quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Ad’Heim: O Corredor do Grito

 


por Yuri Schein 

O grupo permaneceu alguns instantes em silêncio, escutando o eco distante na caverna. Um som cortou a tranquilidade: um grito agudo de uma garotinha, vindo de algum ponto adiante. Ikarus franziu a testa e, sem hesitar, apontou para o corredor do meio:

“Devemos ir por ali. Alguém precisa ajudá-la!”

Thomas Walker ajustou os montantes, suas asas se abrindo levemente. “Se há uma criança em perigo, não podemos ignorar. Mas fiquem atentos — algo me diz que não será fácil.”

O grupo avançou pelo corredor iluminado por pequenos raios de luz que atravessavam frestas no teto. O chão estava coberto de pedras soltas, e inscrições antigas em algumas paredes indicavam que aquele lugar já fora usado por magos ou aventureiros há muito tempo.

De repente, uma armadilha secreta se ativou: do teto, jatos de chamas irromperam com força. Jetto tentou desviar, mas uma das labaredas atingiu sua perna, queimando parte de sua armadura improvisada e causando dor intensa e ferimentos profundos. Ele caiu no chão, ofegante, uivando de dor.

Raella correu até ele, apoiando suas mãos sobre a ferida. “Fique quieto, Jetto! Eu vou curar você!” Murmurando encantamentos e movendo o cajado com precisão, uma luz verde envolveu a perna de Jetto, aliviando a dor e fechando parcialmente as queimaduras.

Mal o último resquício da magia se dissipou, um grupo de carniçais e ghouls emergiu das sombras, avançando com presas afiadas e garras sedentas de sangue. Os mortos-vivos tinham olhos famintos e movimentos rápidos, cercando o grupo.

Ikarus gritou instruções: “Formem o círculo! Protetores na frente, Raella e Derek atrás!”

Gillian saltou à frente, empunhando suas lâminas com agilidade incrível. Cada corte era preciso, derrubando ghouls com um movimento fluido. Ela se movia entre os mortos-vivos como uma sombra mortal, suas lâminas prateadas refletindo a luz das chamas ainda acesas nas paredes.

Thomas Walker empunhou os dois montantes, girando-os em movimentos largos, esmagando crânios e repelindo criaturas maiores que tentavam cercar o grupo. A força combinada de Ikarus e Derek, com flechas certeiras e golpes de espada, mantinha a linha de frente, enquanto Raella se movia agilmente curando ferimentos e reforçando a resistência do grupo.

Jetto, mesmo ferido, aproveitou a forma de lobisomem para atacar com garras e mordidas, derrubando alguns carniçais que tentavam flanquear o grupo.

Após uma batalha intensa, marcada por gritos, estalos de ossos e faíscas de magia, o grupo conseguiu vencer. Os últimos ghouls caíram, deixando um silêncio pesado na caverna.

Mas a vitória teve seu preço. Todos estavam exaustos e machucados: queimaduras superficiais, cortes profundos e hematomas cobriam os corpos. Raella havia gasto quase toda sua energia para curar Jetto, e as poções restantes foram distribuídas para reforçar a resistência de cada um.

Enquanto se recompunham, Ikarus olhou para o grupo, respirando pesadamente:

“Isso… foi por pouco. Precisamos ser mais cautelosos daqui em diante. A caverna não está apenas infestada… ela está viva de alguma forma.”

Gillian apenas assentiu, limpando o sangue de uma de suas lâminas: “Se continuar assim, teremos que racionar nossas poções. Não podemos desperdiçar nada.”

Thomas Walker guardou os montantes e esticou suas asas, olhando para a frente: “Se houver mais gritos… não podemos hesitar. Mas precisamos nos mover antes que outros deles nos encontrem.”

Raella segurou o cajado com força, respirando fundo: “Eu estou pronta. Mas talvez… a capa esteja me dando mais poder do que posso controlar. Precisamos ficar atentos.”

O grupo retomou a exploração do corredor, mais cauteloso, mas consciente de que a caverna guardava perigos cada vez maiores. A trilha de sangue e o cheiro de queimado deixavam claro que cada passo adiante seria uma luta constante pela sobrevivência.

Ad’Heim: A Trifurcação da Luz

 


por Yuri Schein 

O grupo finalmente chegou a uma trifurcação na caverna, onde três corredores se separavam em ângulos diferentes. Ao contrário do ambiente úmido e sombrio que haviam atravessado até então, raios de sol filtravam-se pelos buracos naturais no teto da caverna, iluminando parcialmente a área. Havia até um leve cheiro de terra seca e musgo, sinal de que aquela região havia sido menos tocada pelos mortos-vivos.

Ikarus olhou ao redor, avaliando a segurança do local. “Parece que… podemos respirar um pouco. Vamos aproveitar essa luz natural e descansar antes de continuar.”

Raella assentiu, segurando a capa com cuidado. “É bom ver o sol… mesmo que por pouco tempo. Faz tempo que não sentimos algo assim desde que entramos na floresta.”

O grupo se acomodou em um espaço relativamente plano. Poções foram distribuídas e consumidas, ferimentos tratados e energias restauradas. Thomas Walker ajustou suas asas e os montantes, relaxando levemente. Derek limpava e examinava suas flechas, enquanto Jetto permanecia alerta, farejando o ambiente mesmo em repouso.

Enquanto todos se acomodavam, Ikarus sentou-se próximo a Raella, observando a luz tocar o rosto dela. “Sabe… depois do que aconteceu com a bola de fogo, pensei que… você é muito mais poderosa do que imaginei. Mas também… você é corajosa, e isso é raro.”

Raella sorriu, levemente corada. “Obrigada, Ikarus. Mas… não quero que pense que sou fraca só por ser princesa. Eu posso lutar, mesmo com magia branca… e aparentemente… com magia negra involuntária também.”

Ikarus riu baixinho. “Bem… depois daquela explosão na floresta, isso nem passou pela minha cabeça.”

Os dois se olharam, um silêncio confortável pairando entre eles, quebrado apenas pelo som de passos leves de Jetto inspecionando a caverna e o leve farfalhar das asas de Thomas Walker.

Gillian, sentada próxima, percebeu o pequeno momento de aproximação e cruzou os braços, franzindo levemente o cenho. Ela murmurou: “Hmph… sempre a princesa atraindo atenção…”

Thomas Walker, percebendo o desconforto de Gillian, se aproximou, apoiando uma das mãos no ombro dela e disse com um sorriso leve: “Não fique assim, Gillian. Nos reinos de Lenória, é comum que homens nobres se casem com mais de uma mulher… não é algo estranho.”

Gillian corou instantaneamente, desviando o olhar e murmurando algo entre dentes, claramente sem saber se se sentia aliviada ou irritada. Thomas riu baixinho e voltou a ajustar suas armas, satisfeita com o efeito da observação.

Raella, ainda sentada próxima de Ikarus, olhou para ele e disse suavemente: “Obrigada por confiar em mim… mesmo depois do que aconteceu com a bola de fogo.”

Ikarus colocou a mão sobre a dela, um gesto simples, mas cheio de significados: “Sempre, Raella. Somos um grupo… e você faz parte dele.”

O restante do grupo observava a interação discretamente. Jetto farejava a entrada de um dos corredores, Thomas Walker repousava as asas e Derek guardava suas flechas, mantendo-se vigilante, mas aproveitando o momento de paz que, sabiam, seria passageiro.

O sol continuava a penetrar a caverna, banhando-os em uma luz inesperada e calorosa. Por algumas horas, o grupo conseguiu dormir e recuperar forças, mantendo uma guarda de revezamento. Cada um sabia que a noite traria perigos inimagináveis, mas por enquanto, a caverna parecia ter lhes concedido uma trégua.

Enquanto o descanso os envolvia, a trifurcação iluminada parecia quase mágica, um pequeno alívio no meio de um inferno de mortos-vivos.

Ad’Heim: O Sacrifício do Beholder

 


por Yuri Schein 

O grupo avançava lentamente pelo corredor estreito da caverna, ainda processando a estranheza da capa de Raella e o recente aparecimento do Beholder. As tochas iluminavam paredes cobertas de musgo, enquanto o eco de passos arrastados e gemidos ecoava por entre as pedras antigas.

De repente, das sombras mais profundas da caverna, um rugido coletivo soou. Uma nova horda de mortos-vivos surgiu, maior e mais diversa que a anterior: zumbis arrastando corpos deformados, esqueletos empunhando armas antigas, ghouls de aparência monstruosa com dentes afiados e braços alongados, e criaturas cujos olhos vazios refletiam um ódio antigo. O grupo se viu cercado, encurralado contra as paredes úmidas e frias.

“Não há como passar por aqui!” exclamou Derek, apontando a flecha para o mar de inimigos. “Se continuarmos, seremos esmagados!”

Thomas Walker bateu os montantes no chão, agitando suas asas em posição de ataque. “Precisamos de uma distração!”

Ikarus olhou em volta, analisando a situação. A única rota de fuga visível era um estreito corredor lateral à direita, parcialmente escondido por pedras e detritos. Mas atravessá-lo exigiria que o grupo resistisse ao ataque inicial da horda.

Raella, respirando fundo, tomou uma decisão drástica:

“Eu… vou usar o Beholder! Ele pode nos abrir caminho!”

O grupo olhou para ela, surpreso. Ikarus franziu o cenho: “Está certa disso? Ele pode ser instável!”

“Não temos escolha,” respondeu Raella com firmeza. “Confio que ele entenderá… ou morrerá tentando.”

Ela ergueu a mão, e uma luz azulada formou-se diante dela, evocando novamente o Beholder que antes havia desaparecido. Seus olhos flutuavam e, sem precisar de comando consciente, ele avançou para o meio da horda de mortos-vivos. Raios mágicos, feixes de energia e explosões de luz surgiam de seus olhos, atingindo zumbis, esqueletos e ghouls com precisão devastadora.

O grupo aproveitou a distração. Raella e Jetto lideraram a retirada pelo corredor estreito, enquanto Ikarus, Derek e Thomas protegiam a retaguarda, mantendo a horda contida o máximo que podiam.

Apesar do poder do Beholder, o inimigo era numeroso. A criatura mágica foi lentamente cercada, atacada por vários zumbis e ghouls ao mesmo tempo. Raios e magias voaram pelo ar, criando um espetáculo caótico de luz e sombra.

Finalmente, o Beholder foi destruído, explodindo em uma onda de energia que dissipou os últimos inimigos próximos e abriu o caminho final para o grupo. Raella, ofegante, observou o sacrifício da criatura, ciente de que aquele ato involuntário da capa lhes havia salvado a vida.

“Ele… fez isso por nós,” murmurou Gillian, impressionada com o poder e a determinação da magia envolvida.

Ikarus respirou fundo, apoiando-se contra a parede. “Bem… pelo menos estamos vivos. E a capa de Raella… definitivamente guarda segredos que ainda precisamos entender.”

O grupo atravessou o corredor estreito, reunindo forças, tratando ferimentos e refletindo sobre o preço do poder. O sacrifício do Beholder não seria esquecido, e agora eles estavam mais conscientes de que a caverna ainda guardava perigos muito maiores do que poderiam imaginar.

