quinta-feira, 5 de novembro de 2020

 É ERRADO ESTUDAR TEOLOGIA, OU PROCURAR TER UMA TEOLOGIA CORRETA SOBRE A MORTE DE CRISTO?  (Trecho da Teologia Sistemática Pressuposicional, Yuri Schein): 

 É ERRADO ESTUDAR TEOLOGIA, OU PROCURAR TER UMA TEOLOGIA CORRETA SOBRE A MORTE DE CRISTO?

 (Trecho da Teologia Sistemática Pressuposicional, Yuri Schein): 

 As pessoas que dizem que não é correto estudar teologia sobre esses temas da morte de Cristo deveriam se envergonhar, é o caso do amado por muitos calvinistas, C.S Lewis, que ao falar sobre a morte de Cristo em seu livro “Cristianismo Puro e Simples” diz: "Agora, qual o sentido disso tudo? O que ele veio fazer aqui? Bem, veio ensinar, é claro. No entanto, assim que começamos a examinar o Novo Testamento ou qualquer outro escrito cristão, descobrimos que eles falam constantemente de algo bem diferente: falam de sua morte e ressurreição. É evidente que os cristãos julgam estar aí o ponto central da história. Acreditam que Jesus veio à Terra especificamente para sofrer e ser morto. Ora, antes de me tornar cristão, eu tinha a impressão de que a primeira coisa em que os cristãos tinham de acreditar era uma teoria particular sobre o propósito dessa morte. De acordo com essa teoria, Deus queria castigar os homens por terem desertado e se unido à Grande Rebelião, mas Cristo se ofereceu para ser punido em lugar dos homens, e Deus não nos puniu. Hoje admito que nem mesmo essa teoria me parece mais tão imoral e pueril quanto me parecia, mas não é essa a questão que me ocupa. O que vim a perceber mais tarde é que o cristianismo não é nem essa teoria nem nenhuma outra. A principal crença cristã é que a morte de Cristo de algum modo acertou nossas contas com Deus e nos deu a possibilidade de começar de novo. As teorias sobre como isso ocorreu são outro assunto. Várias teorias foram formuladas a esse respeito; o que todos os cristãos têm em comum é a crença na eficácia dessa morte. Vou lhes dizer o que penso do assunto. Toda pessoa de juízo sabe que, quando estamos cansados e famintos, um prato de comida nos fará bem. Já a teoria moderna da nutrição, com suas vitaminas e proteínas, é coisa bem diferente. As pessoas já comiam para sentir-se bem muito antes de ouvir falar de vitaminas. Se algum dia a teoria das vitaminas for abandonada, continuarão almoçando e jantando como sempre fizeram. As teorias a respeito da morte de Cristo não são o cristianismo: são explicações de como ele funciona. Os cristãos não precisam todos concordar com a importância delas. Minha própria igreja, a Anglicana, não propõe nenhuma delas como a única teoria correta. A Igreja Romana vai um pouco mais longe. Creio, porém, que todas concordam que a coisa em si é infinitamente mais importante que qualquer explicação produzida pelos teólogos. Elas provavelmente admitiriam que nenhuma explicação é perfeitamente adequada à realidade. Como disse no prefácio do livro, no entanto, eu sou apenas um leigo, e nesse ponto as águas começam a ficar profundas. Só posso lhes dizer como eu, pessoalmente, encaro o assunto. Do meu ponto de vista, o que se pede que aceitemos não são as teorias. Sem dúvida, muitos de vocês já leram os trabalhos de Jeans ou de Eddington. O que eles fazem, quando tentam explicar o átomo ou coisa parecida,é nos dar uma descrição a partir da qual podemos elaborar uma imagem mental. Em seguida, nos advertem de que não é nessas imagens que de fato acreditam, mas sim numa fórmula matemática. As imagens só existem para nos ajudar a compreender a fórmula. Não são verdadeiras como a fórmula é verdadeira; não representam a realidade, mas algo que se lhe assemelha. Têm a função de ajudar; se não ajudam, podem ser deixadas de lado. A realidade em si não pode ser representada em imagens, só pode ser expressa em termos matemáticos. Estamos numa situação parecida. Acreditamos que a morte de Cristo é o ponto exato da história no qual algo externo a nós, absolutamente inimaginável, se manifestou em nosso mundo. Se não conseguimos nem mesmo fazer uma imagem dos átomos que compõem esse mundo, é claro que não conseguiremos imaginar essa realidade superior. Aliás, se nos constatássemos capazes de compreendê-la integralmente, esse fato por si só mostraria que ela não é o que afirma ser - o inconcebível, o incriado, algo de fora da natureza que penetra nela como um raio. Você talvez pergunte de que isso nos serve se não podemos compreendê-lo. A resposta, porém, é fácil. Um