Por Yuri Schein
Os chamados Cinco Pontos do Calvinismo são amplamente conhecidos hoje em todo o mundo evangélico e também são chamados de "Doutrinas da Graça". Essa designação surge do fato de que esses pontos foram formulados para exaltar, proteger e esclarecer a glória da graça soberana de Deus na salvação, contrapondo-se a qualquer ideia de mérito ou livre-arbítrio autônomo do homem.
Tradicionalmente, esses cinco pontos são organizados em um acróstico em inglês, TULIP, que facilita a memorização e o ensino:
Total Depravity (Depravação Total)
Unconditional Election (Eleição Incondicional)
Limited Atonement (Expiação Limitada)
Irresistible Grace (Graça Irresistível)
Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos)
A origem precisa desse acróstico não é totalmente conhecida; ele provavelmente foi popularizado no contexto anglófono entre o final do século XIX e início do século XX, como resumo das conclusões do Sínodo de Dort (1618–1619), que respondeu aos ensinos do arminianismo. A seguir, cada ponto é explicado com maior profundidade e acompanhado de sua farta base bíblica.
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T – Depravação Total
Desde a queda no Éden, a natureza humana foi corrompida de tal forma que todo homem nasce espiritualmente morto, alienado de Deus e escravo do pecado. Essa depravação é “total” não no sentido de que cada homem é tão mau quanto poderia ser, mas porque toda a pessoa — mente, vontade, afeições — está corrompida, impossibilitada de buscar, amar, obedecer ou sequer desejar a Deus de modo verdadeiro sem a ação soberana de Sua graça.
Base bíblica:
Gn 2.16-17; Gn 6.5; Gn 8.21; 1 Rs 8.46; Sl 14.1-3; Sl 51.5; Sl 53.1-6; Sl 58.3; Sl 143.2; Is 64.6; Jr 13.23; Jr 17.9; Mt 19.21; Jo 5.40; Jo 8.44; Rm 3.9-20; Rm 5.12,18; Rm 7.14-25; 1 Co 2.14; 1 Co 15.22; Ef 2.1-3; Cl 2.13; Tg 3.2; 1 Jo 1.8-10; 1 Jo 5.19
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U – Eleição Incondicional
Antes da fundação do mundo, Deus, segundo o beneplácito de Sua vontade, escolheu soberanamente, em Cristo, todos aqueles que haveriam de ser salvos. Essa escolha não se baseou em previsões de obras, méritos ou fé futura, mas unicamente em Sua graça, misericórdia e prazer soberano, visando manifestar Sua glória e bondade.
Base bíblica:
1 Rs 8.53; Sl 65.4; Sl 78.67-70; Pv 16.4; Is 41.8-9; Mt 24.22,31; Mc 4.11-12; Jo 8.46-47; Jo 13.18; Jo 15.16-19; Jo 17.2-24; At 13.48; Rm 8.28-30; Rm 9.6-24; Rm 11.1-10; Ef 1.3-12; 1 Ts 1.4-5; 1 Ts 5.9; 2 Ts 2.13; 2 Tm 1.9; 2 Tm 2.10; Tt 1.1-2; 1 Pe 1.1-2; 1 Pe 2.7-10; Jd 4; Ap 17.14
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L – Expiação Limitada
Também chamada de Redenção Particular ou Expiação Definida, ensina que a morte de Cristo teve como propósito efetivo salvar os eleitos. Embora Seu sacrifício seja de valor infinito e suficiente para todos, Ele morreu intencionalmente para resgatar, redimir e unir em um só corpo apenas aqueles que o Pai Lhe deu.
Base bíblica:
Is 53.11-12; Mt 1.21; Mt 20.28; Mt 26.28; Mc 14.24; Jo 3.16-18; Jo 10.11-15; Jo 11.51-52; Jo 15.13; Jo 17.9,20; At 18.9-10; At 20.28; Rm 4.25; Rm 5.8; Rm 8.32-34; 1 Co 2.12; Gl 2.20; Ef 5.2,25-27; Tt 2.13-14; Hb 2.10-14; Hb 5.9; Hb 9.28; Hb 10.10-14; 1 Jo 4.9; Ap 1.5; Ap 5.9
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I – Graça Irresistível
Apesar do nome, essa doutrina não nega que o homem naturalmente resiste a Deus (At 7.51). Ela afirma que, no chamado eficaz, o Espírito Santo soberanamente vence essa resistência interior, transformando corações de pedra em corações de carne. Assim, todos os que Deus chama eficazmente, vêm de fato a Cristo, pois Ele mesmo opera neles tanto o querer quanto o realizar.
Base bíblica:
Is 14.27; Ez 11.19; Ez 36.26; Mt 11.27; Jo 1.12-13; Jo 5.25; Jo 6.44-45; Jo 10.16,26-27; Jo 15.5; Lc 14.16-24; At 2.39; At 16.14; At 26.18; Rm 8.29-30; Rm 9.11-12; 1 Co 1.23-24; 2 Co 4.4-6; Gl 1.15; Ef 1.18-20; 2 Ts 2.13-14; 2 Tm 1.9; Tt 3.4-5; 2 Pe 2.9; 1 Pe 5.10; 2 Pe 1.3
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P – Perseverança dos Santos
Também chamada de Preservação dos Santos, Segurança Eterna ou Certeza da Salvação, essa doutrina ensina que todos os que verdadeiramente foram escolhidos, chamados e regenerados por Deus jamais se perderão. Eles podem tropeçar e pecar, mas são guardados pelo poder divino e hão de perseverar até o fim, pois Aquele que começou a boa obra é fiel para completá-la.
Base bíblica:
Dt 30.6; Ez 36.27; Jr 32.40; Jo 5.24; Jo 6.39-40; Jo 10.26-29; Jo 14.3; Jo 17.12; Rm 5.17; Rm 8.30-39; Rm 11.25-29; Rm 14.4; Rm 16.25; 1 Co 1.8-9; 1 Co 10.13; 2 Co 1.22; Fp 1.6; 2 Tm 1.12; Hb 6.17-20; Hb 10.14,23; Hb 13.20-21; 1 Pe 1.1-9; 1 Pe 5.10; 1 Jo 2.19; Jd 24
Essas doutrinas não são fruto de mera especulação teológica, mas refletem uma leitura coerente e reverente das Escrituras, em que Deus é exaltado como o autor soberano da salvação do início ao fim, e toda a glória Lhe pertence. Essa é a verdadeira essência das Doutrinas da Graça: afirmar, com alegria, que "dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas" (Rm 11.36).