quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Ad’Heim – Confronto com Laurent

 


por Yuri Schein 

O corredor se abriu em um grande salão escuro, iluminado apenas por velas negras presas às paredes de pedra. O ar tinha cheiro de ferro e magia antiga, carregado de energia sufocante. Laurent pairava acima do altar, Raella deitada sobre ele, a capa negra envolvendo seu corpo como se emanasse poder próprio. As duas Sucubus, Roxie e Penélope, observavam com olhares predatórios, prontas para intervir a qualquer instante.

Laurent, ainda em forma de morcego, notou algo que o deixou admirado: pequenos traços de magia que brilhavam sutilmente pelo corredor — linhas tênues que Raella havia lançado durante o voo, marcando discretamente o caminho para que o grupo pudesse encontrá-la. O Vampiro franziu a testa, impressionado com a astúcia da jovem.

O grupo chegou ao salão com cuidado. O coração de Ikarus batia acelerado, cada passo ecoando pela pedra, refletindo a tensão no ar. Thomas Walker mantinha os montantes erguidos, preparado para qualquer ataque, enquanto Gillian e Derek analisavam cada sombra. Jetto rosnava baixo, ciente da presença poderosa diante deles, mas Raella permanecia imóvel, dormindo sobre o altar, inconsciente.

— Fiquem atentos — sussurrou Ikarus, sentindo o peso da responsabilidade.

A batalha começou instantaneamente. Laurent desceu do teto, transformando-se em forma humana, suas asas negras batendo e espalhando um vento que quase derrubou Thomas. Ele avançou com velocidade sobrenatural, atacando Ikarus, que recuava tentando se esquivar, mas recebeu um golpe no braço esquerdo que o deixou dolorosamente ferido. Thomas Walker tentou intervir, mas uma de suas asas foi quebrada em um ataque direto do Vampiro.

Gillian, determinada, avançou com precisão cirúrgica, derrubando Roxie e Penélope com golpes bem calculados, enquanto Rickson atacava com furia, desferindo golpes fatais contra as Sucubus. O choque de poderes era intenso, e rapidamente três membros do grupo ficaram inconscientes: Derek, Jetto e Thomas Walker caíram sobre o chão de pedra, exaustos e feridos.

Rickson, com fúria, conseguiu matar ambas as Sucubus, mas foi gravemente ferido no processo, mal conseguindo se manter de pé. Laurent olhou para ele com desprezo, os olhos como chamas vermelhas refletindo raiva, e desferiu um golpe mortal, encerrando a vida de Rickson antes que pudesse reagir.

Ikarus, mesmo com o braço machucado, encarou Laurent com determinação. A espada erguida, ele recebeu uma sequência de golpes devastadores, cada impacto cravando dor em seus ossos, mas não recuou. O Vampiro riu, certo de que o golpe final estava próximo.

— Você é corajoso, humano… mas corajoso demais! — disse Laurent, preparando-se para o ataque final.

No instante em que o Vampiro se aproximou para acabar com Ikarus, ele girou as costas, abrindo uma brecha que permitiu a Ikarus concentrar toda sua energia. Lembrando-se dos ensinamentos de Ranur, ele pronunciou um encanto sagrado aprendido na cidade de Lenória Imperial. Uma chama branca pura emergiu de sua espada, envolvendo Ikarus e seu inimigo em luz intensa.

Com um grito de esforço e fé, Ikarus cravou a espada no coração do Vampiro. O choque de magia e força destruiu completamente Laurent. Uma explosão de luz branca consumiu o salão, iluminando cada parede, cada pedra, cada símbolo antigo. Quando a luz se dissipou, o corpo do Vampiro havia desaparecido, restando apenas silêncio e o eco da destruição.

Raella, ainda adormecida sobre o altar, parecia tranquila. O grupo, ferido e exausto, finalmente respirava aliviado. A caverna estava silenciosa, e a ameaça imediata havia sido neutralizada, mas todos sabiam que o caminho pela frente ainda era perigoso.

Ad’Heim – O Incubus e os Guardiões das Sombras

 


por Yuri Schein 

O corredor se estreitava e o ar ficava mais denso. Raios de luz quase inexistentes vinham de fendas no teto, mal iluminando as paredes cobertas de símbolos antigos e manchas de sangue negro. O grupo avançava cauteloso, cada passo ecoando, cada respiração pesada.

De repente, uma risada baixa e sedutora reverberou pela pedra. Uma figura surgiu das sombras: alto, musculoso, com pele bronzeada que brilhava sob a luz mortiça, olhos âmbar hipnotizantes e asas negras dobradas nas costas. Um Incubus. O ar parecia vibrar com sua presença; seu perfume enchia as narinas e provocava uma sensação de vertigem e atração perigosa.

