sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Gordon Clark e sua crítica a Apologética Evidencialista

Algumas observações de Gordon Clark para a reflexão dos leitores:

"Descartes não foi completamente original mesmo em seu "eu penso". Agostinho já tinha insistido em que é certamente verdade que eu existo. O cético precisa existir para que possa duvidar da sua própria existência. Agostinho irá perguntar a ele :" Você sabe que você existe? E o que cético pode responder?".
•Clark,Gordon H.
•Três Tipos de Filosofia Religiosa, p.53.

"Todo mundo deseja felicidade e o filósofo por suas ações mostra que a felicidade reside na verdade. O cético, etimologicamente é aquele que busca a verdade. Por isso, uma negação da possibilidade da verdade contradiz a mola de toda a ação humana"
• Gordon Clark, Três Tipos de Filosofia Religiosa p. 54

“Se agora um estudante moderno pensa que os princípios da moralidade não são tão certos como os princípios da lógica, e que, portanto, é duvidoso se eu deva ou não procurar a felicidade e comer o meu jantar, ao menos as leis da lógica são indubitáveis. Em todo caso, as normas lógicas ou morais, ou mesmo estéticas, se existem, são verdades necessárias e universais. Elas são verdades não apenas aqui e agora, mas em qualquer lugar e em todo o tempo. Elas não são apenas verdade para mim, mas para todos. No entanto, eu sou um limitado, um ser finito com experiência circunscrita. Eu nunca fui capaz de perguntar a Sócrates ou, voltando mais atrás, a Abraão se ele usou os princípios lógicos que eu uso. Será que a lógica não era lógica antes de Aristóteles ter numerado todos os silogismos possíveis?
Parece, portanto, que, mesmo sendo finito, eu tenho em minha mente algo que é eterno. A lógica nunca começou e nunca irá acabar. E o mesmo com a matemática e a moralidade. Essas verdades eternas e imutáveis não podem ser abstraídas de qualquer matriz mutável. Elas não são o produto da razão subjetiva de um homem individual qualquer. Deve haver, portanto, uma razão eterna e imutável onde essas verdades tenham sua origem. Ou as verdades em si são Deus e Deus é a verdade; ou se há algo superior à verdade, então este ser superior é Deus. Em qualquer caso está provado que Deus existe.”
[Gordon H. Clark, Três Tipos de Filosofia Religiosa, Editora Monergismo, p. 54-55]

[...] Afinal, apenas Tomás de Aquino pode concorrer à posição de Agostinho de maior e mais brilhante de todos os filósofos cristãos. O estudante deve então como Agostinho relaciona a razão com a Fé, qual é o papel dos sentidos, se é possível conhecer os corpos, como uma pessoa pode se comunicar com outra, e quem pode ensinar o quê a quem. Entre parênteses, pode-se notar que Agostinho discutiu longamente os problemas decorrentes das invasões bárbaras e do saque de Roma em 410 d.C. E é claro, há o que ele considerava ser o mais importante de tudo - a teologia. Mas a maior parte disso deva ser omitida aqui, a existência de Deus é um dos grandes temas na filosofia da religião [...]
• Gordon Clark, Três Tipos de Filosofia Religiosa p. 55

"Kant não pode alegar ter refutado a existência de Deus. Na verdade, ele mesmo insiste que ninguém pode refutar a existência de Deus, pois, como ele acredita, se todos os argumentos para a existência de Deus forem inválidos, ainda pode ser verdade que Deus existe".
• Gordon Clark, Três Tipos de Filosofia Religiosa p. 63

Ele [Kant] não pode alegar legitimamente nesse ponto que ele refutou o argumento ontológico. O máximo que ele fez foi mostrar que o argumento é incompleto, ele pode dizer que Anselmo e Espinosa usam como premissa a proposição que pretendem estabelecer como uma conclusão. Mas em resposta Agostinho diria: "O Argumento é completo, pois nós demonstramos que é necessário pensar em Deus".
• Gordon Clark - Três Tipos de Filosofia Religiosa p. 63

"Ou seja, um predicado que se associa a tudo sem exceção não tem sentido. Aqui está, pois, a conclusão: o predicado 'existência' pode ser associado a tudo, seja real ou imaginário, sem exceção. Sonhos existem, miragens existem, a raiz quadrada de menos um existe [...]
Similarmente, a pergunta que precisa ser feita sobre Deus não é se Ele existe, mas o que Ele é. Está claro que Deus existe. Enquanto um termo tiver ao menos algum significado indistinto, qualquer coisa existe. Mas faz uma grande diferença se Deus é um sonho, uma miragem ou a raiz quadrada de menos um. Espinosa não precisou provar que Deus existe. Seu argumento Importante foi que Deus é o Universo. Mas se Deus não é o Universo, se, ao contrário, Deus é o Criador e Juíz de todos os homens, então nós estamos lidando com questões substanciais em vezes de palavras sem sentido, tais como -existência-".
• Gordon H. Clark
'Três tipos de filosofia religiosa', p.67.

