segunda-feira, 12 de maio de 2025

Demócrito de Abdera — O Atomista que Desintegrou a Razão

 Demócrito de Abdera — O Atomista que Desintegrou a Razão

 “Dize ao tolo: teus átomos não pensam, tampouco tu.” — Provérbio pressuposicionalista (composto de sarcasmo e lógica revelacional)

A Grécia clássica é um verdadeiro zoológico de absurdos filosóficos. Entre os animais mais coloridos está Demócrito de Abdera (c. 460–370 a.C.), uma espécie de ateu avant la lettre, cujo pensamento serviu de ensaio para o materialismo moderno. Ele nos presenteia com a ideia de que tudo — absolutamente tudo — é composto de átomos e vazio. O riso se mistura ao desprezo santo enquanto desmascaramos esse pagão do século V a.C., que achava que o universo era feito de bolinhas invisíveis

Sim, para Demócrito, o mundo é feito de pequenas partículas indivisíveis que colidem no vácuo, como se a vida fosse um eterno jogo de bilhar cósmico. Alma? Espírito? Moral? Lógica? Tudo isso, para ele, é apenas rearranjo de átomos. Ao que parece, seu cérebro — também feito de átomos — não percebeu o ridículo disso.

Os Átomos: O Evangelho Segundo o Nada

Demócrito não criou apenas uma cosmologia: ele fundou uma anti-teologia. Afirmava que não há propósito, desígnio ou providência — apenas átomos eternos dançando sem maestro. Em suas próprias palavras, preservadas por Diógenes Laércio:

 “O homem é um composto de átomos; a alma é um conjunto de átomos mais suaves e redondos.” (Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, IX)

Átomos suaves. Que poético. Seria mais honesto se dissesse que sua mente era feita de isopor metafísico.

Como Gordon Clark declarou:

 “Um universo sem Deus só pode produzir um pensamento sem sentido.”

(Religion, Reason and Revelation, p. 58)

Demócrito pensa que pode construir conhecimento a partir do caos. Ele acredita que a colisão cega de partículas pode gerar raciocínio, moralidade, beleza e verdade. Esse é o tipo de filosofia que só pode ser criada por alguém que nunca foi confrontado com a verdade revelada — ou que a desprezou.

Vincent Cheung, com sua precisão demolidora, crava:

 “O naturalismo de Demócrito é apenas ignorância adornada com linguagem grega.”

(Ultimate Questions, p. 41)

Conhecimento? Só Se os Átomos Permitirem…

Para que haja conhecimento, é preciso uma mente racional, um padrão lógico absoluto, e uma correspondência real entre ideias e realidade. Demócrito destrói isso tudo em nome de sua religião atomista. Se tudo que existe são partículas impessoais, então as ideias que você tem são apenas movimentos mecânicos no cérebro. Não há juízo, apenas fluxo. Não há lógica, apenas química. Você não pensa: você é pensado por seus átomos.

Cornelius Van Til já refutou esse delírio com perfeição:

 “Se não começarmos com a Trindade como pressuposição, então não há base para unidade ou diversidade, para lógica ou moralidade, para ciência ou história.”

(The Defense of the Faith, p. 115)

O atomismo de Demócrito é a negação da própria racionalidade. É um tiro no próprio cérebro filosófico — e ele ainda sorri enquanto sangra intelectualmente.

Moralidade? Um Truque dos Átomos

Demócrito ousou falar sobre virtudes como moderação, coragem, sabedoria e justiça. Isso mesmo: ele pegou os conceitos morais absolutos da tradição grega — e os explicou como produto de átomos. Na tentativa de manter algum senso de civilidade, ele pisoteou a base para qualquer noção ética real.

Se a alma é feita de átomos e os impulsos morais são apenas reações físico-químicas, então não há diferença real entre Sócrates e um estômago roncando. O assassinato é só uma redistribuição atômica. A caridade? Uma troca de prótons. O arrependimento? Uma descarga de elétrons.

Como disse John Frame:

 “Sem a revelação de Deus, os conceitos de certo e errado perdem todo o sentido. Ética vira sociologia subjetiva.”

(Apologetics to the Glory of God, p. 72)

Demócrito é o ancestral de Richard Dawkins, Sam Harris e outros céticos modernos — todos eles, ironicamente, usando a lógica emprestada da cosmovisão cristã para tentar refutar o cristianismo. É como tentar serrar o galho enquanto se está sentado nele. Parabéns, Abdera: tu criaste o primeiro humanismo suicida.

Átomos Eternos? Isso Te Lembra Alguém?

A ideia de partículas eternas e indestrutíveis é uma cópia barata do conceito bíblico de um Deus eterno e imutável. Só que Demócrito substituiu a glória do Criador por um panteão de bolinhas dançantes. Não é à toa que Paulo, inspirado pelo Espírito, zombou desses filósofos:

 “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos...” (Romanos 1:22)

Gordon Clark arremata:

 “Todo sistema não-cristão é incoerente e autocontraditório. Ele rouba conceitos do cristianismo para tentar justificar sua própria negação de Deus.”

(Three Types of Religious Philosophy, p. 23)

Demócrito queria permanência sem Pessoa, ordem sem Ordenador, racionalidade sem Razão. Ele queria os efeitos de Deus sem a causa. Resultado? Um universo frio, cego e burro — e um filósofo que o chamava de lar.

Conclusão: Filosofia de Pó

Demócrito morreu convencido de que os átomos explicavam tudo. Mal sabia ele que, no Dia do Juízo, seus próprios átomos testemunharão contra ele. O pó de que tanto falou o tragou — e o seu sistema foi reduzido ao que sempre foi: ruído sem significado.

O cristão, por outro lado, pode declarar com confiança:

 “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” (João 1:1)

Não somos bolinhas sem sentido flutuando no vácuo. Somos criados, moldados e sustentados pela Palavra do Deus trino. Demócrito preferiu o pó à Palavra. Que sua memória fique como lembrete: toda tentativa de filosofia sem Cristo termina no nada — ou no átomo.

Fontes:

Cornelius Van Til, The Defense of the Faith, P&R Publishing.