— Vocês ousam adentrar meus domínios… — sua voz era como seda afiada. — Sentirei cada medo, cada desejo reprimido… antes de destruí-los.

O grupo se preparou: Ikarus empunhou a espada com firmeza, Thomas Walker ergueu os montantes em postura defensiva, Derek posicionou-se à distância com as flechas, Gillian ajustou as lâminas e Jetto rosnou, avançando em sua forma lupina.

O Incubus avançou, movimentando-se com velocidade sobrenatural. Suas garras afiadas arranhavam as paredes, espalhando faíscas de energia negra. Mortos vivos, atraídos pelo poder do Incubus, emergiam das sombras: esqueletos, ghouls e carniçais se juntaram à batalha, cercando o grupo.

— Cuidado! — gritou Ikarus, desviando de um golpe que teria rasgado seu torso. — Não podemos nos separar!

Thomas Walker girava os montantes com força brutal, cortando ossos e atingindo o Incubus, que recuava com um rugido. Sua aura sedutora tentava desestabilizar Derek, que precisou concentrar toda sua mente para disparar flechas certeiras, atingindo a perna do Incubus.

— Ele… é mais forte que qualquer criatura que já enfrentamos! — disse Derek, ofegante, enquanto recarregava suas flechas.

Gillian atacava com precisão cirúrgica, derrubando esqueletos que avançavam, cortando carniçais e desviando de ataques que poderiam esmagar seus pés. Jetto investia com ferocidade, cravando garras e mordidas nos ghouls, afastando-os do grupo.

— Ikarus, atrás de você! — gritou Raella… não, Raella ainda não estava presente! Foi Thomas quem percebeu um ghoul avançando pelas sombras e desviou Derek do perigo.

Enquanto o grupo lidava com os mortos vivos, o Incubus canalizava energia negra e lançou uma onda de sedução e magia sombria. Thomas Walker, com suas asas parcialmente abertas, ergueu-se e lançou um ataque de impacto direto, esmagando parcialmente o Incubus contra a parede da caverna. O Incubus gritou, ferido, mas continuava lutando.

— Derek! Agora! — Ikarus ordenou. Derek disparou uma série de flechas encantadas que perfuraram o peito do Incubus, enfraquecendo sua resistência.

Combinando esforços, Gillian e Jetto lançaram ataques precisos, desviando o Incubus e abrindo brechas. Finalmente, Thomas Walker ergueu seus montantes, girando-os em um golpe devastador que atingiu o Incubus com força total. A criatura caiu, ferida mortalmente, deixando para trás apenas sombras que rapidamente se dissiparam.

O grupo aproveitou o momento para eliminar os mortos vivos restantes, cada golpe calculado, cada ataque coordenado. Quando o último ghoul caiu, o silêncio voltou à caverna, pesado e ameaçador.

— Estamos perto… — disse Ikarus, examinando o corredor. — Posso sentir a presença dele.

— A magia é forte aqui… — acrescentou Gillian, observando símbolos arcanos gravados nas paredes. — Alguém… ou algo, nos espera adiante.

— Raella… — murmurou Jetto. — Ela está envolvida nisso, tenho certeza.

O grupo avançou com cautela, passos firmes mas silenciosos, chegando à bifurcação que levava ao grande salão. O ar estava carregado, e o som de um coração batendo, ou talvez de magia pulsante, parecia ecoar através da pedra. Eles se preparavam mentalmente, sabendo que dali em diante não encontrariam apenas mortos vivos, mas Laurent, o vampiro, e o destino de Raella.

Ad’Heim – Rastros nas Sombras da Caverna

 


por Yuri Schein 

O eco dos passos do grupo ressoava pelas paredes úmidas da caverna. Cada som era amplificado, cada pedra solta parecia anunciar sua presença aos mortos vivos. Ikarus liderava, a espada firme em mãos, os olhos atentos a qualquer movimento. Thomas Walker avançava com seus dois montantes, cada golpe desferido esmagando ossos e crânios, enquanto suas asas batiam em alertas súbitos, prontas para erguer o guerreiro em caso de armadilhas aéreas.

— Aqui! — exclamou Derek, apontando para arranhões recentes no chão de pedra. — Alguém passou por aqui recentemente… sangue fresco.

Gillian moveu-se silenciosa, quase deslizando sobre o piso molhado, cada passo calculado. Com um salto ágil, ela derrubou um carniçal que avançava por trás de um pilar, espetando-o com uma adaga antes que pudesse uivar.

