sábado, 13 de setembro de 2025

Ad’Heim: A Flecha nas Trevas

 


O lobo-corrompido avançava com sua monstruosidade hedionda, cada passo de Jetto — agora não mais homem, mas besta amaldiçoada — fazia o solo seco tremer, espalhando poeira fúnebre que se levantava como véus de um funeral profano. O hálito que escapava de sua boca dilacerada, entre presas sujas de sangue e pus negro, exalava um cheiro nauseante, como carne pútrida mesclada a ferro em brasa. Cada respiração era acompanhada de um ronco cavernoso, profundo, que parecia vir não de pulmões, mas do próprio vazio das trevas que agora o possuíam.

Sob a luz da lua crescente, seu corpo estava tomado por uma aura maligna que ondulava em formas disformes, como serpentes de fumaça negra que se enroscavam em torno de sua carcaça lupina. Essas sombras se contorciam, formando rostos e bocas que sussurravam em línguas antigas, palavras que ninguém ali compreendia, mas que, ainda assim, se cravavam no coração dos vivos como garras invisíveis. O vale ressoava com murmúrios incessantes — lamentos, blasfêmias, risos distorcidos — como se milhares de almas condenadas falassem em uníssono através dele.

O luar, pálido e frio, escorria sobre sua pelagem maldita como uma lâmina prateada, refletindo o grotesco brilho das veias escuras que pulsavam em seu corpo. O rosto de Jetto, outrora humano, agora era uma máscara animalesca de ódio e dor, com olhos chamejantes em vermelho profundo, que queimavam como brasas na escuridão. Ao redor, as árvores mortas inclinavam seus galhos retorcidos, quase como se quisessem fugir daquela visão impossível, mas presas à maldição, apenas estalavam secamente com o vento gélido.

Tomas Walker, com os olhos arregalados, mal teve tempo de reagir quando a fera avançou sobre ele com velocidade aterradora. No ímpeto, ele largou o corpo inerte de Rickson no chão, o impacto ecoando como um trovão surdo entre as ossadas espalhadas. Tomas ergueu sua espada, mas a lâmina tremia, não de falta de habilidade, mas da brutalidade que se lançava contra ele. O choque foi inevitável — aço contra garras — e as faíscas se dispersaram em clarões breves, como relâmpagos numa tempestade maldita.

Ikarus, arfando de cansaço das batalhas anteriores, não suportou apenas assistir. Com um grito de desafio, ele ergueu sua arma e investiu contra a criatura. Mas Jetto, agora um lobisomem morto-vivo coberto de trevas, não era o companheiro de antes; era uma aberração transbordando força antinatural. Num só movimento, como se sua massa fosse nada para ele, a fera desferiu um golpe com as garras abertas, que atingiu o peito de Ikarus com violência devastadora. O som do impacto foi como madeira sendo partida, e o corpo de Ikarus voou pelo ar, colidindo contra o tronco de uma árvore morta. O estalo seco ecoou, misturando-se ao gemido do guerreiro que se arrastava, o sangue escorrendo de sua boca.

Agora só restava Tomas diante da fera. Jetto, com saliva escura escorrendo de suas presas, aproximava-se lentamente, arrastando as garras pelo chão, produzindo um som estridente e insuportável, como metal contra pedra. O hálito pestilento do monstro envolveu Tomas quando a boca imensa se abriu sobre ele, gotas quentes de veneno caindo em sua pele. As sombras em volta de Jetto murmuravam, incitando-o a devorar, clamando por carne, sangue e alma.

E, então, no ápice da brutalidade, quando os maxilares monstruosos se fecharam a um sopro de Tomas, o tempo pareceu congelar. A criatura parou. Um silêncio súbito, pesado, esmagador, tomou o vale. Os olhos vermelhos de Jetto, em fogo vivo, se desviaram para baixo.

Ali, cravada em seu peito, uma flecha reluzia sob a luz da lua — não apenas uma arma, mas um estilhaço de esperança, um sussurro de intervenção contra a escuridão absoluta.

O uivo que se seguiu não era de vitória, mas de dor. E o vale inteiro tremeu.

Ad’Heim: A Maldição de Jetto

 


O vento que até então apenas soprava entre as árvores mortas cessou subitamente, como se o próprio vale tivesse prendido a respiração diante do ato irreversível de Jetto. Os brincos de Valeth brilhavam intensamente em suas mãos, mas logo a luz dourada e vermelha foi corrompida, tingindo-se de um negro profundo que parecia devorar o luar ao redor. As sombras das árvores secas se esticaram, contorcendo-se como serpentes famintas, convergindo em torno dele.

O corpo de Jetto tremeu, os músculos se retesando em espasmos grotescos. Seus olhos, antes vermelhos como brasas, tornaram-se orbes ocos, irradiando um brilho espectral azul e roxo, como fogo-fátuo em um pântano maldito. Seus ossos estalaram, alongando-se, as garras surgiram mais afiadas, mais densas, e a pelagem escura brotou em tufos irregulares, mas agora não havia mais vida animal em sua forma: era a fusão abominável de carne e necromancia.

Do solo morto ergueu-se um manto de trevas que o cobriu dos pés à cabeça, aderindo à sua pele e músculos, tornando-se parte dele. Era como se a própria maldição tivesse tecido sobre seu corpo uma armadura viva de sombra, movendo-se em sincronia com seus músculos. De sua boca aberta, presas alongadas pingavam não saliva, mas um líquido negro, viscoso, que caía no chão e queimava a terra como ácido.

Ao redor, o silêncio foi substituído por murmúrios. Sussurros vindos de todas as direções ecoavam nas línguas esquecidas da maldição de Valeth. Pareciam vozes de crianças chorando, de guerreiros gemendo em dor, de mulheres sussurrando promessas e maldições. Cada som penetrava no ouvido dos companheiros, corroendo a mente, fazendo o coração acelerar com medo primitivo.

