O grupo avançava cauteloso pela Floresta Encantada, seguindo um caminho estreito entre árvores carbonizadas e raízes retorcidas. Raella ainda permanecia inconsciente nos braços de Thomas, que voava levemente acima do chão para evitar armadilhas naturais. O silêncio da floresta, quebrado apenas pelo estalo de galhos secos, trazia uma tensão constante. Derek mantinha o arco pronto, seus olhos humanos atentos a qualquer movimento; Thomas girava os montantes com impaciência, pronto para esmagar qualquer criatura que ousasse atacar.
Ikarus, observando cada passo e coordenando a movimentação do grupo, assumiu naturalmente o papel de líder. Sua experiência em batalhas anteriores e a capacidade de manter todos unidos sob pressão o fizeram a escolha óbvia.
— Fiquem atentos — disse, em voz baixa mas firme. — A floresta ainda está alerta. Qualquer movimento errado pode nos custar caro.
O sol mal havia nascido quando, em uma clareira iluminada pela luz matinal, o grupo encontrou um homem inconsciente, deitado sobre o chão úmido. Seu corpo estava coberto de arranhões, marcas de garras e sangue seco. Thomas pousou suavemente, olhando com desconfiança para o estranho.
— Quem é ele? — sussurrou Derek, ainda arqueado, com flecha pronta.
Ikarus se aproximou e tocou o ombro do homem. Lentamente, ele começou a acordar, seus olhos amarelados piscando com confusão.
— A…ah… onde estou? — murmurou, com uma voz rouca.
— Calma, estamos do seu lado — disse Gillian, mantendo a espada pronta, mas sem ameaça. — Quem é você?
O homem se ergueu lentamente, apoiando-se nas mãos e mostrando sinais claros de luta recente.
— Meu nome é Jetto… eu… eu fui transformado em… lobisomem… — disse, tremendo. — Estava atrás de um tesouro na floresta quando ela… ela me capturou.
— Quem te capturou? — perguntou Thomas, franzindo a testa.
— A Dríade… a governante desta floresta. — Jetto engoliu em seco, sentindo o peso da própria história. — Ela tem um exército de seres místicos e nunca consegui fugir. Mas… com a comoção que vocês causaram ontem, eu consegui escapar.
Rickson, apertando os punhos, encarou Jetto com cautela.
— E agora? Por que decidiu nos acompanhar?
Jetto respirou fundo, olhando para o grupo.
— Não posso voltar. Ela me caçará até me destruir. Mas… se vocês me deixarem acompanhar, talvez possamos sobreviver juntos. E além disso… a caverna que vocês buscam… — ele respirou fundo, olhando para a direção do norte da floresta — é governada por mortos-vivos liderados por um vampiro muito poderoso.
O grupo se entreolhou. A notícia aumentou o peso da missão, mas Ikarus falou primeiro:
— Então não temos escolha. Vamos precisar de toda a força disponível. Você se junta a nós, Jetto, mas saiba que qualquer movimento errado pode nos custar caro.
Jetto assentiu, transformando parcialmente os olhos em um brilho amarelado, e se moveu com o grupo. A floresta, entretanto, já não estava quieta. Como se sentisse a perda de um dos seus — e o ataque da magia de Raella —, a Dríade enviou suas hordas. Centauros, faunos, dríades menores e criaturas de raízes afiadas surgiram em todos os lados. O chão tremeu com o avanço de monstros maiores: lobos de sombra, serpentes aladas e quimeras da floresta.
— Corram! — gritou Ikarus. — Precisamos chegar à caverna antes que eles nos alcancem!
Thomas abriu suas asas e voou, criando uma linha defensiva com os montantes, atacando criaturas que tentavam bloquear o caminho. Derek disparava flechas em sequência, acertando pontos vitais de centauros e faunos. Jetto, mesmo em sua forma instável de lobisomem, corria ao lado de Thomas, atacando com garras e presas, derrubando criaturas que se aproximavam demais.
Raella continuava inconsciente nos braços de Thomas, mas sua aura mágica, mesmo adormecida, parecia reforçar o grupo, criando pequenas barreiras que retardavam ataques mágicos menores.
— A caverna está logo à frente! — gritou Rickson, apontando para uma abertura sombreada entre duas colinas densas da floresta. — Se conseguirmos chegar lá, teremos alguma vantagem!
O grupo avançou com esforço hercúleo, desviando de raízes que tentavam prendê-los, queimando pequenas áreas com o fogo residual da magia de Raella, enquanto Jetto liderava a parte da retaguarda, interceptando criaturas que os perseguiam. A Dríade, percebendo a fuga de seu “prisioneiro” e a devastação causada, surgiu no horizonte, com um corpo feito de troncos retorcidos e galhos, olhos verdes incandescentes e mãos que se transformavam em lâminas afiadas.
— Vocês não escaparão! — rugiu a Dríade, sua voz ecoando como milhares de folhas secas cortando o ar.
— Cheguem à caverna! — gritou Ikarus, puxando todos para um último sprint.
Com o coração acelerado, o grupo entrou na caverna dos mortos-vivos, a entrada larga e escura engolindo-os. A floresta atrás deles estava em tumulto, com a Dríade e seu exército rugindo e atacando, mas ali dentro, ao menos por enquanto, o grupo estava protegido.
Jetto, ainda ofegante, olhou para Ikarus e disse:
— Se sobrevivermos a isso… vocês verão que o vampiro que governa os mortos-vivos não será fácil de derrotar.
Ikarus assentiu, observando os corredores escuros e úmidos da caverna.
— Então precisamos estar mais unidos do que nunca. Esta missão… vai nos testar de maneiras que nem imaginamos.
E assim, o grupo avançou para o coração da caverna, conscientes de que cada passo poderia ser o último, enquanto a sombra de criaturas místicas e mortos-vivos se estendia à frente, entrelaçando magia,ferocidade e mistério em cada corredor úmido e escuro.
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