"O Dogmatismo aceita a revelação [escritura] como ela é. Ele, então, tenta sistematiza-lá e extrair suas implicações não expressas. O racionalismo, por outro lado, não aceita uma suposta revelação tal como está escrita"
• Gordon Clark - Três Tipos de Filosofia Religiosa p. 68

"A razão pela qual Tomás não pôde deduzir a Trindade não foi nenhuma incapacidade inerente da mente, mas a falta de axiomas necessarios"
Gordon Clark - Três Tipos de Filosofia Religiosa p. 78

"Se a razão de homem é capaz de dizer que a bondade de Deus implica a provisão de uma revelação sobrenatural, ela não precisa de tal revelação, sendo capaz de decidir igualmente bem o que a própria obtenção do bem por parte do homem requer, se ela é incapaz de apontar um caminho para salvação humana, ela é ainda mais em capaz de concluir alguma coisa sobre a providência infinita - essa última pode ser totalmente incomparável com nossas ideias finitas de bem e pode desapontar todas as expectativas que elas nos levaram a criar"
- Edwin A. Burtt, Types of Religious Philosophy p. 452.
"[...] A formulação do dilema de Burtt deixa o dogmático [escrituralista] intocado. Este [O cristão escrituralista] está bastante disposto a admitir que o homem não pode 'concluir nada sobre a providência infinita' a partir de bases não fundamentadas na revelação, e que as expectativas do homem são mais que propensas a serem frustradas [1]."
[1] O mesmo não sucede com os teólogos empíristas naturalistas, pois eles devem se opor a ideia de que o homem não pode chegar a conclusão da concepção do Deus cristão sem a escritura.
• Gordon Clark, Três Tipos de Filosofia Religiosa paginas: 69, 70 e 78
Frases em colchetes e observações enumeradas são ênfases minhas.

"O Dogmatismo não afirma a inabilidade do homem para construir silogismos válidos. Ele afirma, do modo mais seguro, a inabilidade do homem para deduzir CONTEÚDO TEOLÓGICO a partir de material não fundamentado na revelação"
• Gordon Clark- Três Tipos de Filosofia Religiosa p. 79

Tomás de Aquino (1225-1274), rejeitando o racionalismo de Agostinho e de Anselmo, alterou completamente a filosofia da Igreja Católica Romana ao fazer do aristotelismo seu fundamento.
Gordon Clark

Na primeira sentença [de Tomás], percebe-se o empirismo: "É certo e evidente para os nossos sentidos" que alguma coisa está em movimento. Ao contrário de Agostinho, Tomás não admite ideias inatas ou intuições intelectuais. Todo conhecimento deve ser abstraído das nossas sensações. Étienne Gilson tem, em The Philosophy of St. Thomas Aquinas, uma seção bem escrita que caracteriza claramente a posição de Agostinho, relatando o repúdio de Tomás por ela e afirmando o empirismo básico dos estudiosos posteriores:
'O postulado em que eles [os argumentos de Agostinho e de Anselmo] estão baseados é que nós não podemos ter nenhuma ideia de Deus ou de uma verdade subsistente... a menos que essas ideias tenham sido implantadas em nós por Deus, ou melhor, a menos que elas fossem aquele mesmo ser e aquela mesma verdade compartilhada em um modo finito elo nosso entendimento humano.Em tal hipotese as provas a priori não podem prover qualquer transição da ideia ao ser; pois está sendo o que é o ponto de partida do argumento. Subjacente as criticas de S. Tomás, contudo, nós encontramos um postulado inteiramente diferente, a saber, que todo o nosso conhecimento se origina das intuições sensoriais'
Como a forma moderna mais simples do argumento cosmológico é igualmente baseada nos sentidos, o primeiro ponto da crítica, a saber, o postulado há pouco referido, será adiado para o momento posterior à exposição do material de Hume.
- Gordon Clark, Três Tipos de Filosofia Religiosa p. 85 e 86

Tomás diz
"Se aquilo pelo que é movido for ele próprio movido, então também deve ser movido por outra coisa. Mas isso não pode ir ao infinito, porque então não haveria nenhum Primeiro Motor, e, consequentemente, nenhum outro motor visto que os motores subsequentes se movem apenas na medida em que são movidos pelo Primeiro Motor"
Mas isso que é dado como a razão contra a regressão infinita (e uma refutação da regressão infinita é essencial para a conclusão do argumento) é por si só a conclusão, isto é, deve haver um Primeiro Motor. Isso torna o argumento inválido por causa da circularidade.
Gordon Clark - Três Tipos de Filosofia Religiosa, P. 87