“Jetto… Jetto não existe mais…” murmurou Raella, a voz quase se desfazendo no ar.

Ele ergueu o rosto ao luar, e um uivo ensurdecedor, carregado de dor e ódio, ecoou pelo vale. Mas não era um uivo de lobisomem comum; era distorcido, metálico, quase demoníaco, como se cem vozes gritassem juntas, cada uma clamando por sangue e vingança. O ar gelou de forma imediata, e a sensação de vida no grupo pareceu ser sugada como se um vazio estivesse tentando devorá-los.

Thomas Walker, ao ver a ameaça ganhar forma, não teve dúvidas. Deixou o corpo de Rickson suavemente no chão, seus olhos vermelhos brilhando de determinação. Empunhou seu montante com as duas mãos, suas asas dracônicas se abrindo num movimento instintivo de combate. “Então é assim que será… irmão caído. Se a maldição tomou você, eu o enviarei de volta às trevas de onde saiu!”

Jetto não respondeu com palavras. Apenas um rosnado profundo, gutural, reverberou de seu peito, fazendo o solo tremer sob seus pés. Ele avançou como um raio, as sombras envolvendo seu corpo em um borrão escuro. O impacto contra Thomas foi devastador: montante contra garras, faíscas e chamas negras se espalharam com a colisão. O choque foi tão forte que árvores mortas se partiram ao redor, ossos foram lançados para o alto, e a terra enegrecida tremeu como em um terremoto.

Thomas rugiu em resposta, sua força dracônica resistindo, mas mesmo ele foi forçado a recuar alguns passos, as garras de Jetto quase penetrando sua defesa. A cada golpe, a aura maldita do lobisomem morto-vivo corrompia o ar, tornando pesado até o ato de respirar.


Ikarus, sem hesitar, ergueu sua espada e correu em auxílio de Thomas. O cansaço era visível em seu corpo — os ombros pesados, a respiração irregular, os músculos doloridos das batalhas passadas. Mas seu juramento, sua honra como cavaleiro de Lenória, não permitiam hesitação. Ele brandiu a espada em um arco reluzente, tentando cortar através das trevas que envolviam Jetto.


A lâmina de Ikarus reluziu sob a lua, mas Jetto girou o corpo em um movimento animalesco, rápido e brutal. Sua garra negra interceptou a espada e, com um rugido gutural, ele desferiu um golpe no peito do cavaleiro. O impacto foi como ser atingido por uma catapulta: Ikarus foi lançado para trás, seu escudo partindo-se ao meio, o metal da armadura sendo amassado no ponto do impacto. O som seco ecoou como um trovão.


Ele voou alguns metros até atingir o tronco retorcido de uma árvore morta. O choque quebrou parte da madeira ressequida, espalhando estilhaços, e o corpo do cavaleiro tombou ao chão, ofegante, sangue escorrendo sob a armadura.

“IKARUS!” gritaram Raella e Gillian ao mesmo tempo, o desespero tomando conta delas. Derek ergueu o arco, mas suas mãos tremiam com a visão da criatura que um dia havia sido seu companheiro.

Jetto, agora mais sombra do que carne, virou lentamente o rosto para o grupo, seus olhos espectrais brilhando com fúria inumana. Os murmúrios ao redor intensificaram-se, repetindo em uníssono, como um coro de condenados:

“Um deles cairá… um deles cairá… um deles cairá…”

E a lua crescente iluminava a cena grotesca, revelando que a batalha contra Jetto não seria apenas contra a força física de um lobisomem, mas contra a própria maldição de Valeth, viva e pulsante nele.

O vale amaldiçoado tornava-se agora campo de guerra, e a sombra de Jetto erguia-se para destruir não apenas seus inimigos… mas seus antigos irmãos de jornada.


Ad'Heim: Os Brincos de Valeth

 


O vale amaldiçoado finalmente começava a ceder diante do grupo, o frio penetrante diminuindo apenas um pouco, mas o silêncio e a opressão continuavam inalterados. As árvores mortas se estreitavam em uma clareira mais ampla, ainda marcada por ossos e restos de criaturas fantásticas. A luz prateada da lua crescente refletia em cada superfície, lançando sombras longas e distorcidas que pareciam se mover com vida própria.

Foi então que Derek, atento a cada detalhe, parou abruptamente, sinalizando para os outros com um gesto da mão. Entre um amontoado de ossos e troncos quebrados, um corpo esquelético se destacava. Estava ajoelhado, a cabeça tombada para frente, com os punhos cerrados e imóveis. Mas entre os dedos ossudos, algo capturava a luz da lua e a multiplicava em reflexos dourados e vermelhos que dançavam como chamas suspensas. Brilhava com intensidade quase hipnótica.

“São… brincos?” murmurou Raella, a voz trêmula, enquanto Gillian se aproximava, tentando olhar sem se expor a qualquer maldição que pudesse estar ligada ao objeto. “Isso… isso deve ser os brincos da lenda de Valeth… a maldição…”

Thomas suspirou, a expressão sombria. “A história é exatamente esta. Alguém… alguém conseguiu chegar até este ponto. Conseguiram tocar o tesouro, mas a maldição os alcançou. O corpo que vemos não é apenas uma vítima — é um aviso. A cobiça que levou o aventureiro até aqui transformou-o em ossos e sombra, preso à matéria para sempre. Esses brincos… não devem ser tocados. Nada aqui deve ser tocado.”

Ikarus aproximou-se, a mão levemente na empunhadura da espada, observando os punhos cerrados e o brilho reluzente. “Então… isso é real. Eles não eram apenas contos para assustar viajantes. Este… é o perigo que Thomas mencionou. Este é o preço da cobiça.”