Vincent Cheung, Ultimate Questions, Reformed Publishing.

Gordon H. Clark, Religion, Reason and Revelation, The Trinity Foundation.

John Frame, Apologetics to the Glory of God, P&R Publishing

Diógenes Laércio, Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, Livro IX.

Cícero, De Natura Deorum, Livro I.


Empédocles de Agrigento: O Mago das Quatro Ilusões

 Empédocles de Agrigento: O Mago das Quatro Ilusões

“A verdade é como um leão. Não precisa ser defendida. Deixe-a solta. Ela se defenderá sozinha.” – Agostinho de Hipona

Empédocles de Agrigento foi filósofo, poeta, médico, taumaturgo e, segundo alguns dos seus contemporâneos crédulos, algo próximo de um semideus. Talvez o primeiro caso de megalomania registrada com versos épicos. Se tivesse nascido na atualidade, teria um canal no YouTube, uma conta no TikTok com vídeos curando a alma com fogo e água, e provavelmente um documentário na Netflix sobre suas “energias elementais”. Sua tese? Tudo é composto por quatro elementos eternos e indestrutíveis: terra, água, ar e fogo. E mais: o universo é movido por duas forças cósmicas e metafísicas chamadas Amor e Ódio.

Sim, leitor cristão, você ouviu direito. Amor e Ódio. Não como categorias morais ou atitudes humanas, mas como entidades metafísicas que dançam no palco da existência como atores gregos trágicos. É surpreendente que ninguém tenha pensado em fazer um horóscopo baseado nisso.

As bases? Nada além de pó

A metafísica de Empédocles era baseada na suposição absurda de que os “elementos” físicos constituíam a verdadeira substância da realidade. Como um alquimista avant la lettre, ele propôs que tudo no cosmos é resultado de misturas e separações dessas quatro raízes elementares – todas eternas, todas imutáveis, todas independentes. Uma ontologia materialista decorada com misticismo.

Mas como bem disse Anselmo de Cantuária:

“Não busco entender para crer, mas creio para entender.”

Empédocles, ao contrário, tentou entender sem jamais crer. E o resultado foi previsível: entendeu muito pouco e ainda levou consigo os seus discípulos ao abismo da especulação pagã.

Ele afirmava, com ar de oráculo e presunção de profeta, que “os elementos nunca se tornam, mas apenas se misturam e se separam”. O problema é que, por mais que ele misturasse água com terra, fogo com ar, e tudo isso com alguma dose de superstição, ele jamais chegaria ao ser humano, à moral, à lógica ou ao espírito. Como já disse Agostinho:

“Eles amam a verdade quando ela brilha, mas odeiam-na quando os acusa.”

Empédocles era exatamente esse tipo de homem – apaixonado por um fragmento da realidade, mas alérgico à Verdade que transcende os sentidos.

Ocasionalismo ignorado, idolatria celebrada

Como todo pagão que se preze, Empédocles fugiu do único fundamento epistemológico válido: a revelação de Deus. Sua tentativa de explicar a realidade sem Deus não passa de idolatria refinada. Ele não adora estátuas, mas elementos. Sua metafísica não repousa na mente de um Criador soberano, mas nas reações de quatro pedaços do cosmos.

A Bíblia, no entanto, nos diz que “nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17:28). E como explica o ocasionalismo cristão, o verdadeiro poder causal está em Deus, e não em elementos ou forças impessoais. A terra não alimenta ninguém por si mesma. A água não sacia. O fogo não aquece. Tudo isso são meros instrumentos do poder divino – ocasiões, não causas. O Amor e o Ódio, como forças motrizes do mundo? Apenas mais uma troca do Criador pelas criaturas (Rm 1:25).

Podemos afirmar que: "A filosofia que começa sem Deus termina contra Deus, mesmo quando parece poética.”

E Empédocles compôs mais versos do que argumentos. Mas todo seu lirismo não serviu para esconder sua cegueira espiritual. Amor e Ódio podem servir de matéria-prima para tragédias gregas, mas não para uma cosmologia racional.

O místico do abismo

Talvez a parte mais risível da vida de Empédocles – se não fosse tão trágica – seja sua suposta morte. Dizem que ele saltou no vulcão Etna, acreditando que seria divinizado. O plano falhou. O Etna cuspiu de volta sua sandália. A natureza, que ele tanto adorava, recusou sua canonização.

“Conhece-te a ti mesmo”, dizia o oráculo de Delfos. Mas quem tenta se conhecer sem conhecer seu Criador só encontra um abismo.

Bernardo de Claraval escreveu:

“O conhecimento de si sem o conhecimento de Deus é orgulho. O conhecimento de Deus sem o de si mesmo é presunção. Mas o verdadeiro conhecimento é conhecer a Deus e a si mesmo em humildade.”

Empédocles não conheceu nem a Deus, nem a si mesmo. Imaginou-se um deus, saltou para a eternidade, e encontrou o fogo que não queria encontrar.

Conclusão: o pó que se achava eterno

Empédocles é um exemplo clássico da razão rebelde: inventou princípios imanentes para substituir o Deus transcendente, transformou o universo num laboratório de emoções cósmicas, e confundiu matéria com espírito. Não é de admirar que sua filosofia tenha terminado num buraco flamejante.

A crítica pressuposicional nos ensina que toda filosofia que não começa com Deus é autodestrutiva. E no caso de Empédocles, isso não é apenas uma crítica teórica. É também um epitáfio.


Tormento Demoníaco (Ataque Físico)

 A possibilidade de demônios afligirem seres humanos fisicamente é afirmada explicitamente nas Escrituras, sendo tratada como uma realidade objetiva e não meramente simbólica. A Bíblia apresenta numerosos relatos em que espíritos malignos causam sofrimento físico, doenças, possessões, comportamentos autodestrutivos e até força sobre-humana nos indivíduos.


1. Exemplos Bíblicos de Afligimento Físico por Demônios


Mateus 9:32-33 – Um homem mudo é curado após a expulsão de um demônio, indicando que a mudez era causada por ele.