Ad’Heim: A Caverna dos Mortos-Vivos – O Despertar da Capa Mágica

 


por Yuri Schein 

O grupo avançou pela caverna, mantendo-se alerta após a última batalha. O local era úmido, com o eco de gotas d’água batendo nas pedras antigas, paredes cobertas por musgo e teias secas. No chão, pequenas poças refletiam a luz das tochas, enquanto pinturas antigas mostravam guerreiros e rituais esquecidos. Entre os destroços, encontraram algumas moedas de prata e cobre, uma espada enferrujada com uma esmeralda cravada na ponta e uma capa com capuz, evidentemente feita para um mago.

Raella, curiosa, vestiu a capa. Instantaneamente, sentiu-se mais ágil, mais alerta e com uma sensação de poder correndo pelo corpo. “Não sei o que esta capa faz, mas… sinto-me incrivelmente diferente”, disse, admirando o tecido que parecia brilhar levemente à luz da caverna.

Enquanto exploravam mais a sala, Jetto encontrou uma alavanca escondida atrás de uma pedra. Ao puxá-la, um estrondo ecoou pela caverna: uma porta secreta se abriu e dele surgiram diversos zumbis e esqueletos, avançando com braços rígidos e olhos vazios. O grupo rapidamente se afastou, preparando-se para a batalha.

Raella foi a primeira a reagir, canalizando sua magia. Com mãos firmes, conjurou raios de energia branca que curavam pequenos ferimentos do grupo ao mesmo tempo em que queimavam os inimigos mais fracos. Mas, quando tentou concentrar uma magia maior, a capa reagiu sozinha, e uma terrível esfera de energia surgiu, evocando um Beholder, cujos olhos flutuavam ameaçadoramente acima do grupo, estudando cada movimento.

O grupo congelou por um instante, surpreso e pronto para atacar. Derek apontou sua flecha, Thomas ajustou seu montante duplo, e Ikarus levantou a espada, prestes a atacar. Mas Raella levantou a mão, apressada:

“Esperem! Isso… não fui eu! Acho que a capa tem algum efeito próprio, algo involuntário!”

Gillian franziu o cenho, mas respirou fundo e deixou o grupo hesitar por um momento. O Beholder, ainda pairando, não atacava diretamente, como se estivesse aguardando ou observando.

A batalha contra os zumbis e esqueletos, entretanto, continuou feroz. Raella se destacou, curando ferimentos críticos e usando a magia de ataque para dispersar grupos de inimigos. Thomas Walker aproveitou os momentos de distração, golpeando com precisão e usando suas asas para ganhar vantagem aérea. Derek, finalmente, brilhou ao mirar e derrubar inimigos chave que ameaçavam cercar o grupo.

Após eliminar a última onda de mortos-vivos, todos se viraram para o Beholder, preparados para um ataque decisivo. Raella ergueu a mão novamente:

“Não precisamos matá-lo! Eu não o convoquei conscientemente… a capa provavelmente liberou essa magia por instinto, algo ligado ao poder antigo do lugar.”

O grupo se entreolhou, impressionado e cauteloso. A criatura, aparentemente inofensiva por enquanto, flutuava acima deles, seus olhos os observando curiosamente antes de desaparecer lentamente em uma fenda no teto da caverna, como se aceitando o aviso de Raella.

“Essa capa… definitivamente não é algo comum,” comentou Ikarus, observando a jovem maga com um novo respeito.

Raella respirou fundo, ainda sentindo o poder correndo pelo corpo, enquanto o grupo se recompunha, limpando suas armas e analisando os novos tesouros encontrados. A espada enferrujada e a capa, agora mais misteriosa do que nunca, prometiam ter um papel crucial nas aventuras futuras.

O grupo avançou com mais cuidado, ciente de que a caverna ainda guardava perigos inesperados — e que Raella agora carregava um poder que eles ainda precisavam entender completamente.


Ad’Heim: A Caverna dos Mortos-Vivos: Descobertas e Armadilhas

 


Por Yuri Schein 

O grupo avançava com cautela pelo corredor estreito da caverna, a iluminação das tochas refletindo nas paredes úmidas e irregulares. O cheiro de mofo e terra molhada era constante, misturado a um odor mais intenso de decomposição nas áreas mais antigas. A caverna parecia antiga, com vestígios de vida inteligente que remontavam a séculos atrás: nas paredes, pinturas gastas mostravam cenas de rituais, batalhas e criaturas místicas, algumas parecendo figuras humanas lutando contra mortos-vivos e monstros desconhecidos.

Enquanto caminhavam, Derek notou moedas espalhadas pelo chão. Havia pequenas pilhas de prata e cobre, cobertas de pó e ferrugem, provavelmente esquecidas por antigos aventureiros ou habitantes da caverna. Thomas, curioso, encontrou uma espada enferrujada encostada em uma parede, mas algo chamava atenção: na ponta da lâmina, incrustada, havia uma pequena esmeralda que ainda brilhava com uma luz fraca, quase mágica.

“Essa espada… não está totalmente perdida,” murmurou Thomas, retirando cuidadosamente a arma da parede. “Mesmo enferrujada, parece ter algum valor… ou poder.”

Não muito longe, Raella encontrou uma capa com capuz, levemente empoeirada, que parecia feita sob medida para um mago. Ela a ergueu e a vestiu. Instantaneamente, sentiu um calor reconfortante percorrer seu corpo, como se a capa fortalecesse sua energia vital. Seus olhos castanhos brilharam de surpresa, e um leve sorriso se formou em seu rosto.

“Isso… isso me faz sentir mais leve… mais forte,” disse Raella, girando o capuz sobre a cabeça. O grupo trocou olhares cautelosos, intrigado, mas consciente de que desconheciam a origem ou os poderes reais do objeto.

Continuando a exploração, eles se depararam com uma grande pedra que parecia deslocada do resto da parede. Thomas se aproximou e notou uma alavanca escondida atrás dela. Com esforço, puxou a alavanca, que rangiu alto, ecoando pelo corredor. Para surpresa do grupo, uma porta secreta lateral se abriu, revelando uma escuridão ainda mais profunda e um cheiro mais forte de podridão.

Mal tiveram tempo de reagir, quando uma horda de mortos-vivos surgiu da porta: zumbis com roupas rasgadas, esqueletos empunhando armas corroídas e criaturas que pareciam um híbrido de humano e fera. Todos recuaram, formando uma linha defensiva. Thomas posicionou-se à frente, brandindo seus montantes, enquanto Gillian e Derek se preparavam para atacar à distância, e Raella concentrava sua energia de cura, agora consciente de que a capa poderia ajudá-la.

“Preparar-se! Esta vai ser uma batalha difícil,” gritou Ikarus, assumindo novamente seu papel de líder. “Não podemos subestimar o que encontramos aqui!”

O grupo se afastou da porta secreta, cercando-se estrategicamente, iluminando a área com tochas e magia, enquanto os mortos-vivos avançavam, com sons de ossos rangendo e gemidos ecoando pelo corredor. A batalha estava prestes a começar, e cada membro do grupo sabia que precisaria usar toda sua habilidade, coragem e inteligência para sobreviver às profundezas da caverna.

Ad’Heim: O Beholder da Caverna Sombria

 


por Yuri Schein 

O grupo avançava cautelosamente, ainda sentindo o efeito da batalha anterior. As moedas e poções recém-descobertas foram guardadas, e o silêncio da caverna era perturbador. Cada passo ecoava pelo corredor de pedra, amplificando o suspense.

De repente, uma luz verde e pulsante surgiu de uma grande câmara à frente. Raios de energia mágica começaram a percorrer o ar, e um rugido estrondoso reverberou pelas paredes. Da escuridão, uma criatura que parecia ter saído de pesadelos se materializou: um Beholder¹. Seus múltiplos olhos flutuantes se moviam independentemente, cada um irradiando um feitiço diferente.

— Todos para posição! — gritou Ikarus, empunhando a espada. — Cuidado com os olhos, eles não brincam!

Thomas Walker abriu suas asas, assumindo a linha de frente, girando seus montantes com precisão para atacar os servos menores que surgiam junto do Beholder. Rickson desferia golpes cirúrgicos contra os monstros menores, protegendo Raella e Gillian. Jetto avançava com suas garras de lobisomem, esquivando-se das rajadas mágicas que o Beholder disparava de seus olhos flutuantes.

A batalha parecia equilibrada, mas o Beholder começou a concentrar energia em seu olho central, emitindo um raio devastador que ameaçava pulverizar tudo à frente. O grupo recuou, tentando se proteger atrás de pilares de pedra e túneis estreitos.

— Se esse raio acertar, estamos mortos! — gritou Gillian, conjurando barreiras defensivas.

Foi então que Derek encontrou sua oportunidade. Ele percebeu um padrão: sempre que o Beholder preparava o raio, seus olhos laterais piscavam, quase como se revelassem seu ponto cego. Com precisão quase sobre-humana, Derek ergueu seu arco, ajustou a mira e disparou uma flecha encantada que ricocheteou na parede, atingindo exatamente o olho central.

O impacto provocou uma reação em cadeia: o Beholder soltou um grito horrível, cambaleou, e seus olhos menores se fecharam temporariamente. Derek, sem perder tempo, disparou uma segunda e terceira flecha, atingindo os olhos flutuantes restantes, enquanto Thomas e Rickson avançavam para ataques finais com os montantes e espada.

Com um rugido final, o Beholder colapsou, se desintegrando em uma nuvem de energia mágica que rapidamente se dissipou nas paredes da caverna. O silêncio caiu novamente, apenas quebrado pela respiração ofegante do grupo.

— Incrível… — disse Thomas, impressionado. — Nunca vi alguém dominar assim um Beholder.

Ikarus riu, aliviado, e deu um tapinha nas costas de Derek:

— Parece que você é nosso arqueiro de elite agora, hein? Excelente trabalho!

Derek, ainda ofegante, sentiu uma onda de orgulho. Pela primeira vez, ele realmente havia mostrado seu valor em uma batalha crítica, provando que, mesmo humano e sem grupo antes, podia brilhar ao lado de guerreiros lendários e criaturas poderosas.

— Só… só precisamos continuar com cuidado — disse Rickson, limpando a lâmina. — Não sabemos quantas dessas criaturas ainda podem estar escondidas mais adiante.

Raella aproximou-se, seu cajado brilhando levemente.

— Precisamos manter nossos olhos abertos. Se a caverna já tem magia suficiente para invocar um Beholder, o que mais pode estar à espreita?

O grupo respirou fundo, recuperando o fôlego e organizando-se novamente, conscientes de que, apesar da vitória, a caverna ainda guardava perigos maiores. Mas naquele momento, Derek finalmente sentiu que pertencia a algo maior, e que seu arco poderia decidir o destino do grupo nas próximas batalhas.