Gillian, olhando com os olhos semicerrados, murmurou: “Não devemos tocar. Nem pensar em pegá-los. Se fizerem isso, podemos acabar como ele.”

Raella segurou o braço de Gillian, a voz trêmula mas firme: “O que mais sabemos sobre a maldição? É apenas uma prisão física ou… é a alma que se perde também?”

Thomas deu um passo atrás, olhando para o esqueleto com pesar. “A lenda diz que a deusa Valeth não apenas pune o corpo, mas também a alma. Qualquer toque que desperte o desejo de posse desperta a maldição. Aquele que se deixa seduzir pelos brilhos e pelo ouro está fadado a repetir os erros do aventureiro que veio antes. Ele conseguiu chegar até aqui… mas não conseguiu sair.”

Jetto permaneceu um passo à frente, farejando o ar e observando os brincos. Seus olhos refletiam a luz que emanava deles, e mesmo que sua mente consciente estivesse alerta, o coração e os instintos falavam outra língua. O brilho dourado e vermelho era quase magnético, e o desejo antigo, reprimido durante anos de disciplina e convivência com a Dríade, começou a despertar. Ele sabia que, se qualquer ser do mundo tivesse conhecimento de um artefato assim, ele saberia. Mas algo dentro dele dizia que, talvez, apenas talvez, a exceção tivesse sido feita… e ele poderia reivindicar a relíquia.

Derek franziu o cenho, observando Jetto com cautela. “Não toque nisso. Não é apenas um objeto, Jetto. É… é a própria maldição em forma de metal e ouro. Você já sabe o que a história diz — não podemos tocar, não devemos tocar, nunca!”

Ikarus aproximou-se, colocando a mão sobre o ombro de Jetto. “Ele está certo. Pense nas consequências. Você sabe o que aconteceu com todos antes de nós. É um aviso, Jetto. A maldição não é simbólica. Ela é real. Não toque.”

Mas Jetto não se moveu para trás. O faro de lobisomem, o instinto e a razão humana colidiam com intensidade. O brilho parecia penetrar na própria alma dele, cada reflexo dançando como se chamasse pelo seu nome, oferecendo poder, riqueza e glória impossíveis de recusar. A luz parecia pulsar com um ritmo próprio, ressoando com a batida acelerada do seu coração.

“Se…” murmurou ele, quase para si mesmo, a voz carregada de desejo contido, “se apenas… apenas um toque… eu poderia… entender o poder…”

Gillian deu um passo à frente, inquieta. “Jetto! Não! Você está brincando com algo que nem mesmo nós podemos compreender. Pense no que Thomas disse — qualquer toque e você ficará preso como ele. Preso!”

Mas a mão de Jetto, trêmula, começou a se aproximar dos punhos cerrados do esqueleto. O ar parecia condensar-se, pesado, carregado de energia antiga e maliciosa. Cada passo que ele dava em direção aos brincos fazia com que o frio da maldição se tornasse quase tangível, envolvendo o grupo, penetrando nos ossos, sugando a coragem como se a própria esperança fosse filtrada da realidade.

Ele parou diante do esqueleto, e por um instante, a lua crescente refletiu diretamente nos brincos, fazendo-os brilhar com intensidade sobrenatural. O som do vento, que antes apenas uivava entre os troncos mortos, agora parecia sussurrar em línguas antigas, promessas e advertências entrelaçadas. O brilho, a promessa de poder, a beleza quase hipnótica… era irresistível.

Então, silenciosamente, Jetto estendeu a mão. Um dedo, depois outro, os ossos do esqueleto pareciam vibrar, mas nenhum movimento vivo se opôs. Seus dedos tocaram a superfície fria e polida dos brincos, e a luz refletida pareceu crescer, pulsar, como se a própria caverna estivesse respirando ao redor deles, consciente do ato.

“Jetto… não…” a voz de Ikarus, firme mas carregada de urgência, foi engolida pelo peso do momento, e o grupo inteiro se encolheu, percebendo que naquele instante algo muito maior do que todos eles estava em jogo.

E ali, entre os ossos, as árvores secas, o silêncio mortal e a luz da lua crescente, Jetto segurava os brincos — e o ar ao redor parecia carregar a tensão de séculos de maldição, a promessa de um poder inestimável, e a certeza de que nenhum passo daqui em diante seria igual ao que veio antes.

Um frio percorreu o vale, os ecos do passado ressoando em cada osso, cada tronco seco, cada sombra que os observava silenciosa. E então, no momento em que os dedos de Jetto fecharam-se completamente sobre os brincos… o silêncio foi quebrado por um sussurro distante, etéreo, que parecia atravessar o tempo e o espaço:

“Você escolheu… e agora o preço será seu.”

O grupo parou, imóvel, enquanto a luz prateada da lua refletia nos brincos, agora na mão de Jetto, brilhando mais intensamente do que antes, como se a própria maldição tivesse despertado.

O suspense pairava no ar, espesso, quase tangível. O futuro, tão incerto quanto os ossos e sombras à sua volta, aguardava para se revelar.


Ad'Heim: O Vale dos Mortos

 


Quando finalmente atravessaram a última curva da caverna, os primeiros raios da lua crescente iluminaram o terreno à sua frente, revelando um cenário que fez o grupo parar por um instante, em silêncio absoluto. A floresta que se estendia diante deles não era a Floresta Encantada que conheciam, vibrante e repleta de vida; era uma área morta, um território amaldiçoado onde a própria natureza parecia ter abandonado toda a vitalidade.

