segunda-feira, 21 de setembro de 2020

REFUTANDO A OBJEÇÃO DE TIAGO 1.13 AO OCASIONALISMO

 

Por Yuri Schein

21/09/2020 

 Após o debate eu recebi a seguinte objeção do Tourinho, então decidi fazer esse arquivo em resposta, vou salvar esse artigo pois pode servir posteriormente em resposta a qualquer um objetor que se levantar posteriormente.

 A Objeção do Tourinho.

 Vejamos o seguinte versículo:

“Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta.”

Tiago 1:13

 Segundo a tese ocasionalista, que atualmente é defendida por Vincent Cheung, Deus é a ÚNICA CAUSA de todos os eventos, então temos:

 1 - Deus é causa única de todos os eventos. (tese ocasionalista)

2 - A tentação é um evento.

3 - Deus a ninguém tenta (Tg 1.13).

 De onde vem a tentação se Deus a ninguém tenta e ele é causa única de todos os eventos?

 Isso significa dizer que algo que não é Deus produz o evento que chamamos de tentação, portanto uma outra causa, logo, Deus não pode ser a causa única do evento da tentação, portanto, é falso que Deus é causa única de todos os eventos, segue-se então que é falsa também a alegação ocasionalisa.

 O que se pode dizer é que Deus é a única causa primeira, até mesmo porque só existe um primeiro, não tem como ter dois primeiros, porém, como causa segunda, uma causa causada (porque somente Deus é uma causa sem causa), no momento em que é movida por Deus, produz efeitos reais que lhes são próprios, portanto, produz eventos significativos na realidade.

 Tourinho.

 A objeção da primeira premissa é falsa, pois:

 

i.                    Não respeita os próprios termos onde defini: que Deus é a única causa transcedental, isso significa que ele controla toda a realidade e que a criatura é apenas o agente, mas não pode produzir causa na realidade, sendo assim ela não concorre com Deus. E portanto o concorrentismo é falso

ii.                  Eu afirmei que a criatura ou qualquer agente é apenas uma causa qualitativamente diferente (o que ele mesmo assume, mas não aceita a distinção qualitativa de causa), ou seja, somente Deus é a única causa transcedental, e uma única causa real ou transcedental não concorre com uma causa relativa, aparente ou mecância. Vamos para uma longa exposição:

 Sobre o texto de Tiago 1.13, parece que a pessoa confunde novamente causa mecânica com secundária, vamos a refutação:

 Deus é a causa real e não o agente, ele confunde agente com causa única que é a causa Transcedental Os termos de causa transcedental foram definidos desde o começo do debate, como por exemplo:

 Analogia do Escritor

 Anakin Skywalker matou as crianças no tempo Jedi (causa dentro da história imanente)

George Lucas escreve: "Então Anakin mata as crianças no templo Jedi" (causa única transcedental)

 Para ser mais especifico ainda com Causa Transcedental:

 Única causa Transcedental é a única causa que altera ou controla toda a realidade. Como Deus é uma causa Transcedental que controla a realidade não há como uma segunda causa não-transcedental concorrer com ele.

 Se fomos usar o próprio exemplo Aristotélico do escultor (que na verdade é apenas uma aprimoração da analogia de Platão) podemos dizer que: Deus é aquele que 

1)      Criou a pedra

2)      Está moldando a pedra, que seria toda a realidade (ou seja ele é causa tanto eficiente como formal de todas as coisas)

3)      Ele não é a pedra, mas criou, sustenta e modifica ela

4)      Ele é a causa final de toda a sua obra.


Assim não existe nenhuma liberdade ou concorrência em relação a ele, pois nenhuma das suas criaturas pode concorrer com ele, assim como uma estátua não pode concorrer com um escultor.

 

a)      Exemplo Jogo de Xadrez

No jogo nós temos "Cavalo captura o peão", mas em relação aos jogadores nós temos:

"Jogador 1 captura peão de Jogador 2"

Como Deus é a única causa Transcedental, não existe outra causa que concorra com ele, ele é o Jogador único que move as peças do jeito que ele quer, o homem é como o cavalo, ele é uma causa instrumental ou aparente que foi criado por Deus em sua ontologia, é sustentado por Deus em sua realidade.

b)     Exemplo do Escritor de um livro.