¹Nota de Rodapé – Beholder

O Beholder é uma criatura icônica da fantasia moderna, especialmente associada a jogos de RPG e literatura de fantasia. Sua origem remonta principalmente ao universo de Dungeons & Dragons (D&D), criado por Gary Gygax e Dave Arneson em 1974, onde foi introduzido como um dos monstros mais perigosos e emblemáticos. A característica mais marcante de um Beholder é seu corpo esférico, geralmente descrito como uma grande esfera flutuante com um único olho central gigantesco e múltiplos olhos menores em tentáculos orbitando a cabeça. Cada um desses olhos laterais possui um poder mágico distinto, permitindo ataques variados como petrificação, envenenamento, desintegração ou confusão mental, enquanto o olho central é geralmente capaz de disparar um raio destrutivo de energia mágica concentrada.

Na literatura de RPG e suas adaptações, os Beholders são frequentemente descritos como extremamente inteligentes, paranóicos e territoriais, tornando-os adversários formidáveis não apenas fisicamente, mas também estrategicamente. Segundo Ed Greenwood, criador do Forgotten Realms, os Beholders são originários de planos paralelos, existindo em regiões instáveis da realidade e manipulando magia de forma natural, o que reforça sua aura de perigo quase mítico. Textos mais antigos de D&D (como Monster Manual, 1977 e edições subsequentes) descrevem Beholders como criaturas agressivas, raramente podendo ser domadas, e com uma cultura própria centrada em dominação territorial e medo.

Autores de literatura fantástica posterior, como R.A. Salvatore em obras ambientadas nos Reinos Esquecidos, expandiram o conceito do Beholder, enfatizando sua psicologia complexa: cada olho representando uma forma de percepção ou intenção independente, tornando o combate com a criatura altamente imprevisível. No RPG moderno, eles são considerados desafios de alto nível (high-level encounter) devido à multiplicidade de ataques simultâneos, resistência mágica e capacidade de voar, tornando-os inimigos que exigem planejamento, cooperação e habilidades diversificadas do grupo de aventureiros.

Além disso, o Beholder serviu de inspiração para criaturas em outras mídias de fantasia, incluindo videogames, romances e quadrinhos, mantendo sempre o arquétipo de adversário que combina inteligência, poder mágico e visual aterrorizante. É importante notar que, apesar da representação fantástica, a lógica de suas habilidades — múltiplos ataques mágicos simultâneos, manipulação de gravidade ou petrificação — está mais alinhada à mecânica de jogos e narrativa épica do que a qualquer tentativa de base científica, o que reforça seu caráter de ícone da fantasia imaginativa.

Fontes de referência:

Dungeons & Dragons Monster Manual, TSR, 1977 e edições subsequentes.

Greenwood, Ed. Forgotten Realms Campaign Setting, TSR, 1987.

Salvatore, R.A. The Crystal Shard, TSR, 1988.

Mearls, Mike; Crawford, Jeremy. D&D 5e Monster Manual, Wizards of the Coast, 2014.

Ad’Heim: O Resplendor de Thomas Walker

 


por Yuri Schein 

O grupo avançava cautelosamente pela caverna, o eco dos passos misturando-se ao gotejar constante da água que escorria pelas paredes úmidas. Entre corredores tortuosos, Derek tropeçou em algo metálico, chamando a atenção dos demais.

— Olhem isso — disse Rickson, iluminando o chão com sua tocha. — Moedas de ouro… e poções! Parece que alguém deixou provisões aqui, talvez para quem conseguisse atravessar essas armadilhas.

Thomas Walker se aproximou, os olhos amarelados refletindo a luz, analisando o pequeno tesouro com interesse.

— Não devemos desperdiçar isso — falou, guardando algumas moedas e analisando as poções. — Elas podem ser úteis mais tarde.

O grupo ainda se recuperava do susto anterior quando um som sinistro ecoou pelo corredor: ossos se arrastando e estalos secos que prenunciavam a morte. Uma horda de esqueletos surgiu das sombras, armas enferrujadas em mãos ossudas. Ao mesmo tempo, das profundezas de um poço escuro, uma aranha gigantesca, do tamanho de um cavalo, desceu rapidamente, suas patas terminando em garras afiadas que arranhavam o chão de pedra.

— Formação defensiva! — gritou Ikarus, empunhando sua espada. — Cuidado com a aranha!

Derek disparou flechas certeiras, atingindo alguns esqueletos, enquanto Rickson desferia golpes precisos com sua espada de escamas de dragão. Jetto saltava, usando suas garras de lobisomem para rasgar os ossos dos inimigos. Gillian conjurava feitiços defensivos e curativos, protegendo os companheiros de ferimentos graves.

A aranha gigante avançava com incrível velocidade, desviando de ataques e atacando com suas presas envenenadas. Thomas Walker respirou fundo, batendo seus montantes nas mãos e girando-os com destreza. Suas asas se abriram, aumentando seu alcance, e ele saltou no ar, girando violentamente.

— Eu cuido disso! — gritou Thomas, a voz firme, enquanto ambos os montantes cortavam o ar com precisão mortal.

Em um movimento rápido e sincronizado, ele atacou o corpo da aranha, perfurando seu exoesqueleto com golpes estratégicos. Com um último giro, Thomas cravou os montantes no tórax da criatura, que estremeceu violentamente antes de desmoronar no chão, transformando-se numa fumaça brilhante que se condensou em forma humana: uma sedutora elfa negra, de longos cabelos negros e olhos verdes hipnotizantes.

— Não… — sussurrou Derek, os olhos fixos nela. — Ela… ela é…

Um feitiço mágico havia sido liberado da transformação da aranha: um encanto poderoso que começou a afetar os homens do grupo, tornando-os momentaneamente incapazes de resistir à sedução da elfa. Ikarus e Derek sentiram uma estranha atração, quase paralisante, enquanto Rickson hesitava em se aproximar.

— Cuidado! — gritou Gillian, reconhecendo o perigo. — É um feitiço de sedução!

Ela ergueu as mãos e lançou um feitiço de dissipação, quebrando o encantamento sobre os companheiros. A elfa negra caiu inconsciente no chão da caverna, respirando pesadamente. Thomas Walker observou com os punhos cerrados, ainda alerta, enquanto a luz das tochas refletia em suas asas abertas.

— É… melhor assim — disse Thomas, guardando os montantes. — Não podemos subestimar nada aqui.

Rickson abaixou a espada, suspirando aliviado.

— Essa caverna… não é apenas cheia de mortos-vivos. É viva, cheia de magia antiga e armadilhas que testam não só nossas habilidades, mas também nossas mentes.

Ikarus assentiu, olhando para o grupo.

— Precisamos seguir adiante, mas fiquem atentos. Se encontrarmos mais dessas armadilhas ou criaturas… Thomas, Gillian, mantenham-se na frente. O restante de nós cobre a retaguarda.

Jetto, com as orelhas levemente eriçadas e a cauda roçando o chão, murmurou:

— Esta maldição de lobisomem ainda me dá vantagem em combate, mas não posso subestimar a magia negra que encontrei aqui.

Raella, ainda segurando seu cajado, aproximou-se. A elfa negra inconsciente no chão era prova viva de que a magia do mal e do feitiço podia vir de formas inesperadas.

— Se a Dríade não entra, estas criaturas e feitiços podem ser os remanescentes de antigos habitantes da caverna — disse Raella. — E se estão aqui, é por algum motivo. Talvez estejam protegendo algo maior.

Com cuidado renovado, o grupo avançou mais profundamente na caverna, iluminando o caminho com tochas e mantendo os sentidos alerta para armadilhas, feitiços e criaturas que ainda aguardavam no escuro. Thomas Walker, com suas asas recolhidas e montantes em mãos, agora brilhava não apenas pela força, mas pelo equilíbrio entre coragem e estratégia, mostrando ao grupo que, apesar do estigma, seu valor era inquestionável.

Ad’Heim: Ecos da Caverna Proibida

 


por Yuri Schein 

O grupo avançava com cuidado pela caverna dos mortos-vivos, cada passo ecoando pelas paredes úmidas e musgosas. A escuridão parecia viva, e a luz das tochas apenas delineava sombras que se moviam à beira da percepção. O chão irregular, coberto por pequenas pedras e raízes expostas, lembrava a todos que qualquer passo em falso poderia ser fatal. O silêncio era absoluto, exceto pelos gotejamentos irregulares das estalactites, que soavam como ecos de antigos lamentos.

— Fiquem atentos — murmurou Ikarus, segurando firme sua espada, enquanto seu olhar percorria cada canto da caverna. — Este lugar não está vazio.

Thomas Walker, com suas asas recolhidas contra as costas e os chifres refletindo a luz das tochas, examinava atentamente o chão e as paredes, batendo com cuidado seus montantes.

— Olhem estas marcas — disse ele, inclinando-se para analisar pequenas depressões no chão. — Parece que há mecanismos antigos escondidos. Armadilhas.

Rickson, sempre atento, avançou com cuidado, examinando cada detalhe. Derek tentava acompanhá-lo, os dedos firmes no arco, mas mesmo com sua precisão, não percebeu uma pressão sutil no chão: uma lâmina de ferro disparou, atingindo seu ombro e arrancando um gemido de dor. A lâmina girou de volta com um clique ameaçador, mas não repetiu o ataque.

— Derek! — exclamou Gillian, correndo até ele. Sua pele morena reluzia à luz das tochas, e os olhos castanhos mostravam preocupação genuína. — Aguente firme!

Raella ergueu o cajado, concentrando sua magia. A pedra preciosa na ponta brilhou intensamente, emanando uma luz dourada que se espalhou pelo ferimento. Uma sensação quente e reconfortante percorreu o corpo de Derek, e a dor diminuiu até desaparecer quase por completo.


— Obrigado… — disse Derek, respirando fundo, aliviado, enquanto tocava o ombro curado. — Essa foi por pouco.

Ikarus aproveitou a pausa para falar com o grupo, quebrando um pouco da tensão:

— Isso mostra que não estamos lidando com simples monstros. Quem quer que tenha construído essa caverna era inteligente, poderoso e meticuloso.

Thomas assentiu, batendo levemente seus montantes.

— Não apenas inteligente. Mortais comuns não deixariam armadilhas que ainda funcionam depois de tantos anos. Isso foi feito para proteger algo — ou alguém.

Jetto, com os pelos eriçados e o olhar atento de lobisomem, aproximou-se.

— Eu sei do que se trata — disse, a voz rouca pelo tempo em que esteve preso à licantropia. — Antes de me tornar um lobisomem, eu vivia com a Dríade que governa esta floresta. Ela sequestrava seres racionais — humanos, elfos, e até dragões — para serem seus noivos. Eu quase fui capturado, mas consegui escapar, transformado nesta maldição que carrego até hoje.

O grupo trocou olhares apreensivos. A Dríade, apesar de não entrar na caverna, ainda deixava rastros de sua influência.

— E ela não entra nesta caverna — continuou Jetto. — Ela a considera sagrada ou amaldiçoada. Mas este lugar já foi lar de seres inteligentes, maridos e esposos da Dríade. Um deles viajou para o norte da floresta e se tornou um vampiro. Desde então, a Dríade intensificou seus sequestros, sempre visando seres racionais, deixando monstros e mortos-vivos fora de sua jurisdição.

