por Yuri Schein
Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons, não é apenas uma história de super-heróis; é um tratado moderno sobre moralidade, poder e o abismo da condição humana. Ambientado em uma realidade alternativa onde os vigilantes mascarados existem, a HQ desmonta a ilusão de que o homem pode ser moralmente autossuficiente. Cada personagem, de Rorschach a Ozymandias, é uma alegoria viva de tentativas humanas de exercer soberania, julgar o bem e moldar o mundo sem referência a Deus.
Rorschach é a caricatura do absolutismo moral humano. Sua visão binária de certo e errado lembra muitos filósofos seculares que pretendem fundar ética apenas na razão, ignorando a revelação. Ele não negocia princípios; o que é errado é errado, independentemente das consequências. Admirável em aparência, mas trágico na prática. A Escritura nos mostra algo semelhante, porém infinitamente mais profundo: a lei revela o pecado (Rm 7), mas a verdadeira justiça e redenção só vêm de Cristo, não do julgamento implacável do homem.
Ozymandias, por outro lado, encarna o humanismo extremo. Inteligente, estratégico e aparentemente benevolente, ele sacrifica milhões para salvar bilhões, acreditando que o fim justifica os meios. Aqui encontramos o clássico erro do moralismo sem Deus: tentar criar redenção por esforço humano, manipulando vidas como se fosse soberano. Romanos 1 e Jeremias 17:9 nos lembram que o coração humano é corrupto; nenhuma estratégia, por mais brilhante, substitui a graça divina.
O enredo central: a ameaça nuclear e o plano de Ozymandias para “salvar o mundo” é a alegoria perfeita da idolatria do homem: a crença de que pode controlar a história, que possui conhecimento absoluto e que tem autoridade moral para decidir quem vive e quem morre. É a versão moderna do mito da Torre de Babel: arrogância, razão humana sem limites e desprezo pelo juízo divino.
Moore também explora consequências de viver sem absolutos: cada herói mascarado enfrenta dilemas que revelam falhas, corrupção e incapacidade de restaurar a verdadeira ordem. A HQ nos mostra que a tentativa de substituir Deus pelo poder humano é sempre trágica. Rorschach morre preservando princípios, mas não salva o mundo; Ozymandias triunfa aparentemente, mas sobre um cadáver moral gigantesco; e Dr. Manhattan, quase divino, não consegue criar significado para a humanidade.
No fim, Watchmen é uma advertência para a cultura moderna: o homem que se coloca no lugar de Deus, seja pela razão, pelo poder ou pelo conhecimento, falha inevitavelmente. Só Cristo, Senhor da História, transcende todas as limitações humanas, trazendo justiça verdadeira, moral absoluta e redenção segura. Moore escreveu uma HQ brilhante, mas a solução que ele apresenta é secular, ambígua e moralmente insuficiente. A Bíblia, por outro lado, não é ambígua: a salvação não depende da estratégia humana, mas da graça divina em Cristo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário