quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Ad'Heim: A Calma Antes da Tempestade


por Yuri Schein 

Após avançarem por corredores estreitos e escuros, desviando de ossos antigos e armadilhas improvisadas, o grupo finalmente encontrou uma sala mais ampla, protegida naturalmente por rochas que se elevavam como muralhas. A umidade ainda pairava no ar, mas ali dentro reinava um silêncio quase absoluto — um raro respiro em meio ao caos que os perseguira pela floresta.

Thomas pousou suavemente, abrindo suas asas e relaxando levemente.

— Por enquanto, estamos seguros — disse, guardando os montantes. — A Dríade não entrará aqui. Ela vai esperar do lado de fora, provavelmente deixando sentinelas.

Raella, ainda um pouco abalada com o uso de sua magia negra, abriu os olhos e observou o grupo. Derek começou a acender uma pequena fogueira, usando sua perícia de caçador, enquanto Thomas ajudava a cortar alguns alimentos trazidos em mochilas e bolsas de viagem. Jetto farejava o ambiente, desconfiado, mas não encontrou ameaças imediatas.

— Podemos descansar e comer algo — disse Ikarus, respirando fundo enquanto observava a pequena chama se refletir nas paredes úmidas da caverna. — Vai nos fortalecer para o que vem pela frente.

O grupo se acomodou, formando um círculo ao redor da fogueira improvisada. O cheiro de carne assada e ervas secas encheu a sala, trazendo uma sensação quase humana de lar, contrastando com a escuridão da caverna e a tensão lá fora.

Quando todos estavam mais tranquilos, Ikarus decidiu falar primeiro. Ele sabia que, para manter a moral, precisaria compartilhar sua história e criar um laço com o grupo.

— Eu sou Ikarus — começou, olhando para cada um, firme mas com um sorriso leve —. Nasci e cresci em Lenória Imperial. No começo, minha vida não foi fácil. Não tinha recursos, nem influência. Mas sempre quis proteger meu povo.

Ele respirou fundo, lembrando de Rufus, seu mentor.

— Rufus… ele é como um pai para mim. Me ensinou tudo que sei sobre estratégia e combate, mas também sobre honra e responsabilidade. Gillian… é como uma irmã. Sempre esteve ao meu lado, me ajudando a superar cada dificuldade.

Thomas inclinou a cabeça, curioso, enquanto Derek mordia um pedaço de carne assada. Raella olhou para ele atentamente, percebendo a sinceridade na voz do jovem capitão.

— No começo, enfrentei muitos desafios. Eram tarefas impossíveis, missões que pareciam me esmagar — continuou Ikarus —. Mas nunca desisti. Gradualmente, fui progredindo no exército de Lenória Imperial, até me tornar capitão da cidade. Hoje lidero tropas e participo de missões perigosas… como esta. Mas nada disso seria possível sem os que confiam em mim e sem aqueles que lutam ao meu lado.

O silêncio que se seguiu foi de respeito. Cada membro do grupo, de uma forma ou de outra, reconheceu a importância de confiar uns nos outros. Derek, mesmo sendo um arqueiro solitário, sentiu que fazia parte de algo maior. Thomas, acostumado a ser discriminado por ser meio-dragão, percebeu que finalmente havia um lugar onde poderia usar toda sua força sem julgamentos.

— É bom ouvir isso — disse Jetto, coçando a nuca. — Mesmo eu, que fui caçado por toda a minha vida, sinto que talvez possa confiar em vocês.

Raella finalmente abriu um leve sorriso, descansando os braços sobre o colo enquanto segurava o cajado.

— E eu… bem, não é como se eu tivesse escolha, mas agradeço a confiança. Prometo que ajudarei como puder.

A atmosfera na sala começou a mudar: do medo e da tensão, passou para um sentimento de união. O grupo sabia que os desafios que os aguardavam ainda eram imensos, mas, por alguns minutos, a caverna tornou-se um refúgio — um pequeno porto de humanidade, camaradagem e esperança.

Ikarus, ao terminar sua história, olhou para cada um com determinação:

— Amanhã, avançaremos ainda mais fundo. Mas hoje, descansaremos. Vamos fortalecer nossos corpos, nossas mentes e nossos laços. Pois só juntos teremos chance de sobreviver ao que vem pela frente.

A fogueira crepitava, iluminando os rostos suados e cansados do grupo. Lá fora, a Dríade deixava suas sentinelas observando, esperando que um passo em falso os levasse de volta para a floresta, mas por ora, dentro da caverna, havia calma.



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