— Então, se a Dríade não entra aqui, essas armadilhas e criaturas… — murmurou Gillian, observando as paredes cobertas de musgo e fungos que lançavam uma luz verde esbranquiçada. — …provavelmente foram deixadas para proteger algo que ela considerava valioso. Um tesouro ou… seres vivos.

Rickson franziu a testa:

— E se ainda houver algo vivo aqui? Algo que não seja controlado nem morto-vivo? Talvez alguém buscando proteção ou vingança?

Raella, ainda segurando seu cajado, acrescentou:

— Ou talvez guardando segredos antigos. E se houver magia adormecida ou espíritos que não querem ser perturbados…

— De qualquer forma — disse Ikarus, assumindo a postura de líder — precisamos avançar com cautela. Derek, Thomas, fiquem atentos às armadilhas. Raella, cuide de qualquer ferimento imediatamente. Jetto, seus instintos serão cruciais aqui.

— Entendido — respondeu Jetto, olhando para os corredores sombrios da caverna. — A Dríade não entrará, mas suas sentinelas podem estar à espreita, e ainda temos que lidar com os mortos-vivos e qualquer outro guardião que tenha sido deixado para trás.

O grupo avançou com passos silenciosos, cada movimento calculado. As tochas lançavam sombras gigantes que se contorciam nas paredes, e o cheiro úmido da caverna misturava-se com o aroma de musgo e ferro antigo. Cada corredor parecia mais estreito, mais perigoso, e as bifurcações aumentavam a sensação de que a caverna guardava segredos muito além da compreensão de meros mortais.

Enquanto avançavam, o grupo refletia sobre o que Jetto dissera. Seres inteligentes haviam habitado ali. Talvez há anos, talvez até séculos. A Dríade e seus maridos transformados em vampiros tinham uma história por trás dessa caverna, e tudo indicava que eles agora seriam testados — pelas armadilhas, pelos mortos-vivos e pelo próprio eco do passado inteligente que permanecia preso naquele lugar sombrio.

Ad'Heim: O Lobismem na Caverna

 

O grupo se reuniu em um pequeno alçapão da caverna, onde a luz das tochas refletia nas paredes úmidas, criando sombras que dançavam pelo chão irregular. O cheiro de mofo e pedra molhada era constante, lembrando a todos que não havia volta fácil. Antes de seguirem mais fundo, decidiram conversar e se apresentar melhor, criando laços que poderiam ser essenciais nos perigos que os aguardavam.

Ikarus, como líder, começou:

— Precisamos estar preparados para tudo. Cada passo que damos aqui pode ser decisivo. Mas antes de avançarmos, vamos nos conhecer melhor. Isso ajuda a confiar uns nos outros.

Thomas ajustou suas asas e segurou firmemente os dois montantes. Mas ainda havia uma pessoa que não se apresentou na noite passada, todos se voltaram para um homem robusto, de feições fortes, pelos parcialmente cobertos por pêlos, olhos com um brilho âmbar estranho e dentes um pouco alongados. Jetto respirava fundo, observando cada rosto antes de falar:

— Eu sou Jetto. Antes era mercenário, humano. Agora... um lobisomem. — Ele fez uma pausa, olhando para Thomas e Derek. — Não escolhi essa maldição, mas sei que ela me deixa vulnerável sozinho. Por isso decidi acompanhar vocês. Enquanto estiver com a licantropia, é mais seguro ficar em grupo. Não sei se existe cura para isso, mas se houver, vou encontrá-la. Até lá, posso contribuir com minhas habilidades de combate e rastreamento.

O silêncio que se seguiu não era de estranheza, mas de respeito. Todos entenderam que, apesar da diferença de cada um, ali dentro da caverna precisariam confiar plenamente uns nos outros.

Ikarus assentiu, quebrando a tensão:

— Então está decidido. Todos juntos. Cada um de nós tem algo que o outro precisa. Jetto, sua experiência e instinto podem ser cruciais. Vamos avançar com cuidado.

Thomas deu um leve sorriso, ajustando seus montantes:

— Que comecem os desafios. Estou pronto para enfrentar o que vier.

Rickson, olhando para a escuridão adiante, completou:

— E que nenhum morto-vivo subestime o que um grupo unido pode fazer.

Com isso, o grupo avançou para o corredor mais profundo da caverna, as tochas lançando luz vacilante sobre as paredes cobertas de musgo. O som de passos arrastados e sussurros distantes ecoava pelo túnel, lembrando a todos que os mortos-vivos estavam mais próximos do que imaginavam. Jetto manteve-se atento, suas orelhas e sentidos lupinos captando qualquer movimento anormal, enquanto os demais se posicionavam estrategicamente para o que estava por vir.

Ad'Heim: A Princesa fugitiva

 


Por Yuri Schein 

Raella respirou fundo e ergueu o olhar para o grupo, a luz azulada dos cristais refletindo em seus cabelos castanhos e em seus olhos do mesmo tom. Sua pele clara contrastava com o robe branco de maga que vestia, e o cajado de madeira com uma pedra preciosa na ponta descansava levemente em sua mão.

— Eu… sou Raella — começou, com uma voz firme, mas cheia de serenidade. — Sei que muitos de vocês devem pensar que sou apenas a princesa de Lenória, alguém que deve ser protegida. Mas não quero que pensem isso de mim. Sei me cuidar, sei me defender, e posso ajudar de forma ativa nesta missão. Minha especialidade é a magia de cura, mas… há algo mais que poucos conhecem. — Ela fez uma pausa, os olhos brilhando com determinação. — Posso… manipular energias que não são apenas de cura. É incomum, e exige cuidado, mas posso lutar ao lado de vocês se for necessário.

Ela fez um gesto com o cajado, e uma leve aura cintilante envolveu a ponta, como se fosse a prova de seu poder latente.

— Decidi me juntar a vocês porque acredito que todos nós temos um papel nesta missão. E, por mais que eu seja princesa, não quero que ninguém sinta que precisa me carregar. Estou aqui para lutar e proteger tanto quanto qualquer um de vocês.

O silêncio tomou conta da sala por alguns segundos, apenas quebrado pelo crepitar da pequena fogueira improvisada. A determinação nos olhos de Raella fez com que Ikarus esboçasse um sorriso discreto, sabendo que aquela garota, apesar de nobre, tinha coragem suficiente para enfrentar qualquer perigo junto com eles.

Ikarus não pôde deixar de soltar uma risada baixa, olhando para Raella com um brilho divertido nos olhos.

— Sabe, Raella — começou, enquanto ajeitava sua espada nas costas — depois da sua… digamos, “explosiva” demonstração de magia na floresta, eu nem pensei que você poderia ser fraca. Aquela bola de fogo que você lançou? Foi… impressionante. Quem diria que a princesa de Lenória tinha um lado tão… devastador?

O grupo inteiro caiu na risada, lembrando-se da clareira que havia ficado queimada após o ataque aos centauros e faunos. Até Jetto soltou um rugido que misturava riso e apreciação, abanando a cauda.

Raella corou levemente, segurando o cajado com firmeza, mas não conseguiu conter um sorriso tímido.

— Ok, ok — disse ela, rindo junto com eles — Acho que subestimei minha própria força. Mas prometo que vou usá-la com cuidado. Só não quero que fiquem assustados comigo!

— Medo? — retrucou Gillian, entre risadas — Depois daquilo, nem passou pela minha cabeça. Você simplesmente detonou todo o nosso caminho!

Todos riram novamente, e por alguns instantes, a tensão da caverna diminuiu, dando espaço a um momento de leveza. Raella finalmente se sentiu parte do grupo, não apenas como princesa, mas como companheira de batalha, pronta para enfrentar os perigos que ainda os aguardavam nas profundezas da caverna.



Ad'Heim: Meio-Dragao & Caverna

 


O silêncio que se seguiu à fala de Gillian foi quebrado por um bater de asas metálicas e o som profundo de chifres ecoando na sala. Todos olharam para a entrada, e ali estava Thomas Walker, meio-dragão, sua presença impondo respeito imediato. As escamas levemente iridescentes de seus braços e ombros refletiam a luz da fogueira, e suas asas dobradas atrás das costas se agitavam levemente, como se sentissem a tensão do grupo. Seus olhos âmbar observavam cada detalhe com precisão felina, enquanto ele caminhava até a fogueira, cada passo firme e controlado.

— Meu nome é Thomas Walker — disse, com uma voz grave e segura, carregada de autoridade natural. — Sou meio-dragão. Nasci nos Montes Lendários do Norte, filho de um dragão antigo e de uma humana corajosa. Por isso, minha vida nunca foi fácil. Tanto humanos quanto dragões me olham com desconfiança. O preconceito e a desconfiança sempre estiveram comigo, mas aprendi a transformá-los em força.

Ele ergueu as mãos e, com um movimento ágil, empunhou dois montantes, um em cada mão, as lâminas refletindo a luz do fogo.

— Minhas armas — disse, mostrando os montantes — são extensões do meu corpo. Com elas, posso enfrentar múltiplos inimigos ao mesmo tempo. Minhas asas me permitem manobrar rapidamente em combate e até escapar quando necessário. Meus chifres são não apenas para intimidação — posso usá-los em ataques frontais e defensivos.

Thomas se aproximou do grupo, olhando para cada um nos olhos:

— Fui convocado pelos senhores dos dragões para provar meu valor. Esta missão em Lenória Imperial é meu teste, uma chance de mostrar que posso proteger não apenas a mim mesmo, mas aqueles que confiam em mim. Não estou aqui por glória, nem por recompensa. Estou aqui porque sei que posso fazer a diferença.

Ele respirou fundo, mantendo a postura firme, e continuou:

— Sei que ainda somos desconhecidos uns para os outros, mas enquanto estivermos juntos, precisaremos confiar uns nos outros. Eu confiarei em vocês, como espero que confiem em mim. Juntos, podemos enfrentar qualquer ameaça — disse, enquanto suas asas se agitavam levemente, sinalizando prontidão.

O grupo assentiu, a fogueira iluminando a determinação nos rostos de todos. Agora, com Ikarus como líder, Rickson trazendo sua experiência e passado em Aldora, Derek ansioso por provar seu valor, Gillian como protetora e estrategista, Raella com sua magia multifacetada e Thomas Walker com sua força dracônica e habilidades únicas, todos estavam preparados para enfrentar a floresta encantada e a caverna dos mortos-vivos.

— Amanhã ao amanhecer — disse Ikarus, olhando para cada um do grupo — avançaremos para a caverna. Precisamos descansar, pois tudo o que nos espera é maior do que qualquer batalha que já enfrentamos.

O crepitar do fogo e o som das asas de Thomas batendo levemente ao fundo marcaram o fim da noite. Cada um, com seus pensamentos, recordações e expectativas, se preparava para a jornada que poderia mudar não apenas suas vidas, mas o destino de Lenória Imperial e de todo o mundo.