Suponha que em um livro a personagem Ana ouve batidas na porta e pensa se vai abrir a porta ou deixar fechada, "pode ser o meu namorado, mas essa hora da noite e sem aviso prévio?" Então, ela decide abrir a porta e assim faz, gira a maçaneta e abre a porta. A única causa Transcedental de toda essa história é o Escritor, o pensamento de Ana a decisão dela e os atos que ela teve bem como batida da porta do outro personagem vem do autor. Ana, os personagens, a porta abrindo não podem concorrer com o autor da obra, afinal ele é uma causa Transcedental ou melhor ele está ALÉM DA FÍSICA, DA NATUREZA, ou melhor, ALÈM DA CRIAÇÃO, não há nenhuma possibilidade dos personagens concorrerem com ele.

Até mesmo Grudem reconhece essa relação:

A analogia do dramaturgo que escreve uma peça pode-nos ajudar a compreender como ambos os aspectos podem ser verdadeiros. Na peça shakespeariana Macbeth, o personagem Macbeth assassina o rei Duncan. Ora (supondo por enquanto que esse é um relato de ficção), pode-se perguntar: “Quem matou o rei Duncan?” Em certo sentido, a resposta correta é “Macbeth”. No contexto da peça ele executou o assassinato e corretamente deve levar a culpa. Mas, noutro sentido, a resposta correta seria “William Shakespeare”, pois foi ele quem escreveu a peça, ele quem criou todos os personagens, ele quem escreveu a parte em que Macbeth mata o rei Duncan. (Teologia Sistemática, p. 253)

O autor é causa Transcedental e o personagem é causa mecânica, Nunca um personagem de uma obra pode concorrer com o autor, NUNCA!

Uma causa se trata daquilo que dá existência a algo, ou produz um efeito certo. Não existe causa sem efeito. A criação não produz efeitos por si mesma, mas depende totalmente de Deus para existir. Assim, o fogo ordinariamente queima, mas isso depende de Deus, pois quando Deus decide salvar seus servos da fornalha, então o fogo não os queima. Quando Deus decide, o ferro do machado flutua na água, o mar vermelho se abre, Pedro caminha sobre as águas e os montes se transportam para o meio dos mares.

Mesmo as chamadas “causas secundárias” são produto de providência ordinária de Deus. O mundo não é um mecanismo regido por leis impessoais de causalidade, mas foi criado e hoje é sustentado pelo Deus Pessoal, que faz tudo segundo o beneplácito da sua vontade.

Deus causa os pensamentos e a volição do homem, ele não precisa infundir pecado ali, ele apenas inclina o pensamento da criação metafisicamente para onde quer, a vontade é conduzida para onde ele quer. Suponha que o Diabo tinha em si mesmo a ontologia de pecar ou não, Deus apenas controlaria seu pensamento e sua vontade, para a ação e pensamento que ele desejasse, Deus não precisaria alterar a ontologia do diabo ou remover a vontade do Diabo, ele apenas estaria determinando qual pensamento e ato o Diabo faria. Isso não é infusão nenhuma, a criatura criou com essa ontologia (natureza) e com essa natureza passível de mudança, ou seja, mutável. Visto que só Deus é imutável a criatura é mutável, mas as criaturas não mudam a si mesmas, mas são mudadas por Deus que é imutável, assim como o oleiro muda a forma que ele quer do barro.

Isso é o mesmo que fazer com que uma pessoa quebre o braço, Deus pode determinar que ela quebre os braços e usar meios para isso, por exemplo uma queda ao andar de bicicleta, a criatura não foi criavel indestrutivel, Deus determina cada meio para que ela quebre o braço, a mesma coisa se aplica ao diabo e a Adão. O Braço quebrado é a natureza pecaminosa, ela veio de uma ação displicente da criatura, mas até essa ação e essa vontade foi controlada por Deus, nesse controle não há coação, e nem precisa. Deus não precisa coagir uma criatura a agir com uma possibilidade ontologica que ela tenha, ele só precisa mover a criatura para essa ação.

