por Yuri Schein
Na manhã desta terça-feira, a França mergulhou em mais uma turbulência política: o governo do primeiro-ministro François Bayrou caiu após perder um voto de confiança no Parlamento, com 364 votos contra e 194 a favor. Isso significa, em termos simples, que o presidente Emmanuel Macron terá que indicar um novo premiê e tentar costurar uma base que está cada vez mais fragmentada.
A França, que gosta de se apresentar como o coração da democracia europeia, mostra mais uma vez que seu “coração” é frágil e hipertenso. Não é novidade: desde a Quinta República (1958), o país convive com ciclos constantes de instabilidade, alternando governos fracos, protestos massivos e uma eterna dificuldade de conciliar ideais grandiosos com realidades econômicas bem mais modestas.
O Contexto da Queda
François Bayrou assumiu como uma tentativa de Macron de “pacificar” o cenário, costurando alianças entre o centro e os setores mais moderados da política francesa. Mas a tentativa não durou. O Parlamento, dominado por forças cada vez mais polarizadas — de um lado, Marine Le Pen e sua direita nacionalista em ascensão; do outro, Jean-Luc Mélenchon e sua esquerda radical — não deu a mínima para o “meio-termo”. Resultado: Bayrou caiu antes de conseguir firmar qualquer autoridade real.
Enquanto isso, a economia francesa cambaleia com baixo crescimento, alto desemprego juvenil e uma população cansada de reformas prometidas e nunca cumpridas. As ruas já provaram ser mais barulhentas que as urnas, como nos protestos dos “coletes amarelos” e nas greves contra a reforma da previdência. A verdade é que nenhum governo recente conseguiu domar a insatisfação social.
A Ironia da “Cidade da Luz”
Paris gosta de carregar o título de “Cidade da Luz”. Ironia fina: a cada década, a luz política francesa pisca mais que poste mal conservado em bairro periférico. O Iluminismo francês prometeu substituir a fé pela razão e a monarquia por repúblicas “estáveis”. O resultado? Uma república que troca de governo como quem troca de lâmpada — e que nunca ilumina de fato.
Uma Pitada de Teologia
Aqui entra o ponto que não posso deixar passar: não existe neutralidade política. Como diz o Salmo 33, “O Senhor desfaz o conselho das nações”. O parlamento francês pode se reunir em pompa republicana, mas no final, se Deus quiser que um governo caia, ele cai. E talvez a melhor prova de que a soberania divina está em ação seja justamente a ironia histórica: uma nação que proclamou “liberdade, igualdade e fraternidade” sem Cristo experimenta cada vez mais divisão, desconfiança e caos.
O Futuro Próximo
Macron terá de indicar rapidamente um novo premiê. O problema? Nenhum nome agrada a todos, e qualquer tentativa de equilíbrio pode resultar em nova queda meses à frente. A França segue como peça central na União Europeia, mas sua fragilidade interna é um lembrete de que o velho continente não tem respostas sólidas para suas crises.
No fim, a “Cidade da Luz” continua apagando e reacendendo as lâmpadas do poder, sem perceber que o verdadeiro interruptor da história não está em Paris, mas no trono celestial.