Mateus 12:22 – Um homem cego e mudo é libertado quando Jesus expulsa o demônio.


Marcos 5:1-20 – O gadareno possesso vivia entre os sepulcros, se feria com pedras e possuía força sobre-humana, o que mostra efeitos físicos e mentais claros.


Lucas 13:11-16 – Uma mulher encurvada por "um espírito de enfermidade" por dezoito anos é curada por Jesus, que diz que Satanás a mantinha presa.



Esses exemplos demonstram que a atividade demoníaca pode se manifestar diretamente no corpo, seja por enfermidades, comportamentos compulsivos ou violência física.


2. Demonologia Reformada e a Ação Demoníaca


A teologia reformada reconhece a ação dos demônios como real, embora subordinada à soberania de Deus. O diabo e seus anjos não agem com liberdade autônoma, mas dentro dos limites decretados por Deus (cf. Jó 1–2). Mesmo quando há aflição demoníaca, ela serve aos propósitos divinos.


Autores como Jonathan Edwards e John Calvin não negaram a realidade da ação demoníaca física. Edwards, por exemplo, tratava manifestações demoníacas como uma forma de Deus expor o mundo espiritual aos homens. Calvin afirmava que Satanás é "o instrumento de Deus para castigar os ímpios e exercitar os crentes" (Institutas, I.14.17).


3. Ocorrência Hoje


Nada nas Escrituras indica que essa atividade cessou. A era da igreja ainda está inserida no mesmo conflito cósmico entre Cristo e as forças das trevas (Efésios 6:10-12). O cessacionismo de sinais miraculosos não implica o fim da atividade demoníaca. Em muitos contextos missionários e mesmo em sociedades secularizadas, há relatos verossímeis de opressões demoníacas com manifestações físicas.


4. Cuidado com Interpretações Indevidas


Nem toda doença ou sofrimento físico é causado diretamente por demônios. A Bíblia distingue entre aflições naturais, disciplina divina e ataques espirituais. Entretanto, a Escritura nunca exclui a possibilidade de que um sofrimento físico tenha origem demoníaca.


5. Segurança do Crente


Crentes verdadeiros podem ser afligidos externamente (opressão, tentações, perturbações físicas), mas não podem ser possuídos internamente por demônios, pois pertencem ao Espírito Santo (1 João 4:4; Romanos 8:9). Contudo, mesmo Paulo falou de um “mensageiro de Satanás” que o esbofeteava, permitido por Deus para humilhá-lo (2 Coríntios 12:7).



Análise de uma refutação ao Tomista Carlos Alberto

 No artigo intitulado “Refutação à Crítica do Tomista Carlos Alberto a Gordon Clark”, publicado no blog Luz do Justo, Eu ofereci uma análise crítica e detalhada das objeções levantadas por Carlos Alberto, um defensor da tradição tomista (mestre do Tourinho em Tomismo), às posições filosóficas de Gordon H. Clark. 

CONTEXTO DA CRÍTICA

Carlos Alberto critica Clark por sua abordagem epistemológica, especialmente sua rejeição da analogia do ser (analogia entis) e sua ênfase na revelação proposicional como única fonte válida de conhecimento sobre Deus.  Ele argumenta que Clark desconsidera a tradição agostiniana e a riqueza da filosofia aristotélico-tomista, que busca compreender a Deus através da analogia e da razão natural. 

MINHA RESPOSTA 

Eu respondo ponto a ponto às críticas de Carlos Alberto, defendendo a posição de Clark e destacando as falhas na argumentação tomista. 

1. Sobre a Suposta Rejeição de Santo Agostinho por Tomás de Aquino: eu observei que, embora Tomás de Aquino tenha sido influenciado por Agostinho, ele também incorporou elementos da filosofia aristotélica, o que representou uma mudança significativa na tradição agostiniana.  Ele argumenta que essa síntese resultou em uma teologia que, em alguns aspectos, se distancia das doutrinas agostinianas originais. 

2. Crítica à Epistemologia Tomista: Eu destaquei que a epistemologia tomista, ao depender da analogia do ser e da razão natural, falha em fornecer um conhecimento certo e seguro de Deus.  Ele argumenta que, sem a revelação proposicional clara e direta, o conhecimento de Deus permanece incerto e sujeito a erros. 

3. A Necessidade da Revelação Proposicional: A defesa de Clark pela revelação proposicional é central na minha argumentação. Enfatizei que, para conhecer a Deus de maneira verdadeira e segura, é necessário que Deus se revele de forma clara e proposicional, como ocorre nas Escrituras.  A analogia do ser, por sua natureza, não pode fornecer esse tipo de conhecimento. 

4. A Inadequação da Filosofia Natural para Conhecer a Deus: Eu argumentei que a filosofia natural, mesmo quando bem-intencionada, é insuficiente para levar ao conhecimento verdadeiro de Deus.  Ele ressalta que, devido à queda e à corrupção do intelecto humano, é necessário que Deus se revele de maneira especial e proposicional para que possamos conhecê-Lo corretamente. 

Conclusão

Finalmente concluí que a crítica de Carlos Alberto a Gordon Clark falha em compreender a centralidade da revelação proposicional na epistemologia reformada.  Ele defende que, sem essa revelação clara e direta, o conhecimento de Deus permanece obscuro e incerto.  Assim, a posição de Clark é não apenas válida, mas necessária para uma teologia que busca ser fiel às Escrituras. 