— Bom trabalho! — disse Ikarus, ajustando o braço ferido, resultado do último combate. — Temos que manter a calma e seguir os rastros. Parece que ele… ou eles, estiveram por aqui recentemente.

Jetto farejou o ar, seus sentidos lupinos captando algo que ninguém mais poderia: o cheiro metálico do sangue e uma energia densa que impregnava a pedra.

— Ele está próximo… sinto cheiro de magia negra, e não é qualquer magia, é poderosa. — Disse ele, rosnando baixinho, enquanto golpeava outro esqueleto que surgira de uma sombra.

Ao virar uma curva estreita, o grupo se deparou com uma horda de esqueletos emergindo de uma fenda lateral. Thomas Walker avançou com um rugido, girando os montantes com força brutal. Cada golpe enviava ossos estilhaçando pelo chão. Derek disparava flechas com precisão, mirando nas articulações e crânios. Gillian atacava velozmente, cortando com lâminas e derrubando ossos que se erguiam novamente. Ikarus gritava ordens, coordenando o grupo.

— Jetto! Direita! — Ikarus apontou para um corredor estreito. — Bloqueie a passagem deles!

O lobisomem avançou, cravando garras em dois esqueletos simultaneamente, arrancando membros e abrindo espaço para o grupo avançar. Cada passo adiante deixava rastros de sangue e destruição, mas também mais evidências do caminho do vampiro: manchas de sangue negro, símbolos riscados nas paredes, arranhões de garras que pareciam rasgar a pedra.

— Ele quer que sigamos por aqui… — disse Derek, respirando pesadamente. — Está nos levando exatamente onde ele quer.

— Isso não é surpresa — respondeu Gillian, enxugando o sangue da lâmina. — Vampiros sempre jogam com vantagem. Precisamos ficar juntos e não perder o foco.

Conforme avançavam, perceberam que a caverna se tornava mais estreita e baixa. Raios de luz quase inexistentes vinham de pequenas fendas no teto, iluminando parcialmente os corredores. O ar estava pesado, carregado de magia negra. Cada sombra parecia se mover sozinha.

De repente, um fantasma surgiu, soltando um grito estridente. Raiva, ódio e fome emanavam dele. Thomas Walker girou em um salto, esmagando-o com os montantes, enquanto Derek disparava duas flechas que atravessaram sua essência espectral. Gillian saltou, atacando outro revenant que avançava pelo chão, fazendo-o desaparecer em um estalo de ossos. Ikarus sentiu um golpe rasgando seu braço esquerdo, mas não hesitou, empurrando o resto da horda com um ataque em linha. Jetto uivava e investia, derrubando os últimos esqueletos e carniçais.

— Precisamos avançar! — gritou Ikarus. — Estamos perto… posso sentir.

O grupo finalmente chegou a uma bifurcação: corredores estreitos que desciam ainda mais no coração da caverna. O silêncio caiu por um instante, pesado, quebrado apenas pelo som do ar respirado com dificuldade e o eco distante de algo se movendo mais adiante.

— Ele está perto… — murmurou Jetto, mostrando os dentes. — E sinto que Raella também está… de alguma forma ligada a tudo isso.

Todos olharam ao redor, percebendo a gravidade da situação. Cada passo os aproximava do chefe da masmorra, cada sombra poderia ser a última. A tensão era palpável, e mesmo feridos e exaustos, sabiam que não poderiam hesitar.

— Preparar-se — disse Ikarus, ajustando a postura. — Sei que ele está à frente. Não sabemos o que nos espera, mas precisamos continuar. E desta vez, não podemos errar.

O corredor adiante se estreitava ainda mais, mas sinais de sangue negro e símbolos antigos indicavam que algo muito poderoso os aguardava… o confronto com Laurent, o vampiro, estava cada vez mais próximo.

Ad’Heim: O Ritual do Vampiro

 


por Yuri Schein 

Raella estava deitada sobre o altar, o frio da pedra pressionando suas costas e o peso da mordaça silenciando qualquer tentativa de protesto. As correntes que a prendiam cintilavam à luz trêmula das velas, lançando sombras dançantes nas paredes úmidas da caverna. Roxie e Penélope se posicionavam de cada lado, imóveis, suas presenças emanando uma mistura de sedução e perigo. O ar estava carregado, quase sólido de tensão, mas Laurent se aproximou com passos silenciosos, sua capa negra esvoaçando como um espectro.

— Calma… — murmurou ele, sua voz baixa e hipnotizante, quase cantada. — Não lute contra o inevitável. Ouça-me, e sinta a verdade de minha história.