E esse tipo de coisa acontece depois da queda também, da mesma maneira, agora porém a criatura já com braço quebrado e Deus ordena a ela que segure um peso de 100 kg, ela não pode e mesmo que tente sempre falha. Analogias a Parte o exemplo do Escritor é o melhor para minha posição, O Escritor escreve "Ao correr velozmente pelos campos bob não percebe o barranco e caindo quebra o braço", é verdade que Bob foi desatento, mas a única causa metafísica da história foi Bob, o descuido dele, ou qualquer outra coisa que o Escritor narre como "Bob estava pensando na sua colega de aula que era linda" isso também quem causou foi o Escritor, mas quem é o burro e o descuidado? Bob. Bob não pode pegar o autor da história e pressionar ele e dizer "você é culpado, você me fez burro e descuidado", embora seja verdade que o Escritor fez bob burro e descuidado e controlou cada ação dele, o Escritor não pode ser cuidado, a história é dele e até mesmo o ato de bob questionar o escritor vem da sua própria pena.

Sobre a tradução que o Tourinho trouxe no primeiro dialogo de Atos 17.28 "nele produzimos o nosso próprio movimento" ela não pode de maneira nenhuma defender a ideia de concurso ou concorrência

1.      O texto não diz que esse movimento que a criatura "produz" concorre com Deus

2.      Paulo não usa a ideia de causa secundaria o prefixo grego traduzido por "nele" aplicados a viver, mover e existir nao faz da criatura a autora de sua própria vida, se aplicamos exegeticamente esse texto assim ao movimento poderíamos dizer que a criatura "produz" em si mesmo a propria vida isso é uma redução ao absurdo necessária para não cairmos em uma espécie de deismo.

3.      Usando o princípio hermenêutico da unicidade das Escrituras Sagradas da revelação completa podemos ver em outros textos referentes a metafisica que até o intento do coração dos homens é determinado por Deus "Pv 21.1, Ap 17.17, 2 Co 8.16" de maneira que não há concorrência Portanto a interpretação que Tourinho deu nem pode ser levada a seria para defender uma concorrência.

 O que ele mesmo disse "Deus é uma causa Transcedental" na questão metafísica aí reduziu Deus para uma causa imanente para defender o concurso. Uma causa Transcedental não pode concorrer com algo não transcendente , pois ela controla a realidade, por isso nesses termos o Concorrentismo é impossível.Usar textos de imanencia não prova o Concorrentismo apenas reduz a transcedencia de Deus o que é uma blasfemia. Arminianos e todos que tem apenas uma leitura imanente de Deus, Reduzem Deus em seus aspectos imanentes, eu não nego essa relação, mas a relação Transcedental é a priori, Isso é o que dá não ler Lutero. Veja como a metafísica aristotelica não é metafísica de fato, pois imanentiza Deus e transcende o homem.

 ACRÉSCIMOS:

 1. Se Deus permite algo Ele é Santo e Justo

2. Se Deus ordena algo Ele é Santo e Justo

3. Se Deus causa exaustiva e ativamente tudo que acontece ele é Santo e Justo

 Pergunta: Qual a vantagem de diminuir o domínio e controle divino com doutrinas e tradições humanas em troca de nada?

 1.      Na sua analogia do dado ele diz que Deus sempre deixa a possibilidades e apenas remove os atos que ele não queria que acontecesse, isso também ocorre com os pensamentos dos homens e isso também ocorre com Adão? Se Deus removeu todos os atos possíveis de Adão não pecar e deixou apenas o ato em que Adão pecaria, levando em consideração que foi ele que moveu Adão para esse ato, então não há liberdade lógica apenas ontológica e não há decreto permissivo. Onde está a permissão quando Deus remove todos os atos possíveis da criatura e estabelece apenas o ato que ele quer que ela faça e ele mesmo move a criatura para que faça isso? Como isso difere de qualquer determinismo rígido a não ser na descrição mecânica do evento que no final é rigidamente deferminado?

2.      Novamente: Como uma causa transcendental (portanto metafisica) pode concorrer com uma causa não transcendental? Se o Deus escreve a história rigidamente como o salmista diz na analogia do Escritor (Sl 139.16), como um personagem dessa história pode concorrer com ele como causa?

3.      Por que uma mente se move em direção à uma coisa e não a outra? O que causa uma mente se mover nessa ou naquela direção?