Para uma leitura completa e detalhada da minha refutação, você pode acessar o artigo original no blog Luz do Justo:

https://luzdojusto.blogspot.com/2019/05/refutacao-critica-do-tomista-carlos.html?utm_source=chatgpt.com&m=1

Anaxágoras de Clazômena e o “Nous” que Não Sabe de Nada

 Anaxágoras de Clazômena e o “Nous” que Não Sabe de Nada

Uma crítica pressuposicional calvinista com doses de sarcasmo e lucidez

Introdução: O herói das trevas gregas

Se os gregos antigos eram mestres na arte de produzir explicações que mais confundem do que esclarecem, é um verdadeiro paradoxo que suas filosofias continuem a ser veneradas, especialmente por aqueles que, como os modernos acadêmicos, se deslumbram com a sofisticação aparente de ideias que carecem de uma base sólida. Anaxágoras de Clazômena, que propôs que uma mente universal — o “Nous” — organizava as partículas do universo, é um exemplo clássico de um pensador que, ao tentar responder ao mistério da origem e ordem do cosmos, não fez mais do que adicionar camadas de complexidade ao que a revelação divina já esclareceu de maneira clara e acessível. O “Nous” de Anaxágoras é uma tentativa de substituir o Deus pessoal e revelador das Escrituras por uma abstração impessoal, que, por mais que seja vestida com o manto da inteligência cósmica, não possui as qualidades essenciais de uma verdadeira mente, como o ser pessoal, o propósito moral, ou a capacidade de comunicar-se de maneira proposicional.

O “Nous” de Anaxágoras será exposto como uma tentativa falha de explicação que não resolve absolutamente nada — muito menos o problema fundamental do conhecimento, da moralidade e da cosmovisão humana.

1. A mente divina que não é divina: o “Nous” anêmico de Anaxágoras

O conceito de Anaxágoras de que o universo foi ordenado por uma mente cósmica não apenas falha em fornecer uma explicação satisfatória para o cosmos, como também é uma tentativa vazia de atribuir inteligência a uma força impessoal. O “Nous”, conforme ele o apresenta, é uma mente sem personalidade, sem intenção moral, sem poder de revelação, e, acima de tudo, sem qualquer forma de envolvimento ativo ou interesse pela criação. Em outras palavras, é uma inteligência que, como uma engrenagem invisível e indiferente, iniciou o movimento do universo e, em seguida, se afastou, deixando-o à própria sorte.

Como argumentaria Gordon Clark, a ideia de uma mente que não se comunica e não age na história humana é uma contradição lógica. Uma mente que não revela proposições verdadeiras, que não pode ser conhecida ou compreendida de maneira pessoal, não é uma mente de fato. Para Clark, “uma mente sem proposições reveladas é um conceito vazio, incapaz de produzir qualquer conhecimento ou moralidade” (Clark, Religion, Reason, and Revelation). Em vez de oferecer um fundamento para o conhecimento, o “Nous” de Anaxágoras elimina qualquer base para a epistemologia verdadeira, transformando-se em um mero mito filosófico.

Vincent Cheung, que não tem reservas em criticar tais sistemas, observa que um “deus” sem revelação proposicional é equivalente a um cadáver filosófico, cujas pretensões de sabedoria apenas obscurecem a verdade. Para Cheung, essa abordagem só serve para enterrar a racionalidade ao invés de iluminá-la. O “Nous” de Anaxágoras não é uma mente inteligente, mas sim uma abstração que nunca se torna real.

2. Pressupostos absurdos: a fábula da neutralidade grega

A verdadeira falha do pensamento de Anaxágoras está em seus pressupostos fundamentais. Ele parte de uma ideia de razão autônoma, na qual o homem, com sua mente caída e corrompida pelo pecado, pode descobrir por si mesmo a estrutura do universo. Esta presunção de uma razão independente e neutra é uma das falácias mais pervasivas do pensamento filosófico ocidental e é igualmente rejeitada pela epistemologia reformada. Como Cornelius Van Til tão bem observou, o racionalismo que ignora a revelação de Deus é um “racionalismo de brincar” — uma tentativa infantil de construir uma explicação para o universo sem reconhecer o fundamento absoluto e soberano de Deus.

A falácia da neutralidade grega é um erro fatal que Anaxágoras cometeu, e que se reflete em muitos filósofos até os dias de hoje. Ao tentar construir uma cosmovisão a partir de uma razão independente da revelação de Deus, Anaxágoras perde de vista o ponto crucial: sem o Deus trinitário da Bíblia, todo esforço humano para compreender o cosmos acaba em caos racionalizado. Greg Bahnsen destaca essa ideia, observando que sem Deus, a razão humana não pode se justificar; ela não pode fundamentar a moralidade, nem a ciência, nem mesmo o próprio ato de pensar. A razão humana, isolada de Deus, é como uma vela acesa em um quarto escuro — iluminando nada.

3. A epistemologia do silêncio cósmico

Em um nível ainda mais básico, a falha do “Nous” de Anaxágoras está em sua incapacidade de fornecer qualquer tipo de comunicação proposicional. Para que o conhecimento seja possível, deve haver uma mente reveladora que compartilhe proposições claras e inteligíveis com a criação. O “Nous”, no entanto, é uma abstração sem vontade, sem palavras, sem revelação. O “silêncio cósmico” que ele impõe ao universo é tanto trágico quanto cômico, uma vez que se a mente não se comunica, então não há como a humanidade adquirir conhecimento verdadeiro sobre a criação ou sobre o próprio “Nous”.

John Frame, seguindo a tradição reformada, argumenta que “o conhecimento só é possível se houver um padrão absoluto, pessoal e revelador”, o que exclui imediatamente qualquer conceito de “mente cósmica” que não se envolva pessoalmente com a criação. O Logos cristão, por outro lado, é pessoal e comunicativo — Deus fala e se revela. O “Nous” de Anaxágoras, por mais que seja apelidado de inteligência cósmica, não é nada mais do que uma caricatura da verdadeira Mente divina revelada nas Escrituras.

4. Ontologia, caos e sementes mágicas

Anaxágoras, ao substituir um Deus pessoal por uma força cósmica impessoal, tentou justificar a ordem no universo com um conceito de partículas (sementes) que, por sua vez, contêm todas as qualidades possíveis, sendo organizadas pela mente do “Nous”. Esse tipo de cosmologia, que tenta explicar tudo em termos de entidades infinitamente pequenas que contêm potencialidades infinitas, nada mais é do que uma versão grega de alquimia filosófica. Em sua tentativa de evitar o criacionismo bíblico, Anaxágoras propôs uma explicação que, longe de trazer clareza, apenas gera mais confusão e complexidade.