Raella sentiu seus olhos se fixarem nele, como se cada palavra fosse um fio invisível prendendo sua mente, e o coração acelerou de forma quase dolorosa. Laurent começou a falar, sua voz mesclando melancolia e autoridade, e cada detalhe parecia desenhar uma tapeçaria de dor e obsessão.

— Nasci há setecentos anos — começou ele — em uma vila no extremo sul de Lenória. Não havia recursos, nada que me sustentasse além da astúcia. Espigas roubadas, frutas escondidas, migalhas de pão das plantações dos ricos: foi assim que sobrevivi.

Ele descreveu a Lenória Imperial da época, dominada pelos elfos, sempre em guerra com orcs; humanos, vassalos dos elfos, vivendo à margem das grandes batalhas, aprendendo a arte da sobrevivência e da furtividade. Laurent falou de sua infância solitária, sem pai, sem mãe, vagando pelas ruas e bosques, até conseguir trabalhar para um cocheiro, ganhando pequenas moedas, aprendendo a observar e a esperar.

— Aos dezoito anos — continuou, sua voz carregada de nostalgia — conheci Valéria. Ela era minha vida. Olhos castanhos, cabelos castanhos, delicada como o vento que balança as folhas da floresta. Mas a nobreza a cercava, abençoada pelos elfos, protegida, inacessível para mim… ainda assim, nós fugimos.

Laurent descreveu a vida que ele e Valéria construíram: exilados na floresta encantada, três filhos, sobrevivendo com o que colhiam, uma vida simples e feliz. Mas a felicidade durou pouco. A Dríade, necessitando de homens para procriar, tentou encantá-lo. Ele resistiu, porque seu coração pertencia a Valéria, mas a criatura ficou enfurecida.

— Ela lançou um feitiço sobre a floresta… — disse Laurent, a voz baixa e pesada. — As árvores engoliram Valéria e nossas crianças. Suas consciências humanas foram aprisionadas, fundidas à floresta, mas suas almas… presas, trágicas, perdidas.

O silêncio caiu pesado. Raella sentia o horror e a tristeza na voz do vampiro, quase esquecendo sua própria situação. Laurent continuou:

— Fui encantado pela Dríade, vivendo anos em servidão, até que uma visão da minha esposa em uma árvore queimada quebrou a magia. E, ao fugir para os Montes Lendários, fui transformado em vampiro… um guardião de mortos vivos, uma sombra sobre qualquer incauto que adentrasse esta caverna. Mas agora, Raella… — sua voz baixou ainda mais — agora terei Valéria novamente.

Raella estremeceu, a mordaça prendendo seu grito. Ela estava aterrorizada, mas cada palavra dele carregava uma estranha coerência e paixão sombria que a deixava hipnotizada, um equilíbrio entre medo e fascínio impossível de romper naquele momento. Laurent aproximou-se do altar, traçando runas complexas sobre a pedra, símbolos antigos que brilhavam em vermelho profundo, enquanto Roxie e Penélope murmuravam encantamentos, mantendo a energia do ritual concentrada.

Ele colocou suas mãos sobre Raella, deslizando suavemente pela capa negra que agora cobria parte de seu corpo. A capa reagiu, emitindo um leve brilho que pulsava em sincronia com a respiração de Raella. Suas pálpebras começaram a pesar, e, sem que percebesse, o cansaço acumulado das batalhas, o medo, e o efeito hipnótico da história de Laurent a fizeram adormecer profundamente, entregue à magia da capa e ao ritual iminente.

Laurent recuou alguns passos, contemplando o altar, suas mãos ainda iluminadas pelas runas. As sucubus se moveram em círculos, ajustando a energia do ritual, mas sem tocar nela. O silêncio da caverna tornou-se absoluto, apenas interrompido pelo crepitar das velas e o sussurro das runas, prenunciando o que estava por vir. Raella estava agora vulnerável, adormecida, enquanto o vampiro finalizava os preparativos, o destino dela completamente nas mãos do amor sombrio e obsessivo de Laurent.

Ad’Heim: O Altar do Vampiro

 



 

Por Yuri Schein 

O vento cortava os corredores estreitos da caverna, mas para Raella, agora presa nos braços de Laurent, tudo parecia um borrão de cores e sons. A sensação de voar como um morcego, com o corpo leve e o ar rugindo nos ouvidos, era ao mesmo tempo vertiginosa e aterradora. Cada estalo de pedra ecoava enquanto desciam, as paredes estreitas passando tão rápido que mal podia distinguir cada rachadura ou estalactite.