Tomás diz: "E esse todos entendem ser Deus. Barth responde: "E esse muito poucas pessoas entendem ser Deus"; em especial, nenhum cristão entende que o Primeiro Motor de Aristóteles é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Isso não irá provar a existência de algum tipo de primeiro princípio. Na verdade, não há nenhum ponto em defesa da necessidade de qualquer sorte de um primeiro princípio. Sobre isso, há um consenso universal. O ponto importante é determinar que tipo de primeiro princípio há. Ora, se o argumento de Tomás tivesse validamente provado a existência do Primeiro Motor de Aristóteles, teria sido provado que o cristianismo é falso. Um deus que não criou o mundo, que não sabe o futuro e possivelmente nem mesmo o presente e o passado, um deus que não pode falar aos homens, não evoca nenhum entusiasmo dos pensadores Cristãos. O Cristianismo precisa é do Deus Trino e Tomás (embora em certo sentido ele tente) não pode passar do Primeiro Motor para o Pai, Filho e Espírito Santo. Se um deus aristotélico satisfaria a um maometano ou a um budista é uma questão que cabe a eles responder. Mas o fato de que muitas religiões usem a palavra "DEUS" não mais significa que elas tenham alguma coisa em comum com o seu uso das palavras "primeiro motor".
Gordon Clark, Três Tipos de Filosofia Religiosa p. 89

"Se a causa for conhecida apenas pelo efeito, nós nunca deveremos atribuir a ela todas as qualidades além das que são precisamente requisito para se produzir o efeito"
David Hume
[...] Hume está disposto a admitir que um argumento causal¹ (se para propósito argumentativos puder haver tal coisa) pode provar a existência de algum tipo de deus ou deuses. Esses "possuiriam aquele grau preciso de poder, inteligência e benevolência, que aparecem em sua obra". E vito que seus arranjos incluem terremotos e maremotos em áreas habitadas, sua benevolência observável é limitada.
"Mas nada além disso pode ser provado... Na medida em que, no presente, os traços de quaisquer atributos aparecem, nós podemos concluir que esses atributos existem. A suposição de atributos adicionais é mera hipotese; muito mais a suposição de que em regiões distantes do espaço ou períodos de tempo, tem havido, ou haverá, uma exibição mais magnífica desses atributos... Sendo o conhecimento da causa derivado somente do efeito, eles devem estar exatamente ajustados um ao outro"
Hume observa que isso resolve, ou melhor, elimina o problema do mal. Esse antigo problema surge apenas na suposição de que um Deus Todo-Poderoso deseja a felicidade perfeita de cada indivíduo. Mas não apenas é impossível provar que Deus é onipotente, como também é impossível provar que Ele tem tal desejo. Nós o conhecemos apenas pela experiência e a experiência inclui terremotos². Ou mais geralmente,
"Há quaisquer marcas de uma justiça distribuitiva no mundo? Se você responde afirmativamente, eu concluo que, desde que a justiça aqui exerça a si mesma, ela é satisfeita³. Se você responde negativamente, eu concluo que você então não tem motivo para atribuir a justiça, em seu sentido próprio, aos deuses... [Você] não tem motivo para dar qualquer extensão particular, mas apenas tanto quanto você a veja, no presente, exercendo a si mesma.
Hume então considera a possibilidade de que as injustiças presentes no mundo irão ser equilibradas pelas recompensas e punições em uma cosumação celestial. Quando nós vemos uma construção meio acabada, não deduzimos que o construtor irá retornar para terminá-lá? Sim, nós o fazemos, pois já vimos antes construtores retornarem para concluir construções meio acabadas. É também porque nós vemos construtores retornarem que sabemos que uma estrutura está apenas meio acabada. Mas se nós nunca tivésssemos a experiência anterior, nós não poderíamos saber nem que um construtor iria retornar nem que a estrutura diante de nossos olhos está meio acabada. Esta é precisamente a nossa condição em relação ao mundo. Nós nunca vimo deuses voltando para terminar mundos meio acabados. Nós não sabemos se este mundo presente está apenas meio acabado. Portanto nós não temos razão para esperar por uma consumação justa, benevolente e celestial [4].
1 [primeiro motor, cosmológico, teleológico, etc...]
2 [esse é um problema que a apologética naturalista não consegue resolver, ela precisa recorrer a revelação e as escrituras, aqui o evidêncialista começa a apelar para autoridade da revelação, mudando dissimuladamente seu metódo apologético]
3 [mais uma vez o evidencialista falha por sua base empírica de mostrar o atributo divino de jutiça, pois muitas vezes a justiça não é feita na terra, nem pode ser comprovada pelos sentidos]
4 [essa é mais uma refutação ao metódo empirista de apologéta, o empirista não pode argumentar baseado nos sentidos como base, aqui ele precisa novamente apelar para a revelação como base, mas se a revelação é a base aqui ela se torna a base de todos os argumentos.
Gordon Clark, Três Tipos de Filosofia Religiosa, Paginas 91, 92 e 93
Obs. Os comentários em colchetes e referências adicionais númeradas são meus.

Tomás de Aquino e David Hume, com todas as diferenças nas conclusões, concordam que todo conhecimento é BASEADO na sensação.
Gordon Clark, Três Tipos de Filosofia Religiosa, p. 96