As árvores, retorcidas e secas, erguiam-se como esqueletos petrificados, galhos quebradiços apontando para o céu como dedos acusadores. Nenhuma folha verde, nenhuma flor ou musgo cobria o solo; tudo estava enegrecido, queimado pelo tempo ou por magia antiga. O chão era um mosaico macabro de ossos e restos: crânios humanos, costelas de monstros desconhecidos, mandíbulas partidas, carcaças de animais ainda parcialmente intactas, apodrecendo lentamente sob a luz prateada. Havia até mesmo esqueletos de criaturas fantásticas, corcéis alados, serpentes gigantes, e algo que lembrava uma quimera, todos misturados entre as árvores mortas, como se o solo tivesse engolido o caos de eras passadas.

O vento que atravessava o vale parecia carregar consigo um murmúrio distante, quase inaudível, mas suficiente para gelar a espinha dos aventureiros. Um odor metálico, lembrando ferro antigo e sangue seco, se misturava ao cheiro de terra seca e folhas em decomposição. Cada passo sobre o solo duro ressoava como se estivesse atravessando um túmulo aberto, e o reflexo da lua crescente lançava sombras longas e distorcidas que dançavam entre os restos, criando formas que pareciam olhos, mãos e rostos que observavam silenciosamente.

Jetto avançou à frente, mantendo-se em alerta máximo, o faro e os sentidos de lobisomem captando nuances que os outros não percebiam. Seus olhos vermelhos refletiam a luz pálida da lua, brilhando com uma intensidade quase sobrenatural. Ele parou abruptamente e ergueu a mão, sinalizando para que o grupo ficasse quieto. “Este lugar…” começou ele, a voz baixa, carregada de cautela, “é diferente de tudo que já vimos até agora. Vivi anos com a Dríade, conheço a Floresta Encantada como poucos, mas este vale… é proibido, amaldiçoado. Nenhum ser da floresta se aproxima daqui. Até mesmo os lobos e as criaturas noturnas evitam esta área. Não há vida, nem mesmo magia natural ou selvagem que não tenha sido corrompida.”

Gillian olhou em volta, absorvendo o cenário desolador. “Então… ninguém sobrevive aqui?”

“Não exatamente,” continuou Jetto, farejando o ar, os músculos tensos e os instintos em alerta máximo. “Os mortos podem permanecer, mas são sombras do que eram. Restos de almas, ossos e carne. O toque de qualquer um desses restos… ou até mesmo pisar sem cuidado em certos lugares… pode trazer maldição. Não podemos tocar em nada. Qualquer movimento em falso, qualquer gesto imprudente, e podemos nos tornar parte do que já morreu, presos aqui em vida ou em espírito.”

Derek franziu o cenho, ajustando o arco e olhando para os ossos espalhados. “Então não podemos sequer encostar nos restos… mesmo se precisarmos usar alguma rota mais curta?”

“Não,” respondeu Jetto com firmeza. “Este vale não tolera erros. As maldições aqui não perdoam. Caminhem apenas sobre o chão seguro, entre as árvores mortas, evitando os montes de ossos. Sigam exatamente meus passos. Se alguém tropeçar ou tocar qualquer coisa, o perigo será imediato.”

Raella, ainda apoiada por Gillian, engoliu em seco, observando os restos de homens, monstros e criaturas fantásticas. “Isso… isso é horrível… Eles… eles devem ter sido aventureiros como nós, não é?”

Thomas Walker acenou levemente, a luz refletindo em seu montante. “Aparentemente. Mas a cobiça e a imprudência são punidas de formas que o homem comum raramente entende. Este vale… é um aviso silencioso. Cada ossada, cada crânio, cada criatura caída é uma lembrança de que a ganância e a imprudência podem aprisionar até a alma.”

Ikarus respirou fundo, firmando a empunhadura da espada. “Então seguimos o caminho de Jetto. Um passo em falso e não será apenas um tropeço. Será permanente.”

O grupo começou a avançar, movendo-se lentamente entre os troncos secos e ossos espalhados, cada passo cuidadosamente calculado. O silêncio era absoluto, quebrado apenas pelo ranger seco da madeira morta sob os pés ou pelo estalo ocasional de algum osso que cedia. As sombras se alongavam e se contorciam com a luz da lua crescente, tornando cada árvore uma sentinela espectral, cada esqueleto um possível observador invisível.

Enquanto caminhavam, o frio penetrava até os ossos, e até Raella, protegida por Gillian, sentiu a tensão do lugar em cada célula de seu corpo. O ar parecia absorver sons, tornando cada respiração audível, cada passo quase ensurdecedor em seu silêncio quase sagrado.

Jetto parou por um instante, farejando o ar mais uma vez. “Estamos quase no fim do vale,” disse ele. “A luz que você vê lá à frente não é o sol, mas o reflexo da lua sobre a clareira que leva à floresta viva. Se conseguirmos atravessar este terreno amaldiçoado sem tocar em nada, teremos saído da parte morta da floresta. Mas não pensem que estamos fora de perigo. A Dríade e seus servos ainda nos aguardam. Este lugar… este vale é apenas um teste de paciência e disciplina.”

Ikarus acenou, respirando fundo. “Então seguimos adiante, mantendo disciplina e silêncio. Cada um de nós tem que focar em seu passo, em seu equilíbrio, e confiar em Jetto.”

Com a luz prateada da lua crescente refletindo nos ossos espalhados, nos troncos secos e retorcidos, e nas sombras que se contorciam como memórias de antigos aventureiros, o grupo avançou lentamente, como se cada movimento pudesse ser seu último. Cada respiração carregava tensão, cada passo era um desafio silencioso, e o medo da maldição pairava sobre eles como uma presença tangível.

Mas ao longe, entre os troncos mortos, uma fria luz se tornou mais clara, anunciando o fim da área amaldiçoada. Era a promessa de que, se seguissem com cuidado, atravessassem o vale sem tocar em nada, poderiam finalmente emergir em segurança na floresta viva, onde a Dríade os esperava, invisível, mas certamente vigilante.