O ar frio e úmido misturava-se com um perfume doce e intoxicante — aroma de flores sombrias e algo mais, algo perigoso e sedutor. Laurent voava com perfeição, cada batida de suas asas negra como a noite mantendo um controle sobrenatural da queda e da trajetória. Raella sentia o coração disparar, não apenas pelo medo, mas pela estranha sensação de impotência e fascínio diante daquele ser que a carregava. O mundo ao redor desapareceu; apenas o vento cortante e a respiração rápida preenchiam sua consciência.

Finalmente, alcançaram uma fenda na parte inferior da caverna, e Laurent mergulhou na escuridão. O impacto foi contido, quase imperceptível, pela magia que emanava dele. Raella abriu os olhos, e o cenário à sua frente fez com que um calafrio percorresse sua espinha: estavam em uma câmara subterrânea esculpida em pedra, as paredes cobertas de musgo e inscrições antigas. O ambiente lembrava uma casa antiga, mas com uma aura ritualística, como se cada pedra tivesse sido colocada para canalizar energia sombria.

No centro da sala, onde em uma casa comum estaria a mesa de jantar, havia agora um altar ritualístico. Pedras negras e cinzentas formavam a superfície, cobertas de símbolos arcanos gravados em ouro e vermelho. Vela após vela emitia uma luz oscilante, lançando sombras dançantes nas paredes, enquanto o cheiro de incenso misturado a ferro e cera queimava o ar.

Ao lado do altar, duas figuras femininas se moviam com graça letal. Sucubus, pensou Raella, e seu coração acelerou. Uma era Roxie, mais baixa, com curvas bem definidas, cabelo negro caindo em ondas sobre os ombros, olhos verdes e brilhantes, sorriso provocante e olhar que combinava malícia e sensualidade. A outra era Penélope, mais alta e esguia, com uma postura elegante e cruel, cabelos escuros presos em um coque solto, olhos dourados que pareciam observar cada reação de Raella com curiosidade.

Raella percebeu, à medida que as duas falavam, que uma chamava a outra pelo nome — Roxie riu de algo que Penélope dissera, e o eco de suas vozes preencheu a caverna com um som hipnotizante e ameaçador ao mesmo tempo. Elas se moviam com leveza, mas cada gesto tinha a intenção de controle e predador, avaliando Raella como se fosse um objeto de fascínio e perigo.

Laurent se afastou um pouco, segurando Raella com firmeza, e a voz dele soou como melodia sombria e hipnótica:

— Este é o meu domínio… meu altar. Aqui, nada que você conheceu antes vale. E agora, minha querida Valeria, você será a chave para trazer quem amo de volta.

Raella, amarrada e com a mordaça na boca, sentiu o pânico subir como fogo. Aquele momento era absoluto terror: o altar, a escuridão, as duas sucubus, a voz sedutora e mortal de Laurent — tudo combinava para esmagar sua coragem. Ela tentou gritar, mas nada saiu; apenas a respiração acelerada e o coração disparado denunciavam seu medo.

Penélope inclinou-se sobre o altar, passando os dedos pelos símbolos gravados, enquanto Roxie acariciava as correntes que prendiam Raella, mas disse algo que a gelou:

— Não podemos tocá-la… ainda. Ela é virgem. Somente ele, Laurent, poderá realizar o ritual. —

Raella engoliu em seco, impotente, seus olhos encontrando os de Laurent. Ele sorriu, sorriso frio e cruel, e a tensão na sala tornou-se quase palpável, como se o ar carregasse eletricidade. O destino de Raella parecia traçado naquele instante, e o grupo fora incapaz de intervir.

O silêncio caiu pesado, interrompido apenas pelo crepitar das velas, o eco distante da caverna e o murmúrio hipnótico das sucubus. Raella sabia que seria sacrificada para que a amada de Laurent voltasse, e que tudo o que poderia fazer era observar impotente, enquanto o vampiro determinava o próximo passo do ritual.

O cenário, a tensão e o perigo eram completos; a câmara subterrânea era um túmulo e um santuário ao mesmo tempo, e Raella estava no centro de tudo, refém da vontade de um dos mais antigos e poderosos vampiros de Ad’Heim.

Ad'Heim: O Vampiro da Masmorra

 


O cristal ainda vibrava suavemente na sala, suas ondas harmônicas se misturando ao silêncio pesado da caverna. O grupo tentava recompor o fôlego, segurando armas, ajustando bandagens e verificando poções. Mas a calmaria era apenas um prelúdio.

