segunda-feira, 8 de setembro de 2025

O Galardão é Eterno, Não Temporário


por Yuri Schein 

Essa tese de que “o galardão envolve o milênio e não o estado eterno” é um equívoco escatológico fruto da leitura dispensacionalista que divide artificialmente a história da redenção. Vamos por partes.

O galardão não é apenas “função de governo milenar”

Cristo não prometeu prêmios efêmeros, mas tesouros imperecíveis:

“Ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam” (Mt 6:20).

Tesouros no céu não são temporários nem sujeitos a expirar depois de mil anos. O galardão é incorruptível, imperecível e eterno (1 Pe 1:4). O dispensacionalista precisa inventar uma fase de “prêmios caducos” para caber no seu sistema. Mas a Escritura não conhece essa categoria.

O argumento da perfeição no estado eterno é um sofisma

Dizem: “No estado eterno seremos perfeitos, logo não pode haver algo melhor ou pior.” Mas confundir perfeição moral com gradação de honra é uma falácia. Todos seremos perfeitamente santos, mas isso não anula distinções de recompensa.

Exemplo: os anjos são todos santos, mas não são iguais em autoridade — há arcanjos, querubins, serafins. Perfeição não elimina ordem e gradação; ao contrário, a manifesta. Paulo afirma claramente:

“Uma é a glória do sol, outra a glória da lua, e outra a glória das estrelas; e até estrela difere de estrela em glória” (1 Co 15:41).

Ou seja: perfeição não implica uniformidade absoluta, mas sim diversidade harmônica.

O Galardão é proporcional às obras, mas não causa inveja

O dispensacionalista teme que distinções no céu criem “melhor ou pior”. Mas essa é a leitura psicológica de um coração ainda carnal. A Escritura diz que Deus retribuirá “a cada um segundo as suas obras” (Rm 2:6). Não haverá inveja nem competição, mas perfeita alegria em ver Deus sendo justo e sábio.

O milênio não é intervalo de prêmios, mas a era presente do Reino

A leitura milenarista é fruto de um anacronismo. O milênio de Apocalipse 20 não é um futuro governo político-terreno, mas a era atual, na qual Cristo reina desde a sua ascensão (Sl 110:1; Ef 1:20-22). O galardão final está ligado à ressurreição e ao juízo último (Mt 25:21; Ap 22:12), não a um suposto governo de mil anos após a volta de Cristo.

A própria lógica dispensacionalista implode

Se o estado eterno é perfeito, por que imaginar um “estágio intermediário” onde galardões existem e depois deixam de existir? Isso degrada o galardão a algo descartável. Seria como receber uma medalha que enferruja no armário e depois é jogada fora no Céu. Mas Paulo diz que a coroa é “incorruptível” (1 Co 9:25). Ou seja, não se trata de um galardão transitório, mas eterno.

O galardão não está preso a uma fase milenar temporária. Ele é eterno, ligado à ressurreição e ao estado final. A tentativa dispensacionalista de proteger a perfeição eterna eliminando distinções de recompensa é um sofisma que contradiz a Escritura. Seremos todos perfeitos em santidade, mas diferentes em glória e honra, para o louvor da multiforme graça de Deus.

Cristo reina agora, o galardão é eterno, e o milênio dispensacionalista não passa de um mito exegético.

“Atos 1:6-7 e o Reino Já Cumprido: A Soberania de Deus Contra a Ilusão Dispensacionalista”


por Yuri Schein 

O dispensacionalista aponta para Atos 1:6-7 como se fosse uma profecia cronológica de Israel, ignorando o contexto histórico, teológico e escatológico:

“Então, perguntaram-lhe os discípulos: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? E disse-lhes Jesus: Não vos compete saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade.”

Para o observador atento, esta passagem revela mais sobre a limitação humana e a soberania divina do que sobre calendários ou territórios futuros. Vamos destrinchá-la detalhadamente, integrando a teologia calvinista, o ocasionalismo de Gordon Clark e Vincent Cheung, e a perspectiva pós-milenista preterista parcial.