E assim, entre ossos, árvores secas e um silêncio carregado de presenças antigas, Ikarus e seus companheiros avançavam, cada passo um triunfo silencioso sobre a maldição do vale, cada sombra ao redor um lembrete de que a morte e o perigo espreitam onde quer que a cobiça e o descuido se manifestem.


Ad'Heim: Ecos do Passado

 



O túnel apertado finalmente se abriu para uma câmara mais ampla, ainda úmida, mas com o chão menos irregular. O ar parecia carregar um frio que não vinha da própria caverna, mas de algo mais antigo, ancestral. Jetto parou abruptamente, farejando o ambiente com atenção quase sobrenatural, suas orelhas inclinadas e chifres quase roçando o teto baixo. “Aqui… é a saída mais distante,” murmurou ele, os músculos tensos, pronto para reagir a qualquer sinal de perigo. “É o caminho que nos leva longe da entrada, longe dos servos da Dríade. Mas… fiquem atentos. O ar aqui… não é natural. Tem algo preso neste lugar.”

O grupo avançou cautelosamente, e logo perceberam o motivo do alerta. Sombras etéreas começaram a surgir à sua volta, translúcidas, quase invisíveis à primeira vista, mas gradualmente tornando-se nítidas o suficiente para discernir figuras humanas, vagas e distorcidas. Eram fantasmas — ou talvez ecos de almas perdidas — que não avançavam, não falavam, não pareciam notar a presença do grupo. Caminhavam lentamente, repetindo gestos que pareciam familiares, mas distorcidos; um homem ajoelhando-se para pegar um objeto imaginário, uma mulher estendendo as mãos como se implorasse por perdão. Cada movimento era carregado de um peso silencioso, de uma tristeza profunda que parecia impregnar o ar, tornando cada passo do grupo pesado, quase doloroso.

Raella apertou o braço de Gillian, tremendo levemente. “O que são… o que aconteceu com eles?” sussurrou, a voz embargada pelo medo e pela fascinação.

Thomas Walker, com expressão grave, respirou fundo antes de falar, a luz pálida refletindo em seus olhos vermelhos e revelando sua seriedade. “Há uma lenda que percorre essas cavernas,” começou ele, a voz baixa, reverberando nas paredes rochosas. “Dizem que há muito tempo, um grupo de aventureiros veio à Floresta Encantada guiado por rumores de tesouros escondidos. Eles eram cobiçosos, gananciosos. Seu alvo… um par de brincos, pequenos, mas encantados com uma magia antiga e amaldiçoada, criados pela deusa Valeth, conhecida por sua justiça implacável.”

O grupo parou, as palavras de Thomas ecoando como se pudessem despertar algo adormecido naquela câmara. Ele continuou: “Valeth não perdoa a cobiça. Dizem que aqueles aventureiros, ao tentarem tirar os brincos do local sagrado, acionaram a maldição. Seus corpos foram transformados — em mortos vivos, presos à carne, e suas almas condenadas a vagar como fantasmas eternos. O tesouro… nunca foi encontrado. Alguns dizem que ainda está aqui, escondido, mas protegido pela maldição. Outros acreditam que foi consumido pela própria essência da justiça de Valeth, como aviso para todos que ousam desobedecer às regras do mundo espiritual.”

Ikarus apertou a empunhadura da espada, observando os vultos etéreos à sua volta, cada um carregando gestos e expressões de arrependimento e desespero. “Então… eles não atacam porque já estão mortos, mas… estão presos à matéria, condenados a repetir seus erros.”

“Exatamente,” disse Thomas. “Cada sombra aqui é um presságio do que acontece com aqueles que se deixam dominar pela cobiça. Se fossem corajosos ou tolos o suficiente para tocar o tesouro, teriam sido punidos, assim como esses aventureiros. Não há redenção para eles enquanto permanecerem aqui.”

Derek, mesmo em silêncio, percebeu o peso moral do lugar. Ele ajustou o arco, olhando para os vultos, e refletiu sobre o perigo de ambição cega. “E ainda assim… eles continuam aqui, como aviso, como lição para quem passa. Se não fosse por Jetto e pelo cuidado de todos nós, poderíamos muito bem nos tornar mais um eco nesse lugar.”

Gillian manteve Raella próxima, sussurrando: “Não olhe demais, princesa. É fácil se perder aqui, mesmo sem se tornar um deles. Apenas siga adiante, concentre-se em nós.”

O grupo avançou lentamente, cada passo ecoando na câmara ampla, cada som reverberando nas paredes e reforçando a sensação de que o espaço estava vivo com lembranças de dor e arrependimento. Os fantasmas continuavam suas rotinas silenciosas, sem agressividade, mas não deixando de criar uma sensação sufocante, como se cada presença fosse uma sombra do próprio destino que poderia aguardar qualquer um que vacilasse em sua disciplina ou caráter.

Jetto farejou o caminho à frente, guiando o grupo com cuidado absoluto. “Sigam-me. A saída está logo à frente. Mas não podemos nos precipitar.” Cada túnel, cada curva do caminho estreito, parecia testá-los, fazendo-os hesitar, questionar cada movimento e cada escolha.

Finalmente, após o que pareceu uma eternidade de passos cautelosos, a câmara começou a se abrir para a luz. Uma luz fria, prateada, que não queimava, mas iluminava o ambiente com uma serenidade distante, filtrada pelas pedras e estalactites. A bruma da caverna começou a dissipar-se, e mesmo os fantasmas, ao longe, pareciam dissolver-se na sombra, tornando-se memórias de um aviso silencioso e inescapável.