De repente, um sussurro de asas ecoou pelo salão. Pequenos morcegos começaram a surgir das fendas do teto, da escuridão absoluta que se estendia como um manto negro. Primeiro eram dezenas, depois centenas, e logo milhares de sombras aladas se uniram, girando em espiral, formando um redemoinho vivo de caos e agonia. O ar tornou-se denso, o cheiro de mofo e sangue impregnando cada fenda da caverna.

O grupo recuou, percebendo que algo monstruoso emergia daquele enxame. Então, a massa de morcegos se solidificou, se condensando em um corpo humanoide, alto, magro e elegante, com um manto negro esvoaçante, olhos vermelhos como brasas e dentes afiados que brilhavam sob a luz do cristal. A presença era tão intensa que o chão parecia tremer sob cada batida de suas asas sombrias. O Vampiro da Masmorra havia se materializado, sozinho, imponente e terrível.

Ele ergueu as mãos com movimentos calculados e lentos, e uma voz grave e fria preencheu o salão:

— Ah… intrusos. Vocês ousaram invadir meus domínios… meus salões de silêncio e sombra. Cada passo que deram aqui, cada centímetro percorrido, pertence agora a mim.

Ikarus apertou a espada com mais força, tentando romper o silêncio:

— Vocês têm algo a ver com os ataques dos mortos-vivos no mundo? Nós precisamos saber!

O vampiro deu um sorriso sombrio, um canto cruel que gelou a espinha do grupo:

— As criaturas que aqui se encontram… foram amaldiçoadas, presas para sempre neste lugar, incapazes de sair. Assim acontece em muitos outros lugares do mundo. Mas isso… é irrelevante. Porque este lugar… será também o túmulo de vocês.

A tensão explodiu. Thomas Walker avançou, erguendo os montantes, mas o vampiro ergueu a mão e com um gesto elegante, como se desafiasse o próprio espaço, desviou cada ataque com facilidade sobrenatural. Gillian conjurou rajadas de energia, enquanto Derek disparava flechas, mas parecia que cada esforço era inútil diante daquele ser, que dançava entre eles com agilidade sobrenatural, os olhos fixos em Raella.

O olhar do vampiro se deteve na capa negra que envolvia Raella, e um sorriso sutil, quase melancólico, curvou seus lábios pálidos:

— Vejo que você usa… Valeria. A capa de minha antiga amante. Fascinante…

— Eu… Valeria? — Raella murmurou, confusa, sem entender o peso daquelas palavras.

O vampiro aproximou-se com passos silenciosos, medidos, cada movimento carregado de elegância e ameaça. Sua voz agora ressoava como música sombria:

— Meu nome é Laurent. E você, garota de alma pura… está destinada a substituir Valeria. Apenas alguém de beleza e alma tão radiante quanto a dela pode empunhar a capa e sobreviver a seu poder.

Raella recuou, sentindo uma mistura de raiva e fascínio, e tentou atacar, mas o encanto de Laurent era irresistível. Suas mãos levantaram-se, e ao invés de se mover contra o Vampiro, ela olhou para o grupo com uma expressão vazia de controle. O feitiço de charme transformou sua intenção em algo perverso: a própria Raella voltou-se contra seus aliados, o corpo movendo-se como marionete dos caprichos do Vampiro.

— Raella! — gritou Ikarus, tentando deter a amiga, mas ela avançou em direção a ele com o cajado erguido, os olhos dela agora vermelhos com o brilho do feitiço.

Laurent sorriu com satisfação sombria, estendendo os braços para recebê-la:

— Venha, minha nova Valeria… deixe que eu a guie.

Antes que o grupo pudesse reagir, ele ergueu Raella nos braços, sua força sobre-humana impossibilitando qualquer resistência. Com um movimento rápido e elegante, transformou-se em um enxame de morcegos, envolvendo Raella, desaparecendo em um vórtice negro que se misturou à escuridão da caverna, levando-a para fora do alcance do grupo.

O silêncio caiu abruptamente, cortante e mortal, e a luz do cristal pulsava, revelando a expressão de choque e desespero de cada membro do grupo. Derek engoliu em seco, segurando a flecha firmemente, enquanto Thomas Walker batia os punhos nos montantes, respirando com dificuldade por causa da asa quebrada. Ikarus olhou para onde ela desaparecera, a raiva e o medo se misturando em seus olhos.

— Ela… ela foi… — sussurrou Gillian, a voz trêmula.

— Não vamos deixá-lo escapar. — disse Ikarus com firmeza, cerrando os dentes. — Ele nos tirou Raella… e vamos buscá-la.

Jetto rosnou, o instinto de lobisomem despertando com a presença do inimigo:

— Esse Laurent não vai conseguir se esconder. Ele nos deve muito mais do que apenas essa batalha.

