Por Yuri Andrei Schein
Gabriel de Oliveira Porto, o teólogo-mor das frases de efeito, já me bloqueou uma vez quando foi refutado. Não é de se admirar: heresias não sobrevivem à luz da Escritura. Vamos, então, analisar sua mais recente tentativa de “desmontar o calvinismo com Romanos”.
1. Depravação total e Romanos 2
Gabriel afirma que Romanos 2 prova que a depravação não é intensiva. Falso. O texto não diz que o homem caído consegue obedecer perfeitamente à Lei. Paulo está argumentando que, quando os gentios obedecem, isso só ocorre porque a lei está impressa em seus corações. Mas essa obediência não significa capacidade salvífica. No capítulo seguinte, Paulo fecha a questão: “não há justo, nem um sequer” (Rm 3.10) e “ninguém será justificado pelas obras da lei” (Rm 3.20). Se sua leitura estivesse certa, Paulo teria se contradito em menos de um capítulo.
2. Eleição condicional em Romanos 8.28-30?
Outro erro grave. O texto não diz que Deus viu previamente quem creria, mas que Ele conheceu pessoas — “aos que de antemão conheceu, a esses também predestinou”. Conhecer aqui é relacional e eletivo, como em Amós 3.2. Gabriel insere no texto uma ideia alheia: que Deus assiste passivamente ao futuro e, com base nisso, escolhe. Isso é arminianismo, não Bíblia. Além disso, a Escritura é clara: a fé não é condição prévia, mas dom soberano (Jo 10.26; At 13.48). Até nossa obediência é fruto da eleição (1 Pe 1.2).
3. Romanos 5 e a suposta expiação ilimitada
Romanos 5 não ensina uma expiação universal. Paulo mostra a lógica da imputação: assim como a culpa de Adão foi imputada soberanamente a toda a sua posteridade, assim também a justiça de Cristo é imputada soberanamente aos Seus. Se todos em Adão morrem, apenas “os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça” (Rm 5.17) vivem em Cristo. Isso é particularismo redentivo, não universalismo. Paulo não diz que Deus tenta justificar, mas que Ele de fato justifica.
4. Graça resistível em Romanos 11?
Mais uma distorção. Paulo explica que Deus encerrou judeus e gentios debaixo da desobediência “para usar de misericórdia para com todos” (Rm 11.32). O “todos” não é cada indivíduo sem exceção, mas judeus e gentios sem distinção. A própria carta já havia explicado isso (Rm 9): “compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer”. A graça é soberana, irresistível, e Gabriel ignora o contexto para defender uma teologia sentimental.
5. Perseverança e conversão genuína
Gabriel tenta opor perseverança divina e conversão genuína, mas não há contradição. Uma conversão genuína só é possível porque Deus começa a boa obra e a completa (Fp 1.6). Ele mesmo opera em nós tanto o querer como o realizar (Fp 2.13). A perseverança é fruto da eleição, não da vontade autônoma do homem.
O que vemos aqui é a clássica ginástica arminiana: inserir no texto ideias externas, torcer contextos e fingir que Romanos 9 trata apenas de eleição “instrumental”. Mas o apóstolo não deixou espaço para ambiguidades: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer” (Rm 9.15). Isso não é eleição “nacional” nem “funcional”. É eleição salvífica e individual.
Gabriel pode continuar bloqueando calvinistas para não ter de lidar com textos claros da Escritura. O problema é que ele não pode bloquear Paulo, nem apagar Romanos 9 da Bíblia.
#arminianismo