Ikarus respirou fundo, sentindo a tensão de todo o caminho se aliviar apenas um pouco. “Estamos quase fora,” disse, olhando para o grupo. “Mas lembrem-se: o perigo continua lá fora, na floresta. Este lugar é um lembrete… daquilo que a cobiça e a imprudência podem fazer.”

Raella, ainda apoiada por Gillian, olhou para a luz com esperança nos olhos. “Então… estamos quase lá. Podemos sair daqui… vivos?”

Thomas assentiu lentamente. “Se mantivermos a cautela, e se Jetto continuar guiando com esse faro, sim. Mas precisamos estar preparados. A Dríade nos espera do outro lado. E ela não esquece, nem perdoa.”

O grupo avançou, ainda imerso na reverência silenciosa pelo que deixavam para trás, guiados pela fria luz que agora se tornava mais intensa, a promessa da saída da caverna e do primeiro vislumbre da floresta da Dríade acima. Cada passo parecia um triunfo silencioso sobre os horrores que enfrentaram, cada sombra que passavam era uma lembrança da fragilidade humana e da dureza da justiça antiga.

E assim, ainda dentro do labirinto rochoso e úmido, eles avançavam, próximos da liberdade, mas conscientes de que o verdadeiro teste — a floresta e a Dríade — os aguardava com impaciência e poder.


Ad'Heim: Labirinto de Sombras

 


A escuridão da caverna parecia engolir cada som, cada respiração, cada passo cauteloso do grupo. O ar estava pesado, úmido, carregado de mofo e de uma fragrância estranha, quase metálica, que lembrava ferro oxidado e magia corrompida. Gotejamentos ritmados de água caíam de estalactites irregulares, cada gota fazendo eco nos corredores tortuosos, e transformando a simples ação de caminhar em um exercício de paciência e atenção absoluta.

Jetto avançava à frente, parcialmente transformado, suas orelhas ligeiramente inclinadas, o nariz farfalhando com movimentos sutis. A forma lobisomem aumentava sua percepção, e seus olhos, que alternavam entre a escuridão e sombras translúcidas, refletiam a mínima presença de perigo. Ele inspirava profundamente, sentindo cada nuance do ar. “Sinto o cheiro deles,” sussurrou, a voz rouca e baixa, quase um growl, dirigindo-se aos outros sem se virar. “Servos da Dríade… ainda estão próximos, mas conseguimos evitá-los se seguirmos por esses túneis. Pelo cheiro, parecem patrulhar as áreas mais amplas perto da entrada.”

Ikarus assentiu, mantendo a mão na empunhadura da espada, a ponta levemente pressionada contra o chão. Cada passo era calculado, cada respiração controlada. “Então vamos pelo que Jetto indica. Sem barulho, sem toques desnecessários. Rickson nos deu essa chance — não vamos desperdiçá-la.”

Thomas Walker caminhava ao lado de Raella, a princesa ainda apoiada por Gillian, seu cajado de acácia levemente vibrando com sua magia residual, como se a energia dela própria tentasse curar e proteger simultaneamente. “O corredor se bifurca à frente,” murmurou Thomas, analisando as paredes cobertas de musgo e líquens luminescentes que lançavam uma luz pálida, quase espectral. “Se seguirmos o caminho à esquerda, parece mais estreito, mas pelo cheiro… parece menos patrulhado.”

Derek manteve-se ligeiramente atrás, arqueiro pronto, olhos perscrutando cada sombra, cada ondulação da parede úmida. “Fiquem atentos. Uma caverna assim guarda armadilhas naturais — buracos, desmoronamentos, ou algo pior. E não sabemos se a Dríade deixou mais do que patrulhas vivas.”

Jetto farejou o ar novamente, inclinando o corpo e seguindo o fluxo de correntes subterrâneas de vento, que pareciam soprar das profundezas, carregando odores de raízes podres, terra molhada e algo mais… algo que lembrava folhas queimadas e perfume de flores corrompidas. “Por aqui. Há um túnel menor que se conecta ao principal mais adiante. É apertado, mas vai nos manter fora de vista. Andem devagar. Cada passo em falso ecoa.”

Gillian ajustou o peso de Raella em seus braços, sentindo a tensão da princesa e o calor de seu próprio corpo como um escudo de proximidade. “Mantenham silêncio. Até mesmo o menor som pode ser ouvido daqui a metros. Respirem fundo, mas controladamente. E não façam movimentos bruscos.”

O grupo avançou, serpenteando pelo túnel estreito. As paredes rochosas pareciam se apertar ao redor deles, cobertas de musgo escorregadio e pequenas estalactites que ameaçavam tocar suas cabeças se não fossem cuidadosos. A cada curva, cada passagem estreita, o ar tornava-se mais pesado, saturado de umidade e do cheiro inconfundível da floresta acima, como se a caverna respirasse o mesmo ar da superfície, filtrado e distorcido.

“Silêncio… eles estão perto,” sussurrou Jetto, parando abruptamente. O grupo se encolheu contra a parede, corpos pressionados, ouvidos atentos a qualquer ruído. Um gotejamento distante se intensificou, seguido por um arranhar irregular — talvez de uma criatura menor, ou de um servo adormecido da Dríade. Nenhum deles se moveu. O tempo parecia esticar, cada segundo uma eternidade, até que Jetto finalmente relaxou os ombros. “Podemos continuar. Mas ainda não chegamos longe o suficiente. Mais à frente… a saída está longe da entrada, mas devemos manter o túnel estreito até lá.”

Ikarus avançou com passos silenciosos, a lâmina refletindo os flashes de luz que escapavam do musgo luminescente. Cada passo calculado, cada movimento planejado, mas o peso da responsabilidade era esmagador. “O corpo de Rickson… precisamos nos certificar de que ele não seja esquecido se algo acontecer. Devemos mover rápido, mas com cuidado. Não podemos errar.”