O salão ecoava com os últimos suspiros da luta, enquanto o grupo se recomponha, conscientes de que a próxima fase de sua jornada seria uma caça mortal, caçada por um dos vampiros mais antigos e poderosos que Ad’Heim já conhecera. Cada um sentiu o peso do que fora perdido e a urgência de seguir adiante: Raella estava em perigo, e Laurent havia acabado de se tornar o inimigo que definiria o destino deles.


Ad'Heim: O Salão das Sombras

 


por Yuri Schein 

O grupo avançava pelo corredor úmido da caverna, o ar carregado de um odor fétido, quando a passagem se abriu para um salão imenso. O teto arqueava alto, com estalactites afiadas que pareciam garras de pedra, e a luz fraca que entrava pelas fendas na rocha iluminava apenas parcialmente o chão coberto de ossos e fragmentos de armaduras antigas. No centro, um Warg zumbi, maior que qualquer besta que já haviam enfrentado, rosnava com dentes apodrecidos. Por toda parte, morcegos atrozes batiam com asas cortantes, Revenants surgiam das sombras com lâminas corroídas, e espectros intangíveis flutuavam, seus olhos incandescentes fixos no grupo. Entre eles, criaturas das sombras serpentavam, deformando a escuridão.

A Batalha Começa

Ikarus avançou à frente, erguendo sua espada e tentando controlar a linha de ataque. Um Revenant atacou seu braço esquerdo, rasgando a armadura e deixando-o com uma ferida profunda, sangrando enquanto ele tentava manter a postura firme.

Thomas Walker saltou com asas abertas, brandindo um montante em cada mão. Com golpes largos, ele esmagou ossos e membros dos zumbis, mas durante uma investida do Warg zumbi, uma de suas asas foi quebrada, caindo parcialmente inutilizável, diminuindo sua mobilidade aérea.

Gillian tentou conjurar uma barreira para proteger o grupo, mas um espectro deslizou por baixo da magia e esmagou seu pé contra uma pedra, fazendo-a cambalear de dor. Ainda assim, com punhos de ferro, ela conjurava rajadas de energia mágica, destruindo morcegos e dissipando sombras que ameaçavam o grupo.

Raella enfrentava os seres intangíveis, lançando feitiços que atravessavam o espaço como chamas etéreas, mas cada conjuração drenava sua energia, e logo ela percebeu que não teria mais magia de cura disponível para manter todos vivos. Seu rosto se contraiu em concentração enquanto ela canalizava energia da capa, mantendo as entidades à distância.

Derek, com flechas precisas, mirava pontos vitais, derrubando Revenants com tiro atrás de tiro, enquanto tentava coordenar ataques com Thomas e Ikarus para não deixar brechas.

O Warg zumbi avançava com força descomunal, derrubando pedras e escombros. Thomas desviava parcialmente, golpeando com um montante, mas a criatura não se rendia. Gillian gritou ordens para afastarem os morcegos que atacavam por trás. Ikarus, apesar do braço ferido, bloqueava mordidas do Warg com o escudo, deixando a fera exausta. Raella lançou sua magia final, canalizando luz branca combinada com sombras da capa, atingindo simultaneamente os espectros e a forma do Warg, que tombou com um rugido apavorante.

Vitória e Consequências

O grupo respirava com dificuldade. Sangue cobria braços, pernas e rostos; respirações pesadas ecoavam pelo salão. O silêncio, entretanto, durou pouco. Entre os escombros da batalha, Raella descobriu um compartimento escondido contendo tesouros antigos e equipamentos enferrujados: moedas de prata e cobre, poções já gastas, uma adaga com lâmina negra e, no centro, um cristal translúcido, pulsando uma luz suave e emitindo um som harmônico que parecia cantar com a própria vida.

Ao tocar o cristal, todos sentiram feridas e fadigas desaparecerem, membros doloridos recuperarem a força, e o ar parecia mais leve ao redor deles. No entanto, o som contínuo ecoou pela caverna, um chamado profundo que reverberava pelas paredes de pedra. Jetto franziu o cenho, seu instinto de lobisomem captando a presença de algo muito maior e mais perigoso.

— Não… — murmurou Derek, colocando a mão sobre o cabo de sua flecha. — Esse som… não estamos sozinhos.

Raella segurou a capa com firmeza, olhos fixos no cristal.

— Acho… acho que atraímos o chefe da masmorra para cá.

O grupo se posicionou novamente, armas erguidas, magias prontas, cada um ciente de que a próxima batalha não seria apenas difícil — seria mortal. O som ecoava cada vez mais alto, e sombras enormes começaram a se formar nas paredes, como se a própria caverna respirasse.