Ad'Heim: A combatente


 Enquanto Derek respirava fundo, mostrando sua determinação, um silêncio confortável se instalou em torno do grupo. Então, Gillian se levantou, ajustando a capa de couro sobre seus ombros. Sua postura era firme, mas elegante, revelando a confiança que adquirira em anos de treino e batalhas.

— Acho que é minha vez — disse, com a voz calma e resoluta, mas cheia de autoridade natural. — Meu nome é Gillian.

Seus cabelos longos e negros caíam em ondas suaves sobre os ombros, contrastando com a pele morena e parda e o olhar intenso de olhos verdes, que pareciam analisar cada detalhe ao redor. Apesar de sua estatura mediana, havia algo em sua presença que impunha respeito — a certeza de quem conhece o próprio valor.

— Sou uma guerreira de Lenória Imperial — continuou, cruzando os braços por um instante antes de abrir novamente, revelando as luvas reforçadas que cobriam suas mãos e punhos. — Treinei sob o olhar atento de meu pai, Rufus, que também é mentor de Ikarus. Cresci ao lado dele, aprendendo tanto sobre combate quanto sobre honra e estratégia. É como se tivesse dois pais: meu próprio pai e Rufus, que me ensinou a proteger e guiar aqueles que não podem se defender.

Ela caminhou um pouco em torno do grupo, como se medisse a atmosfera de confiança e camaradagem.

— Minhas habilidades são variadas. Sou exímia com armas de curto e médio alcance, especialmente espadas e adagas. Tenho experiência em combate corpo a corpo e técnicas de infiltração — disse, olhando para Derek, Ikarus e os demais — e, acima de tudo, sei como manter a calma quando a batalha parece impossível. Posso proteger, atacar ou abrir caminho. Minha prioridade sempre será manter o grupo vivo.

Gillian respirou fundo, a luz da fogueira refletindo em seus olhos.

— Moro com Rufus, que além de ser um grande mentor, é uma figura paterna para Ikarus e para mim. Ele me ensinou não apenas a lutar, mas a confiar em meus instintos e a valorizar cada aliado. Hoje, estou aqui não apenas para lutar, mas para garantir que ninguém neste grupo enfrente os horrores sozinhos.

Ela sorriu levemente, mas havia um brilho de determinação e seriedade em seu olhar.

— Agora que todos nos conhecemos, podemos seguir adiante com mais confiança. Unidos, podemos enfrentar qualquer coisa — concluiu, sentando-se ao lado da fogueira e esperando que os demais também compartilhassem suas histórias.

O grupo agora estava completo, pelo menos por enquanto, cada um carregando seu passado, suas dores, habilidades e a determinação de enfrentar os mortos-vivos e as forças desconhecidas que se escondiam na floresta encantada e nas profundezas da caverna.

Ad'Heim: O Arqueiro medíocre


 O silêncio após a fala de Rickson se estendeu por alguns segundos. Todos olhavam para Derek, que ainda mastigava um pedaço de carne assada, como se ponderasse cuidadosamente as palavras que iria dizer. Por fim, ele limpou a boca e respirou fundo.

— Eu… eu sou Derek — começou, a voz firme, mas com um toque de humildade. — Sou apenas humano. Não tenho linhagem nobre, nem habilidades sobrenaturais como vocês. E, para ser honesto, às vezes me sinto pequeno perto de guerreiros, dragões e magos.

O grupo escutava atento, alguns assentindo levemente, outros apenas em silêncio.

— Venho do vilarejo chamado Vilas Gêmeas — continuou, olhando para o chão por um instante antes de erguer os olhos. — Um lugar pequeno, insignificante… onde ninguém realmente se importa com o que um arqueiro solitário pode fazer. Eu estava com fome, cansado de dormir nas ruas, mas não podia me render. Precisava encontrar um propósito. E então… o chamado de Oberon chegou.

Ele engoliu em seco, tentando controlar a emoção.

— Ninguém queria essa missão. Nenhum soldado, nenhum mercenário, nenhum mago — todos queriam recompensa, ouro, prestígio… mas eu não posso esperar que o mundo me recompense antes de provar meu valor. Eu escolhi vir por necessidade, sim, mas também porque quero mostrar que posso fazer a diferença.

Derek respirou fundo, olhando cada um nos olhos, e finalmente sorriu com determinação.

— Sou arqueiro. Talvez não tenha a força de um guerreiro de dragão ou a magia de uma maga ou de Rickson, mas minhas flechas são precisas, minha visão nunca falha, e minha perseverança… essa é minha arma mais poderosa. Eu quero provar que posso lutar ao lado de todos vocês e, se for necessário, proteger aqueles que não conseguem se proteger.

Thomas inclinou levemente a cabeça, silenciosamente avaliando o humano, e Gillian deu um pequeno sorriso encorajador. Rickson assentiu, respeitando a honestidade de Derek, e até Raella, mesmo cansada, pareceu admirar a determinação dele.

Ikarus então colocou a mão no ombro de Derek, num gesto firme de liderança e confiança.

— Muito bem, Derek. Valor não vem apenas de sangue ou magia. Vem de coragem, da vontade de enfrentar o desconhecido e da determinação de não ceder diante do perigo. Se você está conosco, será parte do grupo. E amanhã, todos teremos a chance de mostrar que juntos somos mais fortes do que qualquer ameaça.

Derek respirou fundo, sentindo uma onda de alívio e orgulho. Pela primeira vez desde que começou sua jornada, sentiu que fazia parte de algo maior.

O fogo da fogueira continuava crepitando, a comida ainda cheirava tentador, mas agora o grupo tinha mais do que energia física. Tinha confiança, união e a determinação de enfrentar os horrores que aguardavam nas profundezas da floresta encantada e da caverna dos mortos-vivos.

Ad'Heim: Rickson e a esperança

 


por Yuri Schein 

O calor da fogueira iluminava os rostos cansados do grupo, e a conversa começava a fluir de forma mais natural. Ikarus terminou de contar sua história, e o silêncio confortável tomou conta da sala por alguns instantes, até que Rickson resolveu falar.

— Posso? — disse, com um aceno tímido, mas firme. — Acho justo que todos saibam um pouco sobre mim também.

O grupo assentiu, curioso. Rickson limpou o suor da testa e começou:

— Meu nome é Rickson, e venho do reino de Aldora, do Oeste. Cresci ouvindo histórias sobre os grandes guerreiros e heróis que lutaram pela paz do nosso mundo — como os três irmãos, Angarkor, Neutro e Ordekh, e o príncipe Kholl da ilha de Kallon, que juntos derrotaram inimigos poderosos durante a Guerra de Duzentos Anos.

Ele respirou fundo, lembrando-se do peso dessas histórias.

— Desde jovem, fui treinado para lutar, proteger meu povo e meu reino. Montava dragões vermelhos em batalhas épicas, aprendendo a usar força, estratégia e coragem. Tive grandes companheiros ao meu lado: guerreiros que se tornaram irmãos, e cada vitória me ensinou algo sobre responsabilidade e liderança.

Rickson olhou para Ikarus, sorrindo levemente.

— Depois que a guerra terminou, houve períodos de relativa paz. Mas rumores de mortos-vivos começaram a surgir, e Aldora desconfia que tudo está ligado a um Necromante maligno, alguém com poder suficiente para manipular essas forças sombrias. É por isso que estou aqui com vocês.

Ele respirou profundamente, segurando firme seu cajado e observando os companheiros.

— Recentemente, um gênio concedeu um aviso: um guerreiro de Lenória seria uma peça-chave para derrotar o Necromante. Não sei exatamente como isso se dará, mas é por isso que vim, para juntar forças com todos vocês e enfrentar essa ameaça.

Derek olhou para Rickson com respeito, sentindo a importância de ter um guerreiro tão experiente e determinado ao lado do grupo. Thomas apertou levemente os punhos, suas asas se movendo lentamente, mostrando sua atenção e interesse. Até Raella, ainda descansando do uso intenso de sua magia, pareceu mais confiante, absorvendo cada palavra.

Ikarus sorriu, satisfeito ao ver que o grupo começava a se conhecer melhor e a formar uma verdadeira coesão.

— Muito bem, Rickson — disse. — Com você, Thomas, Derek, Gillian, Jetto e Raella juntos, temos força, habilidade e estratégia. Amanhã avançaremos ainda mais fundo na caverna, investigando o que está por trás desses mortos-vivos. Mas por hoje, descansemos e nos preparemos.

O fogo crepitava, o aroma da comida ainda pairava no ar, e por alguns momentos, a caverna se transformou em um refúgio de esperança e união. Cada um no grupo sabia que os desafios seriam enormes, mas agora tinham algo mais: confiança mútua e compreensão de que estavam juntos nessa missão que poderia mudar o destino de todo o mundo.


Ad'Heim: A Calma Antes da Tempestade


por Yuri Schein 

Após avançarem por corredores estreitos e escuros, desviando de ossos antigos e armadilhas improvisadas, o grupo finalmente encontrou uma sala mais ampla, protegida naturalmente por rochas que se elevavam como muralhas. A umidade ainda pairava no ar, mas ali dentro reinava um silêncio quase absoluto — um raro respiro em meio ao caos que os perseguira pela floresta.

Thomas pousou suavemente, abrindo suas asas e relaxando levemente.

— Por enquanto, estamos seguros — disse, guardando os montantes. — A Dríade não entrará aqui. Ela vai esperar do lado de fora, provavelmente deixando sentinelas.

Raella, ainda um pouco abalada com o uso de sua magia negra, abriu os olhos e observou o grupo. Derek começou a acender uma pequena fogueira, usando sua perícia de caçador, enquanto Thomas ajudava a cortar alguns alimentos trazidos em mochilas e bolsas de viagem. Jetto farejava o ambiente, desconfiado, mas não encontrou ameaças imediatas.

— Podemos descansar e comer algo — disse Ikarus, respirando fundo enquanto observava a pequena chama se refletir nas paredes úmidas da caverna. — Vai nos fortalecer para o que vem pela frente.

O grupo se acomodou, formando um círculo ao redor da fogueira improvisada. O cheiro de carne assada e ervas secas encheu a sala, trazendo uma sensação quase humana de lar, contrastando com a escuridão da caverna e a tensão lá fora.

Quando todos estavam mais tranquilos, Ikarus decidiu falar primeiro. Ele sabia que, para manter a moral, precisaria compartilhar sua história e criar um laço com o grupo.

— Eu sou Ikarus — começou, olhando para cada um, firme mas com um sorriso leve —. Nasci e cresci em Lenória Imperial. No começo, minha vida não foi fácil. Não tinha recursos, nem influência. Mas sempre quis proteger meu povo.

Ele respirou fundo, lembrando de Rufus, seu mentor.

— Rufus… ele é como um pai para mim. Me ensinou tudo que sei sobre estratégia e combate, mas também sobre honra e responsabilidade. Gillian… é como uma irmã. Sempre esteve ao meu lado, me ajudando a superar cada dificuldade.

Thomas inclinou a cabeça, curioso, enquanto Derek mordia um pedaço de carne assada. Raella olhou para ele atentamente, percebendo a sinceridade na voz do jovem capitão.