4.      Por que os autores da Escritura não estão preocupados em expor Deus apenas como uma causa primeira, mas antes afirmam que Deus é a causa direta do evento onde ele mesmo toma autoria direta? (Ez 14.9)

5.      Se causa é aquilo que produz um evento certo e na física quanto em toda a ciência nunca há garantia de que um ser produzirá o evento certo ao fazer X ou y. Por exemplo:

 

i.                    No baseball: Um rebatedor bate numa bola, a bola pode se partir no meio, escorregar para a cara dele ou seguir adiante, o rebatedor não tem controle sobre isso para causar um efeito.

ii.                  Causas efeitos psicológicos: Uma pessoa violentada pode não se tornar uma pessoa agressiva, quando outra pessoa violentada pode se tornar, uma pessoa ofendida pode reagir diferente de outra e assim por diante, um pensamento x ou y pode engatilhar um pensamento z ou w e assim ad infinitum, até mesmo na cadeia de pensamentos não causalidade garantida

iii.                 Estocada na banha, pode parecer risível, mas uma pessoa ao estocar o corpo de outro com a espada pode ter a lamina presa na banha ou na pele da outra, ou seja, o efeito (corte ou perfuração) pode não ser eficiente ou a lamina pode escorregar na pele e não perfurar ou causar nenhum arranhão.

 Sendo assim, como estabelecer uma causa secundaria como algo certo por esse parâmetro?

 Usando novamente a física (usada pelo aristotelismo para definir causalidade) existe uma distância de espaço e tempo geralmente entre causas e efeitos, a distancia percorrida por uma lamina até cortar uma veia mortal ou nao fazer, a relação do tempo necessário para que uma causa surja efeito como, por exemplo, uma bala atirada pra cima ao acaso e o tempo necessário da outra pessoa sair ou permanecer no lugar onde ela vai cair, visto que Deus controla essas relações da realidade não é correto defender uma concorrência além de ser completamente irracional.

 Pelo problema do empirismo e da indução a ciência não pode estabelecer leis fixas na natureza, a propria teoria gravitacional newtoniana foi descartada na física e substituída por uma nova, assim as ciencias e os métodos de julgamentos baseados no empirismo não podem nos fornecer um padrão confiável de causalidade.

 A biblia é muito clara sobre isso, Jesus diz que se pode dizer pela aparência do céu o que acontecerá, mas Salomao diz que isso nem sempre ocorre pois é Deus quem controla os céus, ou seja, nem sempre quando o céu fica escuro e as nuvens densas chove, ou seja, a relação de causalidade entre os eventos de nosso mundo é controlado direta e exaustivamente por Deus, não apenas em algo extraordinário, mas em experiências ordinárias como uma simples chuva (Mt 16.3, Ec 11.1-5). O que Salomao ensina aqui é a falha do nosso julgamento humano de relação entre causa e efeito através do empirismo. Sendo assim uma metafísica muito melhor do que a dos filósofos gregos deve ser deduzida das Escrituras Sagradas.

 A interpretação que o Tourinho faz o texto tanto de Mateus quanto de Tiago é tão forçada Por que ignora totalmente que Em ambos os textos nós temos uma relação dentro da criação e com afirmações do ponto de vista imanente de quem está se relacionando com Deus como criação. Jesus fala de uma possibilidade ontológica, mas não uma possibilidade lógica, muito menos uma possibilidade metafísica, Tiago fala do agente do pecado que é sempre o homem ou Satanás, não sobre a causa transcendental ou Controle de Deus tanto do pecador quanto de Satanás, se Deus causa alguém a pecar ele não está tentando ninguém não existe coesão nisso.

 O Tourinho vê concorrência onde não existe nos textos, até mesmo compartilhar listas não vem concorrência nesses textos, ao falar sobre esses aspectos imanentes até mesmo Piper e Grudem não vem concorrência nessas ações, pois os textos são descrições de eventos e não abrangem totalmente a metafísica ali envolvida. Eu posso citar o exemplo do jovem rico e também o exemplo de Cornélio novamente, embora haja menção de salvação os textos não descrevem toda a mecânica da salvação, eu não posso recorrer a eles para formar a minha Soteriologia, da mesma forma não posso recorrer a esses textos do Tourinho para formar minha metafísica, interpretar os textos assim me faria interpretar as escrituras como um arminiano.