Ikarus suspirou, ajustando a empunhadura da espada com o braço ferido:

— Todos preparados? Não podemos falhar… nem um passo em falso.

Gillian assentiu com dor, Thomas apertou os montantes, Derek esticou o arco, Jetto farejou o ar, e Raella segurou o cristal como um escudo contra o desconhecido. O coração de cada um batia mais rápido. O chefe da masmorra estava a caminho, e o grupo sabia que a caverna inteira logo se tornaria um campo de batalha devastador.


A Linguagem como Prisão: Laranja Mecânica e 1984

 


por Yuri Schein 

A literatura do século XX percebeu algo que a filosofia e a teologia já sabiam desde Gênesis 11: mexer na linguagem é mexer no homem. A torre de Babel não foi apenas um arranha-céu mal acabado; foi uma engenharia linguística frustrada por Deus. Em Laranja Mecânica, Burgess cria o nadsat como a língua tribal dos jovens violentos; em 1984, Orwell constrói a Novilíngua, o idioma totalitário que tenta abolir até a memória do pensamento. Ambos os casos revelam a mesma verdade: quem domina a linguagem, domina o mundo.

O Nadsat: a Babel dos delinquentes

Alex e sua gangue falam nadsat, uma mistura grotesca de russo, inglês deformado e invenções. É uma língua de gueto, um dialeto que só faz sentido dentro do círculo de violência juvenil. Se Deus confundiu a língua em Babel para dispersar os homens, Burgess mostra a confusão como aglutinadora: os jovens se unem pela sua incompreensibilidade.

O detalhe é que o nadsat não é só estético, mas teológico. Ele mostra o coração humano criando um universo verbal alternativo para justificar o pecado. Alex não estupra meninas; ele faz “ultraviolence”. O termo inventado funciona como véu, como eufemismo. Exatamente o que Isaías denuncia: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem chamam mal” (Is 5:20). A perversão linguística é a camuflagem do pecado.

E, ironicamente, o leitor é cúmplice: para entender o enredo, você precisa “aprender” essa língua. Burgess obriga o leitor a decodificar a maldade em termos simpáticos. Você, leitor, se torna um pouco Alex ao final do livro.

A Novilíngua: a Babel estatal

Se o nadsat nasce do submundo, a Novilíngua nasce do trono. Orwell entendeu que o poder não precisa apenas da polícia: precisa do dicionário. A Novilíngua é a tentativa estatal de amputar a mente humana pelo bisturi do vocabulário.

O objetivo é simples: reduzir palavras até o ponto em que seja impossível pensar contra o Partido. Liberdade some, resistência some, beleza some. Ficam só os blocos de Lego autorizados: bom, maisbom, duplimaisbom. O cérebro se torna infantilizado, incapaz de nuance.

Se o nadsat é a multiplicação de gírias, a Novilíngua é a castração do vocabulário. É a lógica inversa, mas com o mesmo efeito: a alienação. Orwell descreveu o anti-Gênesis: Deus cria o mundo pela palavra (“Haja luz”); o Partido destrói o mundo cortando a palavra.

Duas faces da mesma moeda

Eis o paradoxo: Alex e o Grande Irmão parecem opostos: anarquia juvenil contra ordem totalitária, mas ambos operam pelo mesmo princípio: aprisionar a mente via linguagem.

O nadsat transforma o mal em brincadeira, embrulha o pecado em celofane verbal.

A Novilíngua transforma a verdade em silêncio, elimina a própria possibilidade de dissidência.

Num caso, a linguagem serve ao hedonismo sem freio; no outro, ao autoritarismo absoluto. Ambos são frutos da mesma árvore de Babel: a tentativa humana de substituir a Palavra divina por uma palavra autônoma.

A Escritura nos mostra o oposto: a Palavra de Deus é libertadora, não manipuladora. “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17:17). O homem caído cria linguagens que prendem, distorcem e confundem; Deus cria linguagem que ilumina, salva e revela.

Burgess e Orwell, cada um à sua maneira, perceberam isso: a batalha não é apenas nas ruas ou nos palácios, mas no vocabulário. Ou falamos segundo Deus, ou seremos falados pelo diabo.


P1. Todo controle da linguagem é controle da mente.

P2. O nadsat e a Novilíngua controlam a linguagem.

Conclusão: Logo, o nadsat e a Novilíngua são estratégias de controle da mente.


P1. A Palavra de Deus liberta.

P2. O nadsat e a Novilíngua escravizam.

Conclusão: Portanto, apenas a Palavra de Deus é a linguagem 

verdadeira que rompe a prisão humana.