— No começo, enfrentei muitos desafios. Eram tarefas impossíveis, missões que pareciam me esmagar — continuou Ikarus —. Mas nunca desisti. Gradualmente, fui progredindo no exército de Lenória Imperial, até me tornar capitão da cidade. Hoje lidero tropas e participo de missões perigosas… como esta. Mas nada disso seria possível sem os que confiam em mim e sem aqueles que lutam ao meu lado.

O silêncio que se seguiu foi de respeito. Cada membro do grupo, de uma forma ou de outra, reconheceu a importância de confiar uns nos outros. Derek, mesmo sendo um arqueiro solitário, sentiu que fazia parte de algo maior. Thomas, acostumado a ser discriminado por ser meio-dragão, percebeu que finalmente havia um lugar onde poderia usar toda sua força sem julgamentos.

— É bom ouvir isso — disse Jetto, coçando a nuca. — Mesmo eu, que fui caçado por toda a minha vida, sinto que talvez possa confiar em vocês.

Raella finalmente abriu um leve sorriso, descansando os braços sobre o colo enquanto segurava o cajado.

— E eu… bem, não é como se eu tivesse escolha, mas agradeço a confiança. Prometo que ajudarei como puder.

A atmosfera na sala começou a mudar: do medo e da tensão, passou para um sentimento de união. O grupo sabia que os desafios que os aguardavam ainda eram imensos, mas, por alguns minutos, a caverna tornou-se um refúgio — um pequeno porto de humanidade, camaradagem e esperança.

Ikarus, ao terminar sua história, olhou para cada um com determinação:

— Amanhã, avançaremos ainda mais fundo. Mas hoje, descansaremos. Vamos fortalecer nossos corpos, nossas mentes e nossos laços. Pois só juntos teremos chance de sobreviver ao que vem pela frente.

A fogueira crepitava, iluminando os rostos suados e cansados do grupo. Lá fora, a Dríade deixava suas sentinelas observando, esperando que um passo em falso os levasse de volta para a floresta, mas por ora, dentro da caverna, havia calma.



Ad'Heim: O Lobisomem da Floresta



O grupo avançava cauteloso pela Floresta Encantada, seguindo um caminho estreito entre árvores carbonizadas e raízes retorcidas. Raella ainda permanecia inconsciente nos braços de Thomas, que voava levemente acima do chão para evitar armadilhas naturais. O silêncio da floresta, quebrado apenas pelo estalo de galhos secos, trazia uma tensão constante. Derek mantinha o arco pronto, seus olhos humanos atentos a qualquer movimento; Thomas girava os montantes com impaciência, pronto para esmagar qualquer criatura que ousasse atacar.

Ikarus, observando cada passo e coordenando a movimentação do grupo, assumiu naturalmente o papel de líder. Sua experiência em batalhas anteriores e a capacidade de manter todos unidos sob pressão o fizeram a escolha óbvia.

— Fiquem atentos — disse, em voz baixa mas firme. — A floresta ainda está alerta. Qualquer movimento errado pode nos custar caro.

O sol mal havia nascido quando, em uma clareira iluminada pela luz matinal, o grupo encontrou um homem inconsciente, deitado sobre o chão úmido. Seu corpo estava coberto de arranhões, marcas de garras e sangue seco. Thomas pousou suavemente, olhando com desconfiança para o estranho.

— Quem é ele? — sussurrou Derek, ainda arqueado, com flecha pronta.

Ikarus se aproximou e tocou o ombro do homem. Lentamente, ele começou a acordar, seus olhos amarelados piscando com confusão.

— A…ah… onde estou? — murmurou, com uma voz rouca.

— Calma, estamos do seu lado — disse Gillian, mantendo a espada pronta, mas sem ameaça. — Quem é você?

O homem se ergueu lentamente, apoiando-se nas mãos e mostrando sinais claros de luta recente.

— Meu nome é Jetto… eu… eu fui transformado em… lobisomem… — disse, tremendo. — Estava atrás de um tesouro na floresta quando ela… ela me capturou.

— Quem te capturou? — perguntou Thomas, franzindo a testa.

— A Dríade… a governante desta floresta. — Jetto engoliu em seco, sentindo o peso da própria história. — Ela tem um exército de seres místicos e nunca consegui fugir. Mas… com a comoção que vocês causaram ontem, eu consegui escapar.

Rickson, apertando os punhos, encarou Jetto com cautela.

— E agora? Por que decidiu nos acompanhar?

Jetto respirou fundo, olhando para o grupo.

— Não posso voltar. Ela me caçará até me destruir. Mas… se vocês me deixarem acompanhar, talvez possamos sobreviver juntos. E além disso… a caverna que vocês buscam… — ele respirou fundo, olhando para a direção do norte da floresta — é governada por mortos-vivos liderados por um vampiro muito poderoso.

O grupo se entreolhou. A notícia aumentou o peso da missão, mas Ikarus falou primeiro:

— Então não temos escolha. Vamos precisar de toda a força disponível. Você se junta a nós, Jetto, mas saiba que qualquer movimento errado pode nos custar caro.

Jetto assentiu, transformando parcialmente os olhos em um brilho amarelado, e se moveu com o grupo. A floresta, entretanto, já não estava quieta. Como se sentisse a perda de um dos seus — e o ataque da magia de Raella —, a Dríade enviou suas hordas. Centauros, faunos, dríades menores e criaturas de raízes afiadas surgiram em todos os lados. O chão tremeu com o avanço de monstros maiores: lobos de sombra, serpentes aladas e quimeras da floresta.

— Corram! — gritou Ikarus. — Precisamos chegar à caverna antes que eles nos alcancem!

Thomas abriu suas asas e voou, criando uma linha defensiva com os montantes, atacando criaturas que tentavam bloquear o caminho. Derek disparava flechas em sequência, acertando pontos vitais de centauros e faunos. Jetto, mesmo em sua forma instável de lobisomem, corria ao lado de Thomas, atacando com garras e presas, derrubando criaturas que se aproximavam demais.

Raella continuava inconsciente nos braços de Thomas, mas sua aura mágica, mesmo adormecida, parecia reforçar o grupo, criando pequenas barreiras que retardavam ataques mágicos menores.

— A caverna está logo à frente! — gritou Rickson, apontando para uma abertura sombreada entre duas colinas densas da floresta. — Se conseguirmos chegar lá, teremos alguma vantagem!

O grupo avançou com esforço hercúleo, desviando de raízes que tentavam prendê-los, queimando pequenas áreas com o fogo residual da magia de Raella, enquanto Jetto liderava a parte da retaguarda, interceptando criaturas que os perseguiam. A Dríade, percebendo a fuga de seu “prisioneiro” e a devastação causada, surgiu no horizonte, com um corpo feito de troncos retorcidos e galhos, olhos verdes incandescentes e mãos que se transformavam em lâminas afiadas.

— Vocês não escaparão! — rugiu a Dríade, sua voz ecoando como milhares de folhas secas cortando o ar.

— Cheguem à caverna! — gritou Ikarus, puxando todos para um último sprint.

Com o coração acelerado, o grupo entrou na caverna dos mortos-vivos, a entrada larga e escura engolindo-os. A floresta atrás deles estava em tumulto, com a Dríade e seu exército rugindo e atacando, mas ali dentro, ao menos por enquanto, o grupo estava protegido.

Jetto, ainda ofegante, olhou para Ikarus e disse:

— Se sobrevivermos a isso… vocês verão que o vampiro que governa os mortos-vivos não será fácil de derrotar.

Ikarus assentiu, observando os corredores escuros e úmidos da caverna.

— Então precisamos estar mais unidos do que nunca. Esta missão… vai nos testar de maneiras que nem imaginamos.

E assim, o grupo avançou para o coração da caverna, conscientes de que cada passo poderia ser o último, enquanto a sombra de criaturas místicas e mortos-vivos se estendia à frente, entrelaçando magia,ferocidade e mistério em cada corredor úmido e escuro.

Ad'Heim: Labirinto de Raízes e Fogo



por Yuri Schein 

O grupo avançava lentamente pela Floresta Encantada, agora mais profundo do que antes, onde a luz do sol mal tocava o chão coberto de musgo e raízes retorcidas. A vegetação densa dificultava o avanço, e o silêncio absoluto criava uma tensão quase palpável. Thomas Walker voava ligeiramente acima das copas, observando cada movimento, enquanto seus montantes giravam levemente, prontos para a qualquer ataque. Derek seguia com atenção redobrada, arqueado e atento a qualquer som que denunciasse perigo.

A floresta, porém, não era benevolente. Centauros arqueiros surgiam das sombras, mais numerosos e agressivos do que antes, acompanhados por faunos ágeis e sorrateiros, saltando entre troncos e raízes gigantes. Mas não estavam sozinhos: dríades hostis emergiam de troncos retorcidos, lançando dardos de energia da própria madeira; serpentes aladas deslizavam entre os galhos, cuspindo ácido sobre qualquer coisa viva; até lobos fantasmagóricos surgiam de covas no chão, atacando em bandos coordenados. Cada criatura parecia reagir ao medo e à coragem do grupo, tornando a floresta um inimigo vivo.

— Formação! — gritou Ikarus, puxando Thomas e Derek para a linha de frente. — Não podemos nos dispersar!

Thomas, empunhando os dois montantes, atacava com precisão devastadora, acertando vários inimigos de uma só vez. Suas asas batiam rapidamente, desviando de ataques e criando correntes de ar que empurravam criaturas para longe. Derek disparava flechas em sequência, mirando pontos vitais e coordenando com Thomas, que cobria cada brecha que surgia. Gillian e Rickson protegiam o centro do grupo, bloqueando ataques e derrubando inimigos com golpes certeiros.

O ataque, no entanto, era interminável. Mais centauros e faunos surgiam, vindos de todos os lados. O grupo estava cercado por todos os cantos, lutando não apenas para avançar, mas para sobreviver. Cada golpe de Thomas fazia o chão tremer; cada flecha de Derek parecia cortar o ar com precisão sobrenatural. Mas mesmo com habilidade e coordenação, o número de inimigos tornava a batalha cada vez mais desesperadora.

— Isso não vai parar nunca! — gritou Derek, recarregando a aljava. — Precisamos de algo mais… forte!

Nesse momento, Raella, que caminhava entre o grupo, ofegante mas firme, ergueu seu cajado. Seus olhos castanhos brilhavam intensamente, e sua voz ecoou pelo bosque:

— Eu posso ajudá-los… de uma maneira que vocês ainda não viram!

O grupo se virou para ela, surpreso. Antes, haviam visto apenas suas magias de cura, leves e reconfortantes. Mas agora, uma aura negra e flamejante começou a emanar de seu cajado. Um calor intenso se espalhou pelo ar, e a floresta pareceu recuar diante de sua presença.

— Magia negra? — sussurrou Thomas, desconfiado, suas asas tremendo.

— Sim — respondeu Raella, com a voz firme, mas um leve traço de exaustão. — Além de curar, eu posso destruir. Mas… isso exige muito de mim.

