domingo, 11 de maio de 2025

O Cético, Esse Pequeno Onisciente Involuntário

 O Cético, Esse Pequeno Onisciente Involuntário

Entre as muitas figuras tragicômicas que desfilam no palco da filosofia, poucas são tão dignas de nota quanto o cético moderno. Ele não tem doutrina, não tem sistema, não tem fundamentos – mas tem a audácia de zombar de todos os que têm. É como um mendigo esfarrapado que se infiltra em um baile de gala e começa a rir do traje dos convidados. O cético é aquele que, ao negar todas as certezas, se torna certo de sua negação. E, ao afirmar que nada pode ser afirmado com certeza, torna-se o mais dogmático dos dogmáticos.

O Cético e Sua Cosmovisão Parasita

Antes de tudo, é preciso dizer com todas as letras: o cético não possui uma cosmovisão própria. Ele é, por natureza, um parasita intelectual. Ele não constrói nada; apenas desconstrói o que os outros constroem, usando as ferramentas conceituais que toma emprestadas – sem gratidão ou coerência. O ceticismo é uma ocupação secundária: ele só existe porque existem outras visões de mundo contra as quais reagir. Ele não edifica; ele apenas demole, e o faz com tijolos roubados da construção que pretende destruir.

Se o cético afirmasse que tudo é duvidoso, e parasse aí, seria apenas irrelevante. Mas ele vai além: ele usa categorias emprestadas de sistemas teístas, racionalistas e empiristas para fazer suas críticas, sem jamais justificar a origem dessas categorias. Ele se apropria de leis lógicas, de sentidos confiáveis, de estruturas linguísticas estáveis e até de princípios morais mínimos para denunciar a suposta falência de tudo – inclusive dessas mesmas ferramentas.

Ou seja, o cético é como um arrombador que exige a chave da casa para provar que ela não é segura.

A Pretensão Oculta: Onisciência Cética

Mas a incoerência não para por aí. O cético que afirma que o conhecimento é impossível não percebe o tamanho do salto lógico (e abismo metafísico) que está assumindo. Porque, para declarar que nada pode ser conhecido com certeza, ele precisa, ao menos implicitamente, saber com certeza que nada pode ser conhecido com certeza.

Essa é a grande ironia do ceticismo: ele começa negando a possibilidade de conhecimento e termina reivindicando onisciência. Sim, porque se não existe nenhum conhecimento verdadeiro, então o cético deve ter examinado todas as proposições possíveis, em todas as épocas, culturas e circunstâncias, e constatado que nenhuma delas possui verdade objetiva. E se ele fez isso, então ele sabe tudo – e não apenas tudo, mas sabe que ninguém pode saber nada além do que ele sabe que ninguém pode saber.

É o cético como o pequeno deus inconsciente de sua própria mitologia. Aquele que tudo ignora, mas tudo afirma.

A Auto-Contradição Sem Fim

O cético dirá, por exemplo, que “só existem opiniões, não existe conhecimento objetivo”. Mas isso já é uma afirmação objetiva. É uma proposição que pretende ter validade universal, independente do tempo, do espaço ou da perspectiva pessoal. Ou seja, é um conhecimento – justamente aquilo que o cético diz que não pode existir.

A frase “só há opiniões” é, ela mesma, uma opinião disfarçada de verdade universal. Se ela for verdadeira, então é falsa – porque contradiz a si mesma. Mas se for falsa, então o cético perde sua base. Em qualquer caso, ele afunda no lamaçal do absurdo lógico.

Essa é a estrutura do ceticismo: uma casa construída sobre areia, com vigas de fumaça e alicerces flutuantes.

O Ceticismo Não É Neutro

Talvez o erro mais fatal do ceticismo moderno – e isso inclui seus disfarces em universidades e laboratórios – seja a ideia de que sua posição é “neutra”. Que ele apenas “espera por evidências”, “questiona tudo” e “não se compromete com nenhuma visão dogmática”. Mas isso é simplesmente falso.

O cético tem uma metafísica: ele acredita que não há metafísica objetiva. O cético tem uma epistemologia: ele crê que o conhecimento é impossível ou incerto. O cético tem uma ética: ele julga como “melhor” ou “mais nobre” a suspensão do juízo. O cético tem uma doutrina religiosa: ele adora o acaso, a dúvida e o relativismo como seus ídolos silenciosos.

Em resumo, o cético é tão dogmático quanto qualquer crente. Ele apenas nega seu dogma enquanto o professa com fervor. Ele é o devoto do vazio, o teólogo da ignorância, o apóstolo da incerteza.

A Resposta Cristã: O Fundamento Revelado

Diante disso, a cosmovisão cristã se destaca não apenas como alternativa, mas como a única possibilidade racional e coerente de conhecimento. Pois apenas no teísmo bíblico temos uma justificação para:

A existência de leis lógicas universais e imutáveis;

A finalidade e instrumentalidade dos sentidos e da razão como meio das ocasiões que Deus fornece conhecimento

A possibilidade de linguagem significativa;

A moral objetiva e transcendente;

E, sobretudo, a certeza do conhecimento – porque Deus conhece todas as coisas e revelou o que quis que soubéssemos.

Como disse Gordon Clark: “A revelação é o fundamento do conhecimento. Sem ela, não há conhecimento possível, apenas opinião e conjectura.” E Vincent Cheung reforça: “A dúvida sistemática é autodestrutiva. Só a revelação divina pode ser a base para qualquer afirmação racional.”

O cristão, portanto, não começa com a dúvida – ele começa com a Palavra de Deus como axioma. Ele não constrói sobre o caos, mas sobre a Rocha. E é justamente essa fundação sólida que permite identificar e refutar as pretensões vazias do ceticismo.

Conclusão: O Cético como Mascote do Absurdo

O cético, no fim, é útil. Ele serve como o espantalho que demonstra, por contraste, o quão indispensável é uma cosmovisão revelacional e coerente. Ele é a encarnação da falência racional do homem quando se afasta de Deus. Ele tenta ser humilde, mas se torna orgulhoso. Tenta ser crítico, mas se torna incoerente. Tenta fugir do dogma, mas tropeça no altar do seu próprio absolutismo.

Portanto, ríamos – não por escárnio humano, mas por zelo pela verdade. Ríamos da tragédia lógica do ceticismo, como Elias zombou dos profetas de Baal. Pois só assim o tolo talvez perceba que sua sabedoria é loucura, e que o começo da verdadeira sabedoria é o temor do Senhor (Provérbios 1:7).


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