 O outro problema é que sempre quando vamos definir um atributo de Deus ou uma ação Divina na história sempre partimos do maior para o menor. Quando estamos lidando com atributos de onisciência por exemplo nós não fazemos como (provavelmente) Jerônimo que segundo Calvino nas institutas disse que Deus não estava preocupado com a quantidade de mosquitos que existiam ou com assuntos irrelevantes Portanto ele tinha onisciência porém ela era limitada a coisas realmente importantes, pois não seria Nobre da parte de Deus se importar com a quantidade de mosquitos que existem ou a quantidade de gases que uma vaca emite. Porém se é onisciência de Deus exaustiva nós partimos do maior para o menor e dizemos que Deus tanto sabe a quantidade de mosquitos quanto à quantidade de cabelos que existem na cabeça de cada ser humano na face da terra os grãos de areia que existem no mar ou qualquer coisa da sua criação. Eu usei a onisciência como exemplo, se tratando do controle absoluto de Deus não podemos reduzir esse controle para uma mera concorrência, estaremos roubando Deus de um dos seus atributos de liberdade soberana e o seu controle absoluto sobre a criação. E não devemos fazer isso principalmente quando existem textos que demonstram que Deus é a única causa do transcendente que tanto Escreve a história da humanidade quanto molda os seus vasos de acordo com o que lhe apraz.

 Voltando diretamente ao texto de Tiago, Vincent Cheung escreve:

Entre as muitas respostas falaciosa está o apelo à Tiago 1.13. Usar esse versículo para negar que Deus é o autor do pecado é um dos piores maus usos da Escritura, e porque esse erro é muito popular e influente, ele tem causado muito dano e gerado um fardo desnecessário para aqueles que desejam defender a fé.

Considere o contexto. Tiago está discutindo o desenvolvimento prático da fé cristã em sua carta, e assim, ele  frequentemente enfatiza a responsabilidade direta do cristão, e de uma perspectiva cristã imediata. Tiago está apontando que o cristão deve considerar e agir em suas lutas como um cristão; ele não está tratando de metafísica. Em outras palavras, ele está tratando seus assuntos do ponto de vista de um cristão com relação às suas considerações e responsabilidades imediatas, e não com relação a princípios metafísicos mais amplos[...]

" Ainda que o diabo (ou a concupiscência da pessoa) possa ser o tentador e a pessoa o pecador, é Deus quem controla direta e completamente tanto o tentador como o pecador, bem como o relacionamento entre ambos. E embora Deus mesmo não seja o tentador, ele deliberada e soberanamente envia espíritos maus para tentar (1 Reis 22.19-23) e atormentar (1 Samuel 16.14-23, 18.10, 19.9). Mas em tudo isso Deus é justo por definição."

 Isto é, se Deus diretamente te faz pecar, isto faz dele o “autor” do pecado (pelo menos no sentido que as pessoas freqüentemente usam a expressão), mas o “pecador” ou “praticante-do-erro” ainda é você. Visto que o pecado é a transgressão da lei divina, para Deus ser um pecador ou praticante-do-erro nesse caso, ele deve decretar uma lei moral que proíba a si mesmo de ser o autor do pecado, e então, quando ele agir como o autor do pecado de qualquer jeito, ele se torna um pecador ou praticante-do-erro. Mas a menos que isso aconteça, Deus ser o autor do pecado não o faz um pecador ou praticante-do-erro. Os termos “autor”, “pecador”, “praticante-do-erro” e “tentador” são relativamente precisos — pelo menos precisos o suficiente para serem distinguidos uns dos outros, e o fato de Deus ser o “autor” do pecado não diz nada se ele é também um “pecador”, “praticante-do-erro” ou um “tentador”. E o fato de alguém não ser um praticante-do-erro significa, por definição, que ele não faz nada errado. Portanto, mesmo que Deus seja o autor do pecado, não se segue automaticamente que haja algo de errado nisso, ou que ele seja um praticante-do-erro[...]

