por Yuri Schein
Nas Vilas Gêmeas, dois vilarejos pequenos e esquecidos, localizados lado a lado, a vida era dura e sem grandes esperanças. Casas de madeira mal conservadas, estradas enlameadas e pouco comércio marcavam o lugar. Para Derek, cada dia era uma luta contra a fome e o frio. Humano comum entre elfos ágeis, anões fortes e outros aventureiros escolhidos, ele nunca fora notado.
Mesmo assim, Derek tinha talento: suas mãos eram rápidas, seus olhos precisos, e sua flecha quase sempre encontrava o alvo. Mas talento sozinho não paga pão, e ele estava cansado de dormir ao relento ou dividir restos com cães famintos. Procurara missões na região, mas sempre se deparava com uma exigência impossível: “traga um grupo de quatro ou mais aventureiros”. Quem escolheria um humano solitário, mesmo sendo um bom arqueiro, quando elfos arqueiros podiam competir com magia e precisão sobre-humana?
Em um dia cinzento, Derek entrou na taverna do vilarejo, o único lugar onde alguém poderia ouvir notícias e rumores. O cheiro de cerveja velha e pão queimado misturava-se à fumaça de lareiras mal acesas. Ele se sentou no canto, observando aventureiros preguiçosos conversarem sobre caçadas fáceis e tesouros imaginários.
Então, o murmúrio sobre uma convocação chamou sua atenção: o regente Oberon, de Lenoria Imperial, estava pedindo ajuda para conter ataques de mortos-vivos que apareciam em seu reino. A notícia espalhou-se pela taverna: qualquer pessoa podia se apresentar, sem exigir experiência ou prestígio. Mas havia um detalhe importante: nenhum pagamento era oferecido. Ninguém queria aceitar; os poucos aventureiros que consideravam arriscar a própria vida por nada olhavam para a convocação com desdém e zombaria.
Derek pensou em silêncio. Suas mãos estavam calejadas, mas tremiam levemente de fome. A última caçada não havia rendido quase nada, e passar mais uma noite ao relento parecia impossível. Ele observou o fogo da lareira e sentiu o peso da decisão: poderia ignorar a missão, continuar morrendo de fome e vivendo sem propósito, ou arriscar sua vida indo para Lenoria Imperial, enfrentando mortos-vivos sem promessa de recompensa.
“Bem… ao menos terão uma flecha certeira,” murmurou para si mesmo, erguendo seu arco desgastado. Com isso, Derek se levantou, deixou algumas moedas na mesa para a última refeição e saiu da taverna.
Ele caminhou entre as vilas gêmeas, os telhados mal cuidados refletindo o sol poente, e respirou fundo o ar frio e úmido. Seus olhos, acostumados à observação cuidadosa, captaram detalhes: crianças famintas correndo para casa, cães abandonados nas ruas e velhos vendedores fechando suas barracas. A sensação de inutilidade e abandono o acompanhava, mas também inflamava seu espírito: ele precisava mostrar que mesmo um humano solitário podia fazer a diferença.
Partiu na direção noroeste, seguindo a trilha que levava a Lenoria Imperial. Cada passo era uma promessa silenciosa de que sobreviveria, não só por si, mas para provar seu valor. O caminho seria longo, cheio de perigos, mas Derek Walker, arqueiro solitário, humano entre dragões e elfos, carregava em seus olhos a determinação de quem não tinha nada a perder, exceto sua própria vida.
Enquanto caminhava, ajustando seu arco e testando suas flechas, Derek sentiu algo que não experimentava há muito tempo: uma centelha de esperança. Talvez essa missão o levasse a mais do que sobreviver; talvez fosse o começo de algo que mudaria sua vida. E, com isso, ele avançou para o desconhecido, com os olhos fixos no horizonte, pronto para enfrentar qualquer morto-vivo que ousasse cruzar seu caminho.
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