Gordon Clark, ao criticar o pensamento naturalista e materialista, observa que “sem Deus, não há lógica, e sem lógica, não há ciência”. Não importa quantas sementes ou partículas Anaxágoras invente, elas não podem, por si mesmas, justificar as leis universais ou a regularidade da natureza. A ideia de uma mente impessoal organizando essas sementes não tem qualquer poder ontológico ou epistemológico real. Ela não responde à questão fundamental da origem do conhecimento, nem à pergunta sobre como e por que o universo segue leis que são, de fato, compreensíveis.

5. Ética sem Deus: o festival da incoerência

Um aspecto particularmente devastador do sistema de Anaxágoras é sua total falta de uma base moral. O “Nous” não tem qualquer capacidade de legislar, de distinguir o certo do errado, de recompensar os justos ou punir os ímpios. Anaxágoras foi, inclusive, expulso de Atenas por sugerir que o Sol era uma rocha incandescente — um crime de impiedade contra os deuses gregos. O mesmo “Nous” que organiza o cosmos não pode fornecer qualquer fundamento moral para a ação humana.

Sem uma revelação moral, tudo é relativo, e, como bem colocou Vincent Cheung, “a moralidade sem revelação é apenas preferência pessoal com pretensões divinas”. Anaxágoras, ao tentar estabelecer uma ordem cósmica sem o Deus revelador das Escrituras, acaba criando um sistema moral que é tão incoerente quanto um código de trânsito em Marte. A moralidade, sem uma base transcendental e revelada, nunca pode fornecer um verdadeiro padrão para a ação humana.

Conclusão: o Nous morto e o Logos vivo

Anaxágoras, ao propor um “Nous” impessoal como princípio organizador do universo, não apenas falhou em fornecer uma explicação para o cosmos, mas também abandonou a verdadeira fonte de sabedoria — o Deus pessoal e revelador das Escrituras. Seu “Nous”, que nunca fala, nunca age providencialmente e nunca revela proposições verdadeiras, é uma forma de idolatria filosófica disfarçada de inteligência. Em contraste, o cristianismo revela o Logos — Jesus Cristo, a Mente divina pessoal, criadora, sustentadora, legisladora e reveladora. Ele é a verdadeira fonte de toda sabedoria e conhecimento, como Paulo proclamou aos atenienses: “Este que vós adorais sem conhecer é precisamente aquele que vos anuncio” (At 17:23).

Apêndice: Cinco frases que Anaxágoras deveria ter lido (e crido)

1. “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” — Provérbios 9:10

2. “Destruindo raciocínios e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus” — 2 Coríntios 10:5

3. Gordon Clark: “Ou começamos com Deus e Sua revelação, ou não sabemos nada.”

4. Vincent Cheung: “Filosofia sem revelação é suicídio intelectual.”

5. Greg Bahnsen: “A neutralidade é um mito. Todo pensamento ou se submete a Cristo, ou se rebela contra Ele.”


O Ser Estático de Melisso e o Deus Vivo da Escritura

 O Ser Estático de Melisso e o Deus Vivo da Escritura

“Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz vemos a luz.”

— Salmo 36:9

Introdução: O Samosiano do Ser Imutável

Melisso de Samos, discípulo tardio da escola eleática fundada por Parmênides, é o tipo de pensador que torna a metafísica antiga uma verdadeira ginástica para o bom senso. Sua tese fundamental é simples: o ser é eterno, ilimitado, imutável e incorpóreo. Nada muda. Nada se move. Tudo é um. O pluralismo é uma ilusão. O devir é miragem. O movimento é ilusão dos sentidos. E como não poderia deixar de ser, o mundo como você o percebe... é basicamente fake news ontológica.

Melisso levou às últimas consequências a metafísica estática de Parmênides. Mas ao fazê-lo, transformou o cosmos em uma estátua congelada e a experiência em um engodo universal. Sua divindade filosófica — se é que podemos chamar assim — não é apenas impessoal: é inconsciente, imobilizada, e teologicamente inútil. Não há revelação, relação, redenção ou glória. Apenas "ser".

Como Gordon Clark diria: “um conceito assim pode servir para uma aula de lógica formal, mas não para um credo, um consolo, ou uma cosmovisão cristã.”

O Ser de Melisso: Um Cemitério Metafísico

O que Melisso de Samos nos propõe não é um universo vivo, mas um eterno cadáver ontológico. Tudo é um, sim — mas sem distinção, sem identidade pessoal, sem causalidade e sem propósito. Sua lógica é tão seca quanto implacável:

• O ser não pode ter começado, porque nada vem do nada.

• O ser não pode mudar, porque mudança implica em tornar-se algo que antes não era.

• O ser é ilimitado, porque limites implicam em não-ser.

• Portanto, o ser é eterno, uno, imutável, incorpóreo e infinito.

Melisso elimina o tempo, o espaço, a multiplicidade e a distinção. O universo vira uma gelatina infinita de "ser puro", sem dinâmica, sem personalidade e sem qualquer justificativa para o que chamamos de realidade observada. E, como se não bastasse, toda a linguagem humana torna-se inapropriada para falar da realidade — afinal, dizer "isto se move" seria, segundo ele, um erro fundamental.

A esse ponto, até mesmo Parmênides deve ter levantado uma sobrancelha filosófica e dito: "Calma, rapaz."

Théodore de Bèze: O Deus Que Não É Uma Pedra

Teodoro de Beza, sucessor de Calvino, não escreveu contra Melisso, mas suas doutrinas sobre a revelação, soberania e predestinação são o antídoto perfeito para esse ontologismo grego paralisante. Beza escreve:

“A palavra de Deus é o espelho em que contemplamos não apenas o que Ele é, mas o que Ele deseja que saibamos e vivamos.”

— Théodore de Bèze, Confessio Christianae Fidei

Ora, se a realidade é um bloco eterno e imutável de ser sem revelação, então não há espelho, não há contemplação, não há revelação e — francamente — não há teologia. O deus de Melisso não diz "Eu Sou o que Sou" (Êx 3:14), mas apenas "eu sou... pronto, já era". O Ser de Melisso é ontologicamente mudo.