Raella, apoiada por Gillian, murmurou, ainda fraca mas determinada: “Sei que posso ajudar… posso lançar pequenas barreiras, feitiços de luz… mas não posso me sobrecarregar. Apenas… mantenham-me segura.”

Thomas assentiu. “Faremos isso. Ninguém será deixado para trás. Cada um de nós tem uma função — e cada passo que damos aqui é uma vitória silenciosa contra a Dríade.”

Eles continuaram, avançando lentamente, serpenteando pelo labirinto úmido e escuro da caverna, cada curva trazendo um novo desafio: raízes grossas atravessando o chão, pequenas fissuras que poderiam fazê-los tropeçar, sons indistintos de criaturas rastejando nas paredes. Mas Jetto guiava com precisão quase sobrenatural, alternando entre seu faro aguçado e instintos de lobisomem, alertando-os quando se aproximavam de perigos ou de zonas onde a presença da Dríade se fazia sentir.

O suspense pairava como uma neblina densa. Cada sombra parecia se mover, cada gotejamento parecia um aviso, e a mínima corrente de ar fazia o grupo parar, prender a respiração e escutar. Eles ainda não haviam saído da caverna, mas a confiança em Jetto, a liderança de Ikarus e a determinação de todos mantinham-nos avançando, passo a passo, serpenteando pelo labirinto de rochas, enquanto a Dríade os espreitava, invisível, lá fora, aguardando qualquer deslize.

O perigo era constante. A escuridão era sufocante. Mas, mesmo assim, havia uma faísca de esperança que queimava entre eles — a esperança de que, se seguissem cuidadosamente, poderiam emergir da caverna vivos, com Raella segura, com Rickson honrado, e com força suficiente para enfrentar o que os aguardava na floresta acima.

Ad'Heim: Luz Entre Sombras



O silêncio que se seguiu ao impacto final da lâmina de Ikarus foi quase ensurdecedor. A luz branca que consumiu o corpo do vampiro se dissipava lentamente, deixando a câmara mergulhada em sombras trêmulas, apenas iluminadas pelos reflexos dourados e prateados da armadura de Ikarus e pelos fragmentos de luz que saltavam das paredes úmidas da caverna. Um cheiro acre de enxofre e magia corroída ainda pairava no ar. O corpo das sucubus jazia estendido, imóveis, os sussurros tentadores que uma vez preencheram a sala, agora silenciados pela morte de Rickson, cujo sacrifício fora o preço necessário para a vitória.

Gillian ajoelhou-se imediatamente ao lado do altar improvisado, onde Raella, apesar de exausta e manchada de sangue, ainda respirava. Suas mãos, delicadas e trêmulas, repousavam sobre o corpo de Raella, murmurando palavras de encorajamento, enquanto pequenas faíscas de energia branca e negra percorriam o ar em torno dela, tentando estabilizar os ferimentos e a exaustão da princesa. Raella piscou lentamente, seus olhos castanho-claros refletindo a dor e o alívio.

“I… eu pensei que… não conseguiria sair viva disso,” murmurou Raella, sua voz fraca, quase um sussurro. Ela tentou erguer-se, mas Gillian a segurou, firme mas gentil.

“Ninguém vai deixar você morrer agora,” disse Gillian com firmeza, o tom de sua voz equilibrando preocupação e comando. “Você precisa ficar quieta e recuperar forças. Estamos aqui.”

Ikarus caminhou até o altar, seu escudo manchado de sangue repousando contra seu ombro. Ele observou Raella, seu olhar azul intenso fixando-a com uma mistura de alívio e determinação. “Você não precisa agradecer, Raella. Faz parte do nosso juramento proteger Lenória Imperial, e… especialmente você.” Havia uma tensão naquelas palavras, como se cada sílaba carregasse não apenas a responsabilidade de um cavaleiro, mas também o peso de algo mais pessoal.

Thomas Walker aproximou-se, suas asas parcialmente abertas, os chifres lançando sombras longas na caverna. O montante em suas mãos ainda brilhava com vestígios de energia dracônica, lembrando ao grupo que a batalha não estava completamente terminada. “O corpo de Rickson… precisamos levá-lo. Não podemos deixá-lo aqui. Ele deu tudo de si por nós, e por isso merece respeito.”

Ikarus assentiu, a mandíbula tensa. “Concordo. Gillian, ajude a estabilizar Raella. Thomas, você e Jetto nos ajudam a carregar Rickson.”

Jetto, que até então permanecera de pé, observando os arredores com olhos atentos à possibilidade de emboscadas, cerrou os punhos, transformando-se parcialmente em lobisomem, a altura de seu corpo aumentando, os músculos se tensionando sob a pele. “Podemos carregar Rickson e sair rápido. Mas a Dríade lá fora… ela não vai nos deixar passar facilmente. Precisamos de estratégia, não apenas força.”

Derek, quieto em um canto, ajustou seu arco, a corda tensa pronta para disparar, os olhos negros atentos a cada movimento. “Se sairmos pelo caminho direto, ela nos verá. Conheço essas florestas. Podemos usar um desvio pelas raízes antigas e os túneis de animais para evitar a linha de visão da Dríade. Será mais lento, mas aumenta nossas chances de sair com vida.”

“Não temos tempo de sobra,” murmurou Raella, a voz mais firme agora, ainda apoiada por Gillian. “Se a Dríade detectar nossa presença, ela convocará mais servos. Precisamos de discrição, mas também de velocidade.”

