por Yuri Schein
Thomas Walker e Derek avançavam pela estrada, os últimos vestígios das Vilas Gêmeas desaparecendo atrás deles. O vento carregava o cheiro salgado do mar ao longe, sinal de que se aproximavam da costa noroeste do reino de Lenória. As colinas se tornavam mais suaves, e campos cultivados surgiam intercalados com florestas de pinheiros altos, um contraste à aridez do caminho que percorreram até ali.
— Está quase lá — disse Derek, quebrando o silêncio. — Posso sentir a maresia.
Thomas não respondeu, mantendo os olhos fixos no horizonte. Suas asas se mexiam levemente, ajustando o equilíbrio enquanto avaliava o terreno. Embora fosse uma missão oficial do conselho de dragões, havia algo na cidade de Lenória que o inquietava: histórias de guardiões lendários e de mortos-vivos que sequer deveriam existir.
Quando finalmente avistaram a cidade, Derek parou, boquiaberto. Lenória Imperial surgia como uma fortaleza viva sobre o litoral, cercada por muralhas altas de pedra branca e torres pontiagudas que brilhavam à luz do entardecer. O símbolo da cidade, um grifo majestoso com asas abertas, estava gravado nas portas principais e nas bandeiras que tremulavam ao vento.
— Então é aqui… — murmurou Thomas, impressionado. — Tão grande quanto diziam.
Derek observava as embarcações ancoradas no porto, mercadores carregando cargas e cidadãos caminhando pelas ruas pavimentadas. Mas mesmo com a vida cotidiana acontecendo, havia tensão no ar. Soldados patrulhavam constantemente, e patrulhas mágicas sobrevoavam a cidade em círculos, atentos a qualquer ameaça.
— Olhe lá — apontou Derek para uma torre dourada que se erguia ao centro do reino. — Aquela deve ser a residência de Ranur, o grande guardião da cidade.
Thomas acenou com a cabeça. Ele conhecia lendas sobre Ranur: o grande guerreiro de armadura dourada que invocava o grifo da cidade em momentos de perigo, defendendo Lenória Imperial de qualquer ataque. A presença da torre não apenas simbolizava proteção, mas também autoridade, já que Ranur controlava as forças defensivas da região e supervisionava todos os rituais de invocação do grifo.
Ao se aproximarem das muralhas, foram recebidos por sentinelas humanos e dragões humanoides que patrulhavam os portões. Alguns olhares eram curiosos, outros cheios de desconfiança. Thomas sentiu o peso do preconceito habitual — meio dragão nunca era plenamente aceito — enquanto Derek, embora humano, era respeitado por sua fama de arqueiro.
— Estado de alerta total — disse um soldado humano à porta. — O regente Oberon convoca qualquer um para lidar com os mortos-vivos, mas poucos vêm sem recompensa. Vocês vêm por livre vontade?
— Estamos aqui para cumprir a missão — respondeu Thomas com firmeza, ajustando os montantes nas mãos. Derek se manteve ao seu lado, arqueiro pronto.
Uma vez dentro, a cidade revelou toda a sua grandiosidade. Lenória Imperial se espalhava por colinas suaves e margens costeiras, com ruas largas de pedra, mercados movimentados, templos dedicados a divindades e salas de treino para guerreiros e magos. Cada bairro parecia ter sua própria vida, mas todos eram protegidos pelo símbolo do grifo, que pairava metaforicamente sobre todos os cidadãos.
— É impressionante — comentou Derek, olhando para o horizonte marítimo. — Mas também… sinto que estamos entrando no olho do furacão.
Thomas concordou. Ele sabia que a cidade, apesar de suas muralhas e de Ranur, estava sendo testada pelos efeitos das forças do Necromante. Mortos-vivos já haviam surgido em pontos periféricos, e a tensão só aumentava à medida que se aproximavam da torre central, onde acreditavam que Oberon organizava a defesa.
Enquanto caminhavam pelas ruas, um rugido distante ressoou sobre a cidade, e um grifo dourado, enorme, emergiu das alturas da torre central, voando em círculos sobre o litoral. Thomas não pôde deixar de sentir respeito e, ao mesmo tempo, uma pontada de inveja: aquele poder poderia ser útil em sua própria missão, mas estava restrito ao serviço de Ranur.
Derek observava o grifo com fascínio, mas manteve a postura de arqueiro alerta.
— Parece que não estamos apenas chegando a Lenória… estamos entrando em seu coração pulsante.
Thomas apenas suspirou, pronto para o que viesse. A missão que parecia um teste dos senhores do dragão agora se tornava mais complexa: sobreviver ao preconceito, enfrentar mortos-vivos e trabalhar com forças que ele não podia controlar completamente, enquanto a sombra do Necromante se espalhava por todo o reino.