Beza também escreveu:

“A predestinação é a chave da teologia; e quem não começa por ela, não sabe o que diz de Deus.”

— Ibid.

Se o universo é eternamente idêntico a si mesmo, então não há eleição, providência, redenção ou predestinação. Deus não escolhe, não age, não decreta. Tudo já "é" — mas sem direção, sem vontade, sem inteligência.

Nesse cenário, até o ateísmo é mais emocionante.

Francis Turretin: Contra os Decretos do Nada

Francis Turretin, gigante da teologia escolástica reformada, é impiedoso com qualquer sistema que negue os decretos de Deus, a criação ex nihilo e a contingência da ordem criada sob a soberania divina. Ele diz:

“Negar os decretos é negar o Deus das Escrituras; pois Ele tudo determinou antes da fundação do mundo, não por necessidade, mas por livre e sábio conselho.”

— Francis Turretin, Institutio Theologiae Elencticae

Melisso não tem espaço para decretos. Para ele, não há tempo, não há escolha, não há "antes" ou "depois". Só um oceano congelado de ser absoluto. Isso faz de seu sistema não apenas anti-bíblico, mas anticrístico. Porque se tudo sempre foi como é, e nada pode mudar... então nem a cruz ocorreu. A encarnação seria uma ilusão. E o túmulo vazio? Metáfora, se tanto.

Turretin continuaria:

“Deus é imutável, sim, mas Ele causa mudanças em Suas criaturas conforme Sua vontade. Esse é o mistério da providência.”

— Ibid.

Melisso confunde o ser divino com a criação. Ele eleva a metafísica ao altar e destrona o Deus das Escrituras. No seu modelo, tudo é um — e Deus vira o universo, ou pior, uma abstração mental.

John Knox: Pregando Contra a Pedra

John Knox, o reformador escocês que pregava como se estivesse diante de demônios armados, não teria paciência para o "ser absoluto" de Melisso. Para ele, toda teologia sem o Cristo encarnado é blasfêmia maquiada de sofisticação. Knox proclamava:

“Pregamos Cristo, o poder e a sabedoria de Deus, contra todas as imaginações dos homens.”

— John Knox, Sermons on Isaiah

Melisso quer nos convencer de que mudança é ilusão. Knox, por outro lado, vê na mudança — na encarnação, crucificação e ressurreição de Cristo — o coração do plano de Deus.

Para Knox:

“Onde Cristo não é pregado como o único mediador, ali está o inferno, mesmo que chamem aquilo de filosofia.”

— Ibid.

O deus de Melisso, que não fala, não encarna, não decreta e não julga, é o inferno lógico. Uma eternidade estagnada, onde nem Deus pode agir. Knox pegaria seu bastão escocês metafórico e quebraria essa filosofia como se fosse um ídolo de madeira.

Conclusão: Da Estagnação Filosófica à Glória Revelada

O sistema de Melisso de Samos é o paraíso dos niilistas e o inferno dos teólogos. Ele oferece coerência formal à custa de toda relevância existencial, moral e epistemológica. Seu "deus" não se move, não vê, não quer, não decreta, não salva. A realidade, segundo ele, é uma bolha ontológica parada no tempo — um túmulo sem epitáfio.

Mas como diz a Escritura:

“Porque dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas. Glória, pois, a Ele eternamente. Amém.”

— Romanos 11:36

Não vivemos num bloco ontológico inerte. Vivemos num cosmos que geme e espera a redenção (Rm 8:22), sob o decreto soberano do Deus trino que fala, age, e se encarna. Melisso ficou com o "ser". Nós ficamos com o Verbo (João 1:1).

E ao contrário do ser absoluto sem rosto do filósofo de Samos, o nosso Deus, como disse Turretin, “é espírito infinito em ser e perfeição, subsistindo em três pessoas, conhecendo tudo de si mesmo e de suas obras, e governando todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade.”

É difícil ser mais claro que isso. Melisso escreveu metafísica. Os profetas escreveram Escritura. A quem ouviremos?


Xenófanes de Cólofon – O Teólogo Cego da Natureza

 Xenófanes de Cólofon – O Teólogo Cego da Natureza

“Se os bois e os cavalos tivessem mãos…” — Xenófanes

“E se os tolos tivessem lógica…” — Um cristão ocasionalista

Introdução: O Ídolo no Espelho

Xenófanes de Cólofon, ativo por volta do século VI a.C., é uma daquelas figuras da filosofia antiga frequentemente celebradas por sua suposta ousadia intelectual, mas que, sob escrutínio, revelam-se como mais um entre os muitos casos de fracasso épico da razão autônoma. Muitos o têm como um proto-monoteísta, um precursor do pensamento crítico sobre a religião, e até mesmo um ancestral intelectual dos teólogos modernos que odeiam a Bíblia, mas gostam de falar sobre “Deus” em termos vagos, poéticos e inofensivos. A verdade é que Xenófanes representa o homem que se cansa da idolatria popular apenas para erigir uma idolatria filosófica mais sofisticada — isto é, um deus feito à imagem da razão humana, mas sem forma visível. Em vez de bezerros de ouro, ele oferece abstrações douradas.

É nossa tarefa, como apologetas cristãos, especialmente aqueles da linhagem de Van Til, Gordon Clark e Vincent Cheung, fazer mais do que apenas rir com superioridade. Precisamos demolir seus fundamentos e mostrar que qualquer sistema que não começa com a revelação proposicional do Deus trino das Escrituras é nada mais do que um castelo feito de névoa sobre areia movediça.

A Cosmovisão de Xenófanes: Contra os Deuses Antropomórficos

Xenófanes ficou famoso por criticar os deuses da mitologia grega, especialmente aqueles retratados por Homero e Hesíodo, que agiam com ciúme, luxúria, engano e violência — em resumo, como gregos bêbados em uma taverna em Esparta. Em sua crítica, Xenófanes ridiculariza a ideia de que deuses tenham aparência humana, dizendo que se bois e cavalos pudessem pintar, pintariam deuses com formas bovinas e equinas.