O Erro da Expectativa Humana

Os apóstolos perguntam sobre “restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?” — revelando três pontos cruciais:

Racionalidade limitada: Eles pensavam em um reino físico, político e nacional, resumido em Jerusalém e Davi, refletindo uma cosmovisão judaica terrena.

Cronologia humana: “Neste tempo” indica expectativa de realização imediata, conforme cálculo humano.

Foco nacional: “A Israel” mostra que ainda não compreendiam o alcance universal do Messias.

O dispensacionalista se apega a essa limitação humana, mas Cristo não confirma a expectativa; corrige-a.

Cristo Redefine o Reino e Reafirma a Soberania

Jesus responde:

“Não vos compete saber” – afirma que a compreensão dos tempos e estações é exclusiva de Deus. Nenhum cálculo humano pode ditar o cumprimento das promessas.

“Os tempos ou as estações” – os termos gregos chronos e kairos indicam momentos que pertencem ao plano soberano de Deus, não a agendas humanas.

“Que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade” – sublinha a total soberania de Deus, central para a epistemologia ocasionalista: tudo ocorre segundo a vontade divina, e a percepção humana é apenas uma ocasião, não causa de nada.

O reino não depende de Israel literal; ele é espiritual, invisível e já presente em Cristo, inaugurando a vitória do Messias sobre o pecado, a morte e Satanás.

Romanos 9-11: Israel e a Eleição

A preterista parcial entende que Israel não foi rejeitado, mas parcialmente endurecido até a vinda de Cristo:

Romanos 9:22-23 mostra que Deus dispõe misericórdia ou endurecimento segundo Sua vontade, independentemente de cálculos humanos.

Romanos 11:25-26 explica que o endurecimento de parte de Israel não impede a inclusão dos gentios no Reino, e que a promessa final a Israel será cumprida em Cristo.

Logo, a ideia dispensacional de Israel literal recebendo um trono terrestre não é bíblica; o reino se cumpre em Cristo e na Igreja, sem contradizer a eleição e as promessas a Israel.

Antigo Testamento e Cristo

Textos como Isaías 9:6-7, Daniel 2:44 e Zacarias 14:9 apontam que o reino messiânico é eterno e universal:

Isaías 9:7 fala de um governo eterno e justiça infinita — não meramente um reino nacional temporário.

Daniel 2:44 anuncia que “o Deus dos céus estabelecerá um reino que não será destruído” — cumprido em Cristo, não em Israel físico.

Zacarias 14:9 descreve Deus como soberano universal, controlando “todos os povos da terra”, o que reforça o caráter espiritual e universal do reino, não limitado geograficamente.

O Reino Já Cumprido e o Pós-Milenismo

Como pós-milenista, reconhecemos que o reino de Cristo já começou:

É iniciado com a ressurreição e ascensão de Cristo, e se manifesta pelo crescimento do evangelho, avanço da Igreja e transformação da sociedade segundo princípios divinos.

A expectativa literalista de Israel terrestre é um equívoco histórico, e a “restauração” prometida já se cumpre em Cristo: espiritual, redentora e expansiva.

Lucas 17:20-21 reforça: “O reino de Deus não vem com aparência exterior... porque o reino de Deus está entre vós.”

Desmontando o Dispensacionalismo

 O reino de Deus é estabelecido por Cristo, não por Israel físico (Lucas 17:20-21; João 18:36). O tempo da consumação final é exclusivo do Pai (Atos 1:7). Israel literal não é requisito para o cumprimento do reino em Cristo (Romanos 9-11).

Logo, a expectativa dispensacional de Israel restaurado politicamente é teologicamente inválida; o reino já começou e se expandirá até a consumação em Cristo, segundo a soberania absoluta de Deus.

Atos 1:6-7 Revela a Soberania de Deus

A pergunta dos apóstolos não valida a tese dispensacionalista; revela a limitação humana e a necessidade de submeter toda expectativa à soberania de Deus.

O reino de Cristo é espiritual e já presente.

Sua consumação será universal e visível apenas quando Deus o determinar.

A leitura literalista de Israel terrestre é uma leitura histórica e teológica equivocada, incapaz de compreender a obra já realizada em Cristo e a expansão do Reino pelo evangelho.