A escuridão da caverna parecia engolir cada som, cada respiração, cada passo cauteloso do grupo. O ar estava pesado, úmido, carregado de mofo e de uma fragrância estranha, quase metálica, que lembrava ferro oxidado e magia corrompida. Gotejamentos ritmados de água caíam de estalactites irregulares, cada gota fazendo eco nos corredores tortuosos, e transformando a simples ação de caminhar em um exercício de paciência e atenção absoluta.
Jetto avançava à frente, parcialmente transformado, suas orelhas ligeiramente inclinadas, o nariz farfalhando com movimentos sutis. A forma lobisomem aumentava sua percepção, e seus olhos, que alternavam entre a escuridão e sombras translúcidas, refletiam a mínima presença de perigo. Ele inspirava profundamente, sentindo cada nuance do ar. “Sinto o cheiro deles,” sussurrou, a voz rouca e baixa, quase um growl, dirigindo-se aos outros sem se virar. “Servos da Dríade… ainda estão próximos, mas conseguimos evitá-los se seguirmos por esses túneis. Pelo cheiro, parecem patrulhar as áreas mais amplas perto da entrada.”
Ikarus assentiu, mantendo a mão na empunhadura da espada, a ponta levemente pressionada contra o chão. Cada passo era calculado, cada respiração controlada. “Então vamos pelo que Jetto indica. Sem barulho, sem toques desnecessários. Rickson nos deu essa chance — não vamos desperdiçá-la.”
Thomas Walker caminhava ao lado de Raella, a princesa ainda apoiada por Gillian, seu cajado de acácia levemente vibrando com sua magia residual, como se a energia dela própria tentasse curar e proteger simultaneamente. “O corredor se bifurca à frente,” murmurou Thomas, analisando as paredes cobertas de musgo e líquens luminescentes que lançavam uma luz pálida, quase espectral. “Se seguirmos o caminho à esquerda, parece mais estreito, mas pelo cheiro… parece menos patrulhado.”
Derek manteve-se ligeiramente atrás, arqueiro pronto, olhos perscrutando cada sombra, cada ondulação da parede úmida. “Fiquem atentos. Uma caverna assim guarda armadilhas naturais — buracos, desmoronamentos, ou algo pior. E não sabemos se a Dríade deixou mais do que patrulhas vivas.”
Jetto farejou o ar novamente, inclinando o corpo e seguindo o fluxo de correntes subterrâneas de vento, que pareciam soprar das profundezas, carregando odores de raízes podres, terra molhada e algo mais… algo que lembrava folhas queimadas e perfume de flores corrompidas. “Por aqui. Há um túnel menor que se conecta ao principal mais adiante. É apertado, mas vai nos manter fora de vista. Andem devagar. Cada passo em falso ecoa.”
Gillian ajustou o peso de Raella em seus braços, sentindo a tensão da princesa e o calor de seu próprio corpo como um escudo de proximidade. “Mantenham silêncio. Até mesmo o menor som pode ser ouvido daqui a metros. Respirem fundo, mas controladamente. E não façam movimentos bruscos.”
O grupo avançou, serpenteando pelo túnel estreito. As paredes rochosas pareciam se apertar ao redor deles, cobertas de musgo escorregadio e pequenas estalactites que ameaçavam tocar suas cabeças se não fossem cuidadosos. A cada curva, cada passagem estreita, o ar tornava-se mais pesado, saturado de umidade e do cheiro inconfundível da floresta acima, como se a caverna respirasse o mesmo ar da superfície, filtrado e distorcido.
“Silêncio… eles estão perto,” sussurrou Jetto, parando abruptamente. O grupo se encolheu contra a parede, corpos pressionados, ouvidos atentos a qualquer ruído. Um gotejamento distante se intensificou, seguido por um arranhar irregular — talvez de uma criatura menor, ou de um servo adormecido da Dríade. Nenhum deles se moveu. O tempo parecia esticar, cada segundo uma eternidade, até que Jetto finalmente relaxou os ombros. “Podemos continuar. Mas ainda não chegamos longe o suficiente. Mais à frente… a saída está longe da entrada, mas devemos manter o túnel estreito até lá.”
Ikarus avançou com passos silenciosos, a lâmina refletindo os flashes de luz que escapavam do musgo luminescente. Cada passo calculado, cada movimento planejado, mas o peso da responsabilidade era esmagador. “O corpo de Rickson… precisamos nos certificar de que ele não seja esquecido se algo acontecer. Devemos mover rápido, mas com cuidado. Não podemos errar.”
Raella, apoiada por Gillian, murmurou, ainda fraca mas determinada: “Sei que posso ajudar… posso lançar pequenas barreiras, feitiços de luz… mas não posso me sobrecarregar. Apenas… mantenham-me segura.”
Thomas assentiu. “Faremos isso. Ninguém será deixado para trás. Cada um de nós tem uma função — e cada passo que damos aqui é uma vitória silenciosa contra a Dríade.”
Eles continuaram, avançando lentamente, serpenteando pelo labirinto úmido e escuro da caverna, cada curva trazendo um novo desafio: raízes grossas atravessando o chão, pequenas fissuras que poderiam fazê-los tropeçar, sons indistintos de criaturas rastejando nas paredes. Mas Jetto guiava com precisão quase sobrenatural, alternando entre seu faro aguçado e instintos de lobisomem, alertando-os quando se aproximavam de perigos ou de zonas onde a presença da Dríade se fazia sentir.
O suspense pairava como uma neblina densa. Cada sombra parecia se mover, cada gotejamento parecia um aviso, e a mínima corrente de ar fazia o grupo parar, prender a respiração e escutar. Eles ainda não haviam saído da caverna, mas a confiança em Jetto, a liderança de Ikarus e a determinação de todos mantinham-nos avançando, passo a passo, serpenteando pelo labirinto de rochas, enquanto a Dríade os espreitava, invisível, lá fora, aguardando qualquer deslize.
O perigo era constante. A escuridão era sufocante. Mas, mesmo assim, havia uma faísca de esperança que queimava entre eles — a esperança de que, se seguissem cuidadosamente, poderiam emergir da caverna vivos, com Raella segura, com Rickson honrado, e com força suficiente para enfrentar o que os aguardava na floresta acima.
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