Até aqui, palmas. Xenófanes identifica corretamente o problema da idolatria antropomórfica — mas é aí que termina sua utilidade. Porque, em vez de correr para o Deus revelado da Escritura — Aquele que criou o homem à sua imagem e não o contrário — Xenófanes decide que a melhor solução é fabricar um conceito de divindade abstrata, impessoal e absolutamente inútil. Seu deus é uno, imóvel, eterno, e pensa com todo o seu ser. Não interage com o mundo. Não fala. Não julga. É, para todos os fins, um conceito filosófico que faria Parmênides dar pulos de alegria e faria um profeta bíblico rasgar suas vestes.

O Deus de Xenófanes: Um Ser Inerte e Silencioso

O deus de Xenófanes é, segundo ele, uma unidade absoluta, imóvel e auto-consciente. Parece interessante até você perceber que esse “deus” não faz absolutamente nada. Ele não cria, não revela, não intervém, não tem poder pessoal. É um ser “perfeito” cuja perfeição é definida como total inação. Um ser que só pensa — e, já que não há outro ser fora dele com quem dialogar ou a quem amar, ele só pode pensar em si mesmo, eternamente. É basicamente o primeiro narcisista cósmico da história da filosofia.

Compare isso ao Deus das Escrituras: eterno, sim, mas também criador, sustentador, legislador, redentor, juiz e pai. Um Deus que fala com clareza (“Disse Deus: haja luz”) e que define todo o conhecimento, toda a moralidade, todo o significado e toda a história. O Deus de Xenófanes, por outro lado, parece mais com um paciente em estado vegetativo transcendental.

Epistemologia: As Mãos Vazias da Razão Humana

Aqui chegamos ao ponto em que Gordon Clark e Vincent Cheung dariam risada de canto de boca. Xenófanes denuncia os erros dos poetas, questiona as tradições mitológicas e afirma que os homens não conhecem a verdade divina. E qual é sua solução epistemológica? Uma admissão resignada de que talvez nunca conheceremos a verdade com certeza. Isto é, depois de destruir as certezas dos outros, ele se contenta em viver na dúvida sofisticada. A crítica à idolatria levou apenas à ignorância sistematizada.

E aqui entra a refutação pressuposicional: Xenófanes não pode justificar nenhum conhecimento. Nenhum. Seu sistema é autocontraditório, pois ele afirma que os homens não podem saber a verdade — exceto, claro, ele próprio, que sabe que ninguém pode saber. Ele critica os outros por inventarem deuses à sua imagem, mas inventa um deus à imagem de sua própria razão especulativa. Ele acusa os poetas de serem subjetivos, mas sua própria teologia é subjetiva e infundada.

Como Clark afirmaria, todo conhecimento deve ser proposicional, revelado por um Deus racional. Como Cheung apontaria, sem revelação divina, tudo o que resta ao homem é ignorância arrogante. Xenófanes é como alguém que percebe que o barco em que todos estão está furado, pula na água para escapar, mas esquece que não sabe nadar e ainda zomba dos que ficaram.

O Ocasionalismo e a Derrota do Deus Inerte

Xenófanes concebe um deus que não causa os eventos no mundo. Seu deus não determina nada. Isso o coloca em choque direto com o Deus das Escrituras, que não só criou todas as coisas como continuamente as sustenta (Hebreus 1:3) e as faz cooperar para o cumprimento de Seus decretos (Efésios 1:11). No ocasionalismo calvinista, como ensinado por Cheung e Edwards, Deus é a única verdadeira causa de todos os eventos, e todo o resto é apenas ocasião. Xenófanes, por outro lado, deixa o mundo rodando por conta própria, como um relógio sem relojoeiro — e, ironicamente, um relógio sem ponteiros.

Na cosmovisão bíblica, não só Deus criou o mundo como também escreve, define e executa cada milímetro da história. O Deus de Xenófanes é o oposto: um mero espectador divino, ou pior, um conceito filosófico que não assiste nem interfere — não porque é bondoso, mas porque é impotente.

Moralidade e a Falácia da Neutralidade

Se o deus de Xenófanes não fala, não julga, não age e não se revela, que base ele pode oferecer para a ética? Nenhuma. Sua crítica aos deuses imorais da mitologia grega não é sustentada por uma norma objetiva. Ele simplesmente não gosta da imoralidade deles — o que é, no fim, subjetivismo com toga filosófica.

Mas a cosmovisão cristã não oferece só uma ética superior; ela oferece a única ética possível. A lei de Deus, revelada proposicionalmente nas Escrituras, é a norma absoluta, universal e imutável para todos os homens. O cristianismo não precisa apenas de um deus que exista, mas de um Deus que fale, que ordene, que revele Sua vontade de maneira inteligível e racional. Xenófanes não tem isso — ele tem apenas um silêncio eterno, que parece profundo mas é apenas vazio.

Conclusão: O Deus do Filósofo é um Ídolo com Paletó

Xenófanes tentou criticar a idolatria antropomórfica, mas criou uma idolatria epistemológica e metafísica. Seu deus é um monumento à razão autônoma que, como sempre, tropeça em si mesma e cai de cara no chão. Ele desprezou as imagens de deuses com feições humanas, mas sua própria teologia é uma imagem feita com as abstrações de sua mente caída.

Como apologetas pressuposicionalistas, declaramos que só o Deus da Bíblia, revelado nas proposições das Escrituras, pode fundamentar lógica, moralidade, ciência e salvação. Todo outro sistema — seja politeísta ou monoteísta filosófico — é irracional e autodestrutivo. Xenófanes é mais um lembrete disso: um homem que viu a loucura dos ídolos, mas não enxergou o Logos encarnado.

Se Xenófanes tivesse vivido até ouvir o apóstolo Paulo em Atenas, talvez tivesse sido convidado a abandonar o seu “deus imóvel” e se prostrar diante do Deus vivo “em quem vivemos, nos movemos e existimos” (Atos 17:28). Mas, como tantos, preferiu sua própria imaginação.