homem pode jantar sem saber exatamente de que modo os alimentos o nutrem. Da mesma forma, pode aceitar a obra de Cristo sem entender como ela funciona; aliás, é certo que, para entendê-la, tem de aceitá-la primeiro. Dizem-nos que Cristo morreu por nós, que sua morte nos lavou de nossos pecados e que, morrendo, ele destruiu a própria morte. Essa é fórmula. Esse é o cristianismo. E nisso que acreditamos. ³⁴⁷ No texto acima C.S Lewis demonstra que ele tem uma certa resistência a precisão sobre “o que de fato é a morte de Cristo” então ele deixa esse ponto em aberto para “todo o cristianismo” ou seja ele diz que “a principal crença cristã é que a morte de Cristo de algum modo acertou nossas contas com Deus e nos deu a possibilidade de começar de novo. As teorias sobre como isso ocorreu são outro assunto” A questão é o que ele quer dizer sobre “algum modo Cristo acertou as contas com Deus?” e por que depois disso ele diz que Deus “nos deu a possibilidade de começar de novo?”. Além disso ele coloca os aspectos que vamos estudar aqui como meras “teorias”, isso é claro que se torna uma relativização da teologia e do deducionismo bíblico. Eu sou um cristão que gosta de ler C.S Lewis de maneira didática, mas eu não tolero suas heresias. Logo depois Lewis diz “Várias teorias foram formuladas a esse respeito; o que todos os cristãos têm em comum é a crença na eficácia dessa morte. Vou lhes dizer o que penso do assunto. Toda pessoa de juízo sabe que, quando estamos cansados e famintos, um prato de comida nos fará bem. Já a teoria moderna da nutrição, com suas vitaminas e proteínas, é coisa bem diferente. As pessoas já comiam para sentir-se bem muito antes de ouvir falar de vitaminas. Se algum dia a teoria das vitaminas for abandonada, continuarão almoçando e jantando como sempre fizeram.” Sobre esse ponto eu posso concordar até um limite e depois acrescentar onde ele cai no erro. É um fato que antes de saberem o que é imputação e substituição penal as pessoas já eram justificadas pela fé, afinal, mesmo com carência dessas proposições até Abraão que não tinha nenhuma teologia sistemática foi justificado pela fé, mesmo que não soubesse o que significa imputação. Todavia, isso não omite o fato de que saber o que é justificação e imputação nos dá muito mais conforto bem como aumenta nossa indentidade e segurança eterna, além disso, uma pessoa que rejeite o que é imputação ao ser confrontado por essa doutrina, provavelmente não nasceu de novo por estar resistindo as Escrituras. A analogia das vitaminas também é falha, pois se fosse possível adquirir algum conhecimento sobre as vitaminas seria muito útil para que nós equilibrássemos a nossa “refeição” e certamente também deveriamos cortar aqueles alimentos que são prejudiciais à saúde. “Acreditamos que a morte de Cristo é o ponto exato da história no qual algo externo a nós, absolutamente inimaginável, se manifestou em nosso mundo. Se não conseguimos nem mesmo fazer uma imagem dos átomos que compõem esse mundo, é claro que não conseguiremos imaginar essa realidade superior.” Ao encarar o conhecimento deduzido das Escrituras comuma analogia empírica, C.S Lewis demonstra que o empirismo ou qualquer ideia de conhecimento analógico nos leva para um Deus “incognocivel”, seria muita misericórdia da parte de Deus que esse homem e os que pensam como ele sejam salvos. Todavia esse não é o assunto que vou abordar aqui.E não, não é isso que “nós acreditamos” como diz C.S Lewis no final de sua verborragia.Em contrapartida o pregador Paul Washer sumariza bem a necessidade urgente do entendimento das doutrinas bíblicas quando diz o seguinte: “Quase todos os trabalhos teológicos clássicos sobre a cruz de Cristo identificam e explicam essas verdades na forma de doutrinas como redenção, substituição penal, imputação, propiciação e expiação. Essas doutrinas não são extravagantes, dispensáveis ou inacessíveis, mas são as verdades essenciais do evangelho. Elas podem e devem ser pregadas para todos os homens, tanto crentes como incrédulos. Aqueles que argumentam que elas são muito profundas para uma pessoa comum entender estão empregando a linguagem de antigos papas que queimavam Bíblias, declarando que o povo de Deus era muito ignorante para lê-las."³⁴⁸ 


 ³⁴⁷ C.S Lewis, Cristianismo Puro e Simples, Martins Fontes, p. 24 

³⁴⁸ Paul Washer | O Poder do Evangelho e sua mensagem, Versão Kindle 


 📚 Yuri Schein | Teologia Sistemática Pressuposicional, p. 348-350