Antes que alguém pudesse reagir, ela levantou o cajado, concentrando energia concentrada e pura. Uma esfera de fogo negro se formou, pulsando com força, crescendo até alcançar o tamanho de uma pequena lua. Com um movimento rápido, ela lançou a bola de fogo contra o centro do ataque.

A explosão foi colossal. Centauros, faunos, dríades e serpentes aladas foram engolidos pela magia, gritando enquanto desapareciam em chamas negras. O calor e a luz iluminavam a floresta de forma assustadora, queimando árvores e criando fumaça espessa. Thomas e Derek mal conseguiram se proteger; Ikarus, Gillian e Rickson lutaram contra a onda de calor que se aproximava, sentindo suas armaduras aquecerem demais.

Quando a fumaça se dissipou, uma clareira havia sido criada. Árvores estavam carbonizadas, o chão negro e rachado, o silêncio mortal. A batalha terminara, mas o preço havia sido alto. Raella caiu de joelhos, exausta, os olhos semicerrados, e logo perdeu a consciência.

Thomas voou até ela, segurando-a pelos ombros, verificando se estava viva.

— Raella! — gritou, a adrenalina ainda correndo. — Você aguentou! Mas isso… isso quase a matou!

Rickson, olhando para a clareira devastada, suspirou pesado.

— Ela salvou nossas vidas… mas não podemos depender apenas disso. Precisamos nos mover antes que mais criaturas apareçam.

Derek examinou os arredores, arqueando uma sobrancelha.

— A floresta está em alerta. O poder dela sentiu a explosão. Se ficarmos muito tempo aqui, mais inimigos virão.

Ikarus assentiu, pegando Raella com cuidado.

— Precisamos levar ela conosco. Se não se recuperar rapidamente, não teremos chance contra o que ainda nos espera na caverna.

Thomas abriu suas asas, preparando-se para levantar voo com Raella nos braços. Derek e os outros formaram uma linha defensiva ao redor, prontos para proteger o grupo caso a floresta reagisse. O silêncio ainda pairava, mas todos sabiam que aquilo era apenas uma pausa — uma calmaria antes da tempestade que ainda os aguardava na floresta e dentro da caverna.

O grupo, agora completo e mais unido do que nunca, avançou pela Floresta Encantada, com Raella inconsciente mas segura, determinado a chegar à caverna e descobrir o elo entre os mortos-vivos que assolavam o mundo e os mistérios antigos que se escondiam naquela floresta ancestral.

Ad'Heim: A Sombra na Floresta


por Yuri Schein 

O grupo avançava cauteloso pela Floresta Encantada. A luz filtrada pelas copas altas das árvores criava padrões quase mágicos no chão, enquanto o vento carregava um cheiro úmido e antigo, misturado a aromas estranhos de flores que pareciam pulsar com própria vida. Cada passo exigia atenção; a floresta não era apenas lar de animais comuns, mas de entidades antigas e mágicas, algumas hostis, outras apenas observadoras silenciosas.

Thomas Walker voava logo acima da copa das árvores, suas asas abertas em alerta. Os montantes nas mãos brilhavam levemente à luz filtrada, prontas para qualquer ataque inesperado. Derek caminhava ligeiramente atrás, atento a sons sutis, arqueado com seu arco pronto, observando qualquer movimento que pudesse indicar perigo. Ikarus, Gillian e Rickson completavam o grupo, cada um com sua experiência de batalha e intuição aguçada.

Não demorou para que a floresta começasse a mostrar seu lado mais selvagem. Um grupo de centauros emergiu das sombras, arqueiros e guerreiros com expressões ferozes, olhos como brasas no escuro. Ao mesmo tempo, faunos ágeis e sorrateiros cercavam o grupo por todos os lados, brandindo lanças curtas e saltando de árvore em árvore. O ataque era simultâneo e brutal, pegando o grupo de surpresa.

— Formação defensiva! — gritou Ikarus, empunhando a espada com firmeza. Gillian avançou com movimentos precisos, derrubando um centauro com um golpe ágil, enquanto Rickson ajudava a proteger Derek, cobrindo o arqueiro para que ele pudesse disparar suas flechas com precisão mortal.


Thomas se lançou ao ar, os montantes girando em suas mãos, cada golpe atingindo dois ou três inimigos ao mesmo tempo. Suas asas davam a ele velocidade e alcance, enquanto desviava de lanças e golpes de cascos, sempre contra-atacando com força devastadora. Derek, por sua vez, encontrou uma posição elevada sobre uma raiz gigante, de onde podia mirar com precisão os centauros e faunos que se aproximavam. Cada flecha traçava um arco perfeito, atingindo pontos vitais dos inimigos, mas eram muitos, e o grupo percebeu que precisariam de mais tempo e coordenação para sobreviver.

Foi nesse momento que uma figura inesperada surgiu entre as árvores: uma jovem mulher de cabelos castanhos soltos, olhos castanhos profundos, pele clara e roupas brancas simples mas elegantes, em forma de robe de maga. Ela empunhava um cajado de madeira com uma pedra preciosa na ponta, que emanava um brilho suave, quase reconfortante em meio ao caos da batalha.

— Parem! — ela gritou, correndo em direção ao grupo sem hesitar. Um centauro lançou uma flecha em sua direção, mas Derek a interceptou com uma flecha certeira, desviando o ataque. — Eu posso ajudar! — continuou, antes que alguém pudesse interrompê-la.

As criaturas da floresta não hesitaram e atacaram a nova intrusa, mas antes que pudesse reagir, ela levantou o cajado e um brilho azul suave envolveu o corpo ferido de um dos guerreiros. O efeito foi imediato: o ferimento fechou, a dor diminuiu, e ela deu um passo à frente, curando rapidamente os companheiros que caíam sob ataques.

Thomas desviou de uma lança e olhou para a jovem, surpresa e preocupação ao mesmo tempo:

— Quem é você? Como entrou aqui sozinha? — ele gritou sobre o rugido da batalha.

— Meu nome é Raella! — respondeu ela, firme, apesar da adrenalina e do medo. — Sou maga de cura. Eu soube da missão de vocês e decidi ajudar. Não podia ficar parada!

Gillian franziu a testa, claramente irritada.

— Você é imprudente! Andar sozinha na Floresta Encantada é suicídio. Qualquer distração poderia custar a vida de todos!

— Exatamente — acrescentou Rickson, limpando o suor da testa. — Se você tivesse se perdido ou sido capturada, teríamos que escolher entre salvá-la ou completar a missão. Não podemos arriscar.

Raella respirou fundo, percebendo que estava sendo avaliada.

— Eu posso me defender. Sei me proteger e usar minha magia de cura. Não quero ser um peso.

Derek olhou para o grupo e depois para Raella, vendo a sinceridade e a determinação nos olhos dela.

— Não podemos deixar alguém assim ir sozinha — disse ele calmamente. — Se ela quer ajudar, então vamos levá-la. Mas todos precisam estar cientes de que sua presença muda a dinâmica do grupo.

Ikarus assentiu, concordando silenciosamente, e Thomas baixou os montantes.

— Muito bem, Raella. Você vem conosco. Mas siga nossas instruções e não faça nada de imprudente. Estamos lidando com inimigos poderosos.

Raella sorriu levemente, aliviada.

— Entendido. Eu prometo que não vou atrapalhar.

A batalha prosseguiu, mas com Raella agora entre eles, o grupo conseguiu coordenar melhor os ataques e as defesas. Thomas se lançou no ar, os montantes girando com precisão letal; Derek disparava flechas em pontos estratégicos; Ikarus, Gillian e Rickson protegiam a linha de frente enquanto Raella curava e fortalecia os guerreiros com magias de vitalidade.

Quando o último centauro e fauno caíram, o grupo respirou pesado, observando o silêncio que caiu sobre a floresta. Raella, exausta, mas determinada, manteve a mão no cajado, pronta para qualquer novo ataque.

— Obrigada por me deixarem ficar com vocês — disse ela, com um leve sorriso tímido. — Prometo que farei o possível para que todos saiam vivos desta floresta.

Rickson deu um passo à frente, conferindo o mapa da floresta e as marcações da caverna.

— A Floresta Encantada ainda guarda muitos perigos. Nossa próxima parada é a entrada da caverna. Precisamos permanecer juntos e atentos.

Thomas ergueu os montantes novamente, suas asas tremendo, pronto para qualquer novo ataque.

— Cinco guerreiros agora, e um coração de maga para nos manter vivos. Vamos seguir.

E assim, com a adição de Raella, o grupo formado por Ikarus, Gillian, Rickson, Thomas, Derek e a maga de cura adentrou ainda mais profundamente na Floresta Encantada, cientes de que cada passo os aproximava de mistérios antigos e perigos que poderiam mudar o destino de todo Ad’Heim.

Ad'Heim: Lenória Imperial e os Mortos vivos


por Yuri Schein 

Thomas Walker e Derek avançavam pela estrada, os últimos vestígios das Vilas Gêmeas desaparecendo atrás deles. O vento carregava o cheiro salgado do mar ao longe, sinal de que se aproximavam da costa noroeste do reino de Lenória. As colinas se tornavam mais suaves, e campos cultivados surgiam intercalados com florestas de pinheiros altos, um contraste à aridez do caminho que percorreram até ali.

— Está quase lá — disse Derek, quebrando o silêncio. — Posso sentir a maresia.

Thomas não respondeu, mantendo os olhos fixos no horizonte. Suas asas se mexiam levemente, ajustando o equilíbrio enquanto avaliava o terreno. Embora fosse uma missão oficial do conselho de dragões, havia algo na cidade de Lenória que o inquietava: histórias de guardiões lendários e de mortos-vivos que sequer deveriam existir.

Quando finalmente avistaram a cidade, Derek parou, boquiaberto. Lenória Imperial surgia como uma fortaleza viva sobre o litoral, cercada por muralhas altas de pedra branca e torres pontiagudas que brilhavam à luz do entardecer. O símbolo da cidade, um grifo majestoso com asas abertas, estava gravado nas portas principais e nas bandeiras que tremulavam ao vento.

— Então é aqui… — murmurou Thomas, impressionado. — Tão grande quanto diziam.

Derek observava as embarcações ancoradas no porto, mercadores carregando cargas e cidadãos caminhando pelas ruas pavimentadas. Mas mesmo com a vida cotidiana acontecendo, havia tensão no ar. Soldados patrulhavam constantemente, e patrulhas mágicas sobrevoavam a cidade em círculos, atentos a qualquer ameaça.

— Olhe lá — apontou Derek para uma torre dourada que se erguia ao centro do reino. — Aquela deve ser a residência de Ranur, o grande guardião da cidade.

Thomas acenou com a cabeça. Ele conhecia lendas sobre Ranur: o grande guerreiro de armadura dourada que invocava o grifo da cidade em momentos de perigo, defendendo Lenória Imperial de qualquer ataque. A presença da torre não apenas simbolizava proteção, mas também autoridade, já que Ranur controlava as forças defensivas da região e supervisionava todos os rituais de invocação do grifo.