Em contraste com a explicação tradicional, Deus não fala: “Oh não, eu não sou o autor do pecado. Embora eu seja a causa última de todas as coisas, mantenho-me afastado de causar diretamente o mal, pois estabeleço causas secundárias e agentes livres. Assim, embora eu crie e sustente todas as coisas, os homens pecam livremente por pensar e agir conforme suas próprias disposições. As disposições más procedem de Adão. E sobre como Adão obteve suas disposições más… bem, isto simplesmente permanecerá um mistério para você”. Se for esta a resposta, por que não pularmos de uma vez para o mistério e economizar um pouco de nosso tempo? A Bíblia jamais responde dessa forma a esse tipo de questão e objeção. Várias passagens bíblicas dizem que Deus causa todas as coisas, e a metafísica subjacente é explicada pela onipotência de Deus — a mesma onipotência que criou todas as coisas. Por outro lado, todas as passagens que as pessoas usam para negar que Deus seja o autor do pecado ou para provar o compatibilismo são apenas descrições de eventos e motivos, não abordando a causa metafísica desses eventos e motivos.

Em vez de dar a resposta popular, que é fraca, evasiva, incoerente e confusa, Deus francamente declara: “Sim, eu faço todas estas coisas. O que você fará a respeito? Quem é você para mesmo me questionar sobre isso?”. Para o bem ou para o mal, é assim que a Bíblia responde sobre a metafísica, incluindo o relacionamento de Deus com as decisões humanas. Então lemos em Romanos 9.19-21 (NIV): Algum de vocês me dirá: “Então, por que Deus ainda nos culpa? Pois, quem resiste à sua vontade?”. Mas quem é você, ó homem, para retrucar a Deus? “Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: ‘Por que me fizeste assim?’”. Não tem o oleiro o direito de fazer da mesma massa de barro um vaso para fins nobres e outro para uso desonroso? Novamente, isso tem certa relação com metafísica (determinismo, liberdade, etc.), já que o contexto tem a ver com eleição e reprovação, e com a criação do eleito e do não eleito, tal como o oleiro que fabrica vasos a partir do barro. E ao contrário da resposta típica, Paulo não diz: “Oh não, você não entende. Ainda que Deus determine todas as coisas, ele tão-somente as causa através das decisões que você toma livremente conforme a sua própria natureza, que tem origem em Adão, cuja natureza mudou misteriosamente de santa para má; de forma que Deus não é o autor do pecado, e você é responsável pelos seus próprios atos e decisões”. Em vez disso, Paulo afirma que o controle de Deus tanto sobre o vaso “nobre” como sobre o vaso “desonroso” é como o controle do oleiro sobre uma massa de barro. [13] E assim como uma massa de barro não pode questionar o oleiro, a resposta de Paulo ao opositor não é “Mas você fez a si mesmo mau” ou “Mas você pratica livremente o mal conforme a sua própria natureza”, mas sim, “Acaso pode a criatura dizer ao Criador, ‘Por que me fizeste assim?’”. [14] E Paulo não diz “Mas Deus não é o autor do pecado”, e sim, “Deus tem o direito de fazer uma pessoa justa e outra má, de salvar uma e condenar a outra. É claro que ninguém pode resistir à sua vontade! Mas quem é você para retrucar?”. Essa é a abordagem da Bíblia. Ela repreende o opositor e ao mesmo tempo responde a objeção. Mas a resposta não nega que Deus seja a causa direta do pecado; antes, ela ousadamente afirma que Deus tem o direito de criar e fazer tudo aquilo que lhe apraz. Em vez de recuar ou sair com alguma evasiva, ela avança na direção do oponente e lhe dá uma bofetada no rosto! Esta é a resposta de Deus. Ela é forte, direta, simples, coerente e irrefutável. Ela é perfeita.1

O Tourinho e sua explicação de que Deus "Atualizava" o ato que ele queria, mas Adão escolhia o ato, mas isso contradiz o que ele mesmo escreveu:

1)      Deus move o homem e sempre dá força para que ele faça o ato x ou y (isso também deve se aplicar a pensar x ou y) pois um pensamento é também um movimento da mente em direção à 1 ou 2.

2)      Deus então remove os atos que ele não quer que Adão faça e deixa o ato que ele quer, portanto Deus moveria Adão a cometer o pensamento ou ato x ou y.

3)      Ele não responde o que moveu a mente de Adão a pensar x ou y? Na relação de usa própria natureza. A natureza de Adão? Como uma "natureza" pode gerar uma proposição se só uma mente pode gerar?

