura. São torres de Babel feitas de fumaça filosófica. A “realidade” torna-se o que a mente concebe. A história é o palco da divinização da humanidade. O absoluto é um processo e não uma pessoa.

Mas o Espírito de Deus não é um processo. Ele é uma pessoa divina, trina, eterna e soberana. O Deus cristão não evolui. Ele decreta. Ele não se torna. Ele é (Êxodo 3:14).

Contra Hegel, afirmamos com Gordon Clark: Deus não é identificado com a lógica da história, mas com a Lógica Eterna, o Verbo, o Logos – Jesus Cristo. Contra Fichte, dizemos que o “eu” é criatura, não criador. Contra Schelling, gritamos: “a natureza geme, mas não é divina!” (Romanos 8:22).

V. A Liberdade Pela Escravidão: Só Deus Revela

O idealismo é uma ilusão de liberdade que aprisiona. Ele quer emancipar o homem da realidade externa, mas o transforma em prisioneiro do próprio pensamento. Ele quer libertar o homem de Deus, mas o entrega a um panteísmo impessoal que devora a alma.

A única saída é a revelação. E não qualquer revelação: a revelação verbal, proposicional, infalível e suficiente da Escritura Sagrada. Nela Deus fala clara, lógica e necessariamente.

Como ensina o ocasionalismo reformado:

 “Não é o sujeito que interpreta o objeto, nem o objeto que molda o sujeito. É Deus quem comunica diretamente ao sujeito a verdade sobre o objeto. A revelação é a ponte, a origem e o critério do conhecimento.”

Sem essa epistemologia, não há verdade. Só Kantismo – isto é, confusão refinada.

Conclusão: O Êxodo da Prisão Kantiana

Não temamos os faraós do pensamento moderno. Kant, Hegel e seus filhos idealistas construíram fortalezas de papel. Deus sopra e tudo se desfaz. Eles prometeram liberdade racional e nos entregaram ao cativeiro do subjetivismo.

O cristão, no entanto, tem liberdade verdadeira: pensar os pensamentos de Deus após Ele. Conhecer o mundo como ele é, porque Deus o criou, o interpreta, e nos comunica sua verdade por ocasião de Sua vontade soberana.

A Escritura não nos deixa no Egito. Ela abre o Mar Vermelho e nos conduz ao monte onde Deus fala. Não com enigmas, mas com palavras.

E a Palavra se fez carne.


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