Ao se aproximarem das muralhas, foram recebidos por sentinelas humanos e dragões humanoides que patrulhavam os portões. Alguns olhares eram curiosos, outros cheios de desconfiança. Thomas sentiu o peso do preconceito habitual — meio dragão nunca era plenamente aceito — enquanto Derek, embora humano, era respeitado por sua fama de arqueiro.

— Estado de alerta total — disse um soldado humano à porta. — O regente Oberon convoca qualquer um para lidar com os mortos-vivos, mas poucos vêm sem recompensa. Vocês vêm por livre vontade?

— Estamos aqui para cumprir a missão — respondeu Thomas com firmeza, ajustando os montantes nas mãos. Derek se manteve ao seu lado, arqueiro pronto.

Uma vez dentro, a cidade revelou toda a sua grandiosidade. Lenória Imperial se espalhava por colinas suaves e margens costeiras, com ruas largas de pedra, mercados movimentados, templos dedicados a divindades e salas de treino para guerreiros e magos. Cada bairro parecia ter sua própria vida, mas todos eram protegidos pelo símbolo do grifo, que pairava metaforicamente sobre todos os cidadãos.

— É impressionante — comentou Derek, olhando para o horizonte marítimo. — Mas também… sinto que estamos entrando no olho do furacão.

Thomas concordou. Ele sabia que a cidade, apesar de suas muralhas e de Ranur, estava sendo testada pelos efeitos das forças do Necromante. Mortos-vivos já haviam surgido em pontos periféricos, e a tensão só aumentava à medida que se aproximavam da torre central, onde acreditavam que Oberon organizava a defesa.

Enquanto caminhavam pelas ruas, um rugido distante ressoou sobre a cidade, e um grifo dourado, enorme, emergiu das alturas da torre central, voando em círculos sobre o litoral. Thomas não pôde deixar de sentir respeito e, ao mesmo tempo, uma pontada de inveja: aquele poder poderia ser útil em sua própria missão, mas estava restrito ao serviço de Ranur.

Derek observava o grifo com fascínio, mas manteve a postura de arqueiro alerta.

— Parece que não estamos apenas chegando a Lenória… estamos entrando em seu coração pulsante.

Thomas apenas suspirou, pronto para o que viesse. A missão que parecia um teste dos senhores do dragão agora se tornava mais complexa: sobreviver ao preconceito, enfrentar mortos-vivos e trabalhar com forças que ele não podia controlar completamente, enquanto a sombra do Necromante se espalhava por todo o reino.

E assim, a jornada de Thomas Walker e Derek os conduzia pelo coração da noroeste de Lenória Imperial, onde a proteção do grifo e a vigilância de Ranur se encontravam com a iminente ameaça de destruição. O encontro de dragão e arqueiro, improvável e necessário, estava apenas começando a provar seu valor.

 A Aliança dos Cinco

Thomas Walker e Derek adentraram as ruas de Lenória Imperial, ainda se ajustando à vida urbana da cidade litorânea. As bandeiras com o símbolo do grifo tremulavam ao vento, e o rugido distante da criatura mítica que sobrevoava a torre central lembrava a todos do poder de Ranur, guardião da cidade.

O regente Oberon, ciente da ameaça crescente dos mortos-vivos, convocara os que estivessem dispostos a enfrentar o perigo. Thomas e Derek foram levados ao Salão de Conciliação, uma câmara ampla com grandes vitrais que filtravam a luz do mar. Já presentes estavam Ikarus, Gillian e Rickson, que discutiam mapas, rotas e relatos sobre os ataques recentes.

— Ah, finalmente chegaram! — disse Ikarus, levantando-se e estendendo a mão para cada um. — Oberon disse que precisaríamos de todos os guerreiros disponíveis. Parece que vocês têm coragem de sobra.

Gillian analisou Thomas de cima a baixo, notando suas asas, chifres e os dois montantes. Um leve arquejo de desconfiança passou pelo olhar dela, mas logo se dissipou.

— Então você é o meio-dragão que o conselho do Norte enviou. Espero que esteja à altura do que precisa ser feito.

Rickson, por sua vez, avaliou Derek com curiosidade e um pouco de humor.

— Um arqueiro humano sozinho? Ouvi dizer que você é habilidoso, mas não há muito o que um humano possa fazer contra mortos-vivos em grandes números. Veremos.

Thomas ergueu os montantes e bateu-os levemente um contra o outro, como um aviso silencioso de sua habilidade.

— Não subestime o que posso fazer, e ele — disse Thomas, apontando para Derek — também não.

Derek fez um gesto modesto, mas firme, mostrando que apesar de humano, estava pronto para lutar.

— Sobrevivi sozinho tempo suficiente para saber que o trabalho em grupo é a única chance de sucesso.

O regente Oberon entrou no salão, acompanhado por oficiais e alguns magos da cidade.

— Recebi notícias de mortos-vivos atacando vilarejos próximos e até partes periféricas da cidade — disse ele. — Precisamos de um grupo capaz de investigar a origem disso. Recebemos relatos sobre uma caverna na Floresta Encantada. Dizem que há ruínas antigas lá dentro, possivelmente ligadas aos ataques. Quero que formem um grupo e descubram a verdade.

Ikarus assentiu.

— Essa será nossa missão. Não sabemos exatamente o que encontraremos, mas qualquer ligação entre essas masmorras antigas e os mortos-vivos deve ser descoberta.

Gillian olhou para Thomas e Derek, agora oficialmente integrantes do grupo.

— Precisamos confiar uns nos outros. A Floresta Encantada não é só perigosa por causa do terreno; há magia antiga lá. Qualquer distração pode ser fatal.

Rickson sorriu, ajustando a aljava nas costas.

— Parece que seremos cinco então. Ikarus, Gillian, Rickson, Thomas e… você é o arqueiro, Derek, certo?

Derek assentiu, com um misto de orgulho e ansiedade.

— Exatamente. Espero não decepcionar.

Thomas ergueu os montantes novamente, sentindo o peso do dever.

— Vamos encarar isso. Juntos.

Com o grupo finalmente formado, eles partiram da cidade em direção à Floresta Encantada. A cidade de Lenória Imperial desaparecia no horizonte, e a floresta logo à frente prometia perigos, magia antiga e, possivelmente, respostas sobre a origem dos mortos-vivos que agora assombravam todo o mundo.

À medida que avançavam, o ar parecia carregar uma energia diferente, estranha e viva, e mesmo os dragões humanoides que patrulhavam a cidade haviam comentado que a floresta estava… agitada. Thomas sentiu suas asas se arrepiarem, e Derek ajustou seu arco, pronto para o que viesse.

O grupo sabia que aquela jornada não seria apenas uma missão comum: a Floresta Encantada guardava segredos que poderiam mudar o rumo da guerra contra os mortos-vivos e revelar pistas cruciais sobre forças que atuavam em todo Ad’Heim.

E assim, cinco guerreiros — um meio-dragão, um humano arqueiro, e três heróis de Aldora e Lenória — iniciaram a exploração da caverna que poderia ligar os mortos-vivos aos antigos mistérios do mundo.

Ad'Heim: Encruzilhada de Destinos


por Yuri Schein 

O vento soprava forte entre os campos secos que separavam as Vilas Gêmeas da estrada que levava a Lenoria Imperial. O sol começava a se pôr, tingindo o céu de tons dourados e alaranjados. Derek, arqueiro solitário, avançava cautelosamente, cada passo pesado por semanas de fome e cansaço. Seu arco estava firme nas costas, e a aljava quase vazia lembrava que ele precisava economizar cada flecha.

Do outro lado da estrada, as sombras alongavam-se, e um bater de asas cortou o silêncio. Um vulto enorme desceu de forma graciosa, pousando sobre uma rocha próxima. As asas membranosas dobraram-se lentamente, e o reflexo da luz do entardecer iluminou chifres curvos e olhos áureos. Thomas Walker, meio dragão, observava o horizonte, ajustando os dois montantes que carregava — um em cada mão — prontos para qualquer combate.

Thomas encarou Derek por um instante, atento. Um humano solitário, franzino, mas com o arco firme e postura alerta. Havia algo naquela determinação faminta que lembrava os velhos desafios que ele próprio enfrentara, mesmo sendo meio dragão. Por outro lado, Derek olhou para Thomas e sentiu um misto de medo e curiosidade: nunca havia visto alguém como ele: metade homem, metade dragão, armado com duas enormes espadas e chifres que brilhavam suavemente à luz do entardecer.

— Ei… você também está indo para Lenoria? — perguntou Derek, cauteloso, mantendo o arco pronto.

Thomas soltou um suspiro e encostou levemente os montantes no chão.

— Sim. Os senhores do dragão me enviaram. É uma missão para testar meu valor… ou talvez me livrar de vez. — Seu tom era sério, mas carregado de um leve sarcasmo. — E você?

— Oberon convocou qualquer um para lidar com mortos-vivos. — Derek deu de ombros, tentando parecer confiante. — Ninguém quer ir sem pagamento, mas… fome não negocia. — Ele apontou o arco levemente para o chão, sem ameaçar. — Eu sou Derek.

— Thomas Walker. — O meio dragão respondeu, cruzando os braços. Seus olhos analisavam Derek de cima a baixo, percebendo suas cicatrizes e a postura de alguém acostumado a sobreviver sozinho. — Parece que vamos para o mesmo lugar, então.

Derek relaxou um pouco, mas manteve a guarda:

— Eu não sei se você confia em humanos, mas… eu posso cobrir a retaguarda com minhas flechas.

Thomas sorriu de lado, mostrando um pouco de seus dentes afiados.

— E eu posso lidar com tudo que vier pela frente… ou acima de nós. As asas não são só para voar.

Um silêncio caiu entre eles, interrompido apenas pelo sussurro do vento que atravessava a estrada e pelo leve tilintar das armas de Thomas. Apesar de suas diferenças, havia uma tensão silenciosa: ambos estavam sozinhos, ambos precisavam sobreviver, e ambos sabiam que qualquer distração poderia custar caro.

— Então… juntos? — sugeriu Derek.

— Por enquanto. — Thomas concordou. — Mas não espere que eu vá salvar você se algo realmente perigoso aparecer. Você precisará provar seu valor, assim como eu.

Com isso, os dois começaram a caminhar lado a lado, a encruzilhada atrás deles agora apenas uma memória. A estrada para Lenoria Imperial se estendia à frente, e o crepúsculo os envolvia em uma luz que prometia tanto perigo quanto oportunidade.

Enquanto avançavam, o vento trouxe um cheiro estranho, metálico e frio, como se algo estivesse se aproximando. Nenhum deles falou, apenas se preparou. Flechas prontas, montantes firmes, asas dobradas, olhos atentos. A encruzilhada não era apenas física: era o ponto em que destinos distintos se encontravam, e Lenoria Imperial aguardava, cercada por mortos-vivos e mistérios que nem mesmo os dois poderiam prever.

E assim, o arqueiro humano e o meio dragão seguiram juntos, o início de uma aliança improvável, guiados pela necessidade, pela coragem e por um mundo prestes a mergulhar no caos.