Thomas olhou para o grupo, calculando mentalmente a logística de movimentar dois corpos pesados, incluindo o de Rickson, sem armas suficientes para enfrentarem outra horda. “Então a saída é clara,” disse ele, a voz profunda e controlada. “Evitar confronto direto, mover-nos pelo subsolo e sombras da floresta, mantendo Raella segura. Ikarus, você lidera; Derek, você cobre a retaguarda; Gillian e eu cuidamos de Raella; Jetto, você protege os flancos. E… precisamos ser rápidos. Cada minuto aqui aumenta o risco.”

Ikarus respirou fundo, apertando a empunhadura de sua espada longa. “Então é o que faremos. Mas primeiro…” Ele caminhou até Rickson, ajoelhando-se ao lado do corpo do amigo, sua capa branca com o grifo tremulando levemente na corrente de ar da caverna. Ele colocou a mão sobre o peito de Rickson, murmurando uma breve oração, invocando a luz de Lenória para guardar a alma do guerreiro caído. “Você cumpriu seu dever, Rickson. Nós não te esqueceremos.”

Um silêncio reverente tomou o grupo. Até mesmo Raella, fraca e sangrando, abaixou a cabeça em homenagem.

Gillian quebrou o silêncio, olhando para a porta da caverna, onde sombras dançavam. “Vamos. Cada segundo conta. Raella precisa sair daqui viva, e o corpo de Rickson merece ser levado de volta. Se não nos movermos agora, todo o sacrifício será em vão.”

Um murmúrio de concordância percorreu o grupo. Derek conduziu o primeiro passo cauteloso, verificando o terreno. Thomas e Jetto se posicionaram, prontos para enfrentar qualquer ameaça repentina. Ikarus fechou os olhos por um instante, respirando profundamente, antes de colocar-se à frente do grupo. O peso da liderança e da responsabilidade pairava sobre ele, mas a determinação de proteger seus companheiros e a princesa era maior que qualquer medo.

Com passos silenciosos, eles começaram a retirada, cuidadosamente equilibrando Raella e o corpo de Rickson. As paredes úmidas da caverna pareciam engolir seus movimentos, e cada estalo do chão de pedra ecoava como um lembrete do perigo que ainda os esperava lá fora. A floresta da Dríade os aguardava, mas juntos, ainda carregando a força da coragem, do sacrifício e da amizade, Ikarus e seus companheiros avançavam para o próximo desafio, sabendo que cada escolha poderia ser a diferença entre a vida e a morte.

O caminho à frente era incerto, mas havia uma certeza que ninguém no grupo ousaria negar: eles não falhariam agora, não enquanto houvesse um fio de esperança para a princesa e um legado a honrar.


Pastores Fracos, Ovelhas Mortas: O Banquete dos Hereges

por Yuri Schein 

A maior arma das Testemunhas de Jeová não é a Bíblia, porque, na verdade, eles distorcem a Bíblia com sua “Tradução do Novo Mundo”. A jogada deles é simples: aproveitar a ignorância teológica generalizada dentro das igrejas evangélicas. Onde pastores estão mais preocupados em pregar autoajuda do que Escritura, o campo está fértil para os hereges.

Eles chegam com duas ou três “provas” mal traduzidas: “Jesus não é Deus” em João 1.1, ou a negação do inferno eterno e encontram crentes que nunca ouviram uma pregação expositiva sobre Colossenses 1, Hebreus 1 ou João 20.28. Resultado: o crente fica desarmado, porque seu pastor só ensinou a “sentir a presença” em vez de conhecer a Palavra.

É assim que eles pegam incautos: exploram a carência de doutrina. Não é mágica, é oportunismo. Quando uma igreja abandona a instrução sólida e deixa a Escritura em segundo plano, ela abre a porta para os lobos.

Paulo já havia avisado: “Virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina” (2Tm 4.3). O problema não é só o lobo, mas o rebanho mal alimentado. A jogada dos TJ é simples: eles oferecem “respostas fáceis” para quem nunca recebeu as respostas certas.

Se os púlpitos pregassem a verdade bíblica com clareza, os hereges morreriam de fome. Mas como muitos líderes hoje preferem entreter em vez de instruir, os incautos se tornam presa fácil.

Em resumo: a jogada da seita é explorar a fraqueza dos pastores frouxos. A culpa maior não é deles, é da omissão dos que deveriam guardar o rebanho.

A Manipulação do Clima: O Deus que Rege as Nuvens

 

Por Yuri Schein 

Se o homem mexe no clima, não o faz por autonomia, mas porque o Deus soberano o faz mexer. Ocasionalismo puro: Deus é quem move a mão do cientista, do engenheiro e até do conspirador. Se há chuva, foi Deus. Se há seca, foi Deus. Se há geoengenharia, foi Deus quem causou a ilusão de controle no coração humano.

A Escritura é clara: “Ele faz subir os vapores do fim da terra; faz os relâmpagos para a chuva, e tira o vento dos seus tesouros” (Sl 135.7). O homem não cria relâmpago, apenas participa da farsa providencial que o Senhor escreve para exibir sua glória. Até mesmo a chamada “manipulação climática” não passa de uma marionete movida pelas cordas invisíveis do Criador.

O erro dos globalistas é imaginar-se demiurgos, quando não passam de instrumentos. Pensam que controlam a terra ao secar lavouras ou inundar plantações, mas na realidade cumprem decretos eternos já escritos. Como diz Provérbios 21.1, “o coração do rei está nas mãos do Senhor, como ribeiros de águas; Ele o inclina para onde quer.”

Logo, a conspiração climática, se existir, é apenas mais um capítulo da conspiração do homem contra Deus. Mas o ocasionalismo nos lembra: nada existe por acaso, e até as nuvens envenenadas pela arrogância humana estão sob a batuta divina. O agro pertence a Deus, a chuva pertence a Deus, o clima pertence a Deus. E toda tentativa de usurpação acaba servindo de palco para Ele mostrar que não divide a glória com ninguém.