E assim, a jornada de Thomas Walker e Derek os conduzia pelo coração da noroeste de Lenória Imperial, onde a proteção do grifo e a vigilância de Ranur se encontravam com a iminente ameaça de destruição. O encontro de dragão e arqueiro, improvável e necessário, estava apenas começando a provar seu valor.
A Aliança dos Cinco
Thomas Walker e Derek adentraram as ruas de Lenória Imperial, ainda se ajustando à vida urbana da cidade litorânea. As bandeiras com o símbolo do grifo tremulavam ao vento, e o rugido distante da criatura mítica que sobrevoava a torre central lembrava a todos do poder de Ranur, guardião da cidade.
O regente Oberon, ciente da ameaça crescente dos mortos-vivos, convocara os que estivessem dispostos a enfrentar o perigo. Thomas e Derek foram levados ao Salão de Conciliação, uma câmara ampla com grandes vitrais que filtravam a luz do mar. Já presentes estavam Ikarus, Gillian e Rickson, que discutiam mapas, rotas e relatos sobre os ataques recentes.
— Ah, finalmente chegaram! — disse Ikarus, levantando-se e estendendo a mão para cada um. — Oberon disse que precisaríamos de todos os guerreiros disponíveis. Parece que vocês têm coragem de sobra.
Gillian analisou Thomas de cima a baixo, notando suas asas, chifres e os dois montantes. Um leve arquejo de desconfiança passou pelo olhar dela, mas logo se dissipou.
— Então você é o meio-dragão que o conselho do Norte enviou. Espero que esteja à altura do que precisa ser feito.
Rickson, por sua vez, avaliou Derek com curiosidade e um pouco de humor.
— Um arqueiro humano sozinho? Ouvi dizer que você é habilidoso, mas não há muito o que um humano possa fazer contra mortos-vivos em grandes números. Veremos.
Thomas ergueu os montantes e bateu-os levemente um contra o outro, como um aviso silencioso de sua habilidade.
— Não subestime o que posso fazer, e ele — disse Thomas, apontando para Derek — também não.
Derek fez um gesto modesto, mas firme, mostrando que apesar de humano, estava pronto para lutar.
— Sobrevivi sozinho tempo suficiente para saber que o trabalho em grupo é a única chance de sucesso.
O regente Oberon entrou no salão, acompanhado por oficiais e alguns magos da cidade.
— Recebi notícias de mortos-vivos atacando vilarejos próximos e até partes periféricas da cidade — disse ele. — Precisamos de um grupo capaz de investigar a origem disso. Recebemos relatos sobre uma caverna na Floresta Encantada. Dizem que há ruínas antigas lá dentro, possivelmente ligadas aos ataques. Quero que formem um grupo e descubram a verdade.
Ikarus assentiu.
— Essa será nossa missão. Não sabemos exatamente o que encontraremos, mas qualquer ligação entre essas masmorras antigas e os mortos-vivos deve ser descoberta.
Gillian olhou para Thomas e Derek, agora oficialmente integrantes do grupo.
— Precisamos confiar uns nos outros. A Floresta Encantada não é só perigosa por causa do terreno; há magia antiga lá. Qualquer distração pode ser fatal.
Rickson sorriu, ajustando a aljava nas costas.
— Parece que seremos cinco então. Ikarus, Gillian, Rickson, Thomas e… você é o arqueiro, Derek, certo?
Derek assentiu, com um misto de orgulho e ansiedade.
— Exatamente. Espero não decepcionar.
Thomas ergueu os montantes novamente, sentindo o peso do dever.
— Vamos encarar isso. Juntos.
Com o grupo finalmente formado, eles partiram da cidade em direção à Floresta Encantada. A cidade de Lenória Imperial desaparecia no horizonte, e a floresta logo à frente prometia perigos, magia antiga e, possivelmente, respostas sobre a origem dos mortos-vivos que agora assombravam todo o mundo.
À medida que avançavam, o ar parecia carregar uma energia diferente, estranha e viva, e mesmo os dragões humanoides que patrulhavam a cidade haviam comentado que a floresta estava… agitada. Thomas sentiu suas asas se arrepiarem, e Derek ajustou seu arco, pronto para o que viesse.
O grupo sabia que aquela jornada não seria apenas uma missão comum: a Floresta Encantada guardava segredos que poderiam mudar o rumo da guerra contra os mortos-vivos e revelar pistas cruciais sobre forças que atuavam em todo Ad’Heim.
E assim, cinco guerreiros — um meio-dragão, um humano arqueiro, e três heróis de Aldora e Lenória — iniciaram a exploração da caverna que poderia ligar os mortos-vivos aos antigos mistérios do mundo.