O Deus Silencioso e os Gritos da Verdade

A Filosofia como Ídolo de Cera: Clark e a Refutação Lógica

Gordon Clark, mestre da epistemologia cristã proposicional, apontou que qualquer sistema de conhecimento que não se fundamenta na revelação divina é, por definição, irracional e autocontraditório. A razão humana, quando desligada da Escritura, não produz verdade, mas confusão organizada. Como Clark afirma com clareza cirúrgica:

“Sem revelação, o homem nada pode saber. Todos os seus pensamentos são apenas opiniões, e nenhuma delas pode ser justificada.”

— Gordon H. Clark, A Christian View of Men and Things

Xenófanes se encaixa perfeitamente nesse diagnóstico. Ele ousou criticar os mitos, mas sua alternativa foi uma filosofia sem base, uma teologia sem revelação. Ele queria escapar do politeísmo da imaginação popular, mas caiu nas armadilhas do racionalismo pagão. Pior ainda, ele admitiu que a verdade última pode ser inalcançável — uma confissão de derrota intelectual antes mesmo de começar a partida.

Clark não teria piedade dessa filosofia nebulosa:

“A filosofia não pode responder nem a uma única questão fundamental sem a revelação divina.”

— Clark, The Philosophy of Science and Belief in God

Xenófanes, portanto, ao tentar edificar um sistema teológico sem revelação proposicional, incorre na mesma tolice daqueles que adoravam Zeus ou Afrodite — a diferença é apenas de linguagem, não de substância.

Cheung: O Ocasionalismo e a Soberania Desprezada

Vincent Cheung, verdadeiro herdeiro intelectual de Clark, vai além ao afirmar com força que todo conhecimento válido depende da Escritura, e que a causalidade no mundo não é naturalista, mas ocasional — isto é, Deus causa diretamente todos os eventos. Xenófanes, com seu deus imóvel e ausente, rejeita exatamente isso. Para Cheung:

“O mundo natural não tem causalidade própria. O poder de causar reside unicamente em Deus, que continuamente cria e sustenta tudo conforme Sua vontade soberana.”

— Vincent Cheung, Systematic Theology

Se Xenófanes fosse confrontado com essa verdade, seu sistema ruiria completamente. Um deus que não move, não causa, não fala e não julga é, nas palavras de Cheung, “não apenas inútil, mas inexistente”. Xenófanes trocou os mitos de Homero por ociosas abstrações filosóficas — mas o Deus cristão é o causador de tudo, inclusive do movimento do pensamento e da vida. Como Cheung ainda declara:

“É por causa da revelação bíblica que podemos ter conhecimento verdadeiro. Os sistemas não-revelacionais não são apenas errados, mas pecaminosos.”

— Cheung, Ultimate Questions

O problema com Xenófanes não é meramente filosófico, mas ético e espiritual. Ele quer um deus que não exige nada. Ele quer criticar os ídolos, mas manter a idolatria intelectual.

John Piper: Glória, Revelação e o Deus Que Fala

John Piper, embora mais devocional em estilo do que Clark ou Cheung, compartilha com eles a convicção de que Deus se revela, fala e age para exibir Sua glória — e que qualquer concepção de divindade que ignora isso é blasfema. Piper escreve:

“Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos Nele — mas só podemos nos satisfazer em um Deus que se revela, que se entrega, que fala.”

— John Piper, Desiring God

Xenófanes quer um deus que não se rebaixe a se comunicar com criaturas. O Deus da Bíblia, por outro lado, é aquele que fala conosco como um pai fala com seu filho (Hebreus 1:1–2). Piper também afirma:

“Não conhecer Deus é não conhecer o propósito da existência. E conhecer Deus não é possível sem Sua autorrevelação.”

— Piper, The Pleasures of God

Logo, o “deus” de Xenófanes é não só epistemologicamente impotente, mas existencialmente inútil. Ele não é glorioso — é nebuloso. Ele não é adorável — é inacessível. Ele não nos leva à adoração, mas à resignação estoica.

James Clerk Maxwell: Ciência e a Criação Proposicional

E mesmo no domínio da ciência — onde alguns poderiam pensar que o deus de Xenófanes, eterno e imóvel, poderia ter algum valor — encontramos testemunho contrário. O grande físico James Clerk Maxwell, responsável pelas equações fundamentais do eletromagnetismo, via a ciência como algo profundamente teológico. Ele afirmou:

“A principal motivação da ciência é pensar os pensamentos de Deus depois dEle.”

— James Clerk Maxwell

Ou seja, para Maxwell, a criação é inteligível porque Deus a criou racionalmente e a revelou. O cientista cristão é um adorador que lê o universo como quem lê um livro divino. Xenófanes não pode oferecer isso. Seu deus é inacessível e inexpressivo. É um silêncio cósmico, não um logos revelador. Maxwell prossegue:

“Quero ver Deus face a face. Não outro, mas Ele mesmo.”

— Maxwell, carta a um amigo

Se Maxwell tivesse que escolher entre o deus inerte de Xenófanes e o Deus pessoal de Jesus Cristo, já sabemos sua resposta.

Conclusão: Quando o Filósofo Cala, as Escrituras Falam

Xenófanes de Cólofon quis banir os ídolos da religião popular, mas criou um ídolo mais sofisticado: um conceito de divindade irrelevante, imóvel e epistemologicamente inútil. Em contraste, o Deus das Escrituras é pessoal, proposicional, soberano e presente. Ele é o fundamento do conhecimento, da moralidade, da ciência, da lógica, da salvação e da vida.

Como Gordon Clark nos ensinou, sem a revelação proposicional da Bíblia, tudo o que resta é ignorância sofisticada. Como Cheung proclamou, todo sistema fora da Escritura é pecado epistemológico. Como Piper testemunha, Deus fala para ser adorado. E como Maxwell entendeu, a ciência é teologia aplicada.

Xenófanes calou os deuses de Homero, mas seu próprio deus também não fala. Nós, porém, ouvimos a voz do Senhor:

 “Assim diz o Senhor...” (Isaías 1:2).

E com isso, o debate termina. O silêncio do filósofo não é humildade — é derrota.