Quando Wayne Grudem (Teologia Sistemática p. 253) fala em duas causas totais, uma no sentido transcedente e outra no sentido imanente (Analogia de Hamlet do rei Dukan) esse exemplo serve tanto para os compatibilistas quanto para os ocasionalistas para rejeitar o concorrentismo tomista. Mesmo que talvez o próprio Grudem não tenha atentado para isso e depois tente remendar com uma concorrencia, com essa analogia ele está assumindo o que todos os calvinistas compatibilistas e ocasionalistas assumem por inferencia: Uma causa transcedental não concorre com uma causa imanente (O Escritor e o personagem da história, o jogador e a peça do xadrez) não há concorrencia de causas, uma causa é metafísica e outra é apenas mecânica.

A diferença é que eu nego haver qualquer liberdade da criatura em relação a Deus e não apelo ao mistério, eu digo que Deus causa ativamente todas as coisas e que isso não é mistério, o compatibilista vai apelar para um mistério sem necessidade alguma.

Minhas considerações gerais do debate:

O Concorrentismo

1.      Não responde como a idéia de causalidade aristotélica pode ser sustentada por causa do empirismo.

2.      Não responde satisfatóriamente como uma causa qualitativamente diferente pode concorrer com uma causa que não tem univocidade igual a ela.

3.      No debate chegou-se a afirmar que o diabo também pode ser considerado causa metafísica, pois segundo ele a metafísica é "Aquilo que vai além da física" Quando eu mesmo já havia definido no começo do debate os termos que metafísica é também aquilo que vai "além da natureza ou criação", ou seja, o diabo nunca pode ser uma causa metafísica, isso ele fez tentando salvar o concorrentismo porque ele sabe (segundo meu ponto 2) que uma causa qualitativamente diferente nunca pode concorrer com outra que não seja únivoca, daí porque a maioria dos calvinistas modernos são compatibilistas ou ocasionalistas.

4.      Não tive respondida as minhas observações também sobre o problema da causalidade e sobre o fato de Deus também causar a correlação de tempo e espaço entre uma causa aparente e um efeito.

5.      Citei mais textos que defendiam Deus como unica causa metafísica que altera a realidade, quando ele tentava provar por meio de outros textos que não tinham correlação com metafísica que Deus concorria com a segunda causa

6.      Não respondeu o que Causa uma mente pensar o pensamento x ou y, mesmo que essa mente já seja totalmente depravada, uma mera natureza não pode gerar proposições, pois proposições são próprias de uma mente. E isso ele não vai poder responder nunca pois a epistemologia empirica é pressuposta no aristotelismo.

7.      Ignorou o fato de Deus ter o conhecimento intuitivo e por necessidade ter o conhecimento a priori e não poder conhecer o pensamento da criatura por mera absorção externa de conhecimento, e como sua epistemologia empirica poderia responder a isso.

8.      Afirmou que Deus impulsiona todo o movimento do homem como causa segunda. Deus remove os atos que ele não quer que os homens faça (isso envolve os pensamentos de Adão), portanto Deus impulsionou Adão a pensar o pensamento e o ato da queda, o que ele negou a conclusão lógica disso e tergiverseou da conclusão da analogia do dado (que ele usa no livro).

9.      Não respondeu como diminuir o controle exaustivo de Deus das coisas traz alguma vantagem maior para o caso, sendo que Deus é santo e justo por definição.

Para finalizar, preste atenção nessa analogia e responda sinceramente a última pergunta:

1.      Se Deus permite algo Ele é Santo e Justo

2.      Se Deus ordena algo Ele é Santo e Justo

3.      Se Deus causa exaustiva e ativamente tudo que acontece ele é Santo e Justo

4.     Pergunta: Qual a vantagem de diminuir o domínio e controle divino com doutrinas e tradições humanas em troca de nada?

Alerta: A distinção de única causa real e transcedente para uma causa aparente ou mecânica não leva até uma contradição, assim como a trindade é "um ser" em um sentido e "três pessoas" que são dois sentidos diferentes, nós temos apenas uma entidade e três pessoas, quando algo é uma causa aparente na realidade como o Rei Ducan e seu assassino na analogia do Escritor esse algo não é causa no mesmo sentido do Escritor, ele é a causa da morte apenas no sentido imanente, aparente, ou seja, relativo a história.

1 Autor do pecado, Vincent Cheung, Versão do Kindle

O ARMINIANOS E A INCONSISTÊNCIA NA SUA SOTERIOLOGIA - Insta: Calvinista ...