quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Ad'Heim: O Chamado do Meio-Dragão


Por Yuri Schein 

Nas remotas Montanhas Lendárias, onde o vento uivava entre picos nevados e o sol se escondia por trás de cumes eternamente gelados, Thomas Walker contemplava o horizonte. Meio humano, meio dragão, ele carregava o peso do estigma desde o nascimento: olhos humanos desconfiados, escamas rubras que lembravam a fúria dos dragões, asas robustas que se estendiam por quase três metros e chifres negros curvados que emergiam da testa, símbolos de sua herança dracônica. Em suas mãos, segurava dois montantes pesados, um em cada mão, armas de batalha que empunhava com maestria, pronto para esmagar qualquer inimigo que ousasse cruzar seu caminho.

Thomas não era bem-vindo entre os humanos, nem entre os dragões de sangue puro. Entre os primeiros, temiam sua força e aparência; entre os últimos, desprezavam-no por ser considerado “impuro”, um híbrido. Essa rejeição moldara sua vida: solitária, independente, endurecida pela necessidade de provar seu valor.

Na grande cidade dos dragões humanoides, construída nas encostas das montanhas e protegida por muralhas de cristal e ferro, Thomas caminhava pelos corredores de pedra. Aqui, dragões assumiam forma humana para viver, trabalhar e estudar, enquanto dragões selvagens, enormes e ferozes, serviam como guardas e soldados, obedientes apenas aos senhores que dominavam suas mentes.

"Então… ele finalmente chegou," murmurou Eldran, um dragão puro transformado em homem, observando Thomas com desdém. Seus olhos dourados refletiam julgamento e autoridade.

Thomas aproximou-se com postura firme, segurando seus montantes com segurança. "Sou Thomas Walker. Vim pelo chamado do Conselho."

Eldran cruzou os braços, analisando-o como se examinasse uma escória rara. "Chamado? Ou seria… mais uma chance de nos livrarmos de você, meio-humano? Os senhores sabem como você é… instável."

Thomas endureceu a expressão, suas asas tremendo levemente atrás das costas. "Instável ou não, posso provar meu valor."

O conselho era rígido: apenas aqueles que demonstrassem coragem, astúcia e domínio sobre suas habilidades poderiam representar os dragões nas missões que tocavam os reinos humanos e outros territórios. E agora, diante da crescente onda de mortos-vivos em Lenoria, a missão que esperava por ele era tanto uma prova quanto um castigo.

"Ouça bem, Walker," continuou Eldran, sua voz baixa e cortante como gelo. "Há criaturas se espalhando por Lenoria. Humanos e dragões se preocupam. Precisamos que você vá, mas saiba que ninguém espera que você volte com sucesso. É… uma maneira educada de empurrá-lo para fora."

Thomas respirou fundo, sentindo o vento frio atravessar suas escamas e membranas alares. "Então é meu destino. Irei a Lenoria e mostrarei que sou mais do que uma sombra entre dois mundos."

Antes de partir, Thomas encontrou alguns dragões humanoides amigos, jovens aprendizes de voo e magia, curiosos e discretos, que o cumprimentaram com um misto de receio e respeito. Entre eles estava Lysera, uma dragonesa que podia assumir forma humana, conhecida por sua inteligência e calma. "Não deixe que eles te definam, Thomas. Você é mais do que suas escamas ou seu sangue. Confie em você."

Thomas assentiu, apertando firmemente os punhos ao redor de seus montantes. "Vou lembrar disso."

Quando ele partiu, batendo suas asas poderosas, os ventos dos Montes Lendários uivaram como se saudassem sua coragem. Ele sobrevoou vales gelados e rios de lava cristalizada, deixando para trás a cidade dos dragões humanoides e os dragões selvagens que obedeciam à sua forma de comando. Estes últimos, enormes e ferozes, eram lembranças vivas da força bruta do povo dracônico.

A viagem para Lenoria seria longa, mas Thomas sabia que era apenas o começo. Mortos-vivos marchavam contra o reino, presságio do caos crescente que se espalhava pelo mundo. E Thomas Walker, meio-humano, meio-dragão, armado com dois montantes e asas majestosas, estava destinado a enfrentar não apenas criaturas do além, mas também o preconceito e a desconfiança daqueles que deveriam ser seus aliados.

Enquanto as nuvens giravam acima dele e a luz do sol se partia sobre suas escamas, Thomas fechou os punhos e murmurou:

"Se este é o meu teste… então que venha. Eu não falharei."

E assim, o meio-dragão deixou os Montes Lendários para trás, carregando nas asas, nos chifres e nos punhos a promessa de força e justiça.



Nenhum comentário:

Postar um comentário